A Gotinha De Amor Que Faltava escrita por Sill Carvalho, Sill


Capítulo 6
Capítulo 6 - Conquistando o Impossível


Notas iniciais do capítulo

Capitulo dedicado a daisyx por ter recomendado a fic. Ahhhhhhhh surtei demais com cada palavra que você escreveu flor. Muito, muito, muito obrigada mesmo do fundo do core ♥

**

Preparadas para saber como o coração ranzinza reagirá nesse capítulo?



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Na manhã seguinte Emmett fora desperto pelo barulho do despertador. O relógio marcava oito e meia da manhã, horário o qual acordava todos os dias para se preparar para ir à empresa. Como havia prometido a sua mãe que voltaria ao trabalho, deixou que o despertador seguisse seu curso normalmente naquela manhã.

Estranhamente ele esqueceu-se que Julia dormia no quarto de hospedes. Saiu da cama, um tanto fadigado devido à noite de sono mal dormida. Entrou no banheiro visando fazer sua higiene matinal, e, possivelmente um banho bem demorado. Quem sabe assim seu humor ranzinza e sua fadiga fossem embora pelo ralo.

Após o banho, Emmett fez a barba pensando em Rosalie. Olhar para a pia do lavabo ao lado da sua, só fazia sentir ainda mais falta da esposa. Ainda havia alguns objetos de uso pessoal dispensados ali. Até mesmo a escova de dentes ela esquecera, tão apressada e angustiada saíra de casa.

Emmett segurou a escova entre os dedos, acariciando as cerdas com o polegar direito. Um nó se formara em sua garganta. A saudade estava se tornando incomoda e de certa forma prejudicial.

“Volta para casa, Rose”, pensou ele.

Divagando em pensamentos devolveu a escova ao suporte que a própria Rosalie havia escolhido a dedo. Direcionou os dedos ao suporte que continha o sabonete liquido, o qual sua esposa usava para lavar as mãos. Esfregou um dedo no outro antes de levá-lo a altura do nariz para sentir melhor o aroma que lembrava tanto a mulher que ama.

Esse ritual vinha sendo feito todas as manhãs desde que Rosalie saíra de casa, estava se tornando um circulo vicioso para o ranzinza McCarty.

Emmett foi puxado de volta à realidade ao som de uma doce voz infantil, porém carregada de medo.

- Papai... – a pequena Julia o chamava do corredor.

Emmett se assustou, pelo fato de tê-la esquecido completamente. Suas mãos atrapalhadas pelo susto momentâneo derrubaram alguns objetos sobre a pia, causando um pequeno barulho.

- Merda... – resmungou ele, tentando impedir que alguns objetos caíssem ao chão.

- Papai... – Julia coçava os olhinhos enquanto o chamava.

- Espera um pouco – gritou de onde estava. Empurrou os objetos que estavam em suas mãos para dentro da pia e saiu correndo do banheiro, entrou no closet, onde vestiu rapidamente uma cueca boxer azul marinho e uma bermuda. Saiu do quarto rapidamente sem ao menos pentear os cabelos nem pôr uma camisa.  Emmett ainda estava atordoado pelo fato de haver uma criança em seu apartamento, chamando por ele.

- Papaizinho...

- O que foi caramba! – esbravejou com grande irritação ao chegar ao extenso corredor sem ao menos olhar para a criança.

Tão logo ele prestou atenção à figura pequena e frágil a sua frente a encontrou com o rostinho manchado de lágrimas secas. Seus cabelos castanhos grudados na testa pelo suor da noite de outrora. Suas mãozinhas entre as pernas, segurando um punhado do tecido do vestido que usara desde que saíra da casa de sua avó Esme.

- Você fez xixi na cama?! – esbravejou incrédulo.

A pequena Julia sentiu-se envergonhada e ao mesmo tempo com medo da reação do pai. Emmett passou por ela indo em direção ao quarto de hospedes onde a garotinha havia passado a noite. Julia se encolheu fechando os olhinhos, acreditando que fosse apanhar naquele momento.

- Julia – gritou ele. – Que droga! – esbravejou puxando os cobertores molhados pelo xixi da garotinha.

