A Gotinha De Amor Que Faltava escrita por Sill Carvalho, Sill


Capítulo 26
Capítulo 26 – Noite de Angustia


Notas iniciais do capítulo

Oi amoras minhas, como estão? Sentiram saudades?
*
Thaís Adriana, minha linda, muito obrigada por sua recomendação. Eu adorei. Espero que goste do capítulo.
*
Já podem correr pra ler pessoinhas.



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/328735/chapter/26

Poucos minutos depois, uma enfermeira, dotada de um rigor inglês, começou a conduzir a criança ao centro cirúrgico. Regida por impulso, Rosalie seguiu o marido pelos corredores frios e silenciosos, seguindo a maca que levava sua garotinha.

Mais uma vez, Emmett se viu explicando para sua gotinha de amor o que estava prestes a acontecer. Uma coisa que aprendera nesse pouco tempo de convivência com ela, é que sempre se sentia mais segura se soubesse o que estava para acontecer.

Em determinado momento, no trajeto para o centro cirúrgico, o médico sinalizou com a cabeça indicando que era o momento dos pais deixarem a criança ao encargo da equipe médica.

De coração partido, Emmett se inclinou sobre a maca beijando o rostinho da filha, para em seguida murmurar palavras de conforto e segurança próximo ao seu rostinho.

– O papai te ama muito, gotinha. Eu vou estar aqui te esperando. Não tenha medo amor, você vai dormir e quando acordar a Dra. Kate vai estar ao seu lado. Depois você volta pro mesmo quarto que estava antes.

– E todas pessoas vão tá me epelano? – ela quis saber.

– Não bebê, eles vão pra casa, mas voltam para te ver amanhã. Só o papai vai estar te esperando. O papai nunca vai te deixar.

Embora um beicinho tenha surgido, e os olhinhos tenham ficado cheios de lágrimas, Julia maneou a cabeça afirmativamente. Emmett tentou sorrir para deixá-la confiante, contudo, sabia qual o motivo daqueles olhinhos tristes; Rosalie.

Não encontrando solução para aquilo, cerrou os lábios em uma linha reta, sem saber o que dizer. Ele também estava angustiado porque, no fundo, temia que a esposa, com a melhora de Julia, partisse e dessa vez para não mais voltar. Que significasse o ponto final na historia dos dois.

Um casamento sujeito ao fracasso, contaminado com embates, cobranças, resistências, disputas e atritos frequentes. O casal que se amava desesperadamente chegou ao ponto de se tornar pessoas estranhas. Imprevisíveis.

Observando tudo, Rosalie tocou suavemente o ombro do marido, pedindo espaço para sua breve despedida. Ela não soube, mas aquele simples toque fez o coração de Emmett saltar dentro do peito. Ele olhou da filha para a esposa, e se afastou da maca.

Rosalie o olhou, seus olhos demonstravam compreensão, enquanto murmurava um “obrigada”.

Ela se inclinou sobre a maca. Sua mão direita afagando os cabelos finos de Julia, carinhosamente.

– Não tenha medo – murmurou com a voz suave. – Vai ficar tudo bem, docinho – antes de se afastar beijou suavemente o rostinho dela.

Com a mesma expressão triste no rosto, Julia murmurou, com a inocência de um anjo, a preocupação que lhe afligia.

– Mamãe Ose – a voz infantil soou fraca –, eu me compoto, sou boazinha, como toda comidinha. Eu plometo – ela piscou os olhinhos quando os sentiu arder. – Pô favô, não vá embola...

Sensibilizada com o apelo inocente, Rosalie lhe afagou o rostinho com o dorso da mão, buscando não magoá-la.

– Prometo que quando você voltar para o quarto, eu estarei lá te esperando. Não vou embora – ela afirmou, tocando a pontinha do nariz de Julia.

Ambos, angustiados, se afastaram da maca encostando-se à parede do corredor enquanto a equipe médica se encarregou de levá-la. O sedativo foi aplicado para que ela adormecesse ainda no pré-operatório.

O casal se entreolhou, encontrando medo nos olhos um do outro. Não havia como negar, depois de meses, estavam unidos em algo importante. No minuto seguinte, estavam sendo conduzidos, por uma enfermeira bastante atenciosa, à sala de espera onde os familiares também aguardavam o termino da cirurgia.

Aflitos, nenhum dos dois disse nada, apenas sentaram-se lado a lado. Automaticamente entrelaçaram as mãos. Um gesto pequeno, sobretudo de importância tranquilizadora, fortalecendo-os mutuamente.

