I Can See Clearly Now escrita por Kaline Bogard


Capítulo 9
Capítulo 9




Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/3290/chapter/9

I Can See Clearly Now

—CaP 09-

 

Milhares de pessoas estavam presentes em mais aquela exibição. Parte da audiência devia-se ao fato da banda competir por Gryffindor. Era um marco na história de Hogwarts, e as pessoas desejavam estar presentes junto aos quatro garotos que redesenhavam os cursos do concurso musical.

Harry, Ron e Hermione respiraram fundo diante da multidão ávida que os assistia. Draco não pareceu impressionado. Já vira o estádio muito mais lotado do que aquilo.

O vocalista respirou fundo duas vezes. Harry trocou um olhar com seus amigos. Todos estavam prontos. Então ergueu a mão e ditou o ritmo com as baquetas.

1, 2

1, 2

1, 2, 3

E dominou a bateria. O som dos arranjos era rápido, quase frenético, mas Harry os tirava com calma e domínio típico de quem sabia o que fazia.

Hermione entrou em seguida. As notas mais graves do contra-baixo pulsavam como um coração acelerado. Os dedos pequenos, porém ágeis dominavam as cordas com experiência e confiança só encontradas em músicos com anos de experiência.

Por fim Ron correu os dedos velozmente pela guitarra fazendo-a “chorar” notas longas e pesadas, bem ao estilo da música.

Satisfeito, Draco sorriu e pegou a deixa.

When I look back upon my life

Quando passo minha vida em retrospecto

 

It's always with a sense of shame

É sempre com um sentimento de vergonha

I've always been the one to blame

O único culpado sempre fui eu

A voz diminuiu gradativamente, enquanto sedia lugar à bateria. Harry voltou a dominar a cena rapidamente, as mãos moviam automaticamente, sempre sabendo que notas formar. Hermione e Ron vinham em seguida, dando o apoio que o moreno precisava para incrementar o solo.

For everything I long to do

Pois tudo o que desejo fazer

No matter when or where or who

Não importa quando, onde ou quem

Has one thing in common, too

Tem uma coisa em comum também

It's a, it's a, it's a, it's a sin

É um, é um, é um, é um pecado

It's a sin

É um pecado

Enquanto a voz baixava o tom, a bateria ganhava a cena. Harry sorriu feliz por ouvir os próprios acordes soando tão perfeitos. O solo seria rápido daquela vez, por isso logo baixou a intensidade das batidas cedendo a cena, novamente, para Draco.

O loiro, ao invés de cantar, recitou sonoramente em cadencia perfeita.

Everything I've ever done

Tudo que sempre fiz

Everything I ever do

Qualquer coisa que faça

Every place I've ever been

Todo lugar em que já estive

Everywhere I'm going to

Qualquer lugar que eu vá

It's a sin

É um pecado

Depois de recitar quase lentamente, tendo o compasso marcado pela bateria e contra-baixo, os acordes voltaram a ser mais rápidos, a guitarra de Ron soltou suas lágrimas enquanto a voz de Draco ganhava o ritmo musical forte que era o ponto alto da música.

At school they taught me how to be

Na escola, me ensinaram como ser

So pure in thought and word and deed

Tão puro em pensamentos, palavras e ações

They didn't quite succeed

Não tiveram muito sucesso

For everything I long to do

Pois tudo o que desejo fazer

No matter when or where or who

Não importa quando, onde ou quem

Has one thing in common, too

Tem uma coisa em comum também

It's a, it's a, it's a, it's a sin

É um, é um, é um, é um pecado

It's a sin

É um pecado

O ponto forte daquela música eram o solos de bateria. E esses momentos pareciam ainda mais graciosos com as combinações trazidas pelas mãos ágeis de Harry.

O ritmo era marcante e ágil, mas Harry o compunha com calma e tranqüilidade, mantendo-se tão sereno ao instrumento, como se a melodia trouxesse seu paraíso particular.

Fechou os olhos quase sem perceber, o cérebro treinado trazia cada movimento seguinte, sabia exatamente o que tinha que fazer.

Então Ron dedilhou a guitarra longamente, tirando uma nota de lamento, e Hermione completou novamente, o contra-baixo pulsando como um coração que agoniza.

Draco ergueu as sobrancelhas surpreso pela forma como a canção evoluía. Claramente típica de bons instrumentistas. A vitória estava na palma das mãos, e nem precisara dar tudo de si.

Everything I've ever done

Tudo que sempre fiz

Everything I ever do

Qualquer coisa que faça

Every place I've ever been

Todo lugar em que já estive

Everywhere I'm going to

Qualquer lugar que eu vá

It's a sin

É um pecado

A bateria, o contra-baixo e a guitarra diminuíram o volume do som drasticamente. Cederam a vez totalmente ao vocalista, na parte mais impressionante da canção.

