A Gotinha De Amor Que Faltava escrita por Sill Carvalho, Sill


Capítulo 34
Capítulo 34 – Apresentando a Mamãe


Notas iniciais do capítulo

Aria Lightwood, sua linda. Obrigada por ter recomendado a fic, como sempre suas palavras sendo para mim uma grande motivação.




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O casal passou alguns minutos brincando com a filha, mas, infelizmente, chegou o momento em que a fome falou mais alto. Os três saíram da piscina de bolinhas ao mesmo tempo. Emmett com Julia no colo, não demorou muito ela quis ir para o chão. Mãe e filha estavam totalmente descabeladas, achando graça da situação. Emmett, por sua vez, estava com a camisa totalmente desalinhada.

Olhando-se de cima a baixo ele fez um comentário a respeito de si mesmo, porém, havia divertimento em seu tom de voz.

– Estou parecendo um qualquer.

– Vem cá, vou tentar dar um jeito nisso pra você – pediu Rosalie, levando as mãos à lapela da camisa dele, em seguida, arrumando o nó da gravata.

De canto de olho, ele viu Julia se afastar, levando em uma das mãos uma bolinha cor-de-rosa, distraída com os brinquedos a sua volta.

– Gotinha, não vá pra longe filha. Vem pra perto do papai e da mamãe.

Rosalie sorriu, deslizando as mãos nos ombros largos dele até o antebraço. Enquanto isso Julia voltou para o lado deles sem questionar.

– Onde está o seu paletó? – Rosalie pediu.

– Deixei no carro.

– Ok. Olha, não ficou muito bom, mas deu pra disfarçar o amassado. Não vai ficar irritado com isso, vai?

– Claro que não – afirmou ele.

– Era exatamente o que esperava ouvir.

Ele sorriu, roubando um beijo no canto dos lábios dela.

– Deixa só eu passar em minha sala, retocar a maquiagem, arrumar meus cabelos e o de Julinha, e então podemos ir almoçar.

Ela se abaixou recolhendo suas sandálias, os sapatos do marido e os da filha. Emmett sentou ao lado dela, em um conjunto de bancos almofadados, próximo a uma das paredes. Ele calçou seus sapatos. Rosalie, os dela e os da filha.

– Mamãe cadê o Calinho?

– Ele ficou lá na sala da mamãe. Lembra que ele estava dormindo?! Mas a gente está indo buscar ele agora mesmo. Vamos também arrumar esses cabelos que está uma bagunça, minha princesa. Não podemos sair com o papai tendo os cabelos desse jeito.

– Calinho já acodô.

– A mamãe sabe amor. Por isso vamos rápido, não é?!

– Aham... – ela murmurou.

As bochechinhas de Julia estavam coradas, com alguns vasos sanguíneos em evidencia. O pai afagou ambas suas bochechinhas com o polegar, achando graça.

– Rose, dá um pouquinho de água pra ela antes de irmos.

– Tem um bebedouro logo ali. Mas eu vou dar de lá do meu e escritório mesmo, já que estamos indo pra lá.

– Mamãe Ose, pode levá essa bolinha? Pode?

– Claro que pode gotinha. Você pode levar todas que quiser, a mamãe deixa.

– Não dá ideia, Rose – murmurou Emmett.

– Só essa mamãe.

– Só essa filha?

– Só.

– Está bem, então vamos embora porque o papai está com fome. Vamos antes que ele comece a ficar chato.

– Ei como assim? – Emmett se queixou, meio risonho.

– Vamos deixar isso pra lá.

Com Julia no colo, Rosalie ficou de pé. Emmett a imitou, logo em seguida estavam a caminho do escritório dela.

Ao passar pelo salão principal, onde estava sendo montada a decoração, ambos cumprimentaram Ângela, que estava verificando os detalhes. Rosalie se despediu dizendo que iria almoçar com o marido e a filha e que talvez não retornasse na parte da tarde. Contudo, ligaria para saber como estavam indo as coisas.