Os minutos se estenderam arrastadamente. Emmett tinha a estranha impressão de estar em um labirinto, perdido e assustado. Tinha plena certeza de nunca ter sentindo algo assim antes. Afinal, ser pai não era só felicidade, era medo e angustia também.

O amor que sentia por Julia às vezes o assustava; tão grande havia se tornado. Cada tic-tac do relógio era como sentir o sangue pulsar em um hematoma; incomodo e dolorido.

Cerca de uma hora, trinta e oito minutos e cinquenta e três segundos depois, de acordo com as contas de Emmett, que o tempo inteiro esteve de olho no relógio, o médico entrou na sala de espera para dar notícias à família.

Quando a porta dupla foi aberta, a família inteira olhou naquela direção. Rostos aflitos e olhares ansiosos. Emmett e Rosalie ficaram de pé num rompante, suas mãos se separam no mesmo instante. Ansiosos por noticias aproximaram-se do médico que, como sempre, tinha o olhar tranquilo.

O médico olhou cada um dos rostos que o encarava com preocupação, parando ao olhar para o pai da garotinha.

– Já pode respirar tranquilo. Sua filha está bem, a cirurgia foi um sucesso – murmúrios de alivio preencheu o ambiente, antes tão silencioso. – Extubamos e a garotinha já está no pós-operatório. Não se preocupem a Dra. Kate já deu uma passada por lá para vê-la.

Envolvida demais, Rosalie suspirou, e, de uma forma inesperada, se viu chorando. Tendo a certeza de nunca ter sentido algo assim antes.

Ansiosos, o casal não resistiu em perguntar se podiam vê-la.

– Quando posso vê-la? – as duas vozes se uniram em coro. Ao se darem conta disso, um olhou para o outro.

– Ela deve descer por volta de meia-noite ou uma da manhã.

A família inteira trocaram olhares de cumplicidade, externando alivio.

Edward, Isabella e Alice foram os primeiros a se retirarem da sala. Esme e Carlisle conduziram o filho mais velho para o corredor, Grace os seguiu logo atrás do médico.

Tomada por uma torrente de emoções, Rosalie voltou a sentar. Quis aproveitar o momento, sozinha, para agradecer a Deus. Agradecer por todas as bênçãos concedidas nas últimas horas.

Distraída, em uma prece silente, somente abriu os olhos ao sentir que alguém se aproximava. Era Emmett que havia retornado à sala e parado a sua frente. Rosalie ergueu a cabeça, buscando com urgência o olhar do marido. Por um fugaz momento se arrependeu. O semblante no rosto dele era transtornado e isso fez seu coração gelar dentro do peito.

Será que o médico disse mesmo a verdade, foi o que pensou aflita.

Emmett suspirou arrastadamente, e então começou a falar.

– Julia é louca por você – revelou. – Ela achou sua foto na primeira noite em nosso apartamento e desde então te ama. Te ama de um jeito que impressiona. Acho que ela prefere encontrar você que a mim no quarto. Ela estava apavorada com a ameaça de não voltar te ver. Eles só permitem um acompanhante e seria frustrante para ela acordar e não te encontrar – ele mexeu as mãos uma na outra. – Se importa de ficar? – completou mesmo com medo da resposta, mas, ainda assim, olhando-a diretamente nos olhos.

– Não pretendia ir embora – disse ela simplesmente. – Eu prometi estar aqui quando ela saísse da cirurgia. Jamais faltaria com uma promessa... Muito menos feita a uma criança.

Sua resposta fez o coração aflito do pai sossegar dentro do peito. Ele suspirou nitidamente aliviado.

– Amanhã terei um almoço de negócios em outra cidade. Pode ficar com ela até que eu volte? Bem, eu vou entender se você tiver outras coisas para fazer. Outros compromissos. Talvez minha mãe possa...

Rosalie o interrompeu, porém, não de forma grosseira. Havia carinho em seu tom de voz, compreensão e calor humano.

– Já disse, eu fiz uma promessa e vou cumprir.

A expressão no rosto de Emmett suavizou, embora não estivesse tranquilo em ter que partir. Ele estendeu a mão para Rosalie e ela aceitou, ficando de pé imediatamente. Em silêncio caminharam até a porta dupla. No corredor, encontraram uma enfermeira avisando aos familiares que o horário de visitas havia chegado ao fim. Logo em seguida pediu que o acompanhante da criança fosse com ela para assinar os termos necessários.

Antes de segui-la, Rosalie olhou mais uma vez para o marido, a expressão no rosto dele era de dar dó. Ela lhe apertou a mão e sussurrou que faria o melhor que pudesse. Emmett assentiu, ela então separou novamente suas mãos.