Julia se aproximou da porta do quarto que estava aberta. Seus lindos olhos azuis estavam assustados, e suas mãozinhas não paravam de apertar o tecido molhado do vestido, era como se o gesto fosse fazer com que o vestido secasse.

- Diculpa... – pediu em um sussurro.

Sem olhar para a criança, Emmett recolheu todos os cobertores com ignorância e fez um amontoado entre as mãos.

- Porque diabos você chorou praticamente a noite inteira? – pediu com mau humor.

- Não sei papai... – sussurrou com alguns tremores, como se estivesse com soluços.

- Ah você não sabe?! – disse ele sarcasticamente. – Já para o banheiro agora mesmo – gritou raivoso.

Assustada, Julia correu a passinhos trôpegos para o banheiro do corredor. Emmett iria falar que tinha banheiro no quarto onde estavam, mas acabou desistindo, maneando a cabeça como se não acreditasse naquilo. Julia saíra tão rápido de sua frente que ele não tivera tempo de concluir sua frase.

Emmett foi até a área de serviço e jogou os cobertores molhados de xixi sobre a máquina de lavar. Esperava que a diarista resolvesse aquilo depois. Voltou para pôr ao alcance da filha tudo o que ela precisaria no banho, mas ao chegar ao banheiro a encontrou com o vestido enganchado entre a cabeça e um dos braços. Ela parecia sufocar.

Emmett se assustou ao vê-la daquele jeito e correu para ajudá-la se livrar da roupa. Com cuidado ele libertou primeiro o bracinho, que ficou vermelho pela forma como o vestido o prendeu. Com o mesmo cuidado ele passou o vestido pela cabeça, sem notar o quanto ficara preocupado ele suspirou aliviado.

- Seus cabelos estão suados, vai ter que lavá-los – avisou. – Não tenho shampoo para crianças, vai ter que ser de adulto mesmo, até que eu compre outro.

Ele abriu o chuveiro, pegou o shampoo e o condicionador de Rosalie que ali estavam, pegou também um sabonete novo, colocou tudo no chão ao lado do box e saiu do banheiro deixando a pequena Julia sozinha, com sua missão impossível que era lavar os cabelos.

Julia permaneceu parada ao lado do vaso sanitário sem saber o que fazer. Com olhinhos preocupados olhou para a água que caia do chuveiro, depois para a porta. Talvez esperando que seu papai fosse retornar.

- Eu não sei... – murmurou fazendo beicinho, prestes a chorar. Olhou para a porta novamente, porém, Emmett não apareceu.

Coçou os olhinhos antes de começar a retirar a calcinha molhada de xixi, e entrar no box, calçando os chinelinhos cor de rosa. Relutante ela entrou embaixo do jato forte de água morna. À medida que o jato molhava seus cabelos, ela parecia ficar sem ar. Passou ambas as mãozinhas ao rosto varias vezes consecutivas. Segurou o sabonete entre as duas mãozinhas roliças e começou a esfregar na barriga, esquecendo totalmente as outras partes do corpo. Na hora de usar o shampoo ela apertou a embalagem diretamente sobre a cabeça, o que ocasionou shampoo para todo o lado, e, consequentemente espumas e mais espumas. Rapidamente a grande quantidade de espumas atingiram seus olhinhos e então o desespero deu-se inicio.

Julia começou a chorar, esfregando ambos os olhos com força e urgência absurda. Seu choro era angustiante.

Ao ouvir o choro da garotinha Emmett correu até o banheiro, acreditando que ela tivesse caído e se machucado. No entanto, ao chegar lá, a encontrou repleta de espumas, com ambas as mãozinhas coçando os olhos sem parar, o choro não sessava em momento algum.

Rapidamente Emmett começou juntar água entre as mãos e lavar o rosto da filha, que fungava e soluçava entre o choro desesperado.

- Pronto já vai passar... – sussurrava tentando acalmá-la. – Acho que alguém aqui não sabe tomar banho sozinha, muito menos lavar os cabelos – brincou tentando descontrai-la, mas não surtiu efeito algum.

