Para Sempre Lidinho escrita por Érica, Mariana R


Capítulo 31
Quebrado


Notas iniciais do capítulo

"Apesar de saber o que é errado como posso ter tanta certeza se você nunca disser o que sente? Devo ter segurado sua mão tão forte que você não teve vontade de lutar. Acho que você precisava de mais tempo para se curar... Baby, meus curativos acabaram. Eu nem sei por onde começar, pois não se pode fazer um curativo nesse ferimento... A verdade é que não se pode consertar um coração."... (Savannah Outen)



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São Paulo...

“Isso é tudo por hoje! Lamento, mas tenho que te deixar sozinho... Tenho um encontro mais tarde. Por que não aproveita e sai para conhecer melhor a cidade? A noite de São Paulo é muito famosa. Quem sabe você não tenha sorte?”

Sorte... Sorri internamente pela ironia da palavra. Diante de mim estava John ansioso por uma noite agradável, regada a vinho e sedução, na companhia de uma bela mulher – Ele sempre está rodeado por elas – enquanto eu permaneço aqui. Nenhuma preocupação, conflito ou culpa. Nada que o faça querer sair pela porta do bar e jogar-se de algum lugar bem alto só para ter a certeza de que sente alguma coisa. Sorte... Ele tinha. Eu não.

“Então? Decidiu?”

“Vou ficar. Tenho alguns e-mails para ler, vou aproveitar que não há muitas pessoas para agilizar esse assunto.”

“Bem, você quem sabe... Qualquer problema é só ligar no meu celular. Mas me faça um favor: Não ligue! A mulher com quem vou me encontrar é espetacular e não quero ter que ir a alguma cadeia, hospital ou qualquer coisa do gênero pra te ‘salvar a pele’!”

“Pode deixar: prometo que serei um anjo! Quando sair daqui, irei direto para o hotel e prometo dormir antes das 23h00min!”

John fez falsa expressão de zanga enquanto recolhia de cima do balcão do aconchegante restaurante/bar seu celular e notebook. Felicitei-me pela nossa parceria. Além de um excelente fotografo e ótimo profissional, ele se mostrou ser um grande amigo. Conversando sobre os mais variados assuntos – indiretamente – auxiliava-me com meus problemas.

Observei-o sair do local. Era fim de tarde e chovia um pouco, uma das características mais marcantes da ‘cidade da garoa’. Vagando a visão pelo restante do ambiente, percebi a presença de poucas pessoas: um casal junto à janela, um grupo de amigos em uma mesa e eu sozinho no bar.

Pedi uma dose de uísque ao garçom. O líquido âmbar desceu quente pela minha garganta e em apenas um gole já não havia mais nada no copo. Pedi outro e inclinei a cabeça para o lado sentido o cansaço dos últimos três dias. Viajei para São Paulo a trabalho e o ritmo intenso fazia meu corpo cobrar o seu preço. Não que ache isso ruim, pelo contrario, o que mais preciso nesse momento é manter a mente ocupada. Agradeço pelo pronto pedido do meu patrão para acompanha-lo ate aqui, conseguindo, assim, um tempo para digerir os últimos acontecimentos. Ao fim da segunda dose, pensei em ir embora, mas o toque do celular me fez permanecer. No visor estava indicado mais uma ligação de Fatinha e como fiz com as outras quatro: Ignorei. Não tinha paciência para conversar, ainda mais quando o assunto em questão seria a Lia e seu novo namorado/ficante ou qualquer que seja o papel que o Bruno represente em sua vida. Aliás, esse foi o tema do nosso ultimo encontro.

“Quanto tempo vai ficar fora?”

“Não sei... Depende de como tudo ocorrer por lá.” Continuei a colocar roupas na bagagem.

“Dinho... – Seu tom era de angustia – Você já sabe né? Do Bruno e da Lia?”

Eu não só sabia como também havia sido agraciado pela cena dos dois juntos.

“Sei.”

“E?”

“Nada.”

O silêncio se instalou no pequeno quarto. Fatinha estava tão ferida quanto eu, mas se esperava que eu fizesse algo, se enganou. Ela foi embora e eu não remediei o clima ruim que ficou entre nós. Detestava tratar mal as pessoas, ainda mais minha amiga, mas não tinha interesse em ser cordial com ninguém.

