A Gotinha De Amor Que Faltava escrita por Sill Carvalho, Sill


Capítulo 28
Capítulo 28 – O Verdadeiro Amor de Mãe


Notas iniciais do capítulo

Oi flores do campo.
Não, eu não desisti da fic, mesmo porque uma das coisas que mais detesto é assunto inacabado.
Eu sei que demorou, mas não foi proposital. Foi por problemas de saúde. Quem me conhece sabe o que a escrita significa em minha vida, que pra eu não ter escrito nada é porque realmente não estava bem.

De qualquer forma, espero que ainda estejam aí.
Tenham todos uma boa leitura. Não se esqueçam de ler as notas finais.



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O novo médico, que não participara da cirurgia, um senhor bem compenetrado, estava ali parado na entrada da porta, segurando uma prancheta nas mãos. Em pouco tempo seu olhar alcançou a garotinha que agora estava sentada na cama.

Ao perceber que o homem estranho a observava Julia agarrou-se assustada ao braço da mãe, que logo tentou acalmá-la.

– Está tudo bem meu anjo, é apenas o médico. Ele não vai te machucar, irá apenas examinar sua barriguinha. Ele precisa ver como está o seu dodói. Mamãe está aqui, não tenha medo... – ela acariciou o rostinho de Julia, com alguns fios de cabelos úmidos grudados à bochecha, afastando-os.

Desconfiada, Julia não tirava os olhos do médico, observava-o por trás do braço da mãe. O Dr. Philip se aproximou, seu gesto fez a criança se agarrar ainda mais a mãe. Rosalie lhe afagava as costas, afetuosamente, demonstrando que estava ali por ela e pra ela.

O médico chegou mais perto da poltrona onde havia a roupa de Julia – um pijama da Dora Aventureira, com abertura nas costas que facilitava a colocação considerando acesso no braço da criança.

– De quem é essa roupa linda com estampas de Dora? – ele olhou para Rosalie e a cumprimentou com um maneio de cabeça enquanto aguardava a resposta da garotinha.

Temerosa, Julia ainda o observava por trás do braço da mãe. Olhou do médico para Rosalie, depois para o médico novamente.

– Ela é sua, princesa? – insistiu o médico, olhando de Julia para a roupa na poltrona.

Desconfiada, a garotinha balançou a cabeça afirmativamente. Olhou para a mãe enquanto sua pequenina mão deslizava sobre o braço dela.

O médico continuou tentando ganhar sua confiança.

– Posso usar essa roupa? – arriscou.

Foi ai que, com o rostinho escondido atrás do braço da mãe, Julia esboçou um sorriso, e seus olhinhos, que antes demonstravam medo, estavam agora incrédulos.

– É quenininha plá você. Você é gandão igual o vovô Calai e o meu papai.

E foi naquele momento, notando que Julia estava mais segura, que um sorriso surgiu nos lábios de Rosalie, enquanto curvava-se para beijar o topo da cabecinha dela.

– Ah, que pena – lamentou o médico. – Eu gostaria muito de ter uma roupa assim. Eu adoro a Dora e o Botas. Gosto até do Raposo.

– Aposo não pegue. Aposo não pegue – sussurrou Julia, mexendo o dedinho indicador.

– Isso. Raposo não pegue. Muito bem Julinha – elogiou o médico, deixando-a com a expressão feliz no rostinho.

– Sabia que na casa da vovó Emes tem uma Dola, só que não é aventuleila. É cozinheila que faze comidinha gotosa plá todas pessoas.

– É mesmo?! Mas isso é muito legal Julinha.

– Na sua vovó tem uma Dola cozinheila também? Tem?

– Não, não tem. Mas sabe que eu adoraria que tivesse uma Dora cozinheira que fizesse comidinhas gostosas, igual a que tem na casa da sua vovó. Quem sabe um dia eu não tenho uma. Bom, eu ainda não me apresentei. Eu sou o Dr. Philip. A Dra. Kate me pediu para ver como você está. O Dr. Thomas vira somente mais tarde. Agora sua mamãe vai segurar sua mãozinha enquanto eu te examino tudo bem?