Passou no escritório onde tinha deixado sua bolsa e Carinho, deu água pra filha e arrumou os cabelos dela. Quando iria começar arrumar os seus cabelos, Julia avisou que precisava fazer xixi, o próprio pai a levou ao banheiro do escritório.

O carro de Rosalie ficou no estacionamento. Novamente a cadeirinha de Julia foi transferida para o carro do pai, no qual seguiram para o restaurante. Durante o trajeto, Emmett ligou pra secretária pedindo que mandasse alguém pegar carro da esposa e deixasse na garagem do prédio.

Depois do almoço os três foram ao supermercado. Enquanto ele empurrava o carrinho de compras e Rosalie pegava o que precisava, Julia ia à frente pegando as coisas de que mais gostava.

Já na fila do caixa, Rosalie esteve o tempo inteiro distraída com a filha. Emmett precisou lembrá-la de sair de lá quando terminou de pagar pelas compras. Ao chegarem ao estacionamento colou primeiro Julia na cadeirinha, depois foi ajudar o marido guardar as compras no porta-malas.

Foram direto para casa. Guardaram as compras, tomaram banho e tornaram a sair novamente. Dessa vez, no entanto, foram para casa dos pais de Emmett, iriam jantar com eles essa noite.

A família estava na sala conversando, aguardando o jantar ficar pronto.

Carlisle falava com os filhos sobre o trabalho. Rosalie conversava com a cunhada Isabella. Julia estava sentada ao lado do tio, brincando com Carinho. Vez ou outra o tio brincava com ela despertando um sorriso. Enquanto Alice parecia bastante distraída trocando mensagens pelo celular. Esme tinha se ausentado alguns minutos para inspecionar o jantar e sugerir que a mesa fosse posta.

E foi assim, de repente, que Alice caiu na gargalhada. Mesmo sem ter ideia do motivo, Julia também sorriu.

– Que foi titia, que você tá dando uma isada?

– Ai, jujuba linda, foi só uma coisinha que disseram pra titia.

– Ah, e foi engaçado – comentou Julia, ainda sorrindo.

– Está falando com quem? – sondou Emmett.

– Mas hein? – resmungou Alice.

– Mas hein, o que? – ele repetiu.

– Pra que você quer saber? É assunto particular.

– Aí tem. Me deixa ver quem é.

Ele ficou de pé, imediatamente Alice escondeu o celular embaixo da coxa.

– Para. Papai manda o Emmett parar – pediu, se esquivando para que ele não pegasse o celular, mas todo seu esforço foi inútil.

– Quem é esse cara? – ele exigiu.

– Que cara? – Alice fingiu não saber, ainda lutando para ter o aparelho telefônico de volta.

– Esse tal de Jasper sei lá do que.

– Ah, esse aí. É apenas um amigo.

– Um amigo que diz querer beijar sua boca?

– Para – ela exigiu, ficando envergonhada. – Papai faz Emmett parar – seu pedido soou como se estivesse implorando.

Edward se juntou ao irmão mais velho dizendo que iria responder a mensagem. Alice, de repente, pareceu entrar em pânico.

– Pala papai e titio – mesmo não sabendo do que se tratava, Julia tentou interceder pela tia. Contudo, não foi preciso muito mais, a voz de seu avô logo soou autoritária.

– Devolvam o celular pra irmã de vocês. Ela e eu teremos uma conversa sobre isso depois.

Edward voltou imediatamente pro seu lugar. Quando Emmett devolveu o celular para a irmã, ela lhe sentou um tapa no braço, seguindo uma sequencia deles.

No sofá oposto, ao lado do tio, os olhinhos de Julia se encheram de lágrimas e seu beicinho tremeu.

– Não bate no papai. Pala titia, não faze isso. Não faze o dodói no meu papaizinho.

Ela não esperou para ter certeza de que a tia faria como pediu, no minuto seguinte estava no colo do pai como se pudesse protegê-lo.

– Pala sua titia. Eu não vô gotá mais de você. Tô gimal.

– Vem pra mamãe, Julinha – Rosalie tentou tirá-la do meio da confusão. – Deixa o papai e a titia se resolverem sozinhos.