Ele ficou angustiado observando-as sumir de vista. Passou a mão na cabeça, deu dois passos à frente e parou, lutando contra a vontade de segui-las.

– Porque estou fazendo isso mesmo? – disse ele, confuso.

Grace deu alguns passos na direção do genro. Estendeu a mão tocando o rosto dele gentilmente, fazendo com que seus olhos se encontrassem.

– Quer uma mãe para sua filha, Emmett? Quer sua esposa de volta? – os olhos de Grace eram cheios de doçura ao falar com ele.

– Sim – respondeu, vencido.

Carlisle chegou mais perto e lhe tocou o ombro.

– Você precisa permitir que elas criem laços, dar tempo a elas. Elas precisam ficar sozinhas – disse ele, sua voz soando autoritária.

– Eu não sei... – lamentou Emmett, inseguro.

Naquele momento, Grace se afastou chegando um pouco para o lado.

– Seu pai está certo – concordou ela. – Precisa fazer isso, Emmett.

Ele balançou a cabeça negando. – Julinha vai querer segurança, pessoas conhecidas. Ela vai chorar... Não posso fazer isso com minha gotinha. Não posso deixá-la sozinha. Não outra vez. Não posso falhar com ela.

Mais uma vez, Grace interviu.

– Ela vai acordar e ver a mãe. Uma mamãe que ficará até ontem e todo dia – comentou, lembrando-se de Julia atrapalhada com a contagem dos dias. – Ela não vai chorar.

Ainda assim, o pai aflito continuou na defensiva.

– Eu não peguei a chupeta. Minha gotinha não vai conseguir dormir sem a “pepeta”.

– A maioria das mães de primeira viagem tem problemas com o sono nas primeiras noites. Ela estará com a mãe, Emmett. Pé de galinha não quebra ovo – argumentou Grace com sabedoria.

– Mas... – ele tentou contestar, porém, Esme abriu espaço e o acolheu em um abraço afetuoso. Capturou seu olhar angustiado e confessou, emocionada.

– A coisa mais difícil que já fiz em minha vida foi colocar meu pedacinho do céu em seu carro enquanto ela chorava por meu colo, meu acalanto. E você não facilitou em nada a minha vida, se comportando como um troglodita com minha única netinha. Depois que você saiu, eu me encostei à primeira parede da sala e chorei desesperadamente. Há muito tempo não chorava como chorei aquele dia. Passei a noite inteira pedindo a Deus que amanhecesse logo e eu a encontrasse bem, e feliz. O tempo inteiro me perguntando se não deveria ir a seu apartamento, mesmo de madrugada, para resgatá-la. Mas não me arrependo. Por causa desse gesto minha netinha tem agora um pai maravilhoso. Meu filho me enche de orgulho pelo homem que se tornou. Vai ser a pior noite de sua vida, mas vai amanhecer filho. E quando o sol surgir, você vai encontrar uma alegria muito maior. Talvez encontre a família que estava destinada a ser sua.

Emmett suspirou vencido com as palavras da mãe. Não havia mais argumentos, mesmo que tentasse, não iria encontrá-los.

Com olhar de garoto, ele se dirigiu ao pai.

– Pai ninguém pode me substituir amanhã? É a minha filha... – ele completou em um sussurro.

– Queria poder te liberar filho – comentou Carlisle, resignado. – Mas é a única pessoa em quem Vincent confia. Ele foi bem claro em dizer que só negociava com você. Sinto muito, mas vai ter que ir.

Emmett passou a mão no rosto, suspirando, fadigado.

– Tudo bem – concordou, vendo que não tinha escolha. – Mas assim que terminar...

Ele nem terminou a frase de tão ansioso que estava. Mal tinha viajado e já ansiava para voltar e ver a filha.

– Pode até alugar um helicóptero se quiser – avisou Carlisle. – A senhorita Janine já comprou sua passagem de volta também, está marcada para às 15h15. No máximo às 18h30 você estará de volta ao hospital para ver sua filha. Mas, a proposta do helicóptero ainda continua de pé.

Emmett concordou como se fosse um garotinho que acaba de receber ordens do pai. Esme o olhou, resignada, abrindo os braços para mais um abraço reconfortante.

– Nós precisamos ir para casa antes que os seguranças do hospital nos expulsem – comentou Esme em um tom de voz sereno.

– Preciso me despedir de Rose antes – avisou Emmett.

Esme afagou seu rosto carinhosamente. – Tudo bem filho. Me ligue se precisar de algo. Mamãe estará sempre disponível.