Rosalie, prestativa, segurou a mãozinha dela beijando a palma algumas vezes.

– Tudo bem Julinha? – ela perguntou. Julia apenas afirmou com a cabeça, voltando a sentir um pouco de medo. Contudo, a confiança em Rosalie a fez aceitar.

Enquanto o médico a examinava ela apertou a mão da mãe, buscando seu olhar o tempo inteiro em busca de segurança e apoio. Os curativos foram refeitos com todo cuidado possível. Depois de examiná-la fez algumas anotações em uma pasta onde havia o nome de Julia gravado nela.

Tendo uma expressão tranquila no rosto, ele enfim falou:

– Muito bem Julinha, você está ótima. Tirou um dez – um sorriso tímido iluminou o rostinho inocente da garotinha. Olhando para a mãe da criança, completou. – Vamos manter o acesso até terminar as doses de anti-inflamatório necessárias. Vou suspender o antitérmico e ver se ela ainda apresenta febre. Se ela evoluir bem, passo as medicações para via oral e retiro o soro.

– Quando que ela vai poder ter alta? – perguntou Rosalie, deslizando os dedos por entre os fios de cabelos molhados da filha.

– Geralmente depois de, no mínimo, vinte e quatro horas do procedimento. Mas Julia teve um processo inflamatório. Se ela só apresentasse dor eu diria ser possível a alta amanhã. Mas ela teve febre. Retiramos o foco da inflamação, mas temos que ver como o corpo dela reage. Não vamos estabelecer prazo por enquanto, está bem?

– Claro – concordou Rosalie, reforçando com um balanço de cabeça, um pouco entristecida, ansiando poder voltar para casa o quanto antes com sua a garotinha.

– Tchau Julinha. Vejo você em breve.

– Tchau Dotô Aposo – assim como a mãe, as enfermeiras também sorriram.

Assim que o médico deixou o leito, Rosalie recomeçou a arrumar a filha. Vestiu nela o pijaminha de Dora Aventureira, com auxilio das enfermeiras. Penteou os cabelos cuidadosamente e fez lindas marias-chiquinhas. Passou perfume, e em seus pezinhos colou um par de meias – como o ar-condicionado estava sempre ligado como medida para evitar infecções, ela acabava ficando com os pezinhos gelados.

– Eu tô chelosa, muito chelosona – comentou orgulhosa, oferecendo o bracinho para a mãe cheirar.

Rosalie segurou o bracinho dela e deu um cheiro, seguido de um beijinho.

– Humm... Que cheirinho delicioso, o papai vai adorar beijar essa garotinha perfumada.

Julia lhe sorriu, satisfeita pelo comentário, enquanto a mãe voltava a lhe dar outro cheirinho.

– O papai vai gotá mesmo? Vai? Vai gotá de Julinha muito chelosona?

– Vai meu docinho – Rosalie a abraçou e beijou seu pescoço. – O papai vai amar... – ela sorriu enquanto Julia segurava uma mecha de seus cabelos, como que admirando a tonalidade dourada. Olhou na direção da enfermeira que ainda se encontrava no quarto. – Pode me ajudar a reclinar a cama um pouco, por favor.

A enfermeira se aproximou e fez essa gentiliza. Julia observava as duas, enquanto Rosalie espalhava alguns brinquedos e bonecas sobre a cama junto a Carinho que jamais saíra de perto dela.

Julia lhe sorriu como se aquele simples gesto, de espalhar os brinquedos, fosse algo extraordinário.

– Você vai blincá com Julinha, mamãe Ose. Vai? Vai mesmo?

Rosalie lhe entregou uma das bonecas, beijando sua mãozinha carinhosamente ao fazer isso.