– Não, pô caso que ela vai fazê o dodói no meu papai.

Emmett colocava o braço na frente do corpo de Julia evitando que os tapas da tia a atingisse.

– Para Alice – ele avisou. – Em mim os seus tapas não doem, mas, se acertarem nela tenho certeza de que vai doer e muito. Aí sim você vai me ver irritado.

Imediatamente, Alice entendeu o recado.

– Desculpe.

– Não é a mim que você tem que pedir desculpas. É a minha filha, foi a ela quem você fez chorar.

Encolhida no colo do pai, Julia fazia carinho onde a tia o tinha atingido com seus tapas.

– Desculpe a titia, minha jujuba linda.

– Você feze o dodói no meu papai. Não pode. E agola eu tô gimal de você.

– Não jujuba, por favor, não fica de mal da titia.

Julia deu um beijinho no braço do pai, depois olhou para a tia novamente.

– Não pode fazê isso titia. Calinho fica tliste. Papai do céu fica também tliste com você, sabia?

– Só comigo? Mas o seu papai e o titio foram quem começou me chatear – arriscou Alice, fazendo uma carinha triste.

– O titio não feze um dodói. Mas você sim bateu no meu papai – o lábio de Julia tremeu ameaçando um chorinho. – Não pode fazê isso, não pode. Tá bom?

– Está bem, jujuba. Desculpe a titia?

– Você nunca masi vai fazê isso?

– Não, minha jujuba.

– Então tá bom.

– Você ainda está de mal da titia?

– Não, não tô mais gimal.

– Então me dá um beijinho – pediu.

Fazendo um biquinho, molhado de baba, ela beijou o rosto da tia.

– O que aconteceu? – pediu Esme logo que chegou a sala. – Quem foi que fez meu pedacinho do céu chorar?

– Titia balalina bigô com o papai – ela fez a denuncia sem ao menos pensar. – Mas já pediu diculpa vovó. Já pediu, tá? Não biga com ela.

– Ah, melhor assim. A vovó não vai brigar não, meu pedacinho do céu. Vem no colinho da vovó. Vamos todos pra sala de jantar, porque o jantar já vai ser servido.

No momento em que todos se conduziam para a sala de jantar, Emmett passou o braço em volta da cintura de Rosalie, trazendo-a para mais perto, dando um beijo em seu pescoço. Perto deles, Edward segurava na mão de Isabella.

[...]

No dia seguinte, Emmett acordou bem cedo, preparou a mamadeira da filha e deu pra ela antes mesmo de ela acordar. Queria evitar o que aconteceu na manhã anterior, quando se recusou a comer para não tomar pra ir à escolinha.

Pertinho deles, Rosalie acordou e ficou observando-o alimentar a filha. Após um tempo em silêncio, murmurou:

– Tomara que hoje ela não chore... Estou tão ansiosa para vê-la ir pra escolinha. Vesti-la de uniforme. Preparar seu lanche. São tantas situações que quero viver com ela.

Emmett a olhou. – Lembra-se do que conversamos ontem? Mesmo com choro, precisamos fazer isso.

– É exatamente por isso que estou preocupada.

– É difícil, mas temos que ser firmes na decisão. Você precisava ver o trabalho que foi levá-la na escolinha na primeira semana. O primeiro dia então foi emocionalmente exaustivo tanto para ela quanto para mim. E a dificuldade de fazê-la aceitar que a chupeta passava ter hora para ser usada. Somente na hora de dormir.

– Coitadinha do meu bebê, Emm.

– E de mim,não? Nem um tiquinho? – ele colocou uma expressão de falsa decepção no rosto.

– Ah, sim, coitadinho do meu amor.

– Está zombando de mim, não está?

– Só um pouquinho – ela admitiu. – Mas, sério, amor, eu sinto muito. Eu sei que foi tudo muito difícil. Mas posso afirmar que você tirou de letra. E isso me deixou muito orgulhosa de quem você se tornou. Bom, eu vou preparar o café pra gente. Mas antes deixa só eu escovar os dentes. Deixarei pra tomar banho depois, quando já tiver arrumado a Julinha.

