A Gotinha De Amor Que Faltava escrita por Sill Carvalho, Sill


Capítulo 33
Capítulo 33 – Brincando Com o Papai e a Mamãe


Notas iniciais do capítulo

Obrigada às meninas que comentaram no capítulo anterior. Capítulo especialmente para vocês.



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Horas mais tarde, pouco depois do jantar, os três estavam na sala de tevê, sentados no carpete, montando quebra-cabeças. Alguns estavam totalmente pronto, outros no comecinho ainda.

Julia os montava recebendo ajuda dos pais na escolha das peças. Vestindo pijama, e meias nos pezinhos, ela andava de um lado para o outro pisando em algumas das peças. Toda vez que se distraia o casal trocava ora um beijo, ora uma caricia.

Ela estava ajoelhada enquanto procurava uma peça especifica do quebra-cabeça de Dora Aventureira quando o som da campainha chamou sua atenção.

– Chagô alguém – ela gritou, empurrando todas as peças para o lado com a mãozinha.

Emmett, que estava prestes a beijar a esposa novamente, se afastou no mesmo instante. Rosalie não deu muita importância ao fato de que alguém os procurava, inclinou-se e deu um selinho nos lábios do marido.

Julia estava de pé agora, pisoteando algumas das peças, até chegar perto da mãe e segurar em seu braço.

– Mamãe, tem alguém lá na pota.

– Tem né, amor – comentou Rosalie, olhando para ela. – A mamãe já vai lá ver quem é.

Ficou de pé devagar, retirou uma peça do quebra-cabeça que estava grudada em seu tornozelo e segurou na mãozinha de Julia.

– Não vai não, gotinha. Fique aqui com o papai.

– Quelo í com a mamãe – explicou tendo um beicinho fofo nós lábios.

– Tá bom, então vai lá com a mamãe e deixa o papai aqui na solidão – comentou teatralmente, fingindo estar triste.

Soltando a mão da mãe, Julia foi pegar Carinho sobre o sofá e trouxe para o pai.

– Fica com o Calinho, papai. Fica com ele que você não fica sozinho nessa solidão.

O pai teve que se segurar para não cair na gargalhada. Rosalie deu uma piscadela, com divertimento escancarado.

– Isso, fica aí com o Carinho – ela acrescentou, vendo o marido receber o pônei das mãozinhas da filha.

– Carinho é uma ótima companhia, se você quer saber – ele brincou.

Rosalie saiu de lá sorrindo, segurando na mãozinha de Julia. Já desconfiava de quem poderia ser à porta, para subir aquela hora sem avisar só podia ser alguém da família.

Antes de abrir a porta ela olhou para Julia fazendo suspense. Julia agitou os pezinhos, ansiosa, o pescoço inclinado olhando para a mãe.

E quando enfim a porta foi aberta, estavam lá: Esme, Grace, Carlise, Alice e Edward.

– É as duzas vovós. O vovô Calai, a titia bailalina e o titio das histólias plíncipe – Julia comentou empolgada, arrancando risos da família.

Depois de terem se cumprimentado, Esme perguntou por Emmett. Não demorou muito, ele logo se juntou a todos na sala de estar.

Conversa vai, conversa vem, e as horas correram. Julia acabou dormindo no colo do avô. Depois de pedir licença Rosalie a pegou no colo de levou para a cama. Esme e Grace não perderam a chance e foram atrás dela para tentar sondar a reconciliação do casal. Porém, Rosalie não respondeu nada até estarem fora do quarto. Com meias palavras pediu que fossem com ela para a suíte do casal, onde contou um pouco sobre a conversa que tiveram a noite. O quanto esse novo Emmett era perfeito. Não entrou em detalhes, contudo, afirmou apenas que eram novamente um casal.

Alguns minutos depois as três voltaram à sala onde continuaram a conversar, até decidirem que já era tarde o bastante, e então foram embora. Outra vez Grace foi com eles, mesmo a filha dizendo que não era preciso.

Novamente sozinhos, agora com Julia dormindo, ficaram assistindo a um filme na tevê, deitados juntinhos no mesmo sofá, como quando faziam antes das brigas começarem.