– Sim amor. A mamãe vai brincar com você. Agora e todas as vezes que você quiser.

Os olhinhos azuis brilharam. Encantada, Rosalie afagou seu rostinho.

– Minha gotinha de amor. Um pedacinho do papai... Deus se encarregou de trazê-la até meus braços. Eu deveria saber que não iria falhar comigo, nem negligenciar meu sonho...

Julia encostou a mãozinha ao rosto de Rosalie, que logo segurou e deu vários beijinhos.

Ela continuou acrescentando brinquedos na cama. Em pouco tempo as duas estavam distraídas na brincadeira. Os olhos de ambas tinham adquirido um brilho diferente; felicidade, admiração e sonho sendo realizado.

Pouco tempo depois, uma enfermeira voltou, atraindo a atenção das duas, avisando a que tinha vindo.

– Mãe, esse dói um pouquinho, é o anti-inflamatório. Vou aplicar o de enjoo no soro e ela toma o de gases via oral. Ela vai ficar sonolenta, por causa do dramim, o de enjoo – olhando a criança, que a olhava com desconfiança, acrescentou. – Bom dia Julinha, eu vou te dar remédio na seringa, mas não tem agulha está vendo? – imediatamente Julia fez carinha de choro, seguido de muxoxos, enquanto a enfermeira lhe sorria encorajando-a.

– Não tem agulha amor, olha – confirmou Rosalie, afagando sua mãozinha. – Mamãe está aqui, não tenha medo. Nunca irei permitir que judiem de você.

Ainda desconfiada, Julia choramingou olhando da enfermeira para a mãe. A enfermeira lhe segurou ambas as bochechas, formando um biquinho, esvaziando a seringa na boquinha. Quando terminou Julia agarrou-se a mãe, seu rostinho demonstrava certo desagrado com o gosto do remédio.

De um jeito ágil a enfermeira substituiu a embalagem de soro no suporte por uma menor. Era a de anti-inflamatório. Foi questão de segundos para Julia começar a chorar, inquieta.

– Isso ade, mamãe. Dói. Tila, tila mamãe. Isso tá muito dodói. Não quelo isso. Quelo o papai. Mamãe... Tila, tila, tila – ela implorava, praticamente aos gritos, tentando retirar o acesso com mãozinhas nervosas.

Imediatamente Rosalie entrou em ação, segurando as mãozinhas da filha para que ela não arrancasse o acesso, tentando reconfortá-la como podia.

– Tudo bem amor, vai passar. Não tire Julinha – beijou as mãozinhas e as afagou. – Eu sei que está doendo meu anjo, mas vai passar. Acredite em mim.

Julia soluçou olhando-a através de lágrimas.

– Tá dodói... do-dói. Bucá o papai, mamãe. Mamãe Ose, eu quelo o papai. Papaizinho.

Ainda segurando as mãozinhas, Rosalie beijou o rostinho molhado de lágrimas.

– Já vai passar meu anjo. Eu juro filha, não permitiria se não fosse por uma boa causa. Você não está gostando de ficar com a mamãe? Humm... Não quer ficar com a mamãe?

– Tá gotano sim mamãe – ela respondeu em meio ao choro, a boquinha cheia de baba. – Isso dói. Fica adeno. Tila isso mamãe Ose. Pulque não tila...?

Não teve jeito, o remédio realmente era muito incomodo. Julia só parou de chorar e tentar arrancar o acesso quando o liquido pendurado no suporte já estava pela metade.

– Mamãe, quelo o Calinho.

Rosalie olhou em volta, buscando o bichinho de pelúcia sobre a cama o encontrando embaixo dos lençóis. Ela pediu também uma boneca. Voltaram a brincar, ainda assim, vez ou outra Julia levava a mão ao acesso, rapidamente Rosalie a impedia segurando sua mãozinha novamente.

