A Gotinha De Amor Que Faltava escrita por Sill Carvalho, Sill


Capítulo 30
Capítulo 30 – Voltando Pra Casa


Notas iniciais do capítulo

Olá, amores.
Bem, eu quero agradecer as meninas que recomendaram a fic: Becca de Cássia e adrielly. AMEI cada palavra que escreveram. Coisa mais linda, meninas. Muito obrigada.
Espero que gostem do capítulo.
A todos boa leitura :)



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Dois dias depois...

Julia se recuperava bem. As visitas da família continuavam com a mesma frequência. Como sua acompanhante oficial no hospital era Rosalie, na noite seguinte Emmett precisou ir dormir em casa. Mesmo sua vontade sendo de ficar, ele teve que ir. Temeu pela noite das duas sem que estivesse por perto, para acalmar a filha caso voltasse a ter pesadelos. Contudo, Julia não voltou a ter pesadelos, ameaçava reincidir algumas vezes, mas, Rosalie cuidava disso velando seu sono, transmitindo todo seu amor e carinho.

Emmett aproveitava os momentos em que não estava com elas no hospital para resolver coisas do trabalho. Rosalie falava sempre que podia, ao telefone, com as meninas que trabalhavam para ela, em sua casa de festas infantil. Assim como Grace que mantinha contato frequente com o marido que ficou sozinho em San Diego. Sempre fazendo questão de lhe falar sobre a neta. Que sua filha realmente nascera para ser mãe. Prometeu ao marido, Ryan, que enviaria fotos de Julia por e-mail, para que ele a conhecesse, até que pudesse vê-la pessoalmente.

Como Emmett teve uma reunião de negócios na parte da manhã, iria ver a filha somente na parte da tarde, contudo, já havia falo com as duas por telefone logo cedo.

Depois de tomar banho e dar banho na filha, Rosalie estava agora esperando pelo médico, o Dr. Philip – Dr. Raposo como Julia o chama.

O café da manhã já tinha sido servido pela mesma copeira que vinha todas as manhãs. Levou apenas alguns minutos após sua saída para o médico chegar.

Julia gargalhava enquanto Rosalie fingia morder seus dedinhos da mão.

– Bom dia, Julinha – saudou o médico ao entrar no quarto. Olhando para Rosalie, completou. – Bom dia senhora McCarty. – Vejo que essa pequena está muito bem essa manhã. Nada de febre nas últimas quarenta e oito horas. Está respondendo bem a medicação via oral.

– Já chegô o doutô Aposo, mamãe – disse Julia, olhando do médico para a mãe. – Não pegue nada Aposo. Não pegue.

Rosalie sorriu e segurou suas mãozinhas dando um beijo estalado.

– Não, dessa vez estou comportado Julinha – afirmou o médico. – Prometo que não vou querer pegar nada.

– Não vai pegá nada?

– Não. Estou comportado hoje.

– Mas no oto dia você quelia té minha pepeta. Só que a mamãe condeu. Tá condidinha agola, viu Aposo – ela olhou novamente para Rosalie e sussurrou. – Não deixa ele vê a pepeta, mamãe. Não deixa.

– Tá bom, amor – respondeu Rosalie também em um sussurro.

– Ele é osado... Gota de pegá tudo – sussurrou Julia.

Rosalie arregalou os olhos em uma falsa expressão de espanto.

– Acho que vi uma chupeta cor-de-rosa bem ali – ele apontou para o travesseiro de Julia, onde a pedido dela, a mãe havia escondido a chupeta.

– Não tem pepeta cô-de-osa ali, Aposo.

– Tem sim – ele insistiu, olhando para o travesseiro.

– Tem nada – insistiu Julia, negando, agora apertando as duas mãozinhas sobre o travesseiro, entregando sem intenção.

– Tem certeza? – ele pediu.

– Bisoluta. Ceteza bisoluta. Mas não é um bicho que luta, tá bom? O papaizinho que disse, é só ceteza. Ceteza, certeza.

– Que bom, já estava me preocupando. Acho que me enganei mesmo, não tem nenhuma chupeta ali.

– Aham... Não tem – ela murmurou.

– Tá certo. Então, vamos ao que interessa. Segura na mão da mamãe que eu vou examinar o seu dodói, tudo bem?

– Tá bom.

Olhando para Rosalie, ele pediu.