Ele concordou com um maneio de cabeça. Olhando para a sogra, questionou:

– A senhora vem comigo?

– Não se preocupe comigo Emmett. Prefiro que conversem a sós. Estarei te esperando lá na recepção. Terei que ir embora com você, já que minhas coisas, provavelmente, devem ter sido entregues em seu apartamento.

– Certo... Certo – concordou ele, visivelmente esgotado. – Eu não demoro – avisou.

Inesperadamente, Alice o abraçou pela cintura.

– Boa sorte, Emm – sussurrou ao se afastar.

–Vai dar tudo certo – reforçou Isabella, chegando mais perto, tocando o ombro do cunhado. Emmett retribuiu ao gesto lhe estendendo um olhar carinhoso.

Então foi à vez do irmão lhe dar apoio. Edward o abraçou, lhe dando um tapinha amigável nas costas.

– Pode contar comigo, irmão.

– Eu sei... – murmurou Emmett, retribuindo o tapinha nas costas.

Emmett viu, silenciosamente, os familiares se encaminharem rumo à saída. Parado ali, naquele corredor vazio, sentiu-se mais solitário que nunca. Virou de costas, seguindo corredor adentro, indo para o quarto onde Julia ficaria ao retornar do pós-operatório. Rosalie estava lá, aguardando o horário em que a equipe médica a traria de volta. Dessa vez, exerceria um papel diferente, e de extrema importância, na vida do marido e da criança que conquistara seu coração.

Receoso, ele empurrou a porta devagar. Infiltrou a cabeça para o lado de dentro e a encontrou, sentada na poltrona localizada ao lado da cama vazia. Rosalie estava com a cabeça baixa, uma das mãos apoiando a cabeça, o cotovelo sobre o braço da poltrona. Parecia pensativa. Entretanto, havia algo mais. Algo cujo marido não soube reconhecer.

– Oi – arriscou ele. A voz soando um pouco mais rouca que de costume. Acovardando-se diante a mulher por quem tinha amor. A esposa que, nos últimos meses, o renegava.

Rosalie ergueu a cabeça devagar, reconhecendo a voz imediatamente. Seus olhos encontrando com os dele, trazendo à tona sensações adormecidas.

– Oi – disse ela, sentindo-se estranhamente renovada com a presença dele no quarto. – Está tudo bem? – perguntou, desconfiada.

Sentindo-se mais confortável, ele empurrou a porta entrando no quarto a passos lentos.

– Sim – murmurou. – Vim apenas me despedir... – comentou receoso. Não conseguindo esconder a preocupação em seu olhar. – Obrigado por fazer isso. Nem sei como te agradecer. Na verdade, acho que nada do que possa dizer será o suficiente.

A expressão no rosto dela suavizou.

– Não é preciso agradecer, Emmett. Vou cuidar da garotinha como se fosse minha – ouvir aquelas palavras sendo ditas por Rosalie o fez querer, desejar, mais do que nunca, que Julia fosse realmente filha dela. – Pode ficar tranquilo – assegurou.

Emmett balançou a cabeça afirmativamente, não tendo palavras suficientes para agradecê-la. Sabia o quanto podia estar sendo difícil para ela, depois de tudo que a fez sofrer.

– Bem... – disse ele após alguns segundos de silêncio. – Como é você quem vai ficar e o horário de visitas já terminou, eu preciso ir – ele caminhou até a porta e parou. – Não sei como fazer isso... – murmurou angustiado, de costas para Rosalie.

Ela ficou de pé e foi até ele, ergueu a mão e tocou levemente o ombro do marido. Emmett fechou os olhos por um nanosegundo apenas, apreciando o toque suave da mão dela.

– Eu vou estar aqui... – ela sussurrou, tentando tranquiliza-lo.

– Certo... – sussurrou em resposta, agora olhando a mão que lhe tocava o ombro.

Mudando um pouco o assunto, Rosalie perguntou:

– Você sabe onde minha mãe está agora?

– Ela está me esperando para irmos embora juntos. Você quer falar com ela?

– Não, não é preciso. Só queria saber onde ela estava. Já que você vai levá-la, eu fico mais tranquila.

Ele balançou a cabeça afirmativamente, e então abriu a porta para sair.

– Fique tranquilo... – Rosalie tentou, mais uma vez, em vão tranquiliza-lo.

– Eu vou tentar... – ele respondeu quase que em um sussurro, deixando que a porta se fechasse atrás de suas costas.

Rosalie ficou pensando no quanto o marido parecia esgotado física e mentalmente. E o quanto estava mudado. Maduro.

