I Can See Clearly Now escrita por Kaline Bogard


Capítulo 12
Capítulo 12




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I Can See Clearly Now

—CaP 12-

 

Ron fechou os olhos e respirou fundo duas vezes. Só então permitiu que seus dedos se movessem calmamente pelas cordas da guitarra formando uma suave melodia. Hermione aguardou o momento certo e entrou dedilhando o contra-baixo, cada nota ecoando sistematicamente junto com as de Ron, numa harmonia tão perfeita que pareciam ter ensaiado a melodia milhares de vezes. Harry bateu o pé no pedal apenas marcando o ritmo, pois a bateria não tinha um papel fundamental naquela música. Na verdade o mais importante seria a voz que a executaria.

Draco engoliu saliva e sorriu. Cantaria dando o seu melhor. Podia sentir cada fibra de seu corpo reagindo à música. Cantar o libertava, cantar dava uma razão a sua vida. Ele nascera para cantar, vivia para cantar.

Era hora de mostrar a todos do que era capaz. Pegou a deixa e começou de forma suave e profunda.

Ben, the two of us need look no more
Ben, nós dois não precisamos mais procurar

We both found what we were looking for
Nós dois achamos o que estávamos procurando

With a friend to call my own
Com um amigo pra chamar de meu

I'll never be alone
Eu nunca estarei sozinho

Draco soava de uma forma tão suave, mas havia uma força tão inquestionável que arrepiou Harry. Ron abriu os olhos, como se fosse convidado a ver, mais que ouvir, o loiro cantando. Hermione inclinou a cabeça de leve, os olhos fixos nas costas do vocalista, os dedos tirando notas mais graves do contra-baixo que soavam como o seu próprio coração.

And you, my friend, will see
E você, meu amigo, verá

You've got a friend in me
Você tem um amigo em mim

O loiro fez uma breve pausa antes de repetir. Toda a postura corporal dele estava mudada, mas não era possível dizer como. De repente o loiro era o dono daquele palco, simplesmente parado ali, como um rei mirando seus súditos.

You've got a friend in me
Você tem um amigo em mim

A voz morreu suavemente. A guitarra de Ron dominou a cena por alguns segundos, antes que Draco continuasse, as palavras nascendo de seus lábios, tão macias e afinadas, que calavam fundo no coração dos ouvintes. Havia uma crescente expectativa em cima daquele desempenho.

Ben, you're always running here and there
Ben, você estava sempre correndo aqui e ali

Here and there

Aqui e ali

You feel you're not wanted anywhere, anywhere
Você sente como se não fosse querido em lugar nenhum, lugar nenhum

Nesse ponto Draco respirou fundo rapidamente. A voz se elevou sem esforço algum, pelo contrário.

A platéia teve a impressão que a música não saia da garganta daquele garoto de aparência frágil e aristocrática. Cada palavra soava como nascida diretamente de sua alma, transpunha o espaço do palco e alcançava o coração de cada um ali presente. Palavras suaves embaladas em seda a acariciar a audição.

A linda voz aumentou um tom gradativa e naturalmente.

If you ever look behind

Se algum dia você olhar para trás

And don't like what you find

E não gostar do que você achar

There's something you should know

Há algo que você deveria saber

You've got a place to go

Você tem um lugar para ir



Calmamente o tom de voz voltou ao nível normal, quando o loiro repetiu a última frase.

You've got a place to go

Você tem um lugar para ir

Ron diminuiu um pouco o ritmo da canção, para acompanhar a estabilizada que Draco dera a canção. O vocalista não deixava nada a desejar a Michael Jackson. O tom era similarmente macio e juvenil, mas não chegava a ser infantil. E era tão igualmente harmonioso...

A platéia, ávida, temia mesmo piscar e perder um segundo daquela apresentação. Cada uma daquelas pessoas sentia como se um anjo estivesse cantando. Um momento que nunca se repetiria na história.

Tentando controlar a emoção e lembrar-se das aulas de técnica, pois, por mais que Draco colocasse tudo de si na canção ainda estavam em uma competição séria. O menor erro e colocaria tudo a perder.

Acalmando as batidas galopantes do coração, não conseguiu evitar virar o rosto de leve, em direção ao resto da banda, mirando-os de vislumbre, antes de prosseguir no tempo certo, quando a guitarra de Ron voltou a ditar um avanço mais acelerado.

