Para Sempre Lidinho escrita por Érica, Mariana R


Capítulo 28
Fórmula do amor


Notas iniciais do capítulo

"Mantenho o passo, alguém me vê, nada acontece. Não sei por que se eu não perdi nenhum detalhe, onde foi que eu errei? Ainda encontro a fórmula do amor."



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“Tarde animada, Rosa!”

“Não venha com gracinha, seu Nando! Já deu por hoje!”

Dona Rosa, minha “simpática” funcionária me respondeu enquanto varria, irritada, o chão sujo do Misturama. Continuei tocando aleatoriamente alguns acordes na guitarra e rindo sem cansar, relembrando os acontecimentos recentes.

Estava tudo tranquilo no meu restaurante- o Misturama - alguns clientes que tinham o costume de almoçar mais tarde, já estavam se despedindo e agradecendo pelos serviços, quando a Lia apareceu.

“Minha rockeira preferida!” Falei abrindo os braços para receber um abraço dela.

“Fala aí, Nando! Estou sem a chave de casa, pensei em ficar aqui tirando um som com você enquanto minha avó não chega, pode ser?”

“Claro, pega aqui a guitarra que eu vou pra batera!” Falei empolgado. Eu adorava como a presença da juventude me fazia sentir jovem, se é que algum dia eu deixei de ser.

Começamos a fazer um bom e velho rock. A Lia melhorava mais a cada dia depois do ingresso na faculdade e eu me sentia parte disso, afinal fui eu quem começou a ensinar técnicas mais apuradas para ela e a incentivá-la no mundo da música.

Tudo corria bem até que o “Furacão Fatinha” apareceu. Pela cara dela ao ver a Lia, coisa boa não vinha por aí.

“Oi Nando, oi Rosa, oi Lia.” A periguete deu ênfase no nome da minha parceira, mas a mesma não se abalou, apenas respondeu um “oi” quase inaudível.

A Fatinha pediu um suco pra Rosa – que se retirou para a cozinha - e se sentou nas cadeiras do balcão. Fuzilava a rockeira que estava no palco e parecia pensar em algo para falar. Quando ela finalmente abriu a boca, foi silenciada pelo cumprimento de uma terceira pessoa que entrava no meu estabelecimento: Juliana.

“Boa tarde, Nando.” Ela não se deu trabalho de falar com os outros presentes e dessa vez a Lia sentiu o baque, fazendo um acorde tremer algumas casas acima do apropriado.

Eu soltei uma exclamação que condizia com o incômodo do barulho feito.

“Foi mal, Nando.” Ela me pediu, enquanto olhava a melhor amiga se sentar em uma mesa entre o palco e o balcão.

“Sabe, Nando, eu acho que você não devia deixar gente inexperiente tocar no Misturama. Eu pelo menos nunca gosto das seleções musicais e muita gente deve concordar comigo, você deve estar é perdendo clientela, além disso, tem gente que não nasceu pra ser estrela.” Fatinha falou sem cerimônias.

Lia, mais uma vez, fingiu que o comentário não era direcionado a ela. Não era segredo pra ninguém que as músicas tocadas no local eram escolhidas e interpretadas por mim, por ela e pelo Gil.

“Concordo, Nando.” Ju se pronunciou e Lia lhe direcionou um olhar questionador. “Também acho que gente inexperiente não devia tocar, muito menos dançar, ou melhor, achar que dança.”

Fiquei assustado, se até a Juliana – que em 100% do tempo era uma princesa de contos de fada – estava atacando abertamente uma outra pessoa, o rolo iria ficar muito mais sério a qualquer momento.

“Ha-ha-ha.” Maria de Fátima forçou uma risada irônica. “E se não fosse pedir demais, Nando, também acho que gente que só usa roupa cafona não deveria poder entrar.”

Juliana e Fatinha se encararam com raiva. Eu quase acreditei que as coisas parariam por alí, mas outra pessoa resolveu se meter.

“Antes uma pessoa com roupa cafona do que gente que vem aqui quase pelada, certo, Nando?” A rockeira não portava mais a guitarra, estava em pé e com os braços cruzados em frente ao corpo encarando as outras duas.

“Pelo menos eu não preciso ficar me vestindo como uma santa, mas enquanto todo mundo ‘reza por mim’, eu levar para a cama o ex da minha melhor amiga.” Fatinha falou para a Ju.