Com os olhinhos fechados, Julia estendeu os braços para Emmett pedindo colo.

- Pa... Papai... – soluçou.

Vendo-a tão frágil e com tantos hematomas espalhados por todo o corpo pequenino, Emmett não foi capaz de negar-lhe colo naquele momento. Pegou a filha em seus braços sem se importar se molharia a roupa que acabara de vestir.

Quando ele a pegou no colo, Julia coçou os olhinhos mais uma vez antes de abri-los. Estavam tão vermelhos que dava dó. Em seus cabelos ainda continha uma quantidade razoável de espumas que ameaçavam escorrer em seus olhinhos já tão agredidos.

- Eu vou te ajudar a retirar toda essa espuma dos cabelos, mas você precisa inclinar a cabecinha para trás, está bem?!

Julia maneou a cabeça positivamente. Emmett inclinou levemente a cabeça dela para trás permitindo assim que a água da ducha respingasse sobre os cabelos, levando embora todo o shampoo. Enquanto isso ele facilitava o processo percorrendo seus dedos por entre os fios castanhos dos cabelos da filha. Levou alguns segundos até que todo o shampoo fosse retirado. Depois disso ele se inclinou para pegar o condicionador que estava no chão.

Julia choramingou em seus braços, encarando o frasco do condicionador.

- Esse não vai arder – tranquilizou. – Eu só vou pôr um pouquinho e já retido. Com a mão livre ele inclinou a embalagem sobre a cabeça de Julia e deixou que caísse uma pequena quantidade. Massageou levemente para que se misturasse aos fios, depois pediu que ela inclinasse novamente a cabeça para trás como ele havia ensinado.  – Viu só, dessa vez não ardeu seus olhinhos – brincou, revelando seu sorriso de covinhas encantadoras pela primeira vez desde que Julia chegara para ele. E sem se dar conta ele lhe deu um beijo na bochecha molhada.

Sua gotinha de amor começava ganhar espaço no coração ranzinza...

Emmett colocou Julia de pé no chão e começou a lavar os bracinhos e pernas dela. Ele estava abaixado e Julia se apoiava no braço forte dele para não cair, devido o excesso de shampoo que derramara por todo o piso do box.

- Agora você lava esse fazedor de xixi – disse Emmett em tom de brincadeira. Julia sorriu revelando covinhas idênticas às dele. – Você é uma bonequinha e o papai é menino – explicou brevemente, sem se dar conta que havia se referido a si mesmo como sendo o papai, o qual ele vinha se negando a ser. – Vai ter que aprender a lavar esse fazedor de xixi, sozinha ou com ajuda da vovó.

Julia sorriu novamente, inclinando a cabeça para o lado.

- Vovó sinou você lavá o seu sazedó de xixi, papai? – perguntou inocente.

Emmett gargalhou estrondosamente, o que fez a pequena Julia esbugalhar os olhinhos azuis, como se não acreditasse no que via e ouvia. Seu papai ranzinza estava sorrindo.

- Não – disse ele. – Foi o seu vovô, Carlisle.

Julia sorriu novamente, lhe provando o quanto suas covinhas eram herdadas dele. De uma forma inesperada isso fez o coração ranzinza se afundar em remorso.

- Certo bonequinha, agora termina isso aí – avisou Emmett, ficando de pé ao lado de Julia, que tentou lavou seu fazedor de xixi a seu próprio modo. Depois disso Emmett a envolveu em uma toalha felpuda branca e saiu do banheiro com ela no colo.

No caminho até o quarto, ele teve vontade de apertar aquelas bochechinhas que estavam com os cabelos grudados por conta da água. No quarto de hospedes Emmett a colocou de pé sobre a cama, e ela começou a pular no colchão. Um simples ato de carinho fez com que todo o medo que a criança estava sentindo antes do banho ficasse esquecido em um cantinho de sua memoria.