I used to say "I" and "me"

Eu costumava dizer "eu" e "eu"


Now it's "us", now it's "we"

Agora é “nós”, agora é “nós”

Voltou a posição normal e encarou a platéia ansiosa. O sorriso mínimo que distorceu seus lábios finos ganhou os telões e fez a parte feminina da platéia suspirar de encanto. Malfoy sabia usar tudo a seu favor, não apenas a voz.

Essa certeza lhe deu mais segurança na hora de repetir o pequeno verso.

Harry, na bateria, precisava fazer pouco. Estava orgulhoso e satisfeito de ter confiado em Draco totalmente. E o momento em que o vocalista se voltara para cantar-lhe aquele pedaço específico da música compreendeu perfeitamente o que ele queria dizer. Era a resposta ao pedido que fizera na noite anterior.

Pedira de forma inusitada. Malfoy respondia de forma ainda mais surpreendente.

Não estavam mais sozinhos. Agora tinham um ao outro, alguém em quem se apoiar.

E, quando Draco repetiu os versos com tanta emoção nas palavras, Harry teve certeza que a longa busca chegara ao fim. Encontrara algo que dava sentido a toda caminhada. Talvez, sendo ainda mais atrevido, ousava dizer que encontrara o amor...


I used to say "I" and "me"

Eu costumava dizer "eu" e "eu"


Now it's "us", now it's "we"

Agora é “nós”, agora é “nós”

A canção se aproximava do final. E Draco sabia, ele tinha certeza, estava se saindo magnificamente. Ele agia como se tivesse feito aquilo por séculos, ou milênios. Como se toda a ancestralidade da família Malfoy com a música se concentrasse nele, e ganhasse vida através de seus lábios. Alguém que nascera para cantar.

A partida estava ganha.



Ben, most people would turn you away
Ben, a maioria das pessoas mandaria você embora

I don't listen to a word they say
Eu não escuto uma palavra do que eles dizem

A última parte da curta melodia chegava. Nesse ponto o líder da banda teve uma intuição. Afastou as baquetas da bateria e tirou o pé do pedal, parando de marcar o compasso. Hermione e Ronald estavam tão acostumados com o baterista, depois de anos treinando, que automaticamente pararam de dedilhar os instrumentos, permitindo que as notas morressem aos poucos.

Os três cravaram os olhos nas costas do vocalista, entregando a cena todinha para ele.

Draco Malfoy sorriu de lado, pouco se importando que o gesto esnobe fosse exibido nos telões e ganhasse o mundo. Então lentamente fechou os olhos e ergueu um pouquinho o queixo, como se pra sentir algo ainda mais profundamente. A sintonia que tinha com a música.

E sua voz dominou naquela improvisada capela, o som profundo ainda mais ampliado pelo microfone. Era poderoso. Era calmo. Era único e inigualável.

Pelos próximos segundos seria apenas a voz daquele anjo em sintonia com o coração das pessoas. E todos, sem exceção, abriram a alma para acolher tamanha oferenda.

They don't see you as I do

Eles não vêem você como eu vejo

I wish they would try to

Eu gostaria que eles tentassem

I'm sure they'd think again

Tenho certeza de que eles pensariam novamente

If they had a friend like Ben

Se eles tivessem um amigo como o Ben

A friend... like Ben...
Um amigo... como o Ben...


Like Ben...

Como o Ben...

A voz foi diminuindo aos poucos, até que apenas o silêncio restasse. Silêncio incrédulo, pelo término de algo mágico, algo puro e impossível de ser descrito. Como se a magia mais elementar os tivesse abençoado. Ou como se o próprio tempo estivesse em suspensão, em protesto pela canção ter chegado ao fim.

Dois segundos depois a multidão explodiu num turbilhão de palmas e vivas, e pedidos de bis.

Draco inclinou a cabeça de leve e agradeceu, virou-se para sair do palco e quase trombou com Harry Potter, que saíra da bateria e viera cumprimentá-lo. E foi uma saudação pouco típica, pois ele o tomou nos barcos e apertou.

— Parabéns – a palavrinha exalava felicidade. Fosse qual fosse o resultado daquela competição, nada diminuiria sua emoção e gratidão.

E satisfação por saber que o loiro se doara daquela forma, como se estivesse livre daquela tal promessa.

Ron aproximou-se de Hermione e coçou os cabelos ruivos, feliz, porém um tanto sem jeito por ter duvidado da capacidade artística do vocalista da Wiz. Depois daquela, estavam quase com a vitória garantida.