“Uou. Uou.” Resolvi intervir antes que fugisse ao controle. “Vamos parar por aqui! Vou anotar as sugestões de vocês, meninas. Obrigado pelas ideias!” Falei animado tentando desfazer o clima.

O silêncio tomou conta do lugar até que a Rosa voltou com o suco da Fatinha.

“Tá aqui, menina.”

“Valeu, dona Rosa! Posso te perguntar uma coisa? O que você acha de uma pessoa que rouba o namorado da amiga uma vez e depois quando é traída faz drama? Melhor, além do drama, ainda rouba novamente o namorado da amiga e ainda pega o irmão dela.”

“Eu acho que ela pensa a mesma coisa de uma pessoa que vai pra cama com o irmão e com os DOIS ex-namorados dessa pessoa!” Lia respondeu eufórica.

“Pela descrição, as duas pessoas são bem parecidas.” Ju se meteu.

“Oxe, que diabo é que tá acontecendo aqui mesmo, hein?” Rosa perguntou confusa.

“Não tá acontecendo nada, Rosa. Só gente falsa que prega a moral e os bons costumes, mas por debaixo dos panos faz coisa muito pior do que ela mesma acusa os outros!” Fatinha se levantou, mas não perdeu a pose irônica, continuou a bebericar seu suco.

Lia revirou os olhos, sabia que o recado era pra ela.

“É, marrentinha! Você é vítima quando te traem, mas não é errada quando você trai, certo?” Fatinha soltava seu veneno sem esforços.

“Do que você está falando, Maria de Fátima?”

“Eu estou dizendo que eu sei que você e o Bruno ficaram! Ficar na frente do colégio não é o melhor canto para se esconder, muita gente viu e as histórias correm.”

“Quem disse que eu estava me escondendo?” Lia respondeu a altura.

Dessa vez, a periguete foi nocauteada e se descontrolou. Avançou até a Lia e virou o copo de suco em cima da cabeça da rockeira.

“Valei-me, Cristo!” Rosa levou as mãos a boca.

Lia só teve tempo de sentir o suco escorrer, quando a Juliana pegou um copo de suco de clorofila - esquecido na mesa dos clientes de mais cedo – e fez o mesmo com Fatinha.

“Opa. Eu só estava querendo lavar a hipocrisia da cabeça de alguém!” Ju falou quando a vítima do seu ataque de loucura súbito se virou para encará-la.

“Você perdeu o juízo, garota!”

“Você está falando da Lia, mas e você? Agarrando o Gil por aí enquanto diz gostar do meu irmão! Você não vale nada mesmo e está falando dela. É a suja falando da mal lavada”

“Peraí, Juliana. Você tá dizendo que eu não valo nada?” Lia franziu o cenho e Juliana olhou para ela indiferente.

“Bom, você viu o Dinho se arrastando atrás de você e em vez de dar uma chance pra ele, foi querer ir atrás do Bruno, você também não é das mais corretas.” Ela respondeu dando de ombros.

“Eu não sou a mais correta? Não era você que fazia um drama com virgindade até dia desses e agora deita com o primeiro que aparece?” Lia devolveu.

“Sangue de Cristo tem poder!” O silêncio era entrecortado pelas exclamações chocadas da Rosa. Eu queria rir, mas não conseguia.

“E o que você tem a ver se eu deito ou não com alguém? Você não é dona do Dinho!”

Agora foi Lia quem virou no samurai. Pegou um resto de vitamina no balcão e jogou não em cima da cabeça da it-girl, mas em seu rosto.

Depois disso, tudo foi uma loucura.

A Fatinha pegava tudo que encontrava de comida e arremessava contra a Lia, que por sua vez, jogava restos de refrigerante, suco, vitamina e água na – creio que ex- melhor amiga, Jul. Já a Ju pegava qualquer coisa que aparecesse na frente mesmo, chegando a jogar até o cardápio nas costas da Maria de Fátima.

“FAZ ALGUMA COISA, SEU NANDO!” Vi Rosa passar por mim com a vassoura na mão e se metendo entre o trio, que não fazia grandes esforços para pular o obstáculo que minha funcionária representava.

“Ju?” Gil parecia atônito quando chegou ao restaurante e viu a menina alí, naquela algazarra e arremessando coisas aleatórias contra as outras duas. Foi ele quem impediu que a patricinha acertasse Lia com um porta-guardanapo que faria um considerável estrago.

Ele a segurou pelos braços e a puxou para longe, segurando-a e tendo que se sujar, pois Ju já era um misto de pessoa, suco e sanduíche.