Draco acabou fechando os olhos e respirando fundo antes de, ao invés de cantar, praticamente recitar as próximas frases, arrancando um arrepio de quem o ouvia, platéia e companheiros da Wiz, dada a intensidade da voz que soava macia como seda acarinhando os sentidos.

Father, forgive me, I tried not to do it

Pai, perdoe-me, eu tentei não fazer isso

Turned over a new leaf, then tore right through it

Virei uma nova página, e aí rasguei-a de um só vez

Whatever you taught me, I didn't believe it

Seja lá o que você ensinou, não acreditei

Father, you fought me, 'cause I didn't care

Pai, você lutou contra mim, pois eu não me importava

And I still don't understand

E ainda não entendo

A bateria voltou com força total. Harry mordeu os lábios com força e permitiu que seus músculos fluíssem ao som da prece desesperada que aquela música trazia. Mais que um pedido de perdão, aquela melodia implorava a liberdade, que grilhões impostos e invisíveis libertassem a alma permitindo que içasse voos rumo ao infinito, ganhando não apenas o mundo, mas os céus, o inferno, o universo!

Deixando de recitar e voltando a cantar, Draco prosseguiu sua execução perfeita, ainda que destituída daquela paixão característica que separa os gênios dos artistas tecnicamente perfeitos.

So I look back upon my life

Assim, passo minha vida em retrospecto

Forever with a sense of shame

Sempre com um sentimento de vergonha

I've always been the one to blame

O único culpado sempre fui eu

For everything I long to do

Pois tudo o que desejo fazer

No matter when or where or who

Não importa quando, onde ou quem

Has one thing in common, too

Tem uma coisa em comum também

It's a, it's a, it's a, it's a sin

É um, é um, é um, é um pecado

It's a sin

É um pecado

A bateria diminuiu drasticamente e sem aviso. A guitarra deixou de chorar sua profunda melodia. Apenas o contra-baixo de Hermione prosseguiu com as notas graves. Um pulsar. Um coração que agoniava.

Draco sorriu torto enquanto permitia-se dar o golpe final. A voz saiu mais baixa, suave como o lamento de amor que todos desejam alcançar. Mas que o tem apenas em sonhos.

Confiteor Deo omnipotenti vobis fratres, quia peccavi nimiscogitatione,

Confesso a deus todo-poderoso e a vós, irmãos e irmãs, que pequei muitas vezes por

verbo, opere et omissione, mea culpa, mea culpa, mea maximaculpa

pensamentos, Palavras, atos e omissões, por minha culpa, por minha culpa, por minha tão grande culpa

Ao fim da música Draco sentia-se emocionalmente exausto. Ainda se permitiu um sorriso confiante enquanto a platéia aplaudia em exaltação, impressionada com a apresentação que tinham presenciado.

Nada mais, nada menos que a certeza de uma nova vitoria.

E, daquela vez, graças a Harry Potter e seus dois talentosos amiguinhos.

H&D

Os quatro estavam no solitário salão comunal de Gryffindor, como a única banda que representava aquela casa na competição.

Hermione e Ronald estavam juntos em um dos sofás, Harry e Draco no outro. Os rapazes sentavam-se mais perto do que meros companheiros de banda se sentariam. E nenhum dos dois parecia desconfortável com a proximidade.

— Nós fomos muito bem!

A excitação de Ron era bacana. O ruivo estava feliz, sem se sentir convencido por ter se saído perfeitamente durante a competição da tarde. Tinham intuição de ter passado para a próxima etapa.

Cada vez mais próximos da final!

Além disso, teriam Cho Chang pela frente. E nenhuma garantia de vitória, caso Draco Malfoy continuasse cantando tão mecanicamente. Não haveria bateria, guitarra ou contra-baixo que garantisse o acesso a semi-final.

— Draco...

Harry começou baixinho, querendo começar a colocar as coisas em pratos limpos. Começando pela situação indefinida entre ambos, que passaram uma madrugada inteira trocando beijos, e sentiam algo mais um pelo outro. E também queria deixar os termos da próxima disputa em claros. A partir dali não podiam mais levar as coisas na brincadeira.

Antes que o vocalista pudesse falar algo a porta do salão se abriu e um staff com roupas vermelhas e douradas e um crachá que exibia um leão estilizado passou. Ele olhou em volta e fixou os olhos negros em Draco.

— Malfoy, sua mãe pediu pra chamá-lo.

Draco entreabriu os lábios de surpresa. Sua mãe estava ali? Em Hogwarts? Mas quando chegara à Inglaterra? Além disso...