Ela tentou brincar, lutando contra o sono causado pelos remédios, não queria interromper a brincadeira com a nova mamãe. Em intervalos cada vez mais curto, fechava os olhinhos lentamente e a cabeça tombava para o lado.

– Julinha, está tudo bem? – questionou Rosalie, preocupada. Mas a garotinha lhe sorriu, embora um sorriso afetado pelo sono repentino.

– Quelo mais blincá não, quelo a pepeta – confessou, deixando as bonecas de lado, mantendo apenas Carinho embaixo do braço.

– Está bem amor.

Rosalie recolheu as bonecas e os outros brinquedos, guardando-os na sacola novamente. Pegou a chupeta e o paninho e entregou para ela.

Levando a chupeta à boca, Julia perguntou:

– Quando eu acodá meu papai já chegô?

– Não gotinha. Ele só vai chegar depois que a gente jantar.

– E a minha vovozinha Emes?

– Ela deve chegar daqui a pouco.

– Mamãe me deita com você, pô favozinho.

– Você quer que eu me deite aí?

– Aham – ela murmurou. – Você sabe histólias de plincesas?

– Que tal a da Cinderela? – sugeriu Rosalie, deitando ao lado de sua garotinha, trazendo-a para perto de seu corpo.

Ela bem que tentou e estava adorando esse momento, de poder contar historia a filha, contudo, ainda na metade da narrativa, Julia adormeceu enroscada ao seu corpo. A nova mamãe admirava a filha, passando as pontas dos dedos no rostinho delicado, nos cabelos finos. Sentindo uma maravilhosa sensação de deslumbramento, era sem dúvida a garotinha mais linda que já viu. E ao mesmo tempo não se sentia preparada para tudo aquilo. Precisava saber mais sobre crianças, sobre a rotina de Julia, sobre violência doméstica e como lidar com ela.

Era uma responsabilidade muito grande. O que fazer se ela entrar em pânico, se aparecer machucada, se o professora disser que está com dificuldade de aprendizagem, se ficar dengosa, se ela não quiser seu carinho? Mas é a garotinha mais linda do mundo e seu coração já pertence a ela. É a gotinha de amor que tanta falta lhe causou.

Estava perdida nessa admiração quando o silêncio foi quebrado. Embora a voz fosse familiar, surpreendeu-se ao ouvi-la.

– Aconteceu exatamente assim comigo – comentou Grace, sorrindo para a filha que a olhava.

– Mamãe... – sussurrou Rosalie.

– Eu me apaixonei por você, bem assim – continuou Grace. – Você não foi planejada exatamente. No meu tempo a gente só ia ao ginecologista depois de casada. Para não dar motivos de comentários aos fofoqueiros de plantão. E quando me entreguei ao seu pai e descobri o sexo, bem, a gente não se preocupou exatamente com isso. Usávamos o que nossos amigos mais próximos recomendavam: camisinhas, coito interrompido... Fui ao médico somente quando tinha um ano de casada, por causa de uma dorzinha no pé da barriga e acredite você estava lá. Você não foi planejada, mas foi muito desejada. Comecei a preparar sua chegada, conversava com você na barriga... – Rosalie não se atreveu a interromper, estava imersa naquele relato. Grace lhe afagou o rosto e continuou. . – Mas nada me preparou para o amor que sentiria por você. Eu me apaixonei assim que ouvi seu primeiro chorinho. Você era o bebê mais lindo que já vi, era como se meu coração tivesse passado a bater de forma diferente, em outro compasso. Como se nos pertencêssemos há tempos. Eu não sabia que existia um amor tão forte assim, e que eu era capaz de amar tanto alguém que só existia há minutos, horas. Mas foi exatamente assim.

– Assim como? – pediu a jovem, incerta.

– Como está se sentindo agora – declarou Grace com sabedoria.

– Estou com medo... – anunciou Rosalie. – Não sei se consigo cuidar dela como merece. Sinto-me incapaz...