- Ei assim você vai cair – avisou casualmente enquanto abria a mochila cor de rosa que Julia trouxera seus poucos pertences. Estava em busca de uma muda de roupa limpa que a filha pudesse usar naquela manhã ensolarada. Pegou um vestidinho em tons de lilás e branco, e uma calcinha branca com uma estampa da moranguinho na frente. – Vem cá canguruzinho – brincou ele, segurando a calcinha para que ela passasse o primeiro pezinho.

Toda serelepe, Julia segurou no antebraço direito do pai e fez o que ele pediu. Assim que ela inseriu os dois pezinhos, Emmett puxou a calcinha para cima e a deixou vestidinha.

- Fica quietinha aí que preciso passar essa pomada em seu machucado senão sua avó vai ficar brava comigo – Julia o encarou com seus olhinhos azuis extremamente preocupados.  – Não vai doer, lembra que quando sua vovó passou nem doeu?! – tentou ganhar confiança. – Eu lembro que você não chorou – Julia encarrou ambas as mãozinhas enquanto mexia uma na outra. – Você não confia em mim?

- Você fica blavo. A vovó não fica.

- É que às vezes eu sou um cabeção. Um idiota que não pensa antes de falar...

- Você não é isso – disse ela, fazendo beicinho. – É o meu papai... – respondeu, tocando a bochecha de Emmett com sua mãozinha roliça.

Emmett ficou um tanto sem jeito com o carinho da criança. Entretanto tentou agir normalmente. Colocou uma pequena quantidade de pomada na ponta do dedo e passou com cuidado nas queimaduras de cigarro no corpo de sua filha. Julia esteve tão quietinha com medo que doesse que mal piscou.

- Pronto nem doeu, viu só?! Agora vamos pôr esse vestido bonito – avisou, segurando o vestido pronto para passar pelos bracinhos dela.

- Papai eu quelo comê – avisou assim que já estava vestida. Alguns fios de cabelos lhe cobriam o rostinho por conta do vestido ao passar por sua cabeça.

- O que você quer comer? – perguntou enquanto colocava as sandálias nos pezinhos dela.

- Você dexa eu comê pãozinho? – ela mexia as mãozinhas uma na outra ao perguntar. – E... – suspirou. – E leite?

- Claro que sim. Porque eu não deixaria?

- Eu não sei... – sussurrou.

- Certo. Agora vamos pentear esses cabelos. Espera um pouco que eu já volto – disse ele ao se retirar do quarto indo em direção ao banheiro do quarto de hospedes, onde pegou uma escova de cabelos.

Ao retornar ele sentou na cama e colocou a pequena Julia em seu colo. Ela esteve muito quietinha durante todo o processo, apenas vez careta, vez ou outra. De certo que Emmett estava fazendo o seu melhor. Ele não era tão desastroso em pentear cabelos, isso se deve ao fato dele pentear os da própria esposa em algumas ocasiões. Só havia um porém; ele não sabia de forma alguma pôr nenhum tipo de elástico de cabelo.  Então deixou que ficassem soltos mesmo, afinal, também estavam molhados. Levou ela ao banheiro do quarto de hospedes, colocou sentadinha sobre o mármore da pia e escovou seus dentinhos com a pequenina escova de dentes, já um tanto velha, que estava na mochila.

Voltou para o quarto com ela nos braços colocando-a novamente sobre a cama. Pegou o controle da TV que estava sobre a mesinha de cabeceira, ligou o aparelho e passou o controle para Julia.

- Pega. Fica aí vendo desenho animado enquanto eu vou trocar de roupa. Você me molhou inteiro – avisou. – Não tem condições de permanecer com essa roupa.

Julia recebeu o controle da TV, olhando com ternura para o seu papai inexperiente.

- Tá bom papai.

Emmett se retirou do quarto de hospedes, deixando a pequena Julia com os olhos vidrados na tela da grande TV de plasma.

Na suíte principal, trocou de roupa e foi para a cozinha passar um café. Preparou a mesa com algumas coisas para o café da manhã, coisas que eventualmente a pequena Julia poderia vir a gostar. Nesse meio tempo, o telefone fixo tocou, ele atendeu ali mesmo na cozinha.

- Oi mãe.

- Como estão às coisas por aí filho?