– Mãe, pode retirar o pijaminha dela, por favor. Vamos ver como estão essas incisões... – ele rabiscava algo no prontuário de Julia enquanto falava.

Cuidadosamente Rosalie retirou a blusinha do pijama dela, depois o shortinho.

– Esse pijama não tem a Dora, que pena – comentou o médico.

– Não, esse não é de Dola. Esse é de balalina. Olha tem uma balalina. Foi minha titia que complô. O da Dola foi o papai que complô. E o papai vem daqui de pouco vê Julinha, Calinho e a mamãe Ose. Pô caso que ele foi domí na nossa casa, e também a vovó Geice.

– Mas esse pijama é também muito bonito – ele comentou, enquanto a examinava.

– Esse é cô-de-osa. Calinho ama cô-de-osa. O da Dola é blanco.

– Muito bem Julinha, você está mais que ótima. Novamente tirou um dez.

Julia encolheu os ombros, sorrindo, um tanto tímida.

– Mãe pode ficar sossegada. Tenho quase certeza de que já podem voltar para casa ainda hoje. Julinha está muito bem, não vejo porque mantê-la aqui por mais tempo. Vou preparar os papéis da alta, depois trago para você e seu marido assinarem.

– Graças a Deus – suspirou Rosalie. – Já posso avisar ao meu marido e a minha sogra? – acrescentou, buscando a bolsa com o olhar.

– Sim. Vou só conversar com o Dr. Thomas e volto com os papéis para serem assinados. Não vejo problema algum desde que continuem lhe dando a medicação de acordo como sugerido.

Rosalie olhou para Julia.

– Viu só amor? Já vamos poder voltar pra casa, gotinha.

Ao contrário do que imaginou Julia não ficou feliz, sua expressão foi de choro.

– Não... – murmurou ela. – Tá joada ainda. A baíguinha tá dodói. Tá dodói, mamãe – muxoxos de choro se seguiram. – Tá muito joada... Tá dodói.

Imediatamente suas palavras preocuparam a mãe. Rosalie levou a mão cuidadosamente à barriga de Julia, como se seu gesto pudesse transmitir algum tipo de cura. Com olhos em pânico, ela olhou para o médico novamente.

– Não se preocupe. Tenho certeza absoluta de que sua filhinha está bem. Não tem motivos pra se preocupar. Eu volto dentro de alguns minutos para me certificar, e para tranquilizá-la de que está tudo bem com essa princesa.

– Tudo bem... – murmurou Rosalie, não muito certa disso. Sua mão ainda afagando a barriga de Julia. Seus olhos eram a personificação da palavra preocupação.

– Até logo, Julinha.

Com a voz chorosa, Julia se despediu do médico.

– Tchau doudô Aposo.

Assim que o médico saiu do quarto, cruzou com Grace no corredor. Ela acabava de chegar ao hospital, em seu horário habitual de visita.

– A baíguinha tá dodói... – murmurava Julia, chorosa.

Rosalie a pegou no colo e ficou ninando-a. Realmente com medo de sua filha não está se sentindo bem. Apavorada com o fato de que ela pudesse ficar internada por mais alguns dias.

Grace se aproximou do leito, deixando a bolsa sobre a poltrona vazia.

– Ei, o que houve? O que está acontecendo filha? Porque essa cara tão preocupada?

Julia continuava repetindo, em murmúrios, que a barriguinha estava doendo. Inconscientemente acreditava que se estivesse de fato curada, a mamãe iria embora e não mais voltaria. Considerando a coincidência de que quando Grace ficou doente, Emmett lhe falou que Rosalie não voltaria até ela ficar boa. E quando a própria Julia ficou doente Rosalie apareceu.

– O médico disse que ela está bem. Que possivelmente terá alta ainda hoje. Mas, pra falar a verdade, estou bem preocupada. Ela começou dizer que está enjoada e que a barriguinha está doendo... Nem vou ligar pro Emmett agora, porque vai que o médico desiste de dar alta. Não quero lhe dar noticias equivocadas... Acho melhor esperar o médico voltar. E que Deus mostre que meus medos são equivocados, não quero minha filhinha mais no hospital, quero levá-la pra casa o quanto antes.

Um sorriso leve curvou os cantos dos lábios de Grace.

– Rose meu bem, você já está adaptada à maternidade. Então posso voltar a San Diego...

As palavras de Grace deixaram Rosalie de olhos arregalados.

– O que? Não, não, não – se desesperou em dizer. – Mamãe, por favor, fica... Não vá ainda.