Grace a olhava com carinho. Atenta as emoções da filha como nunca antes.

– Exatamente como qualquer mãe de primeira viagem. O sentimento que se dividi entre o deslumbramento e o pavor. O amor profundo e o medo do desconhecido. Toda vez que nasce um filho, nasce também uma mãe. Parabéns filha! Você é uma mamãe agora – finalizou Grace com a voz embargada, a emoção falando mais alto. – Uma mamãe tão linda, com um coração explodindo de amor pra dar. Deus lhe presenteou com o que há de mais valioso no mundo.

Com expressão amedrontada, medo de não acertar jamais, ela implorou:

– Não sei como ser mãe dela. O que faço mamãe?

– Ninguém sabe ser mãe Rose. É pura intuição. Quando apareceu em minha casa de mala e cuia chorando porque não podia ser mãe e, ainda por cima seu marido não aceitava a adoção, pensei a mesma coisa: “Não sei ser mãe de uma filha adulta que quer ser mãe, mas que não pode. Não sei fazer nada para protegê-la da dor, do sofrimento, da frustração. O que eu faço?”. E eu já era sua mãe há vinte e seis anos. Passei os últimos meses me questionando se minha atitude foi certa ou se eu deveria ter mandado de volta para se resolver com seu marido. Não tem como saber Rose, só viver... Você faz o que acha correto e pede a Deus que dê certo: que seus filhos sejam felizes, independentes e pessoas de bem.

Rosalie ficou em silêncio por alguns minutos, refletindo, comparando seus sentimentos desde que conheceu Julia, aquecendo o coração ao entender que a ama da mesma forma, com a mesma força. Que sua mãe estava coberta de razão: Ela é mãe de Julia. Lágrimas se acumularam em seus olhos sem que estivesse a espera. Não soube o que dizer tampouco distinguir tudo o que estava sentindo, apenas aproximou o corpo pequenino do seu e lhe beijou a testa enquanto a consciência daquele amor a invadia... Tão forte que nada jamais poderia vencê-lo. Tão forte que transcende a razão. Roçou o nariz na bochechinha, fechando os olhos, apreciando o momento que estava vivendo. Entendendo que era seu momento.

Grace a observava se sentindo feliz pela realização da filha, e um pouquinho por ser avó também. Lembrava-se de Esme ter lhe confessado que é a melhor parte de ser mãe, poder mimar os netos. Começava até mesmo cogitar a chance de abandonar a ensolarada San Diego para mimar aquela garotinha linda, a netinha que pensou nunca poder ter.

Sentindo-se mais a vontade depois da conversa com a mãe, sem sair de perto da filha, Rosalie relatou tudo o que o médico lhe dissera a respeito da saúde de Julia. E foi durante essa conversa que parte da família chegou ao hospital. Carlisle, Esme e Alice entraram no quarto ansiosos para ver Julia. Tinham contado os minutos para que o horário de visitas tivesse início, mas o trânsito os atrasou um pouco.

A família conversava em um tom de voz ameno, tentando não perturbar o sono da garotinha. Aproveitaram esse momento para saber, nos mínimos detalhes, como havia sido a noite das duas no hospital. Como Julia tinha reagido ao voltar para o leito de origem. Rosalie contou tudo, sem ocultar nada, mesmo seu momento de medo e insegurança por se achar incapaz. Esme lhe segurou a mão e disse-lhe que estava se saindo muito bem, considerando que Julia era uma criança com uma carga traumática muito grande.

Não demorou muito, Julia começou a se mexer, e logo em seguida abrir os olhinhos. A família deixou a conversa de lado, prestando atenção às reações dela, como que querendo confirmar que estava bem. Com carinha de sono, Julia olhou cada um dos visitantes. Mas foi a sua vovó Esme que recebeu o sorriso mais lindo de todos

– Vovozinha – disse ela, segurando a chupeta ao falar. – Julinha tava com sodade, muita sodadona.