Ao invés de responder a pergunta diretamente, Emmett tratou de buscar uma saída.

- Mãe eu preciso de ajuda. Isso é sério, não sei lidar com ela sozinho. Talvez, uma babá.

- Nem pense nisso – Esme resmungou. – Você precisa passar um tempo sozinho com a sua filha para que assim se conheçam melhor. Vocês precisam disso filho, não pode negar. Além disso, a Julia é um doce de criança, não deve estar sendo tão difícil assim.

- Mas mãe é muito complicado, principalmente porque ela é uma garotinha. Precisa de uma mulher para cuidar dela. Não de um marmanjo como eu.

- Eu sei que é difícil filho, mas você não é um marmanjo qualquer, é o papai dela. Tenho certeza de que vai tirar isso de letra. Mas me fala, onde está a minha netinha agora?

- Está no quarto de hospedes vendo TV. Acabei de dar banho nela. Não sei por que ela acordou muito suada, e ainda fez xixi na cama.

Esme esboçou um sorriso por saber que seu filho, pelo menos, agora estava tentando ser um bom pai. Mas o fato de saber que seu pedacinho do céu havia passado a noite mal a deixou preocupada.

- Você notou algo estranho durante o soninho dela?

- Bem, ela chorou praticamente madrugada inteira. Isso não é normal, não é?!

- Não, isso não é normal, a menos que ela estivesse sentindo alguma dorzinha. Mas nesse caso acredito que esteja relacionado com os maus tratos que ela sofria na casa onde viveu antes. Você ficou ao lado dela? Não me diz filho que deixou que a sua filha dormisse sozinha na primeira noite em uma casa totalmente nova e estranha para ela.

- Na verdade eu deixei sim mãe – confessou.

- Emmett a Julia é uma criança cheia de traumas. Tem que ser cuidadoso quanto a isso filho. Essa criança já sofreu muito e eu espero sinceramente que você não esteja dando continuidade a esse sofrimento.

- Por Deus mãe, eu jamais torturaria uma criança.

- A violência e a tortura não estão apenas na agressão física, filho. Está também no abandono. No descaso, e na pressão psicológica.

- Eu já entendi mãe... – disse Emmett, envergonhado.

- Ótimo. Espero mesmo que tenha entendido. Eu marquei uma hora para Julia na pediatra, lá pelas dezesseis horas. Você vai levá-la e vai conversar com Doutora sobre qualquer duvida que possa ter. Anota aí o endereço, e, por favor, não chegue atrasado. Talvez seja interessante marcar uma sessão com a psicóloga infantil também, mas isso eu vejo depois da consulta com a pediatra.

Emmett puxou um bloquinho de notas – coisa de Rosalie –, e anotou o endereço que Esme lhe passara.

- Te vejo mais tarde filho. Cuida bem do meu pedacinho do céu.

- Eu juro que vou me esforçar mãe.

- Acho melhor isso ser verdade... – murmurou Esme.

A ligação fora finalizada. Emmett colocou o telefone de volta a base e foi ao quarto de hospedes chamar a pequena Julia para tomar café da manhã ao lado dele. Assim que parou em frente à porta do quarto que estava aberta, ele a encontrou sentadinha no centro da cama com a chupeta na boca e o porta-retratos com a foto de Rosalie ao seu lado, como se estivesse lhe fazendo companhia.

Emmett ficou instigado com a cena que acabara de presenciar. Era a segunda vez que encontrava Julia sentadinha ao lado daquele mesmo porta-retratos. Maneou a cabeça propositalmente, e deu alguns passos se aproximando da cama.

- O que eu falei sobre não retirar nada do lugar?

- Diculpa papai... – se desculpou, estendendo a mãozinha com o porta-retratos para que Emmett pegasse o objeto de volta.

- Você gostou dela, não foi? – perguntou ele, assim que segurou o objeto em suas mãos.

A pequena Julia maneou a cabeça positivamente sem retirar a chupeta da boca.

- Ela também iria gostar muito de você, mas ela foi embora porque me achava egoísta – confessou cabisbaixo.