“Menos uma!” Gritei enquanto voltava minha atenção para os berros escandalosos de acusação entre Lia e Fatinha.

“VOCÊ SABE QUE EU GOSTO DELE! EU ESTAVA DANDO MAIOR FORÇA PRA VOCÊ E PRO DINHO E VOCÊ FICA COM ELE! VOCÊ NÃO VALE NADA!”

“QUEM É VOCÊ PRA FALAR DE VALOR? OLHA PRA VOCÊ! VOCÊ NÃO VALE O QUE O GATO ENTERRA!”

Ouvi a voz do Gil, enquanto segurava uma Juliana selvagem, gritar por alguém. Em poucos segundos o Bruno entrou correndo alí e ficou perplexo com a situação.

Lia e Fatinha não estavam mais separadas, mas engalfinhadas – uma com as mãos no cabelo da outra -, falavam coisas desconexas e grunhidos incompreensíveis.

Bruno escolheu segurar a periguete e a puxou pela cintura para tirá-la de cima de Lia.

“Você tá louca, Fatinha? Batendo na Lia assim? Solta ela!”

“AGORA VOCÊ VAI DEFENDER SUA NAMORADINHA, É?” Ela se debatia nos braços do moreno.

Lia aproveitou que sua adversária estava rendida e avançou, mas foi contida por um outro recém-chegado que a abraçou por trás e a segurou fortemente.

“Para com isso, Lia!” Dinho lutava contra a força da pequena loira em seus braços.

“Me solta, caramba!”

Aos poucos e com algumas palavras de incentivo, todos foram se acalmando.

“Pshiu...calma, Lia.” Fiquei chocado ao ver a Lia sendo abraçada por Dinho com, digamos, zelo demais e alguns cochichos em seu ouvido.

Bizarrice igual foi ver o mesmo acontecendo entre Fatinha e Bruno, e ver uma Juliana quase adormecida no colo do Gil.

Entendi o que estava acontecendo, finalmente.

“Sabe, eu já fui jovem como vocês.” Todos me deram atenção. “Eu sei o que é ter um mix de emoções completamente intensos, sei o que é sentir ódio e ao mesmo tempo amor e sei o que é brigar com um amigo por um motivo idiota. E acreditem: esse motivo de vocês é completamente idiota.”

Todos se entreolharam e eu continuei.

“Tudo aqui foi muito óbvio para mim, mas talvez não para vocês. Talvez seja hora de vocês pararem de pensar com o coração e pensar com a cabeça.”

“Eu tenho um cérebro muito bom.” Respondeu Fatinha, meio irritada, meio confusa.

“Pois faça ele parecer maior do que o seu short, minha filha.” Rosa se intrometeu com seu jeito sutil. Todos, exceto a Fatinha, riram.

“Eu só quero dizer que vocês não precisam disso. Dessas picuinhas, desses atritos e desses estresses! Lá na frente, quando vocês tiveram com a minha idade – que nem é tanta assim -, vocês vão perceber que podiam ter vivido muito mais, em vez de ficar quebrando o restaurante alheio.”

O silêncio pairou e ninguém mais parecia querer estar ali e muito menos se olhar. Acho que acertei em cheio o alvo que eu queria.

“Vem, Ju. Vamos nessa.” Bruno chamou a irmã que obedeceu e se retiraram juntos em silêncio.

“Fatinha.” Dinho acenou com a cabeça para eles irem embora e a periguete aceitou, me olhando com olhos cheios de culpa, mas sem dizer uma palavra.

Lia, como já era de se esperar, não precisou ser chamada por ninguém, mas antes de sair falou por todos.

“Me desculpa.”

Nem notei quando o Gil foi embora, ele é tão quieto que se faz presente e some sem nem que percebamos.

Depois de relembrar o acontecido naquela tarde e observar uma raivosa dona Rosa limpando tudo, entendi que apesar de me sentir com dezoito anos e ter a cabeça de um, minhas experiências me faziam ver além de uma simples discussão: aqueles seis se amavam e se amavam tanto que não sabiam lidar com isso, ou melhor, lidavam como sabiam: tentando resolver fórmulas esquisitas que ninguém tinha a solução, além deles mesmos.


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Notas finais do capítulo

Capítulo by: Mariana R.!

Fight coletivo no Misturama! Qué isso novinhas? Qué isso?! E no fim, tudo só ficou mais claro para quem realmente quer ver: Eles se AMAM! Gostou? Comente!



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