Guardei o celular no bolso e pedi mais uma dose de uísque. Não sou fã de álcool, mas que se dane! Dessa vez, ao beber o liquido, o gosto foi mais amargo. Talvez por estar misturado a minha raiva. Suspirei e abaixei a cabeça. Nada era o que eu pensava. Nada era o que eu queria. Nada era o que sentia... Eu era nada. Nada pra Lia ou pra mim mesmo.

“Posso me sentar aqui?”

Levantei os olhos e vi uma morena de cabelos longos me mirando com olhos verdes. Bonita, de estatura baixa parecia procurar companhia.

“Sim.” O assento não era meu afinal.

“Entrei e vi você aqui... Parece cansado. Imaginei que talvez quisesse companhia.”

Não tinha a intenção de fazer amigos, por isso permaneci calado.

“Desculpe. Você deve pensar que eu sou uma intrometida, né? Chegar assim, sem mais nem menos, e começar a falar sem parar.”

“Não... não penso isso. É que eu já estou saindo.”

Meu estado de espírito não me dava o direito de destratar ninguém. Ela pareceu desapontada.

“Tudo bem... Meu nome é Luana. Então, acho que isso é um tchau...”.

“Adriano. Meu nome é Adriano.”

“Hum... bonito nome, assim como o dono.”

Sorri meio sem querer pelo fato de estar numa ‘fossa sentimental’ e ser paquerado por uma desconhecida.

“Acho que isso foi um elogio. Obrigado.”

“Claro, claro. O que faz aqui em São Paulo. Você não tem cara de quem é daqui... Arrisco um lugar mais como: Paraná?” Ela sorriu.

“Não. Sou do Rio... Vim a São Paulo a trabalho.” Falei sem maiores detalhes.

“Nossa que coincidência! Eu também sou do Rio. Não de lá exatamente, sim de Brasília. Mas faço faculdade de Cinema e vim com uma amiga passear e assistir umas palestras.”

Esquecida a decisão de ir embora, entabulei uma conversa com a ex-desconhecida Luana. Era uma pessoa muito simpática, alegre e extrovertida e me fez descontrair um pouco a tensão. Os temas da nossa conversa foram os mais variados: Filmes preferidos, viagens, músicas, situações engraçadas, mas nada no campo pessoal. As horas passaram rapidamente e a noite anunciava, lá fora, um céu sem estrelas. A chuva se intensificou e o restaurante estava praticamente lotado.

“Foi um prazer te conhecer, mas acho que chegou a minha hora.”

“Ah... pena! Quem sabe a gente não se vê lá no Rio? A gente podia sair uma noite quem sabe?”

Resolvi cortar qualquer intenção.

“Luana eu gostei muito do nosso papo, mas nesse momento não quero me envolver com ninguém. Desculpe se passei a impressão errada.”

Ela riu.

“Eu disse que nós poderíamos sair, jantar ou algo do tipo. Eu não te pedi em casamento.”

Ela tinha razão. Corei pela minha pressa em julgá-la.

“Eu... eu devo parecer um idiota, né? Eu não quis ofender, só que...”.

“Não precisa se explicar, eu sei como é – Ela riu mais uma vez – Estranho, mas você sou eu há um ano quando estava apaixonada demais para esquecer.”

Não entendi o que quis dizer com isso. Que droga ela tava falando?!

“Pela sua cara posso deduzir que não faz a mínima ideia sobre o que eu to falando, né? Meus amigos falam que eu sou direta indiretamente. Deixa-me explicar... Na verdade, eu passei um tempo te olhando. Não foi intencional, mas algo na sua postura me chamou a atenção. Você um cara atraente, com um papo legal, como comprovei, sozinho num bar bebendo uísque como quem bebe água. Não é da minha conta, mas...”.

“Não é da sua conta!” Disparei ríspido.

Não sou nenhum paciente para ser analisado e ela, certamente, não é nenhuma psicóloga.

“Quando você tenta o seu melhor, mas não tem sucesso. Quando você consegue o que quer, mas não o que precisa. Quando você se sente cansado, mas não consegue dormir: Preso em marcha ré... Fix you do Coldplay. É exatamente assim como nos sentimos, né?”

Fiquei calado. Não sei por que, mas os seus olhos pareciam ler minha alma. Ela continuou.

“Comigo aconteceu o mesmo... Eu amava alguém que teve problemas e isso nos afastou. O tempo passou e sem nenhuma noticia, acabei me envolvendo com um cara que parecia ser a pessoa certa. Porem, mal sabia o grande canalha que ele era... Daí eu reencontrei o rapaz que amava e descobri que ele estava com outra. Que o nosso namoro, eu e a vida que ele teve antes nada mais significavam. E tudo desabou... E só quem vive isso pode reconhecer outro que passa pelo mesmo.”