Entre um beijo e outro o clima começou esquentar entre os dois. Emmett então a pegou nos braços e levou para a suíte onde, de portas fechadas, voltaram a fazer amor. Para logo depois adormecerem um nos braços do outro.

Naquela mesma madrugada Julia voltou a ter pesadelos. Ao som do primeiro grito Emmett saltou da cama enrolado no lençol. Em tempo recorde, vestiu o short do pijama e saiu ao auxilio da filha às pressas.

Rosalie acordou atordoada, procurando por suas roupas.

– Emm – ela murmurou, vendo-o sumir do quarto.

– Não se preocupe, eu sei como lidar com isso – respondeu ao longe, no corredor.

Como sempre fazia quando ainda vivia como “pai solteiro” pegou Julia no nos braços, afastando os cabelos de seu rostinho úmido de suor, ninando-a tranquilamente.

Os gritos e o choro da criança rompendo o silêncio da noite como há dias não aconteciam.

Em poucos segundos Rosalie estava de camisola a caminho do quarto onde a filha estava aos prantos.

– Me dá ela, amor – pediu de braços estendidos.

Emmett a olhou apenas por um segundo antes de entregar sua gotinha de amor aos cuidados dela.

– Shhhhh... A mamãe já está aqui. Não tenha medo, docinho. Não tenha medo. O papai e a mamãe estarão sempre aqui por você. Cuidando e velando seu sono. Não deixaremos que nada de mal te aconteça, confie em nós.

Ela se movimentava de um lado para o outro tendo o marido atrás de suas costas, feito uma sombra.

Pouco a pouco o choro e os espasmos foram diminuindo. Mas as mãozinhas ainda cerradas em punho fez o pai entrar novamente em ação. Emmett segurou as mãozinhas dela, afastando os dedinhos da palma, como sempre fazia, massageando-os cuidadosamente.

Rosalie ficou sem palavras, admirada com o quanto ele era experiente ao que dizia respeito à filha. Quando Julia estava mais calma, a mãe conseguiu com que ficasse com a chupeta na boca.

Carinhosamente roçava a bochecha na testa da filha, controlando sua imensa vontade de chorar. De canto de olho viu o marido pegar Carinho sobre a cama, tornar se aproximar passando o braço em volta de seus ombros guiando-a para fora do quarto de hospedes, indo novamente para a suíte do casal.

Vez ou outra Rosalie ainda a sentia tremer em seus braços. Emmett se apressou na frente e foi ajeitar os travesseiros onde ela deitou-se recostada com a filha no colo. Foi automático, no minuto seguinte, ele estava deitado ao lado dela, juntinho a seu corpo, estendendo a mão para afagar as costas de Julia.

Com os olhos cheios de lágrimas, Rosalie olhava da filha para o marido. Frustrados pelos pesadelos terem retomado, estavam tão animados com o sumiço deles nos últimos dias, que custava acreditar que estava acontecendo outra vez.

– Ela vai ficar bem – ele assegurou, com uma confiança que a fazia acreditar em suas palavras.

– Eu sei... E eu estarei lutando, dia após dia, pra isso acontecer. Até que deixem de existir.

– Nós estaremos – ele corrigiu, sem sinal algum de agressividade ou disputa.

Rosalie abaixou o olhar, encostado os lábios no topo da cabeça de Julia. Emmett permaneceu em silêncio ao lado das duas, apreciando a suavidade com que ela sempre ninava a filha. Pouco tempo depois, Rosalie também ficou sonolenta, mas, abriu os olhos ao senti-lo se afastar.

– Aonde você vai? – sussurrou.

– Vou ao banheiro. Volto em alguns minutos – ele sussurrou em resposta.

Ela concordou com um movimento de cabeça vendo-o sair da cama devagar e desaparecer na porta do banheiro. Em pouco tempo ele estava novamente ao lado da esposa e da filha.

Para o dia clarear levaram apenas mais alguns poucos minutos.

Antes de Julia acordar, Emmett levantou e foi preparar a mamadeira. Tanto ela quanto a mãe ainda dormiam. Apesar de estar envolvida no abraço protetor da mãe, Julia estava com bracinhos e pernas esparramados.