Julia ficou de pé no colchão e abraçou as pernas de Emmett, afetuosamente.

- Você é o meu papai. O meu paizinho, e eu goto de você, tá bom?!

Emmett sentiu-se tão estranho ao som das palavras sinceras e inocentes de sua própria filha, sua gotinha de amor. Entretanto ele não soube como retribuir o afeto.

- Vamos comer?! – disse ele. – Se eu não estiver enganado tinha uma garotinha aqui nesse quarto, e ela tem os olhinhos tão azuis quanto um pedacinho do céu. E essa garotinha disse para certo alguém que estava com fome.

- Foi a Julinha – respondeu ela.

Emmett gargalhou.

- E onde está a Julinha? – ele se fez de desentendido olhando em volta. Julia apontou o dedinho indicador para si mesma.  – Foi essa aí mesmo – disse Emmett. – Agora vamos comer porque eu já passei margarina no pãozinho que você me pediu.

- Tá bom papai.

Emmett a pegou pela cintura e colocou de pé no chão. Julia saiu do quarto primeiro. Seus olhinhos ainda estavam vermelhos por causa do shampoo, mas ela estava menos tristonha agora. Emmett desligou a TV antes de segui-la. Ao passar pelo console perto do corredor, colocou o porta-retratos de volta ao seu lugar.

O telefone fixo voltou a tocar quando Julia estava passando por perto. Ela parou encarando o aparelho.

- Atende – instruiu Emmett.

Julia ficou na pontinha do pé, retirando o telefone da base.

- Aiô – disse ela, sorrindo para Emmett.

- Oi – disse a voz do outro lado da linha. – Posso falar com a Rose?

- Não tem Ose, só papai.

- Ah, eu posso falar com o seu papai então.

- Tá bom – respondeu Julia esticando o bracinho com o telefone para Emmett.

- Alô – disse Emmett.

- Poderia, por favor, me informar se é da casa de Rosalie McCarty?

- Sim. É o marido dela que está falando.

- Ela está por aí?

- Não, ela está em San Diego na casa dos pais.

- Ah que pena, gostaria muito que ela organizasse a festa de aniversario de seis anos de minha filha.

- Já tentou no celular?

- Já, mas só dá caixa postal. De qualquer forma continuarei tentando. Obrigada, tenha um bom dia.

A ligação fora finalizada e Emmett seguiu para a cozinha, onde Julia já o esperava ao lado da mesa. Emmett se aproximou pegando-a nos braços, colocando de pé na cadeira, ou do contrario, ela não alcançaria a superfície.

- Vamos ter que comprar muitas coisas hoje, hein?! Começando por um peniquinho – disse ele ao se afastar, puxando uma cadeira para sentar.

- Eu vô ficá sozinha? – perguntou Julia, cutucando o pãozinho – bisnaguinha –, com o seu dedinho roliço.

- Claro que não! – respondeu imediatamente. – Você vai comigo – Julia lhe sorriu revelando as covinhas herdadas.  – Come seu pãozinho, gotinha. Você quer cereal? – ela maneou a cabeça negativamente, levando a bisnaguinha a boca. Esticou o bracinho e empurrou a mamadeira vazia para Emmett. – Você quer o leite?! Eu já tinha esquecido.

- Eu quelo, papai – respondeu com a boca cheia.

Emmett sorriu ao ficar de pé, segurando a mamadeira vazia em uma das mãos.

- Essa será a última vez que você usará essa mamadeira, Julia – avisou enquanto preparava o leite com achocolatado em frente ao balcão.

- Não papaizinho... – choramingou Julia.

- Eu não vou te proibir de usar a mamadeira, só vou te comprar uma nova. Essa está muito velha – a pequena Julia suspirou aliviada. – E uma chupeta nova também – disse ele.

- Eu goto dessa pepeta – queixou-se fazendo beicinho.

- Eu sei gotinha, mas essa sua chupeta está muito velhinha igual à mamadeira.

- Não... – insistiu ela, maneando a cabeça negativamente.