Vendo que as palmas estavam longe de terminar, um staff com roupas amarelas (evidentemente de Hufflepuff) acenou desesperado para que a Wiz deixasse o palco ou atrasariam a competição.

Animadíssimo, Harry puxou o loiro pela mão, depois de arremessar as baquetas para o mesmo staff de amarelo. Ron e Hermione tiraram os instrumentos e os apoiaram na parede do fundo.

Sob uma salva de palmas ainda impressionante a Wiz saiu do palco enquanto as cortinas se fechavam.

— Draco isso foi magnífico! – o líder da banda finalmente deu vazão ao que sentia, na segurança do backstage. A adrenalina corria forte pelas veias.

— Parabéns, Malfoy – Ronald teve que dar o braço a torcer.

— Foi impressionante. Ótima música, ótima atuação. Vocês viram os juízes? MacGonagall pareceu mesmo tocada. E Sprout também. Juro que ela secou uma lágrima! Oh, estou empolgada!

— Vamos comemorar! – Harry agitou-se. Então sentiu o celular vibrar no bolso – Ah, só um minuto pessoal. Alô, padrinho! O senhor viu isso...?

E o líder da Wiz foi se afastando, para poder conversar melhor enquanto a próxima banda se preparava para a apresentação.

Tranquilamente Draco Malfoy recostou-se na parede, na porta que dava acesso do bacsktage ao palco, de onde podia ficar sem correr o risco de ser visto pela platéia, quando as cortinas se abrissem. Hermione e Ron se aproximaram, querendo saber o que o vocalista desejava ver. Daquele ponto assistiram Victor Krum entrar acessorado por um staff de amarelo e tomar um lugar ao palco, com expressão fechada impossível de ser desvendada.

O próximo a entrar foi Cedric. O rapaz também tomou seu lugar, parecendo um tanto preocupado. Por último chegou Cho. A garota parecia uma pilha de nervos, retorcia as mãos de forma tensa.

Assim que pôs os pés no palco notou Draco Malfoy apoiado displicente, ávido por assistir a apresentação da banda rival. O loiro sorriu torto, de forma confiante. Esnobe na verdade.

Chang desviou os olhos e foi posicionar-se atrás do microfone, tratando de ajustá-lo a sua altura.

— Vai ser um massacre.

Hermione olhou rápido para ele, antes de voltar a observar a ex-companheira. Massacre seria pouco. Cho era boa, mesmo. Mas perto do talento que Malfoy demonstrara, a chinesa pareceria uma cantora de banheiro.

— Vamos encontrar Harry. Depois que sair o resultado até eu vou querer beber um pouco.

E a baixista deu meia volta. Não queria ver Cho tão humilhada, por mais sacana que tivesse sido a atitude da garota.

— Boa sorte pra eles – Ron desejou com pouca sinceridade. Não perdoava a traição da vocalista tão fácil quanto Hermione. Se bem que o ato vil de Chang rendera um substituto muito melhor pra Wiz.

Draco soltou ar pelo nariz e virou as costas.

— Com certeza eles vão precisar de sorte, Weasley. Ou de um milagre.

Conforme desciam as escadas e os sons da canção preenchiam o local, Malfoy riu baixinho, de forma arrogante. My heart Will GO on. Uma música até que bonita, mas previsível, sem elemento nenhum que desse pontos extras pra banda de Cedric.

Quando a voz trêmula de Cho começou a cantar Draco meneou a cabeça. Nem sorte, nem milagre, não daquela vez. Não haveria comiseração para seus rivais.

A Wiz seria vitoriosa, teve certeza. E Cho Chang, esmagada feito uma barata, teria que deixar Hogwarts.

— Nem hoje, nem nunca, garota.

E que jamais entrasse no caminho de Malfoy outra vez, pois ele não hesitaria em estraçalhá-la sem piedade.

 


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Notas finais do capítulo

Mais um capítulo! Pelos meus cálculos faltam apenas dois e a fic termina. O fim está próximo!
Obrigado a todos que tem comentado. Os reviews estão salvos no meu e-mail esperando um minuto de trégua para responde-los de forma adequada.
Bem, sobre a música de hoje, não importa o que digam. Michael foi e sempre será o rei do pop pra mim. O cara era o gênio, uma mente privilegiada e uma voz que não dá pra explicar, só pra sentir.
Tem várias versões de Ben no Youtube, mas recomendo que procurem usando junto a tag Jackson Five. É um vídeo que o M.J. era adolescente ainda. Foi nesse que me inspirei.