E foi apenas alguns minutos depois, quando Emmett retornou, que Rosalie sentiu uma enorme sensação de vazio, bastou ele afastar a criança de seus braços.

– O que está fazendo? – ela pediu, com uma expressão confusa.

– Vou dar mamadeira pra ela...

– Ah, tudo bem. Por um instante pensei que fosse levá-la pro outro quarto. Me dá – pediu, esticando a mão –, deixa que eu seguro enquanto ela mama.

Emmett ergueu os olhos, encontrando com os dela.

– Rose, eu vou precisar ir pra empresa hoje. Agora cedo.

– Está tudo bem, não precisa ficar assim... Como se fosse fazer algo errado.

– Eu só quero que saiba que, se achar que é muito trabalho ficar com ela – ele olhou brevemente pra filha – posso chamar minha mãe pra te ajudar.

– Não seja bobo, ursinho. Eu posso perfeitamente cuidar de minha filha sozinha. Além disso, não se esqueça de que também tem minha mãe. Ela ficou de vir passar o dia com a gente hoje. Disse que tem falo muito com meu pai por telefone e que ele está querendo vir conhecer a neta também – ao dizer a última frase seus olhos brilharam com satisfação. – É possível que ele venha ainda por esses dias, e mamãe volte com ele depois. O que é uma pena, porque queria muito que ficassem perto de mim, na mesma cidade, assim como seus pais estão sempre perto de você e da Julinha.

– Ah, mas, isso é fácil. Eu compro uma casa ou apartamento nas redondezas, e você os convence a vir definitivamente. Deixa a casa deles lá pra quando sentirem saudades do litoral, não precisa vendê-la.

– Não sei se eles aceitariam uma coisa dessas, Emm. Eles gostam bastante de viver lá.

– Tudo bem. Mas, de qualquer forma, a oferta vai continuar de pé. Vê com eles depois, só não se esquece de passar pra mim o resultado da conversa. Tem certeza de que você não quer, ou precisa ir trabalhar hoje?

– Posso muito bem ficar em casa mais alguns dias. Estou dando licença maternidade a mim mesma. Meu trabalho não exige que esteja lá direto. As meninas fazem bastante sem mim. Basta apenas que eu concorde e assine o que tem que assinar.

– Sabe que ela vai precisar voltar pra escolinha, não sabe? – ele pediu, olhando-a interessado na resposta.

– E esse é um momento que quero muito viver com ela. Mal posso esperar para o momento que irei levar e buscar minha filha na escola. Mas não apressa as coisas, ursinho. Tem pouco tempo que ela voltou do hospital – ao dizer isso, afastou a mamadeira da boca de Julia. Deu a ela a chupeta, quando ficou impaciente.

– Eu sei – acrescentou ele. Logo depois se inclinou e lhe deu um selinho nos lábios, para então sair da cama. – Estou indo tomar banho.

– Pena que agora não posso ir com você – admitiu, olhando Julia adormecida ao seu lado.

– Temos muito tempo ainda... Uma vida inteira juntos.

Um sorriso curvou os cantos dos lábios de Rosalie, enquanto observava-o entrar no banheiro e fechar a porta. Isso jamais acontecia antes da chegada de Julia. Tinha por hábito sempre deixar a porta aberta sugerindo um convite, e, detestava quando Rosalie não fazia o mesmo. Mas, agora as coisas haviam mudado.

[...]

Alguns dias depois. Após a visita de Ryan e Grace ter retornado com ele a San Diego. Mesmo não querendo Grace teve que ir. Ryan tinha que voltar para o emprego, e disse que não aguentava mais ficar sozinho em casa. Rosalie preferiu não mencionar, por enquanto, a proposta do marido. Esperaria o momento certo.

Julia estava pronta para voltar à escolinha, mas não tinha a mínima vontade de se afastar da mãe. Tinha medo de que ao se afastar ela desaparecesse. Medo de que ao voltar pra casa não a encontrasse mais.

Fazia alguns minutos que Emmett estava tendo problemas para convencê-la sair da cama para tomar banho e o também o café da manhã.