– Não senhora – ele interviu. – Hoje o banho dela é por minha conta. Você só vai vê-la quando já estiver toda arrumadinha. Que coisa linda que é minha gotinha usando uniforme.

Rosalie tocou na ponta do nariz dele.

– Esqueceu que já vi todas as fotos dela. E isso incluiu as de uniforme também, que, aliás, foi você mesmo quem as tirou.

– Mas em foto não é a mesma coisa.

– Nisso você tem razão. Vê-la de uniforme é também uma das coisas que sempre quis. Eu queria fazer isso hoje, mas, já que o papai quer fazer. Me surpreenda então. Traga minha filha toda fofinha pra mim – um sorriu curvou o canto de seus lábios.

– Papai... – a voz de Julia soou preguiçosa. Com uma das mãos ela coçava o olhinho.

– Acorda gotinha – ele pediu, massageando a barriguinha dela sobre o tecido do pijama.

– Cadê a mamãe Ose? – não esperou pela resposta, no mesmo instante ficou sentada na cama, procurado pela mãe com o olhar.

– Olha a mamãe ali – ele apontou na direção do banheiro.

– Bom dia, docinho – disse Rosalie.

Julia sorriu para ela em resposta. Ainda preguiçosa, suas mãozinhas apertavam uma das pontas do paninho, quando olhou novamente para o pai.

– Cadê a minha pepeta?

– Agora é hora de acordar, gotinha. A “pepeta” agora vai ficar na caixinha dela, esperando pela hora da soneca.

– Não... – resmungou, fazendo carinha de choro.

– Não faça essa carinha, hummm. Hoje é dia de ir pra escolinha e você prometeu ao papai e a mamãe que não iria chorar.

Ela olhou dele pra Rosalie, depois encarou as próprias mãozinhas, tendo um beicinho enorme nos lábios. Foi questão de segundos para o choro começar.

No mesmo instante, Emmett a pegou no colo. Rosalie, que estava prestes a entrar no banheiro, voltou para perto da cama preocupada.

– Gotinha, não chore filha. A mamãe também vai com você na escolinha. Quero tanto conhecer sua professora, suas coleguinhas.

– Papai... – ela choramingou.

– Papai não queria te ver chorando assim filha – ele comentou, passando a mão no rostinho dela. – Você disse ao papai que não iria chorar.

– Mais agola eu quelo cholá, papai.

– Porque você quer chorar? O papai não ficou bravo nem nada.

– Pulque tô tliste... Pô caso que o papai qué que Julinha vai pla ecolinha.

– Mas você já estava gostando de ir pra escolinha. Porque fica triste agora? Qual o problema, fala pro papai.

– Pulque a mamãe não vai. Calinho tem medo que mamãe vai embola.

O pai passou a mão novamente no rostinho dela.

– Mas a mamãe não vai embora. Ela vai com o papai te levar na escolinha. Depois nós vamos juntos de buscar.

– É, minha vida. Mamãe não vai embora – esclareceu Rosalie.

– Viu só, a mamãe não vai embora. Não tem porque ficar triste ou com medo. Você não quer mostrar a ela como fica bonita usando uniforme?

Julia afirmou com um breve movimento de cabeça.

– Então, para de chorar gotinha. Deixa o papai te arrumar. A mamãe vai amar ver o bebê dela usando uniforme da escolinha.

– É, gotinha, faz isso pra mamãe – pediu Rosalie.

– Tá bom. Mas ainda Calinho tá tliste.

– Será que se o papai e a mamãe derem um beijinho nele, ele não fica mais triste? – a mãe continuou.

Um sorriso fraco alcançou os lábios de Julia. Ela pegou Carinho, que estava ao seu lado no colchão, e estendeu-o para que a mãe pudesse beijá-lo, depois repetiu o mesmo com o pai.

Os dois, juntos, beijaram seu rostinho sem que ela esperasse. Emmett a pegou no colo e saiu do quarto, indo para o que Julia ocupava. Enquanto Rosalie tomava banho na suíte do casal, ele dava banho na filha no banheiro do quarto de hospedes.