Cortou o fluxo de pensamentos e deixou o salão sem falar nada aos outros integrantes da Wiz.

Mesmo Harry permaneceu em silencio. Sentira a tensão do corpo do outro rapaz enquanto ele se levantava.

Havia muitos mistérios que ainda se interpunham entre ambos. E Harry queria esclarecer todos. Um a um.

H&D

Narcissa Malfoy continuava linda como sempre.

Draco se admirava em como os dias eram generosos com sua mãe. Pois por mais que os dias se somassem e completassem anos, ela ainda parecia como uma flor delicada que acabara de florecer.

O rosto sempre pálido tinha o frescor juvenil reforçado pela pele perfeita, sem uma marca sequer. Os cabelos loiros caiam em ondas acentuadas ao redor da face, emoldurando-a e descendo com suavidade até o meio das costas.

Cada gesto, cada olhar era carregado da graciosidade e leveza dignos de uma princesa. A paixão e obsessão que Lucius tinha por sua esposa eram perfeitamente compreensíveis. Narcissa poderia ter qualquer homem aos seus pés, mas estava satisfeita com Lucius. Satisfeita e feliz.

— Mãe...

A loira abriu os braços e pediu um abraço que lhe foi ofertado imediatamente. Mais que o tecido caríssimo do terninho que ela usava, Draco sentiu o calor receptivo que encontrava apenas com sua mãe.

— Está tudo bem com você?

— Sim. Não sabia que tinha voltado de viagem.

Narcissa sorriu e puxou o filho para um dos sofás na cabine privativa que a família possuía na casa de Slytherin.

— Cancelei o resto da viagem quando vi as notícias sobre Hogwarts. Você está competindo por Gryffindor... Mal pude acreditar.

— Sinto muito.

— Não sinta – Narcissa não o criticava – Entendo o desespero da sua situação. Quando todas as portas estão fechadas, é preciso encontrar outra saída.

— Mãe...

— Sabe por que eu voltei, Draco? Não apenas pela sua participação em Gryffindor. Mas... Nunca concordei com o que seu pai exigiu – havia dor nas palavras daquela mulher, por ter que tomar partido entre duas pessoas que amava e queria bem. Seu esposo e seu filho. Evidentemente, por mais que amasse Lucius, o amor que tinha por Draco era suficientemente grande e poderoso para sempre colocar aquele garoto, carne de sua carne, como o ser mais importante em sua vida.

— Mas papai disse que eu podia continuar cantando desde que...

— Sei o que Lucius exigiu de você, Draco. Sei que seu pai às vezes pode confundir as coisas. E não espero que você o compreenda, ainda. Meu filho não nasceu para viver em Pubs de segunda categoria – nesse ponto Narcissa se tornou mais categórica – Vi o que fez naquele palco, filho. Você nasceu pra ser grande, um dos maiores. Não permitirei que seu pai estrague tudo por orgulho.

— Não posso quebrar minha palavra – o rapaz sussurrou sem encarar sua mãe. Não era tão fiel à uma promessa pelo simples fato de ser, mas por que Lucius Malfoy faria de sua vida um inferno caso o traísse.

— Não precisa quebrar, Draco – Narcissa segurou carinhosamente no rosto de seu filho, encarando-o profundamente nos olhos grises – Eu te libero do seu compromisso, desfaço a promessa e te faço livre para mostrar quem você realmente é.

Draco Malfoy deixou o queixo pender de leve.

— Mas papai...

— Não se preocupe. Eu me entendo com Lucius. Peço apenas que da próxima vez que subir naquele palco faça o seu melhor e me emocione como costumava fazer quando ainda morava com a gente. Cante como o anjo que você é, Draco.

O vocalista da Wiz sentiu o coração disparar. Não conseguia compreender direito o que acabara de acontecer. Porém se alguém, que não o próprio Lucius, podia desfazer a promessa antiga, esse alguém era Narcissa Malfoy.

Feliz, tomou as mãos da mãe entre as suas e as beijou com carinho. Seria eternamente grato àquela mulher que lhe dera a vida e agora lhe devolvia a autonomia e o direito de escolher o próprio destino.

Não. Draco Malfoy não era um anjo. Mas agradeceria o que ela tinha feito cantando melhor do que qualquer anjo cantaria...


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Música que Draco cantou junto com a Wiz: Its a sin Pet Shop Boys
Pra quem gosta de flashbacks, sugiro que escute essa e dê uma olhada no PV. É algo tão cult que, se não fosse a época, corria o risco de ser trash. Mas eu, verdadeiramente, adoro. Além disso imaginem minha surpresa ao pensar nela que se encaixa no contexto da fic como uma luva?
Agradeço os reviews, mas ainda não tive tempo de responder. Assim que conseguir respondo um a um.