Desde que havia explicado o motivo de ela ter que ir tomar banho, que ela estava chorando. Nem mesmo a mamadeira que a mãe preparou quis tomar. Rosalie seguia tentando convencê-la.

– Não quelo, mamãe. Papaizinho não quelo í pla ecolinha. Não manda a Julinha pla ecolinha, pô caso que não quelo – ela encostou a mãozinha no rosto da mãe. – Mamãe Ose, não quelo í... Deixa a Julinha ficá com você. Eu fico boazinha, nem faço balulho.

Rosalie estava ansiosa para levá-la a escolinha, mas vê-la chorar a fez querer adiar um pouco mais esse momento. Ela olhou pra Emmett, que estava de pé na entrada do closet parecendo analisar o pedido da filha.

Segurou a pequena mão que tocava seu rosto, dando um beijo na palma macia.

– A mamãe vai conversar um pouco com o papai, mas você tem que parar de chorar e tomar a mamadeira. É importante bebê, tem coisinhas aí dentro que vai fazer você crescer saudável.

Em meio a uma fungada, a mãozinha foi estendida na direção da mamadeira. A mãe pegou de cima da mesinha de cabeceira e entregou na mãozinha dela. Antes de levar a mamadeira à boca, Julia olhou para o pai.

– Tem que tomar tudo – ele avisou, sua voz estava serena. Mesmo com todo o choro, não levantou a voz uma única vez.

Orgulhosa, Rosalie olhou da filha para ele, dando uma piscadela. Assim que Julia colocou a mamadeira na boca, lhe deu um beijinho no bochecha e saiu da cama para ir falar com Emmett. Tendo tempo ainda para vê-la se deitar recostada ao travesseiro do pai.

Emmett entrou no closet assim que ela se aproximou. Fingiu uma expressão séria, mesmo já tendo uma decisão tomada.

Em um tom ameno Rosalie começou:

– Eu sei que devemos levá-la pra escolinha. E eu realmente estava muito ansiosa pra fazer isso hoje, acredite. Já estava contando os minutos para conhecer a professora, e todos os coleguinhas de classe. Até mesmo as instalações. Assim como sei também que não é aconselhável que fiquemos adiando o retorno ao convívio social com outras crianças...

– Mas...? – Emmett interrompeu, segurando-a pelas mãos, mantendo contato visual, imaginando o pedido que ela faria.

Rosalie olhou suas mãos unidas, mordeu o lábio inferior, buscando as melhores palavras.

– Mas é que seria muito bom ficar com ela... Estava pensando em levá-la comigo ao trabalho hoje. Apresentá-la ao pessoal que trabalha comigo. Seria como viver um sonho.

Um sorriso de covinhas se alargou no rosto dele, ao levar as mãos dela a altura dos lábios depositando um beijo.

– Você é a mãe... – avisou. – Tem carta branca para fazer como quiser querida.

– E você é o pai – ela respondeu, tendo os olhos fixos nos dele. – Um pai perfeito. Que se me disser que não posso levá-la, não irei questionar. Vamos fazer o que for melhor para ela, sempre.

– Você concorda comigo que o ideal é que ela volte à escolinha amanhã? – ele emendou.

– Não apenas concordo como afirmo que será exatamente assim.

Ele beijou novamente as mãos dela.

– Então fica combinado assim. Agora vai lá contar pra nossa filha que ela vai ficar com a mamãe como ela queira.

Rosalie meneou a cabeça negativamente, ele logo a olhou desconfiado.

– Você é quem vai falar com ela – explicou. – Não quero que nossa filha pense que serei sempre o meio de fazer o papai mudar de opinião.

– Eu gostei disso – ele admitiu, com um sorriso nos lábios.

– Eu sei que sim. Posso ver isso no brilho de seus olhos.

Naquele instante, ele a puxou para um abraço apertado, seus corpos balançando levemente de um lado para o outro, em um movimento premeditado e repetitivo.

– Não é hora pra isso, ursinho. Temos uma garotinha em nossa cama ansiosa por uma resposta.

– Eu já disse hoje o quanto te amo? – ele sussurrou, ao pé do ouvido, ainda abraçado a ela.