Retribuindo ao sorriso, Esme chegou mais perto da cama e se inclinou para abraçá-la.

– Meu pedacinho do céu. Minha netinha linda. Vovó também estava morrendo de saudades, e de preocupação também – beijou o rostinho dela algumas vezes e deu alguns cheirinhos. – Que bebê mais cheiroso da vovó.

– Foi a mamãe Ose que deu banho na Julinha, vovó. E ela lavô a flózinha também – todos sorriram do seu comentário inocente. Os olhos de Rosalie brilharam olhado sua pequenina, tão fragilizada e dependente de seus cuidados e afeto.

– Foi mesmo amor?! – comentou Esme, beijando sua mãozinha. – A mamãe Rose cuidou direitinho de você. Tenho certeza de que ela te ama muito e vai sempre te tratar com carinho. Com o carinho que você, meu pedacinho do céu, merece.

Julia maneou a cabeça afirmativamente, olhando para Rosalie, seus olhinhos revelando um amor tão grande e o desejo de que sempre fosse retribuído.

Carlisle e Alice se aproximaram da cama, ganhando espaço, e a encheram de beijos, um por vez, enquanto ela se encolhia dengosa.

– Muito cheirosa essa garotinha do vovô.

– Você gotó da Julinha muito chelosona, vovô?

– Vovô gostou muito – ele confirmou dando outro cheirinho nela antes de se afastar e a tia tomar sua frente novamente.

– Jujuba linda da titia. Quem fez essas marias-chiquinhas tão fofas?

A garotinha tornou a lançar o olhar à mãe, que estava de pé ao lado da cama.

– Foi a mamãe Ose, titia. Ela sabe fazê esse negocio bonito igual à vovó Emes.

– Olha que linda. Ficou muito linda, minha jujuba. Essa mamãe é muito legal – comentou Alice com certo divertimento em seu tom de voz.

Julia levou ambas as mãozinhas à cabeça, tocando de leve as marias-chiquinhas.

– Muito legal titia. Eu gosti – ela olhou para o lado e ficou em silêncio, depois tornou a falar. – Agola Julinha não vai cholá pô caso que já tem um papai e uma mamãe que gota de mim.

Sensibilizada, Alice a abraçou, tomando todo cuidado por causa dos fios e acesso, enquanto os outros no quarto tinham os olhos marejados de lágrimas.

– Titia?

Alice se afastou para poder olhá-la.

– Fala minha jujuba linda.

– A vovó Geice também veio vê a Julinha ota vez.

– Titia está vendo. Todo mundo estava muito preocupado com você – disse Alice, afagando seu rostinho.

– E o titio das histólias, plíncipe. E a titia Bella. E o papai, cadê? Cadê todas pessoas?

– O titio e a titia vão vir depois. Eles tinham umas coisinhas do trabalho para resolver antes de vir. E o papai, também.

– E todas pessoas vai ficá com Julinha epelano o papai chegá?

– Acho que não jujuba. Seu papai só vai chegar bem mais tarde.

Imediatamente Julia lançou o olhar à Rosalie.

– Mamãe... – ela choramingou, estendendo-lhe a mãozinha.

– Está tudo bem, meu anjo. A mamãe não vai embora. Nós vamos ficar juntinhas esperando o papai voltar.

– Tá bom. Mas eu não quelia que todas pessoas vá embola. O vovô e as duzas vovó, e minha titia.

– Nós não vamos agora não, minha flor do campo. Vamos brincar e mimar você até que nos mandem ir embora – acrescentou Grace ao se aproximar da cama.

As duas avós, a tia e o avô passaram a brincar com ela. A nova mamãe observava encantada; cada pequeno gesto, cada sorriso.

Conforme as horas foram passando foi se tornando cada vez mais difícil mantê-la na cama sem muitos movimentos. Graças ao bom Deus existiam os canais de programação infantil. E que por um bom tempo foram requisitados.