Vestiu nela o uniforme vermelhinho da escola. Penteou os cabelos, enfeitando com um par de presilhas tic-tac de joaninhas. Por muitas vezes teve que segurá-la para que ela não saísse correndo atrás da mãe antes de ficar pronta.

Começava verificar a mochila, quando olhou para o lado Julia já tinha escapulido. Ele saiu de lá com a mochila na mão. Ainda no corredor pôde ouvi-la falar com a mãe no quarto do casal.

– Mamãe Ose, Julinha já tá plonta.

Rosalie, que estava de costas pra porta, olhando-se no espelho, penteando os cabelos, virou-se para olhá-la diretamente. Ao fazer isso, viu também o momento em que o marido parava no umbral da porta com a mochila da filha não mão.

Ela abriu os braços, tendo lágrimas nos olhos, pra receber a filha que correu em sua direção.

– Minha gotinha de amor. Coisa mais linda da vida da mamãe – ainda sentada, abraçou Julia e beijou seu rostinho várias vezes. – Está tão linda filha – deu um cheirinho no pescoço. – E está tão cheirosa.

O som do riso de Emmett chegou aos seus ouvidos.

– Foi o papai que deixô Julinha muito chelosona. Té lavô os cabelos com pupu – dizendo isso, passou a mãozinha nos próprios cabelos.

– Esse papai é um amor – ela olhou para o marido. Ele lhe deu uma piscadela ao mesmo tempo em que erguia a mochila em frente ao corpo.

– Você gotô mamãe? Julinha tá munita?

– Eu amei minha vida. Eu amei. Está linda.

Com delicadeza Rosalie afagou seu rostinho. Julia sorria satisfeita.

– Rose, fica de olho nela enquanto eu me arrumo – Emmett pediu.

– Claro que fico. Pode ir. Me dá aqui a mochila, assim já verifico se está tudo certinho.

Ele se aproximou entregando a mochila a ela.

– Eu já verifiquei – avisou.

– Ah, não seja chato, finja ao menos que não o fez – brincou. – Assim não vai sobrar nada que eu possa fazer.

– Tudo bem. Mas, tem sim uma coisa que você pode fazer. Eu ainda não preparei a lancheira. Pode fazer isso pra mim?

– Mas é claro que sim, agorinha mesmo – ela olhou pra filha. – Vem com a mamãe amor. Vamos preparar seu lanche.

Deixou o quarto segurando na mãozinha da filha. Emmett então entrou no banheiro.

Pouco tempo depois de terem tomado café da manhã, estavam os três a caminho da escolinha. Um CD de músicas infantis estava tocando no aparelho de som do carro. Rosalie e Julia acompanhavam o ritmo da música. Vez ou outra Emmett fazia o mesmo, e isso despertava o riso da esposa que jamais imaginou poder vê-lo nesse papel um dia.

O homem um dia arrogante, hoje era capaz de cantar músicas infantis com a filha.

Ele estacionou em uma vaga, do outro lado da rua, em frente à escolinha, onde já havia uma pequena movimentação de crianças chegando na companhia de um adulto responsável. No portão, a monitora os recebia.

O olhar de Rosalie se estendeu para além dos portões lembrando-se vagamente da imagem do segurança, na última vez em que esteve ali. O mesmo dia que teve o privilegio de segurar a filha no colo pela primeira vez. O mesmo dia em que seu coração foi arrebatado pela garotinha que chorava de dor nos braços do pai. Foi inevitável não regressar no tempo, revivendo as lembranças de todo aquele dia.

Emmett retirou o cinto de segurança, estendeu a mão e tocou o braço da esposa atraindo sua atenção de volta ao presente.

– Rose, está tudo bem? – parecendo confusa, ela olhou para ele. – É aqui – ele ressaltou.

– Eu sei... Estava apenas me lembrando do dia em que nos encontramos aqui... Foi um dia e tanto. Tantas coisas aconteceram. Tantas coisas começaram mudar quando nos encontramos aqui. É impossível não recordar...