– Ainda não, mas pode fazer isso enquanto voltamos para perto de nossa gotinha de amor.

Ela foi quem se afastou primeiro, segurou na mão dele e o puxou para fora do closet. Foi enquanto caminhavam que ele, se inclinando o máximo que a ocasião permitiu, fez o lembrete.

– Eu te amo, Rose. Te amo feito louco.

Um sorriso involuntário curvou o canto dos lábios de Rosalie. Naquele instante, ele soube que ela havia gostado de ouvir suas palavras.

– Já tomou seu “gagau” filha? – ela pediu assim que parou ao lado da cama.

Julia estendeu a mãozinha, com a mamadeira vazia, na direção dela.

– Julinha já tomô tudo, mamãe. Tudo, tudo, tudo.

– Muito bem, princesa – depois de receber a mamadeira, ela continuou. – Agora o papai tem uma coisa pra te dizer.

Ela olhou para o marido. Ele sentou na beirada da cama, levando Julia para sentar em seu colo. Os olhinhos da pequena brilharam ao olhar para o pai. Rosalie não conseguia esconder a satisfação que sentia toda vez que os via juntos. O amor incomensurável do pai pela filha era nítido em seus olhos.

Antes de começar a falar, ele segurou o rostinho de Julia entre as mãos, beijando estalado na bochecha esquerda.

– Hoje você vai ficar com a mamãe. Vai passear com ela e tudo o mais. Quando estiver pertinho do horário do almoço o papai vai encontrar com as duas para que possamos almoçar juntos.

Rosalie ficou surpresa, seu rosto se iluminou em um sorrio. O sorriso de covinhas de Julia também se escancarou para ele.

– Mas, presta atenção, gotinha. Amanhã você e Carinho vão voltar a frequentar a escolinha. A senhorita Megan e todos os seus coleguinhas estão com saudades. Eles irão pensar que você não gosta mais deles.

– Julinha gota sim – ela o interrompeu, esclarecendo a situação. Mexendo nos dedinhos, confessou. – Mas só que gota mais de ficá com papai e a mamãe Ose.

– Eu sei que você gosta mais de ficar com o papai e a mamãe Rose. E o papai também gosta de ficar com as duas mais do que qualquer outra coisa no mundo inteiro. Mas é preciso trabalhar, estudar, entre tantas outras coisas filha. E é por esse mesmo motivo que você vai pra escolinha amanhã. Não adianta chorar, fazer beicinho, dizer que não quer ir pra “ecolinha” – Julia sorriu desconfiada no momento em que o pai tentou imitá-la. – Então, quando o papai e a mamãe te levar pra escolinha amanhã você não vai chorar, não é verdade?!

Ela afirmou com um leve movimentar de cabeça.

– Não vai cholá – murmurou, ainda mexendo nos dedinhos.

– Agora dá um beijinho no papai, e vai ficar com a mamãe. Papai vai tomar banho pra ficar cheiroso antes de ir trabalhar – Julia fez um biquinho e, em seguida, o pai deu um beijo. – Agora vai lá com a mamãe, papai precisa se arrumar. Já pensou o papai chegar ao escritório usando apenas a parte de baixo do pijama, o que o pessoal vai pensar?

– Pensa que o doutô Aposo pegô, papaizinho.

– É. Eu não quero que pensem isso não.

Julia estendeu os bracinhos pra Rosalie, que a pegou levando-a para sentar em seu colo.

– Você foi ótimo – sussurrou ao marido.

– Obrigado.

Emmett ficou de pé, dando uma piscadela, antes de seguir em direção ao banheiro.

[...]

Pouco tempo depois de ele ter saído, Rosalie tomou banho com Julia e logo depois também saíram. Contudo, antes de sair, Emmett transferiu a cadeirinha de Julia para o carro da esposa.

Assim que chegou ao salão onde funciona a casa de festas infantis, Rosalie apresentou Julia a todos que lá trabalham; as meninas que participavam da organização. Durantes as festas, também recreadoras – Ângela e Leah. A equipe que trabalha no preparo dos doces e salgados. E também o segurança, Paul Lahote.