De um jeito descontraído, certa do que estava fazendo, Grace piscou um olho e sorriu para a filha. Somente então Rosalie entendeu o que ela estava tentando lhe fazer enxergar. O que Julia estava sentindo, o quanto era desesperador saber que a mãe vai embora quando não se deseja que ela vá.

Rosalie suspirou aliviada, abraçando Julia bem coladinha a seu corpo. Depois de alguns segundos, ela enfim afastou a criança um pouco para poder olhar em seus olhinhos.

– Julinha, presta atenção no que a mamãe vai te dizer amor – ela segurava o queixo de Julia enquanto falava. Beijou seu rostinho bem em cima das lágrimas. – Eu não vou embora. Não irei te deixar nunca. Não precisa ter medo de que não estando mais dodói eu vá embora, porque isso não vai acontecer meu anjo. Eu a amo tanto. Te desejei tanto... Você é a minha bebê... Minha gotinha de amor.

Com sua inocência, Julia esclareceu.

– E também do papai, é gotinha.

– Isso... – concordou Rosalie, roçando seu nariz ao dela em um beijinho de esquimó. – Nossa gotinha de amor que faltava, minha e do papai.

Julia passou os bracinhos em volta do pescoço dela, prendendo os cabelos louros em meio ao abraço.

– Não é plá i embola mamãe Ose. Nunca, nunca. Julinha não qué que a mamãe vai embola. Calinho chola...

Emocionada, a mãe retribuiu todo aquele carinho com um baraço apertado. Depois de alguns beijos e cheirinhos, ela pegou novamente o pijaminha de Julia e vestiu nela enquanto a avó lhe dava atenção.

– Advinha o que a vovó Grace trouxe para minha florzinha do campo?

Bastaram apenas aquelas palavras para que os olhos de Julia brilhassem em expectativa.

– Tlouxe um plesente plá Julinha foi vovô Geice?

Grace retirou da bolsa um embrulho de papel de presente florido.

– Pega, é todo seu. Lembra que a vovó prometeu que ia te dar uma coisa muito legal... – ela piscou um olho.

Julia olhou do embrulho para Grace, depois para o embrulho novamente. Estendeu as mãozinhas recebendo o presente, encantada. Rosalie se encarregou de ajudá-la abrir, era um livro com capa cor-de-rosa e a figura de uma menina – do autor Ilan Brenman.

– É um livo, mamãe. É um livo – comentou surpresa, inclinando o rostinho para olhá-la.

– Sabe que livro é esse? – pediu Rosalie, um sorriso enorme iluminando seu rosto ao falar com a filha.

– Eu não sei... É de que? É de plincesas?

– Até As Princesas Soltam Pum – sussurrou Rosalie, pertinho do ouvido dela.

Julia se encolheu achando graça.

– Plincesas também soltam pum... Ai, mamãezinha.

– Isso mesmo, docinho.

Julia tornou a sorrir, dessa vez encostando a mãozinha no rosto de Grace.

– Você complô mesmo. Oh, bigada vovô Geice – olhando para a mãe, fez o pedido. – Você lê plá Julinha e plá Calinho, mamãe Ose? E depois a gente conta plo papai, e ele vai dá uma isada. Pô caso que e ele também solta pum.

– Claro que sim, amor. Mamãe conta a historinha pra você sempre que quiser.

Rosalie se acomodou melhor na cama recostando-se aos travesseiros com Julia em seu colo. Pegou o livro das mãozinhas dela e abriu na primeira pagina. De uma forma teatral, ela foi narrando o que acontecia no livro e lhe mostrando as gravuras. Na parte em que mencionava “Cinderela ser uma peidona”, Julia abriu a boca em um ó, e logo depois caiu na gargalhada.

– Cinderela é o que, filha?

– Cindelela, peidona – ela gargalhava, inclinando a cabecinha para o lado. – Uma Cindelela peidona. Mamãe... – gargalhadas de um anjo preenchiam o leito do hospital. – Não pode sê.

Vendo a reação de Julia, Rosalie também caiu na gargalhada. Grace sorria com a satisfação da filha em poder contar aquela história para sua garotinha.

No final da história, Julia ainda sorria. Rosalie sempre lhe fazia um afago e lhe dava um beijinho no rosto. E quando a última pagina foi virada, ela se aconchegou melhor no colo da mãe. Minutos depois, estava dormindo.