“Por que tá me dizendo essas coisas? Você me conheceu há algumas horas e já falou toda a sua vida... Eu não entendo.”

Minha expressão alternava entre confusão e raiva. Luana sorriu de forma desconcertante.

“Sabe que eu não sei? Acho que gostei de você... Queria que alguém tivesse me dito o que eu te disse. Uma só pessoa tivesse me impedido de perder tanto tempo lutando contra algo que não tem volta.”

“Como pode saber que se trata de situações iguais? Não é porque você não teve sucesso que os outros também não possam ter. Eu amo a Li... Quer saber? Eu tenho que ir embora!” Chamei o garçom e pedi a conta.

“Eu não queria ser inconveniente. Quem sou eu pra dizer qualquer coisa? Eu já fui egoísta também, pus meu amor acima do que era melhor para ele. E você? E se seu amor não for o melhor para ela?”

Após pagar a conta, caminhei a passos largos ate a saída. O vento frio me pegou em cheio e as gotas da chuva atingiram minha pele como pequenas agulhas. Dei sinal para um táxi e entrei no veículo antes mesmo deste parar no acostamento.

“E se seu amor não for o melhor para ela?”

Quem aquela garota pensa que é pra se meter assim na minha vida? Não é porque a história dela não deu certo que a minha não vai dar! Ela não tem como saber. Ela não... Tem razão.

“Pra onde senhor?”

A porta foi aberta e Luana entrou.

“Para o hotel... Na rua... Nº 324” Ela falou sem cerimônia.

“Quem te deixou entrar aqui?”

Perguntei ríspido enquanto o motorista seguia caminho pelas ruas apinhadas de carros.

“Ah... quanto cavalheirismo! Lamento, mas seria um milagre encontrar outro taxi aqui por perto no meio desse temporal. Pode ficar despreocupado, pois não vou falar mais nada... Eu só quero ir pra o meu quarto e ter uma boa noite de sono. Você pode seguir viagem depois.”

Ela fechou os olhos e recostou-se na porta ignorando a minha presença.

Fiquei calado. Entretanto, o breve encontro no bar com a desconhecida ao meu lado, me fez relembrar fatos que antes eu ignorei. Lembranças que permaneceram sob o amor que nutria e que preferi esquecer.

“Quando a gente ficou, você sentiu alguma coisa?”

“Não!”

Foi o que a Lia disse quando estivemos presos na sala no colégio. No acampamento quando a beijei ela se afastou. Inventou um namoro com o Gil e só admitiu o que sentia quando nos beijamos na peça. Mas a presença da Raquel e a proibição dos meus pais tornaram nossa relação mais difícil. Ela não me deixava ajudar. Só sabia me mandar embora, mas eu sempre voltava. Não queria admitir que pudéssemos acabar assim. E tudo piorou... A separação dos pais, a distancia da Ju e do Gil a fizeram ficar mais fechada e nada do que eu fazia funcionava. Lembro-me como se fosse hoje as palavras que ela disse quando fui viajar pela primeira vez.

“Sai da minha vida!”

E aquilo feriu. E então apareceu a Valentina e acabei me deixando levar por seus encantos. Não sei por que eu a traí, mas estava disposto a esquecer... Porém, isso me perseguiu e a Lia acabou descobrindo.

“Se eu fosse embora, você ia sentir minha falta?”

Eu fui. Ela ficou. Eu voltei e... Ela não me quis.

“Chegamos!”

A voz do taxista me trouxe de volta das lembranças. Olhei para o lado e constatei que Luana me olhava fixamente. “Preso em marcha ré!”

“Já vou... Se quiser pode vir comigo.” Ela estendeu a mão ao sair do carro.

Quando as lágrimas começam a rolar pelo seu rosto. Quando você perde algo que não pode substituir. Quando você ama alguém, mas é desperdiçado... Pode ser pior?...

Eu a segurei. Aquele pequeno gesto dizia mais do que qualquer palavra não proferida. Seguimos ate seu quarto e esperei enquanto ela abria a porta. Luana me olhou a espera de uma reação.

“E se seu amor não for o melhor para ela?”

Entrei no quarto. Ela se aproximou e segurou meu rosto entre as mãos.

“Não precisa dizer nada. Eu não te peço mais que isso”.

“Eu não te ofereço nada mais que isso. Só uma noite.”