Ele se inclinou, deu um beijo rápido nos lábios dela, depois mencionou.

– Mas tudo se encaminhou para um bom resultado.

No mesmo instante que ele se afastou, ela começou retirar o cinto e logo em seguida abriu a porta para saltar.

Emmett retirou a filha do carro enquanto Rosalie se encarregava da mochila e da lancheira.

– Olha xó quem tá ali papai – comentou Julia, indicando com o dedinho na direção dos portões.

– Fala pra mamãe quem é que está ali – ele pediu.

– É Sabine, mamãe. Ela fica de todo o dia ali com as quianças.

– É amor, a Sabine recebe você todos os dias quando o papai te traz?!

– Aham. Todo dia.

O pai a colocou no chão, cada um segurando em uma de suas mãozinhas. Pouco antes de cruzar os portões, Rosalie beijou a pequena mão que segurava na sua.

Com expressão feliz iluminando seu rostinho Julia fez questão de apresentar a mãe.

– Sabine, essa é minha mamãe Ose. Agola Julinha tem uma mamãe. Agola sim tem uma Ose.

A moça se inclinou para beijar a bochecha de Julia com afeição.

– Você está feliz? – Sabine perguntou.

– Julinha tá muito feliz com a mamãe e o papai. E Calinho também – acrescentou.

– Que bom, princesa. Estamos todos felizes que esteja bem. Seja bem vinda de volta Julinha.

Sabine deu mais um beijinho nela e voltou a ficar com a postura ereta. Cumprimentou o casal educadamente apertando a mão de cada um deles.

– Nos vemos mais tarde Julinha.

– Tchau, Sabine.

– Até logo senhor e senhora McCarty.

– Até logo – os dois responderam.

Continuaram seguindo em frente, ainda de mãos dadas, Rosalie levava agora a lancheira na mão livre, Emmett, a mochila.

Na porta da classe, a senhorita Megan veio recebê-los com um bom-dia afetuoso e um sorriso simpático. Depois se abaixou, abrindo os braços, convidando Julia a um abraço.

– Como vai essa princesa? É tão bom tê-la de volta conosco. Estávamos todos com saudades suas meu anjo.

– Senholita Megan hoje Julinha veio também com a mamãe.

– Estou sabendo princesa. Hoje é um dia muito especial não é mesmo? Você queria tanto que a mamãe chegasse e ela chegou – Megan olhou para o casal assim que ficou de pé novamente. – Senhor e senhora McCarty, por favor – ela indicou com a mão sugerindo que entrassem na classe.

Rosalie foi na frente de mãos dadas com Julia cujo os olhinhos brilhavam de satisfação e felicidade.

– Olá, senhor McCarty – as criança o cumprimentaram em coro.

A senhorita Megan sorriu, olhando seus alunos cumprimentarem o visitante. Rosalie olhou para o marido, com um sorriso marcando seus lábios, no momento em que ele falava com as crianças.

– Olá, crianças. Como vocês estão?

– Bem, senhor McCarty – novamente responderam todos juntos.

Ele olhou das crianças para a esposa. Seu sorriso falava por si só.

– O que foi isso? – ela pediu encantada.

– Fui colega deles por alguns dias – explicou, relembrando os primeiros dias de aula da filha. Na época, que, afinal, não foi há tanto tempo assim, foi difícil ter que ficar ali sem muito a fazer, mas, hoje achava graça. – Me senti quase como em Um Tira No Jardim De Infância.

Orgulhosa dele, Rosalie lhe afagou o braço.

– Crianças – começou a senhorita Megan –, a Julinha vai apresentar a vocês hoje uma pessoa muito importante para ela.

Imediatamente Rosalie desviou a atenção do marido tornando olhar para a filha. O sorriso jamais deixando seu rosto.

– Essa é a minha mamãe. E ela veio com o papai hoje tlazê Julinha na ecola. Ela não é uma mamãe muito bonita? Palece uma plíncesa de cabelo amalelo. Que bila como oulo.