Rosalie ainda tinha um sorriso no rosto, encantada com a reação da filha a historinha.

[...]

Horas mais tarde...

Emmett estava no hospital na companhia da sogra, esposa e filha. Ele ouvia o relato de Julia sobre as princesas também soltarem pum, quando finalmente o médico apareceu com os papéis da alta. Pediu que o casal os assinasse e depois passasse na recepção do hospital para fechar a conta.

O resto da família foi informada por telefone, por isso não apareceram para visitá-la no hospital.

A avó e a tia foram direto ao apartamento preparar uma festa de boas-vindas. Como havia sido decisão de última hora, as meninas que trabalham pra Rosalie fizeram o que podiam para conseguir as coisas que Alice pediu. Decoração, docinhos e salgados, sem exageros, era apenas uma festa de boas-vindas. Sua única exigência foi que tudo deveria ser em tons de rosa, com pôneis ou princesas.

Assim que uma das meninas levou tudo para o apartamento, Alice e Esme ficaram encarregadas de arrumar.

Naquela tarde, Julia saiu do hospital nos braços do pai. A mãe e a avó materna estavam bem ao lado. Ambas com as mãos ocupadas, levando as sacolas e a malinha de Julia.

A enfermeira, Cindy, a que mais apoiou Rosalie durante o tempo que esteve com Julia no hospital, fez questão de se despedir e lhe dar um presentinho; uma pelúcia da galinha pintadinha. Julia ficou encantada com o novo brinquedo, agradecendo-a com um beijo estalado na bochecha.

Rosalie agradeceu imensamente por tudo o que Cindy havia feito por ela e por sua filha nas poucas horas em que estiveram juntas.

Kate também veio vê-la, e como não podia deixar de ser, Julia tratou logo de cobrar seu pirulito. E ela acabou ganhando não apenas um, mas três pirulitos enormes e coloridos. Um da própria Dra. Kate, um do Dr. Thomas e outro do Dr. Philip – Dr. Raposo – agora nos braços do pai, ela exibia seus pirulitos, com um sorriso adorável no rosto, e, claro, Carinho embaixo do braço.

Enquanto caminhavam até onde estava estacionado o carro, Julia não parava de olhar para os pais, seus olhinhos azuis brilhavam de satisfação por estarem todos juntos. Vez ou outra Emmett lhe roubava um beijo no rosto, e ela se encolhia dengosa.

No carro, ele a colocou sentada na cadeirinha. Mesmo Grace estando ao seu lado, Rosalie fez questão de sentar-se junto também.

Á medida que se aproximavam do apartamento Rosalie se tornava mais ansiosa. Vários dias haviam se passado desde sua partida, varias de suas coisas ficaram pra trás. Não sabia como reagiria ao voltar lá, depois de ter saído da maneira como saiu. Contudo, tinha certeza de que fosse qual fossem as lembranças, seriam ofuscadas pela felicidade que estava vivendo agora, voltando pra casa com o marido e a filha.

Se pegava pensando, talvez fosse assim, como está se sentindo agora, que uma mulher se sente quando volta pra casa com o marido depois de dar a luz a um filho.

Quando o veículo entrou na garagem subterrânea do prédio, ela suspirou. Estava em casa agora, e tinha seu sonho realizado.

Grace segurou brevemente a mão da filha e lhe sorriu, sabendo exatamente o que se passava na cabeça dela, sussurrando-lhe:

– Viva esse momento...

Rosalie repousou a cabeça no ombro da mãe, ao mesmo tempo em que sua mão acariciava o rosto de Julia. Emmett a olhou pelo espelho retrovisor por um breve momento enquanto estacionava. Seu sorriso se refletiu no dela, lindo, sincero e cheio de esperança.

O carro parou. Ele então se preparou para sair.

– Mamãe Ose – a voz suave de Julia quebrou o silêncio. – Mamãe já tamo chegano na casa do papai. E é sua casinha também. Agola sim tem uma Ose.

– Isso amor. Já estamos chegando... – concordou, beijando de leve a cabeça da filha.

– Você não vai embola né? Vai ficá de amanhã e até ontem e semple.

Rosalie se inclinou e sussurrou ao seu ouvido.

– Não te deixarei jamais...

Julia sorriu satisfeita com a resposta. Emmett saía do carro, mas ainda pode ouvir a filha dizer.

– Minha mamãe Ose. Mamãe, Calinho qué chupá um pilili. Já pode chupá um pilili? Pode?