Levou Julia na sala onde funciona seu escritório. Aproveitou para deixar alguns novos porta-retratos sobre a mesa: fotos de Julia, no dia da festinha de boas-vindas, usando a fantasia de Bela. Uma onde Julia aparecia sozinha e outra tendo os três juntos.

Depois disso, levou ela pra ver as instalações. O salão principal, que estava sendo decorado para uma festa de cincos anos de um garotinho.

A casa de festas organizava em média cinco aniversários por semana. Apesar de nos últimos tempos Rosalie andar meio ausente à clientela nunca se afastou.

A decoração que estava sendo montada era de Toy Story. Embora não fosse o tema de que Julia mais gostava, seus olhinhos brilharam a cada detalhe que via.

Nesse instante as duas se encontravam na área de recreação. Vários brinquedos coloridos pra tudo quanto é lado atraindo o olhar curioso de Julia. Mas o que a deixou fascinada mesmo foi a imensa piscina de bolinhas coloridas unida a um escorrega e uma tubulação.

Segurando na mão pequenina, Rosalie seguiu adiante mostrando todos os brinquedos. Com a mãozinha livre, Julia apontou o dedinho indicador para a piscina de bolinhas.

– O que foi docinho? Você quer ir lá?

Ela apenas afirmou com movimento de cabeça.

– Vem com a mamãe.

– Pode? – os olhinhos azuis brilharam feitos joias preciosas.

– Claro que pode gotinha. Vamos correndo até lá? – sugeriu, com uma expressão divertida no rosto.

Julia abriu um imenso sorriso, idêntico ao do pai, que fez o coração da mãe derreter em puro amor.

Em uma corridinha, no ritmo de Julia, de mãos dadas, elas se aproximaram da borda da piscina de bolinhas. Rosalie retirou as sandálias de salto alto, depois as sapatilhas da filha. Pisando diretamente no chão com a meia-calça, Julia se adiantou indo para mais perto do brinquedo.

Rosalie a pegou nos braços e subiu com ela no escorrega. Com a filha no colo, ela deslizou até mergulhar em meio à imensidão de bolinhas coloridas, gargalhando. Enquanto brincavam, vez ou outra, um gritinho empolgado da garotinha ecoava pelo salão.

Subiram novamente no escorrega e tornaram mergulhar em meio a tantas bolinhas. Dessa vez, ficou agarrada a filha enquanto o riso fácil a impossibilitava de respirar direito.

Ao fundo músicas infantis tocavam aleatoriamente.

Ângela e Leah pararam na entrada da área de recreação e ficaram observando a patroa brincar com a filha, como se fossem duas crianças.

– Tem tubalão – Julia comentou entre risos, em um breve momento que se afastou da mãe.

– Volta pra mamãe, amor. Volta! Rápido.

E foi em meio a gritinhos felizes que Julia subiu em cima de Rosalie.

– Mamãe. Mamãe Ose. Tem um tuba, tubalão.

A mãe a agarrou, erguendo um pouco a cima das bolinhas, gargalhando junto a ela.

– Eu nunca tinha visto a chefa tão feliz assim... – comentou Leah discretamente com Ângela.

– Essa garotinha é o sonho da vida dela. É difícil, para quem está de fora, compreender a imensidão da felicidade que ela está vivendo nesse momento. Mas, nós sabemos o quanto ela queria ser mãe, presenciamos seu choro tantas vezes. Fomos testemunhas de suas lágrimas, enquanto assistia a felicidade de outras mães comemorando o aniversário de seus filhos, exatamente aqui nesse lugar.

– Isso é verdade... – concordou Leah.

– Onde será que está a gotinha de amor da mamãe? – brincou Rosalie, quando Julia se escondeu entre as bolinhas para logo depois aparecer sorrindo.

Ângela e Leah acabaram, também, sorrindo.

– Vamos deixá-las brincando... – avisou Ângela.

A amiga concordou, e juntas, voltaram para o outro salão para dar continuidade ao que estavam fazendo. Acabaram cruzando com Emmett, que vinha chegando, no corredor.

– Alguma de vocês sabe dizer onde está minha esposa e minha filha? Eu estive na sala de Rose agora a pouco, mas a encontrei vazia. Só o pônei de Julia estava lá no sofá.