O sorriso de Rosalie se escancarou. Já o marido, deu uma boa gargalhada assim como todas as crianças fizeram.

Julia encolheu os ombros se sentindo tímida, mas, logo estava sorrindo novamente.

– O nome dela é Ose. Mamãe Ose.

– Crianças digam “olá” para a mamãe da Julinha – a professora pediu.

Novamente o som de vozes infantil preencheu o ambiente escolar.

– Olá, mamãe da Julinha.

Dessa vez apenas os adultos sorriram.

– Olá, crianças. É um prazer enorme estar aqui hoje falando com vocês. É um dia muito importante pra mim. Poder vir à escolinha onde minha filha estuda e conhecer todos os seus coleguinhas é algo que me faz imensamente feliz.

Duas menininhas pediram permissão para levantar de seus lugares e ir até a frente. Cada uma delas abraçou Julia; um abraço meio atrapalhado, mas especialmente sincero.

– Quem são essas princesas, filha? – pediu Rosalie.

– É amiga de Julinha, mamãe. É a Sofi e a Mabel, as melholes amigas.

– São suas melhores amigas. Que coisa mais linda, meu anjo. Mamãe está tão orgulhosa de você. E o papai então, nem se fala, olha só pra ele com essa cara de bobo.

Julia inclinou o rostinho para olhá-lo, seu sorriso se refletindo no dele, idênticos. Ele a pegou no colo, dando um beijo no rosto antes de colocá-la de volta no chão.

– Julinha, meu anjo, senta lá com a Sofi e a Mabel. Eu gostaria de conversar um pouquinho com seu papai e sua mamãe – a senhorita Megan pediu.

Julia olhou de um para o outro, indecisa.

– Vai lá com suas amiguinhas filha. Depois a mamãe e o papai vêm falar com você. Mamãe precisa fazer algumas perguntas pra sua professora.

Ela entregou Carinho para a filha e junto com o marido seguiram a professora ao outro lado da classe. Para não perdê-los de vista Julia andou de costas até esbarrar na cadeirinha que sempre ocupava.

Apenas quando eles se sentaram de frente para a senhorita Megan, ela também sentou em sua cadeirinha. Sofi e Mabel também sentaram novamente em seus lugares, na mesma mesinha que Julia.

O casal conversou com a professora por um bom tempo. Rosalie, sempre interessada, fez milhares de perguntas. Pediu conselhos sobre como agir em determinadas ocasiões. Até mesmo até onde ir à ajuda com as tarefas escolares. Quis saber seu grau de aprendizagem. Seu comportamento.

Pediu também para ver todos os trabalhos feitos por Julia desde que chegou à escolinha. Por varias vezes, assim como o marido, ficou emocionada ao ouvir e ver tudo relacionado à sua gotinha de amor.

Megan fez questão de dizer o quanto Julia era especial. Que estava verdadeiramente feliz em poder trabalhar com ela. Em poder ajudá-la, mostrar que o mundo é muito mais do que medo e dor.

Ao final da conversa, Rosalie estava chorando. Mas não estava triste, muito pelo contrario, estava imensamente feliz. Grata por ter a chance de estar ali, por ser mãe daquela garotinha que tanto lhes tem ensinado sobre o amor.

E quando estavam prontos para irem embora foram novamente falar com ela. Rosalie se adiantou e foi na frente. Julia estava colorindo com giz de cera amarelo. Devagar ela se abaixou ao lado da cadeirinha da filha. Tanto Julia quanto as outras duas garotinhas olharam pra ela.

– Julinha, amor, a mamãe precisa ir agora. Você vai ficar com a senhorita Megan e suas coleguinhas...

– Não mamãe – lamentou Julia, seu rostinho se tornando choroso. – Não vai embola mamãe.

– Eu volto gotinha. Mamãe volta com o papai pra te levar pra casa. Serão apenas algumas horinhas. Vai passar rápido, você vai ver – ela encostou a mão na cabeça do pônei de pelúcia – Carinho vai estar o tempo inteiro ao seu lado. Ele não vai te deixar sentir medo.