– Pode minha gotinha.

– Esse? – ele pediu, erguendo um dos pirulitos um pouco mais que os outros na direção da mãe.

– Qualquer um, docinho.

Rosalie viu a porta do lado de Julia ser aberta e Emmett se preparar para tirá-la da cadeirinha.

– Pode deixar que eu a levo – avisou. – Leve apenas as coisinhas dela.

– Papai, mamãe Ose deixô Juliha e Calinho chupá um pilili.

– Se a mamãe deixou tudo bem, não é?

– Aham... – ela concordou.

A mãe de primeira viagem, apenas sorriu. Suas mãos logo começaram a trabalhar retirando o cinto de segurança que envolvia sua garotinha.

– Vovó Geice, você também vai com Julinha na casa do papai? Vai?

– A vovó vai sim. Estou ficando uns dias aqui. Você vai adorar as historias que a vovó vai te contar. Um monte delas.

– Então bucá a minha vovozinha Emes plá ficá com Julinha também. E o titio das histólias plincípe, a titia que não é da Fela, minha titia balalina, e também a Dola cozinheila, e o doutô Aposo. Todas pessoas que são boazinha.

– Até o Dr. Raposo, filha? – admirou-se Rosalie, retirando-a da cadeirinha.

– Até o doutô Aposo, mamãe. Ele é englaçado. Papai – pediu, estendendo a mãozinha com um dos pirulitos para Emmett. –Tila esse papel plá Julinha chupá o pilili.

– Espera a gente entrar no apartamento, gotinha.

Dessa vez ela esticou a mãozinha para a própria mãe.

– Tila isso mamãe. Tila...

– Vamos fazer como o papai pediu. Quando estrarmos no apartamento, a mamãe tira o plástico.

– Tá bom – concordou, recolhendo a mãozinha com o doce.

Todos se encaminharam para o elevador. Grace ajudando Emmett com as sacolas. Assim que as portas se abriram na cobertura, Julia se remexeu querendo ir para o chão. Rosalie se abaixou e a deixou que ela fosse à frente.

Assim que Emmett abriu a porta, ela disparou para dentro do apartamento. Mas, paralisou ao chegar à sala e ver a decoração de festa. Uma faixa desejando boas-vidas. Embora não soubesse ler, seus olhinhos apreciaram o que via.

Na sala de estar estava a família paterna. Todos que ela mencionara dentro do carro, exceto o Dr. Raposo e Dora, a cozinheira da mansão.

Julia olhou no rosto de cada um deles.

– Todas pessoas veio na casa do papai – ela olhou em volta, seus olhos capturando a decoração. – É um vevesálio plá Julinha? É um vevesálio.

A família inteira reagiu com encanto ao seu comentário. Lábios se curvaram em um sorriso. Contudo, bastou Alice tentar explicar para a surpresa ceder lugar à frustração.

– Oh, não minha jujuba linda. Isso não é um aniversário, mas é especialmente para você.

O rostinho outrora surpreso e feliz mostrava-se choroso agora. Ela parecia não ter ouvido a última parte da explicação, apenas que não era um aniversário. Virou-se para o pai e lhe estendeu os bracinhos. Rosalie a olhava, sensibilizada. Emmett se curvou e pegou a filha no colo.

Bastou que os bracinhos dessem a volta em torno do pescoço do pai, para o choro vir à tona. Era um choro alto e ressentido.

Rosalie chegou mais perto e afagou as costas da filha.

– Me perdoa – dizia Alice em um tom de voz que beirava o desgosto, revezando o olhar entre o irmão e a cunhada.

– Viu o que você causou... – Edward acusou.

– Não foi por mal. Eu errei tentando acertar... Acha mesmo que iria fazer minha jujuba linda chorar de propósito? Desse jeito até parece que não me conhece.

– Não chore docinho – pediu Rosalie, afagando agora o rostinho de Julia.

– Olha para o papai, gotinha – pediu Emmett, compreensivo.

Ela olhou para o pai, e no mesmo instante uma nova lágrima percorreu seu rostinho corado.

– Não é um vevesálio plá Julinha, nem plá Calinho – seu beicinho tremeu, e as lágrimas não paravam de cair.

Emmett secou suas lágrimas com o polegar.

– Não é uma festa de aniversário. Mas, ainda assim, é uma festinha pra você, minha gotinha linda. A vovó e a titia prepararam especialmente para você. Não é pra ficar triste.