Leah foi quem respondeu.

– Você irá encontrá-las na área de recreação.

Não mencionou o que estavam fazendo, queria que ele visse por si só, assim como elas tinham visto também.

– Obrigado – ele agradeceu ao passar por elas.

Assim que chegou a área de recreação, parou quando as viu gargalhando, enquanto brincavam na piscina de bolinhas. Não foi preciso muito para seu sorriso de covinhas surgir. Sempre que as via juntas sentia-se o homem mais feliz de todo o mundo. Depois de tantos desencontros e brigas estavam enfim vivendo em harmonia.

O riso de Rosalie o fazia lembrar o quanto a amava. O riso fácil de Julia, o quanto ele havia aprendido com seu amor e inocência; aprendido a amar verdadeiramente, acima de todas as coisas.

– Será que tem lugar pro papai aí? – sua voz soou forte o bastante para se fazer ouvir.

Mesmo com a música que tocava ao fundo, e o riso de ambas, Julia reconheceu imediatamente o som de sua voz.

– Papai. É o papai, mamãe – gritou empolgada, ao vê-lo se aproximar.

A mãe olhou na mesma direção que ela olhava, com um sorriso se formando em seus lábios ao reconhecer a figura do marido, que lhe sorria também.

– Oi amor – saudou Rosalie. – Quando você chegou?

– Acabei de chegar.

– Vem papai! Vem blincá com Julinha e mamãe. Vem papaizinho.

– Não sei se é uma boa ideia...

– É papaizinho, vem brincar com a Julinha e a mamãe – Rosalie repetiu as mesmas palavras da filha com certo divertimento.

Ele inclinou a cabeça para o lado, dando uma gargalhada gostosa.

– Você tem consciência de que, considerando meu peso e tamanho, irei estragar muitas dessas bolinhas.

– Não seja bobo, ursinho. Vem se divertir com a gente.

– Vem, papai ulsinho.

Novamente ele gargalhou.

– Já que as duas insistem – concordou, desabotoando os punhos da camisa, enrolando-os até acima do cotovelo. Afrouxou a gravata. Curvou-se e retirou os sapatos também.

Julia observava tudo o que ele fazia, com ansiedade.

– Tenham cuidado porque lá vai o papai – avisou, segundos antes de se lançar no meio de todas aquelas bolinhas, fazendo algumas delas saltarem, caindo dentro e fora do grande recipiente.

– Só avisando, vou usar seu cartão de créditos depois... – Rosalie brincou.

– Eu deveria saber – ele comentou, igualmente em tom de brincadeira, se movimentando como se estivesse nadando.

Julia agarrou-se a mãe no momento em que o pai pulou e não soltou mais.

– Nossa que pulo esse, papai. Té voou as bolinhas.

– Papai pirou do cabeção, filha – comentou Rosalie.

Emmett mergulhou entre as bolinhas deixando apenas rastros de seus movimentos, indo sair exatamente ao lado das duas. Julia agarrava-se a mãe como se o pai fosse um tubarão que se aproximava. Ele se ajoelhou e beijou a esposa, depois pegou Julia, erguendo no alto, beijando sua barriguinha enquanto ela gargalhava.

– Quem é a gotinha de amor do papai? – ele pedia.

– Ju-Julinha – ela tentava articular a palavra em meio a risos.

Rosalie não conseguia desviar o olhar cheio de amor. Diante de seus olhos, eles, pai e filha, pareciam brincar em câmera lenta. E quando Emmett olhou novamente para ela, ela comentou.

– Ainda não é hora do almoço.

– Eu fiquei com saudades – admitiu, sem esforço algum, era a mais pura verdade. Deu mais um beijinho na filha, porém, sem desviar os olhar da esposa.

Durante as horas que esteve no escritório não conseguia pensar em outra coisa senão nelas. Se estavam se divertindo, se sentiam sua falta como sentia falta delas. Esse foi o motivo que o fez sair um pouco mais cedo, mesmo ouvindo as reclamações do pai. Queria vê-las, estar com elas.


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Notas finais do capítulo

Reviews?
Beijo, beijo
Sill