Um beicinho enorme se formou nos lábios dela, e, quando piscou, lágrimas rolaram em seu rostinho. A mãe a abraçou por um bom tempo sendo necessária à intervenção do pai.

– Rose você precisa soltar ela... – sussurrou ao tocar seu ombro. – Vamos querida. Eu sei que não quer fazer isso, e te entendo como ninguém, mas é preciso.

Rosalie interrompeu o abraço mesmo contra vontade. Beijou o rostinho da filha, depois passou a mão limpando suas lágrimas.

– Quando for hora de voltar pra casa, a mamãe e o papai vão estar te esperando do outro lado do portão. Eu juro gotinha – o pai afirmou.

– Estarei contando os minutos para Sabine entregar você pra mim – a mãe acrescentou.

– Papai – ela estendeu os bracinhos para o pai. Ele a pegou no colo, passando a mão em seu rostinho, em seguida, beijou sua testa.

– Não chora não, minha gotinha. A gente vem te buscar daqui a pouco.

– Não quelo ficá. Papaizinho leva Julinha com bocê.

– Papai não pode fazer isso agora. Minha gotinha precisa estudar. Se você prometer ficar aqui sem chorar, depois o papai te leva pra tomar sorvete.

Após uma fungada, ela perguntou.

– E a mamãe Ose também?

– Sim, a mamãe Rose também.

– Tá bom, papai – murmurou, passando os bracinhos em volta do pescoço dele. Apenas alguns segundos depois, beijou o rosto dele recebendo outro beijo de volta.

– Agora se despede da mamãe também.

E foi com lágrimas nos olhos que Julia estendeu os braços pra mãe, que a recebeu com beijos. Depois disso, aceitou ir novamente para sua cadeirinha.

Mas quando eles cruzaram a porta, o choro foi inevitável.

– Não mamãe. Mamãe Ose... Ose. Não vai embola mamãe. Papai. Oh, papai.

Através dos vidros, da lateral da parede, Rosalie a viu chorando. Seu primeiro pensamento foi de querer ir até lá e pegá-la novamente no colo. Emmett chegou mais perto, passando o braço direito em volta dos seus ombros, guiando-a até a saída.

Já no estacionamento, ela encostou a testa no vidro da janela do carro do marido, respirando fundo, tentando não chorar. Carinhosamente Emmett beijou seu ombro.

– Ela está pensando que vou abandoná-la... – sussurrou ao marido.

– Mas não vai, amor. Acredite, pra mim também é difícil. Mas tudo isso passa, essa sensação estranha de estar sendo cruel. Ninguém vai machucá-la. Confio neles. Antes de matriculá-la aqui, eu pedi a opinião de minha mãe. Você sabe, ela fez questão de averiguar. Daqui a pouco Julinha estará brincando e rindo com as coleguinhas. A senhorita Megan é uma excelente educadora.

– Eu sei...

Emmett a afastou da porta com o braço trazendo-a para perto de seu corpo. Com a mão livre abriu a porta e ela logo entrou no carro.

Muito pensativa Rosalie falou pouco durante o trajeto até seu trabalho.

Emmett se despedia dela, na calçada, ao lado do carro.

– No horário do almoço venho te pegar pra irmos buscá-la juntos. Ela tem consulta com a psicóloga ainda hoje.

– Eu irei com vocês – ela avisou.

– Mas é claro que sim. Nunca quis que fosse diferente.

Ele se inclinou tomando os lábios dela em um beijo cálido. Uma de suas mãos afundando na nuca enquanto a outra estava espalmada nas costas dela.

– Te amo – disse ele. – Nos vemos mais tarde.

– Também te amo, ursinho. Qualquer coisa, mas qualquer coisa mesmo, me liga tá?

– Ligo sim – ele a beijou novamente – Tenha uma excelente manhã.

– Você também, amor.

Ela se encaminhou para a portaria. Emmett ficou observando-a cumprimentar o segurança e logo depois entrar na casa de festas. Antes de sair dali com o carro, buzinou como que dizendo até logo.


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Notas finais do capítulo

Sill