Julia fungou, encostando a cabeça ao ombro dele. Rosalie tornou afagar as costas dela.

– Oh, meu anjo, eu prometo que quando fizer quaro aninhos, terá a festinha mais linda que a mamãe já organizou um dia.

Emmett viu os olhinhos azuis da filha, brilharem com uma nova expectativa. Ele olhou para a esposa, no mesmo instante seus olhos se encontraram, havia uma imensidão de verdade neles.

– Obrigado... – ele sussurrou.

Ela negou com um movimento de cabeça, como que dizendo “não faça isso”. De canto de olho, viu a sogra se aproximar com os braços estendidos.

– Vem com a vovó. Vem, meu pedacinho do céu...

Emmett deixou que Julia fosse com a avó. Assim que a teve em seus braços Esme começou uma maratona de beijos e afagos, do jeito que derretia a criança de dengo.

Chegando mais perto do marido, Rosalie sussurrou.

– Não precisa me agradecer toda vez que eu disser ou fizer algo por nossa filha – sua voz era suave, carregada de verdade.

– Prometo que eu vou tentar... – ele sussurrou de volta, sua mão buscando a dela discretamente.

Enquanto sentia a mão do marido tocar a sua, olhou em volta, reconhecendo em seu apartamento sinais de que Julia vivia ali. Feliz por estar novamente em casa, e com a sensação se sonho realizado.

Reconhecendo suas coisas. Suas fotos junto ao marido. Fotos da filha também faziam parte da decoração agora, em porta-retratos em tamanhos diferentes.

Secou uma lágrima que escorreu rapidamente pelo seu rosto. Sua atenção mudou de foco ao ouvir a voz de Julia, feliz novamente.

– Minha vovozinha Emes, meu vovô Calai, minha titia balalina, meu titio das histólias plíncipe e minha titia Bella que não é da Fela.

Assistiu a filha passar do colo de um para o outro. Ela se encolher dengosa quando o tio a pegou no colo e lhe deu vários beijos. Viu Bella falar algo e ela afirmar com um movimento de cabeça. Não soube de imediato do que se tratava, mas, entendeu quando a tia voltou trazendo um embrulho de presente. Viu a tia ajudá-la desembrulhar o presente e um sorriso de covinhas surgir no rosto de sua filha. O mesmo sorriso de Emmett.

– Um vestido amalelo igual o da Bela. E é quenininho. Oh, que lindo. Muito, muito lindo. Camasi lindo. Esse é plá Julinha?

– É sim – afirmou a tia Bella.

– Bigado, minha titia Bella. Isso é muito bonito.

– Não precisa me agradecer Julinha. Eu já fico feliz apenas em te ver sorrindo.

Julia abriu os bracinhos e Bella lhe abraçou, dando um beijo na bochecha também. Ela ficou inquieta querendo ir para o chão. Quando o tio a deixou ir, ela foi a passinhos apressados ao encontro dos pais, levando o presente junto.

– Quelo vesti esse – pediu agoniada, mostrando o vestido a eles. No minuto seguinte, estava tentando retirar o que estava usando.

A família inteira sorriu de seu entusiasmo e pressa para vestir a fantasia de Bela.

Emmett se abaixou e a chamou para mais perto.

– Vem aqui, que o papai te ajuda – disse ele.

Rosalie segurou a fantasia enquanto Emmett ajudava a retirar o vestidinho que ela estava usando.

– Ainda têm esses dodóis – ela comentou, olhando os curativos das pequenas incisões na própria barriguinha.

– Se ficar apertado, vai ter que pôr o outro vestidinho de volta – o pai avisou.

– Não fica, papai. Não fica – ele tratou logo de se defender, interessada em ficar com a fantasia de Bela.

– O papai tem razão, docinho. Se ficar apertando sua barriguinha, só poderá usá-lo quando o dodói sarar por completo.

– Não fica, mamãe. Não fica petadinho.

– Como você sabe que não fica – brincou o pai –, você não vestiu ainda.

Julia ergueu a mãozinha, cobrindo a boca dele, como que querendo que ele não repetisse aquilo. Emmett fingiu morder sua mãozinha e ela gargalhou recolhendo-a de volta. Depois de provocá-la com sua brincadeira boba, deixou que Rosalie se encarregasse de vesti-la com a fantasia de Bela.

