Para Sempre Lidinho escrita por Érica, Mariana R


Capítulo 19
Mal entendido


Notas iniciais do capítulo

"O que sobra é mal entendido... Como se fosse um verniz cobrindo toda a verdade que ninguém se dispõe a enxergar." (Autor desconhecido)



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"Gil, você está bem?” Questiono agachando-me perto do grafiteiro.

Voltava da ONG da Balaiada, quando dei de cara com o ex da Ju sentando – muito estranhamente – em frente ao Hostel. Era tarde da noite, não havia ninguém por perto e a situação parecia estar por minha conta. Ao me aproximar, ele levantou a cabeça, porém foi incapaz de formar uma frase coerente.

“Ju... Lia? Fatinha o que faz no meu quarto? O que?”

O cheiro de Vodka que o garoto exalava era perceptível a metros de distância. Segurei o seu rosto entre as mãos e o inclinei em minha direção. Gil mal conseguia manter os olhos abertos e era nítido a sua falta de condições de caminhar. Precisava agir rápido! Mas o que poderia fazer?

“Gil, meu gato, focaliza: Quantos dedos têm na minha mão?” Levantei a direita e mostrei três dedos a ele.

“Sete?” O grafiteiro quase acertou... SÓ QUE NÃO!

Ótimo! Nada como terminar o dia socorrendo um “pudim de cachaça”!

“Eu não sei o que ‘Cê’ andou aprontando, mas não posso te deixar aqui. Vem, levanta! Vou te levar ate em casa.” Falo tirando-o do chão com esforço.

“Não posso! Casa tem mãe muito brava... Casa não. Minha mãe me mata! Há-há-há!” Sob o efeito do álcool, ele começa a rir descontroladamente.

Deus do céu! E agora, o que é que eu faço?

1º Poderia levá-lo para casa e ser a responsável pelo um eminente homicídio;

2º Eu também poderia deixá-lo ali largado, mas a minha consciência não ficaria em paz;

3º E a pior de todas! Eu poderia arrastá-lo ate meu quarto e correr o risco de ser demitida.

As minhas opções eram escassas e pouco animadoras.

Suspirei forte por mais essa dificuldade. Estava cansada, com sono e sem a menor paciência para os meus problemas o que dirá os problemas dos outros. Hoje, o dia não foi dos melhores... E quando foi a ultima vez que um dia foi 100% bom na minha vida mesmo? Acho melhor nem pensar nisso ou o meu resto de noite se tornará ainda pior.

“Isso ainda vai me dar dor de cabeça, mas como eu não resisto a um ‘carinha abandonado’: ‘vamonessa’ pro meu quarto grafiteiro!”

O Gil não apresentou resistência e, convenhamos, nem poderia devido ao seu degradante estado de ‘bebum’. Tomando cuidado para não chamar atenção, nos encaminhei para o meu quartinho e o acomodei na estreita cama. Já mais ‘lá do que pra cá’, o rapaz logo foi vencido pelo sono e me coube apenas à tarefa de tirar-lhe os sapatos, a camisa... (Anotação mental: Óoo... saúde!).

Fiquei por alguns instantes olhando para o carinha ‘estatelado’ na minha cama e levantando hipóteses sobre os motivos que o levaram a beber daquele jeito. Não foi necessário muito raciocínio para concluir que a sua ‘bebedeira’ atende pelo nome JuDinho, mais especificamente, pelo beijo trocado entre os dois – Ju e Dinho – e exposto para Deus e o mundo verem naquele imenso Outdoor do outro lado da rua.

Pobre Gil... É lógico que ele ainda sentia algo pela Jujuba! E ser pego de surpresa por um fato desses não deve ter sido uma experiência agradável. O pior é saber que ninguém tem culpa... Tudo não passou de um grande mal entendido.

“Só espero que essa história se resolva!” Dizia para mim mesma enquanto seguia para a recepção.

Para evitar possíveis confusões, liguei para Marcela e informei que o carinha ia dormir na casa do Fera, com quem havia combinado a história antes, e que amanhã ele voltava para casa.

“Que Deus me ajude, pois essa noite vai ser longa!” Me recosto no balcão.

Senti-me como uma velha naquele momento. Fechei os olhos, cansaço e tristeza se misturavam dentro de mim fazendo nascer uma sensação dolorosa. Lágrimas escorrem lentamente por meu rosto enquanto as lembranças se reavivavam. Bruno... Sua imagem veio a minha mente. Assim tem sido por muito tempo, e mesmo que tenha desejado evitar é inútil. Não luto mais contra esse fato... Apenas sofro o que tenho que sofrer.

Por que Bruno? Porque continua mentido pra mim?

Seu noivado era isso. Mais uma mentira criada para me manter afastada, longe da sua vida e das pessoas cujas opiniões tanto pesavam. Há duas semanas acreditei que tudo havia mudado. Que ele havia descoberto ou mesmo aceitado que me amava, entretanto mais uma vez o Bruno me machucou.

BURRA, BURRA, BURRA! Novamente permiti que ele entrasse na minha vida e na minha alma. Para quê? Para ter que ouvir da boca daquela ‘azeda’ da Ana que ele só queria brincar comigo. E odeio pensar que ela tinha razão. Sou um joguete nas mãos dele. Isso ficou claro quando o vi agarrado a ela... Aos beijos.

O noivado era falso, porém a dor da traição foi bem real.

Voltei para o quarto e vi que o Gil dormia pesadamente. Estendi um velho colchonete no chão, coloquei minha camisola e agarrei no sono assim que encostei a cabeça no travesseiro.

No dia seguinte...

“Bom dia grafiteiro! Trouxe o café da manhã pra gente.” Pus sobre a mesa uma bandeja com pão, iogurte, café e algumas frutas.