Em intervalos regulares, Emmett ligou para saber da filha. Depois de falar com Rosalie, ele dedicava alguns minutos a falar com Julia. Mencionara várias vezes o quanto a amava, e que também amava a mamãe Rose. Julia sempre olhava para a mãe quando ele confessava os sentimentos. No final da primeira ligação, ela chorou, por isso não demorou, ele tornou a ligar outras duas vezes.

No horário do almoço, mãe e filha almoçaram no quarto. O resto da família, na cantina do hospital. Edward e Isabella chegaram por volta das quatorze horas, mas ficaram apenas alguns minutos, estava bastante atarefado aquele dia. Alice e Carlisle foram embora com eles, ambos tinham compromissos para dali alguns minutos. Deixando apenas as duas avós e a mãe cuidando da criança.

Exausta, Rosalie foi convencida a dormir um pouco deixando sua filhinha aos cuidados das avós. Depois de beijá-la várias vezes, e perguntar se estava tudo bem, deitou-se no sofá de dois lugares, que ficava encostado a uma parede do quarto. Usando uma fralda de Julia, tapou o rosto para evitar a claridade. Estava tão fadigada que adormeceu em poucos segundos.

E quando acordou, algum tempo depois, estava tudo no mais absoluto silêncio. Retirou a fralda que cobria seu rosto, olhando ansiosa para a cama onde Julia deveria estar. Apavorou-se ao perceber que estava vazia. Seu coração passou a bater fora do ritmo, suas mãos ficando trêmulas. Medo e angustia crescendo a cada segundo.

– Julinha...? – ela se desesperou indo apressada abrir a porta do banheiro. Lá também estava vazio. Passou a mão no rosto, afastando alguns fios de cabelos, enquanto voltava apressada, dessa vez, indo até a porta, saindo de lá nervosa.

Caminhou apressada pelo corredor, olhando em todas as direções. A imagem do desespero marcava seu rosto.

– Julinha meu amor, cadê você...? – soluçou ela.

Seguiu no mesmo ritmo, agoniada, rumo à estação das enfermeiras deparando-se com uma delas na porta.

Gesticulando nervosamente com as mãos, ela implorou.

– Você viu a garotinha do quarto 1308? Têm três aninhos, olhos azuis, cabelos castanho-claros... Por favor, alguém tem que tê-la visto – sua voz embargada transmitia desespero e angustia. – Uma criança não pode desaparecer assim...

No corredor que antecedia a estação das enfermeiras, Grace ouviu sua voz. Sentindo o desespero da filha quis chegar até ela o quanto antes. Enquanto caminhavam, Grace segurava o suporte do soro e Esme à mão de Julia. Ao virarem à direita, Grace se pronunciou.

– Aqui filha.

Rosalie levou a mão ao coração, como que para mantê-lo no lugar.

– Por Deus, mamãe! – a recriminou pelo susto já com lágrimas nos olhos. Olhando de relance a enfermeira ao seu lado, acrescentou. – Me desculpe. Obrigada – tornando a olhar para Grace, sentiu as lágrimas rolarem em seu rosto.

Julia, que estava de mãos dadas com Esme, tentou correr ao encontro da mãe, mas foi contida pela avó. Grace passou a empurrar a suporte mais rápido enquanto aumentavam o passo.

Rosalie apressou-se também, quase correndo. Tão logo se aproximou abraçou a filha e a pegou no colo enchendo-a de beijos, em momento algum impedindo que as lágrimas rolassem. Seu peito tremia com soluços. Por Deus, jamais havia sentido medo igual.

– Docinho! Que susto a mamãe levou... Pensei que alguém tivesse te levado, que tinha te “perdido” – suspirou, nitidamente aliviada por tê-la novamente em seus braços.

A voz infantil quebrou um pouco o clima de angustia e medo.

– Eu tava passeano plá sotá pum, mamãe. Foi o Doutô Aposo que mandô.