Mesmo sendo um vestido para crianças de sua idade, ficou folgado, considerando que Julia estava abaixou da linha de crescimento. Ainda assim, ela se achou o máximo por estar com aquele vestido. Girou nos próprios pés, passou as mãozinhas no tecido.

– Eu vô bucá a minha Fela – ela avisou ao sair correndo na direção dos quartos.

Rosalie não conseguia esconder o sorriso ao constatar que Julia conhecia cada cômodo do apartamento como a palma de sua pequena mão. Minutos depois a viu retornar trazendo uma pelúcia da Fera, do Filme a Bela e a Fera.

– Agola eu sou uma Bela, e tenho té uma Fela – ela comentou, segurando a pelúcia junto a Carinho. – Que sou.

– Eu prefiro que seja apenas minha gotinha – brincou o pai.

– É de mentilinha papai. Uma gotinha que tem uma Fela, só isso papai. Só.

O pai a pegou no colo cobrindo-a de beijos, fazendo com que seu riso inocente ecoasse pelo apartamento.

Minutos depois, estavam todos tirando fotos. Rosalie não pôde deixar de sorrir quando a ouviu mencionar: “Todas pessoas tão tilando umas monte de foto de Julinha.”

[...]

Horas mais tarde...

Emmett terminava de lavar o último copo da festinha de recepção que a tia e a avó fizeram pra sua filha.

O apartamento estava vazio e silencioso agora. Ele apagou a luz da cozinha e seguiu para o quarto. Ao abrir a porta se deparou com o cômodo vazio. Desde a última conversa que tiveram no hospital não pôde mais ficar a sós com Rosalie e acabou alimentando a esperança de que ela fosse voltar a dormir no quarto deles, dividindo a mesma cama, ao retornar.

Sentiu-se frustrado por não vê-la ali. Ultimamente seu casamento parecia dar um passo pra frente e dois pra trás.

Cabisbaixo, ele seguiu para o banheiro. Tomou um banho demorado, se perfumou e vestiu apenas o short do pijama.

Decidiu ir ao quarto de hospedes, o mesmo que abrigava Julia, ver como as duas estavam mesmo sabendo que só podiam estar dormindo.

Enquanto caminhava lembrou-se do olhar comovido de Rosalie quando o viu explicar a sogra porque Julia não dormia no quarto que havia sido destinado ao filho deles. Esse havia sido mais um motivo para acreditar que naquela noite faria as pazes com a esposa.

Parou no umbral da porta para admirar as duas dormindo coladinhas uma na outra, aquela cena o enternecia como jamais imaginou sentir ternura. Sua gotinha tinha uma mamãe, e sua Rose tinha uma filha agora.

Um sorriso preguiçoso alcançou seus lábios. Ele voltou para seu quarto. Toda preocupação dos últimos dias, e o cansaço, o venceram tão logo caiu na cama.

Por volta de meia-noite Rosalie acordou sobressaltada. Levou algum tempo para se orientar e perceber que estava dormindo no quarto de hospedes com Julia.

Por que Emmett não a acordou para ir para a cama? , foi o que ela pensou.

Mesmo cansada, sorriu novamente ao se lembrar da explicação que ele dera a sua mãe pelo fato de Julia dormir no quarto de hospedes. Por esse motivo Grace estava dormindo na casa de Esme agora.

Emmett havia se oferecido para dormir com Julia e deixar a suíte do casal para Grace e ela. Mas Grace se recusou, alegando que a única pessoa com quem dividia a cama era com o marido Ryan. Rosalie sabia que era mentira. Prova disso era que quando voltou para casa depois de abandonar seu lar ao lado do marido, dormiu três noites com a mãe. Ela só queria deixá-los a sós.

Cuidadosamente se afastou de Julia que ainda assim reclamou com muxoxos ameaçando um chorinho. Passou o braço da filha ao redor do travesseiro assim como havia visto o marido fazer outras vezes, no hospital. Ligou a babá eletrônica, pegou o segundo aparelho e saiu do quarto na pontinha dos pés, deixando a luz de um abajur acesa e a porta entreaberta.


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Notas finais do capítulo

Espero que tenham curtido pessoal.
Agora os três estão em casa o/
Espero por vocês nos reviews.
Ah, também acabei de postar uma nova One-shot, vou deixar o link caso alguém queira dar uma olhada:
http://fanfiction.com.br/historia/551724/Uma_Carta_do_Destino/

Beijo, beijo
Sill