- Termina de comer, depois a gente fala sobre isso – disse Emmett lhe estendendo a mamadeira, agora não mais vazia. Mas Julia terminava de comer a bisnaguinha, então, Emmett deixou a mamadeira de frente a ela sobre a mesa e voltou para o seu lugar.

Enquanto Emmett comia um croaçã, Julia desceu sozinha da cadeira e esticou o bracinho para pegar a mamadeira, ficando na pontinha dos pés. Emmett observava de soslaio. Ela se aproximou e lhe pediu colo.

Com um sorriso bobo, o qual ele não conseguiu disfarçar, colocou a pequena Julia sentada no colo, com a cabeça apoiada em seu peito forte. E pela primeira vez na vida Julia tomou mamadeira aconchegada no colo do pai, enquanto esse tomava seu café da manhã tranquilamente.

[...]

San Diego, Califórnia.

Sentada ao pé da escadaria, na casa dos pais, Rosalie relutava contra sua vontade insana de ligar para Emmett naquela manhã. Encarava o celular que estava entre suas mãos, como se o mesmo fosse criar vida a qualquer momento.

A senhora Hale se aproximou de onde a filha estava.

- Porque não liga de uma vez?! Qualquer um pode perceber que está louca para fazer isso, filha. Não fique se martirizando. Vamos ligue, dê bom dia ao seu marido e lhe pergunte como está. Seu coração está pedindo isso.

Rosalie ergueu a cabeça para olhar a mãe, que estava de pé a sua frente.

- Eu sonhei com ele outra vez. Estou cheia de saudades... – abaixou a cabeça novamente. – Sonhei que erámos uma família de verdade. Eu sou mesmo uma idiota, isso nunca irá acontecer. Emmett nunca irá me apoiar na adoção de uma criança. Eu não consigo entender mamãe porque ele tem tanta aversão a um gesto tão lindo e nobre. Mesmo assim eu o quero de volta, eu o amo... – uma lágrima solitária escapou rapidamente percorrendo sua bochecha.

- Então porque não o procura?! Ele também te ama Rose, e você sabe disso melhor que ninguém. Emmett veio te buscar três vezes durante esse mês que se passou, e nessas três vezes você o tratou mal.

- Ainda não é o momento, mamãe – seu olhar ficou observando o vazio. – Ainda não estou preparada para aceitar o fato de que jamais poderei realizar o meu sonho de ser mãe. Quero tanto ter um filho mamãe, mesmo que não seja gerado dentro de mim.  Por isso, preciso pelo mesmo tentar aceitar que isso nunca passará de um desejo perdido.

- Filha pare de se martirizar. Você já parou para pensar que seu marido é um homem jovem e está sozinho em uma cidade grande e tem necessidades, as quais somente uma mulher pode supri-las.

- Para mamãe, eu não preciso ouvir essas coisas. Isso é demais para mim... O meu Emmett não faria isso comigo, eu sei que não.

- É melhor começar a pensar, Rosalie. Você pode estar abrindo caminho para outra mulher na vida do seu marido “outra mulher que pode ter filhos e tirá-lo para sempre de você”, pensou. – Se você o ama tanto não deveria deixá-lo sozinho por tanto tempo.

- Eu sei mamãe, mas é que está sendo muito difícil...

- Faça um esforço filha – pediu.

- Eu não sei o que fazer mamãe. Eu não sei... – resmungou ao ficar de pé subindo as escadas novamente.

Como escolher entre o homem que ama e a maternidade desejada? Duas formas de amor distintas, mas que podia uni-la a uma única felicidade.


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Notas finais do capítulo

O papai ranzinza começou mal, mas a gotinha começou ganhar espaço nesse coração complicado.

O que acharam desse capítulo? Aposto que muitas (os) de vocês esperavam um momento assim, onde ele cuidava, nem que fosse um tiquinho dela.

Perceberam que ele a chamou de gotinha mais de uma vez ♥ que fofo.

E a Rose hein? A mãe está tentando de tudo para Rose perdoar o marido e parar de sofrer tanto.


Obrigada a todas (os) que estão comentando e espero vê-las (os) novamente, combinado?!

Recomendem se achar que a fic merece.

Beijo, beijo

Sill