E naquele instante, Rosalie se viu sorrindo. Não soube ao certo se de alivio em encontrá-la ou pela graça do comentário.

– O médico nos pediu que andássemos com ela um pouco – explicou Esme. – Parece que colocam um gás no abdômen na hora da cirurgia e ela precisa expelir. Como você estava dormindo sairmos sem avisar. Imaginamos que não acordaria até voltarmos. Desculpe-nos pelo susto, querida.

Olhando de Esme para Grace, ela avisou:

– Nunca mais façam isso comigo... Eu juro que não aguento.

Encostando a mãozinha levemente no rosto da mãe, Julia informou.

– Mamãe até plincesas soltam pum. Vovó Geice que disse. Tem um livo assim.

Os lábios de Rosalie se curvaram em um sorriso. Segurando a mãozinha da filha, beijou o dorso e depois a palma macia.

– Vou comprar esse livro para você amorzinho – prometeu Grace à netinha.

– Vai mesmo vovó Geice?

– Vou, sim. Pode acreditar meu anjo.

– Viu mamãe – disse Julia, com olhinhos felizes. – Vovó Geice vai dá o livo da plincesas que soltam pum – sorriu com o próprio comentário.

– Vai meu amor, a vovó Grace vai dar o livro – concordou Rosalie lhe roubando alguns cheirinhos.

– Eu vou mostlá plo papai. Ele também solta pum. Oto dia ele soltou pum bem gande – sem que pudesse evitar, enquanto falava, ela soltou um pum. Desconfiada, disse. – Eta, Julinha soltô um pum. Tudo de culpa do Doutô Aposo.

As três mulheres sorriram, tornando a caminhar de volta ao quarto.

– Cadê o papai, mamãe? Ele vai demolá? Não quelo que ele demole igual você, mamãezinha, que todo dia Julinha epelava e não chegava nunca palece.

– Desculpe meu anjo – pediu Rosalie, lhe dando beijos no rostinho. – Mamãe não vai te deixar nunca. E o papai chega ainda hoje.

– Já é agola?

– Não, só depois do jantar.

– Então vamo jantá agola.

Novamente as três mulheres sorriram.

– Não gotinha. Não podemos. Ainda não é o horário, amor.

Julia encostou a cabeça no ombro de Rosalie, que beijou seu ombrinho enquanto caminhavam. As avós vinham lado a lado. Grace ainda empurrando o suporte do soro.

Rosalie sussurrava a ambas.

– Nunca mais me deem um susto desses...

Nunca os minutos foram tão intensos quanto aqueles em que se descobriu sem Julia ao seu lado. Deus era testemunha do quanto o medo de perdê-la a amedrontou.


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Notas finais do capítulo

Comentários que ainda não foram respondidos, seja nessa fic ou nas mais velhas, irei responder a todos. Estou recomeçando por minha vida em ordem, tenham paciência comigo.
Ao pessoal que me enviou mensagem ou e-mail, principalmente aquelas que demonstraram afeto, muito obrigada, juro que vou responder todo mundo.
Não posso deixar de agradecer também as meninas que recomendaram a fic durante esse período, que foram: constança18, Pamps17, Isabelle Sousa Costa Magalhaes, MySoulSisters e garota mascarada. Me fez muito bem voltar aqui e ver o carinho de vocês. Um grande beijo no coração de cada um (a).

Quero aproveitar também para dizer que, antes de tanta coisa acontecer, tinha escrito também uma one-shot que só pude me concentrar para revisá-la agora. Acabei de postá-la, vou deixar o link aqui para quem tiver interesse em lê-la, e quem sabe deixar um comentário.

Link: http://fanfiction.com.br/historia/538575/Primeiro_Amor/


Bom, é isso. Espero que tenham gostado do capítulo e, se possível, não se esqueça de deixar um review. Estou com muita saudade de falar com vocês ao final de cada capítulo.
Beijo, beijo
Sill