Enquanto a água que caia do céu batia contra o vidro da janela fechada, eu beijei-lhe a boca. Suas mãos passearam pelas minhas costas e tiraram a jaqueta úmida que eu usava. Desci meus lábios ate o seu pescoço e me entreti na delicada curva formada pelo ombro e a cabeça. A pele de Luana era macia e quente como mel, mas eu estava frio. Sorri cinicamente e voltei a beijar-lhe a boca enquanto a despia da blusa e em seguida do sutiã de renda. Ela por sua vez tirou minha camisa e abriu o zíper da calça jeans.

Logo após descartar as roupas, nos encaminhei ate a cama. Admirei o corpo esbelto da pequena estranha que conheci mais cedo e que parecia ser capaz de ver além de mim. Coloquei-me ao seu lado, logo após ela passava os lábios pela extensão do meu copo. Luana era uma amante fascinante, mas mesmo nesse momento de prazer não conseguia me ver ligado a ela. Carnal, sim. Emocionalmente, não. Deslizando a boca pela minha barriga ela chegou ao meu sexo ereto. Sua língua acariciou meu membro, brincando com as sensações estampadas no meu rosto.

Me rendi a ela por pouco tempo e logo a mantinha sob mim. Seu sorriso era uma mistura de alegria, tristeza e alivio. Continuamos a nos tocar descobrindo o corpo um do outro.

“Você é lindo.”

“Shh...”

Coloquei dois dedos nos seus lábios. Aquele momento não necessitava palavras.

Trouxe-a mais para perto. Suas unhas se enterram na carne das minhas costas me fazendo ficar arrepiado. Levei minha mão ate o centro do seu âmago e a senti pronta para me receber. Peguei o envelope de camisinha na mesa de cabeceira e o abri. Após nos proteger, me apoiei nos cotovelos mergulhando fundo dentro dela. Luana suspirou diante da primeira investida e calmamente comecei a me movimentar. Ela mexia os quadris junto comigo, gradativamente, aumentei o ritmo dos movimentos. Seus gemidos de prazer chegavam aos meus ouvidos como estimulo, fazendo-me ir mais fundo.

Já no ápice do ato, com os corpos suados e unidos da maneira mais primitiva, dei uma estocada e vi-a chegar ao orgasmo. Após outra investida, eu também cheguei ao ponto mais alto soltando um grito de prazer e raiva. Desabei sobre o corpo pequeno. A respiração de Luana no meu pescoço, aos poucos, voltou ao normal. Rolei para o outro lado da cama quebrando a nossa ligação.

Foram minutos tensos de silêncio naquele quarto. A chuva havia cessado, mas a dor permanecia lá. Eu cruzei um ponto que não tinha mais volta. Me tornei o cafajeste que a Lia dizia ser quem eu era. Estiquei as pernas para fora da cama e caminhei ate minhas roupas.

“Acho melhor eu ir embora.” Falei começando a me vestir.

Luana parecia dispersa.

“Tá... Boa noite.”

Antes de ir embora olhei uma ultima vez para o corpo desnudo sobre a cama. Ela estava de costas para mim e não pude ver o que se passava em seu rosto. Tranquei a porta e caminhei ate a saída. Na rua peguei outro taxi e segui para o meu hotel.

No meio do caminho, o motorista ligou o rádio e reconheci a música que tocava: Fix me da banda 10 Years.

Levou uma vida inteira para perder meu caminho. Uma vida inteira de passados, todo o tempo perdido em minhas mãos. Tornando-se areia e desaparecendo no vento... Cruzando linhas. Pequenos crimes roubando de volta o que é meu... Eu estou bem no fogo. Eu alimento o atrito. Eu estou onde deveria estar. Não tente me consertar...

Meu celular tocou e mais uma vez era a Fatinha. Atendi.

“Alô?”

“Dinho?! É o Gil...”.

“Gil? Por que tá ligando?”

“É sobre a Fatinha... Ela tá no hospital.”



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Notas finais do capítulo

Capítulo by: Érica!

Sendo apredejada em 3,2,1! :D Sei, sei... Sacanagem do Dinho, mas vejam pelo ponto de vista dele: Desde que chegou só tem 'levado patada' da Lia. É inevitável não sucumbir, mas ele tentou ate o fim resistir. Ah... Luana entra na Fic já com o pé direto!... SÓ QUE NÃO! Gostou? Odiou? Comente!

E sexta feira tem mais capítulos para vocês! Beijos!