Acordei bem cedinho para trabalhar e aproveitando que o Michel saiu para resolver assuntos do Hostel, vim ver como tava meu inesperado convidado.

“Por favor, alguém mande o mundo parar de girar!” Fala com a voz rouca mantendo-se sob as cobertas.

“Nada disso! ‘Cê’ tem que ser rápido e ‘ralar peito’ daqui antes que o Michel volte da rua. Então, faça o favor de dar o fora da minha cama e procurar o caminho de volta para casa.”

“FATINHA!?!” Exclama o garoto ao dar-se conta de quem estava no quarto.

A sua expressão ao me ver foi bem engraçada. Será que ele estava pensando besteira? Isso que dá encher a cara e não lembrar que vida de bêbado não é de ninguém. O Ditado é outro, mas vocês entenderam... Rsrsrsrsrs! ‘Viva La vodka’ pode custar caro!

“Oi pra você também! Quer o resumo ou a história completa?” Sento-me a mesa e sirvo café em uma xícara despreocupadamente.

O olhar de confusão e espanto de Gil eram o maior indicio de que não se lembrava de nada ocorrido na noite passada. Bem que ele merecia uma lição...

“Como foi que eu cheguei ate aqui?” Ele tenta levantar-se, porém é impedido pela ressaca.

“Vai me dizer que não lembra?!” Finjo tom de ofensa.

“Deus... Fatinha a gente? Eu e você a gente não?” Awn... Tão lentinho!

“Pode parar ai mesmo Gil! E eu que pensei que você fosse diferente, mas NÃO... Vocês homens são todos iguais. Usam a gente e fingem que nada aconteceu no dia seguinte! Nem precisa gastar saliva, já que sei ate o que você vai dizer... ‘Que estava bêbado e que não se lembra de nada’! Por favor: ME POUPE!” Termino a beira das lágrimas de crocodilo.

“Isso não é real! Eu to sonhando é isso... Eu vou dormir e quando acordar vou estar no meu quarto.” O grafiteiro volta para baixo das cobertas.

Awn... Que maldade a minha!

“Não precisa se esconder Gil! Tá tudo bem... Não rolou nada. E nada que dizer NADA mesmo entre a gente. Eu te encontrei lá fora e te trouxe para meu quarto e só... Dormi num colchonete. Pode ficar despreocupado que sua honra está intacta.” É impossível conter o riso.

“Então... Por quê? Porque tava me fazendo pensar que eu e você... Que a gente!” Ele levanta-se cambaleante da cama.

Ops! Acho que o grafiteiro não curtiu a brincadeira!

“Ah... nem vem tá? Eu te fiz foi um favor! Bem que queria te deixar largado lá fora, correndo risco, mas tive a consideração de te trazer pro meu cantinho.” Ele parece recobrar a consciência e senta-se ao meu lado.

“Eu tava mesmo tão ruim assim? Acontece que não me lembro de nada, só algumas imagens desconexas na minha cabeça.” Ele coloca o rosto entre as mãos... Parecia derrotado.

“Hey, também não precisa ficar assim, né? Todo mundo faz besteira. Só não me apronta uma dessa de novo... Bebida não é resposta pra nenhum problema. É como minha vozinha sempre diz ‘Bebida tira da cabeça, mas o problema está no coração’!” Ele levanta a cabeça e me olha torto.

“Meu coração vai muito bem obrigado!” Diz Gil ríspido. Sei que por debaixo daquela fachada de homem das cavernas habita um cara sensível.

“Negue o quanto quiser... Mas nós dois sabemos que a verdade grita quando estamos em silêncio – Hesito falar sobre o beijo, mas não tem saída – Esse assunto não é meu...”

“Ele não é!” Ele me interrompe imediatamente.

“Continuando, esse assunto não é meu, mas acredito que exista mais por trás dessa história do que se possa enxergar. Conversa com a Ju... ‘Cê’ vai ver tudo não passou de um engano.” Ele permaneceu calado. Minha tentativa de conciliação parecia não surtir efeito.

“Não existe engano... Eu fui um imbecil por acreditar que ela tinha esquecido o Dinho. Ele é seu amigo e claro que você sempre vai tentar desculpa-lo, mas eu não posso. Mais uma vez aquele Idiota atrapalha a minha vida... Tirou a Ju de mim.” Dizia sua voz repleta de mágoa.

“Gil...”

“Não Fatinha... Agradeço pelo que você fez, mas já chega. Acho melhor eu ir nessa.” Ele veste a camisa, os sapatos e seguimos em silêncio ate a recepção.

“Fatinha, já vou... Desculpa qualquer coisa tá? E não se preocupe, pois hoje a cama é toda sua.” Fala Gil com o que parecia ser um sorriso no rosto.

Fiquei olhando Gil afastar-se... Antes de retornar para meu posto, olhei em direção a pessoa que tocava insistentemente a campanhia do balcão... Então, o vi. Estava lá parado e sua expressão não negava que havia escutado a minha conversa com o Gil. Pensei em explicar, mas não... Não dessa vez. O Bruno sempre fez o pior juízo de mim e nada do que eu diga vai mudar isso. Se ele quiser tirar conclusões precipitadas sobre o que acabou de acontecer: Que o faça!

“Que palhaçada foi essa?” Disse Bruno irônico.

Sorri internamente. Não foi um sinal de alegria ou felicidade. Sorri apenas pela constatação de um fato: Eu estava certa sobre a sua reação.


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Notas finais do capítulo

Capítulo by: Érica :)

Gil pirou o cabeção, mas Fatinha estava lá para ajudar! Entretanto, parece que nem toda boa ação é recompensada e algo me diz que Bruno não viu com bons olhos esse lance 'FaGil'... Gostou? Comente! Beijos!



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