Emmett saiu dali sabendo que era impossível ficar tranquilo, julgando pelas circunstancia dos acontecimentos. Por sorte, encontrou com o médico no corredor, que, vendo-o tão triste, permitiu que visse a filha, mesmo que através de uma janela de vidro, na sala do pós-operatório.

O pai angustiado encostou a mão direita no vidro, seus olhos buscaram pela presença da filha, na cama. Julia dormia tranquilamente agarrada a fotografia de Rosalie tendo o pônei de pelúcia – Carinho – ao lado do travesseiro, pertinho de seu rosto.

– Papai te ama, gotinha... Te ama tanto – ele sussurrou sem se importar com a presença do médico ao seu lado. – Tenho que ir filha, mas eu volto. A mamãe “Ose” vai ficar com você. Você gosta muito dela, não é?! Então o papai pode se sentir menos culpado.

A visita foi breve, o médico pediu que ele fosse para casa. Não deveria estar ali, muito menos depois do horário de visitas.

Mesmo sem poder chegar pertinho da filha, aquilo foi o bastante para fazê-lo ficar mais seguro do que tinha que fazer. E voltar para casa com a pequena sensação de felicidade. Apesar de tudo, em poucas horas, sua gotinha de amor estaria ao lado da mamãe que tanto ama e esperou.

[...]

Ele encontrou com a sogra na recepção do hospital e juntos foram para o apartamento. O porteiro os avisou da bagagem deixada lá mais cedo por um taxista.

– Me lembre de agradecer aquele taxista quando nos encontrarmos outra vez – comentou Grace enquanto junto com o genro levavam as coisas para a cobertura.

Assim que entraram no apartamento, Grace se ofereceu para preparar um chocolate quente, enquanto Emmett tomava um banho. E ao circular pelo apartamento se viu sorrindo. Já estivera ali antes, mas nunca aquele apartamento lhe pareceu um lar tanto quanto agora.

O apartamento inteiro não deixava dúvidas de que uma criança vivia ali. Além de todas as medidas de segurança tomadas pelo pai, em cada cômodo havia rastros de Julia. Fosse uma chupeta “perdida”, um livro infantil no sofá da sala de estar. Um brinquedo jogado no chão. Um cesto de brinquedos no canto na sala de tevê. O carrinho motorizado da Barbie no corredor de acesso aos quartos.

E o próprio quarto de hospedes, temporariamente, adaptado para Julia. Na cozinha, os alimentos infantis. Os enlatados e as mamadeiras sobre o balcão. A cadeirinha de alimentação ao lado da mesa. A louça infantil, tudo perfeitamente limpo, mas em locais que o pai pudesse encontrar facilmente, pratico para quem cuidava sozinho de uma criança.

Quando Emmett saiu do banho, Grace serviu duas canecas de chocolate quente e eles sentaram-se à mesa da cozinha. Bebericaram enquanto conversavam. Grace se mostrava uma companhia bastante agradável e disposta ajudá-lo com Rosalie.

Antes mesmo de tomar todo o chocolate da caneca, ele pediu licença e se levantou. Foi para a sala arrastando os próprios pés. Sentado no sofá, encontrou um dos livros de contos infantis que comprara para a filha. Percorreu as folhas do livro, mas, sua atenção não estava focada no objeto, estava perdido nos próprios pensamentos.

Pensava em Julia e Rosalie, no hospital. Preocupação e tristeza o consumia. Talvez fosse melhor ter ficado no hospital, foi o ele pensou.

Enquanto o genro estava na sala, Grace arrumou algumas coisas para levar amanhã cedo ao hospital, para Rosalie. Depois foi para o quarto de hospedes, temporariamente o de Julia. Tomou um banho e se deitou. O quarto estava recheado com coisas que pertenciam à garotinha. Lotado de brinquedos. O closet lembrava uma loja infantil, de tantos itens que ali havia.

Outra vez Grace se viu sorrindo, imaginando o quanto a filha seria feliz se pudesse dividir essa fase preciosa da vida com o marido.

Exausto, Emmett foi para seu quarto. Porém, sabendo que uma noite de sono tranquila estava fora de cogitação. Assim como ele, Grace também não estava conseguindo dormir. Eram dois corações aflitos pela noite longa de suas filhas.

A noite também não estava sendo tranquila para Rosalie. Julia chegou ao quarto 01h22 da manhã. Depois de meia hora começou ficar inquieta, por volta das 02h03 despertou chorando. Primeiro apenas resmungou, depois reclamou de dor e ardência nos locais onde os curativos se encontravam.

Rosalie tentou acalmá-la, ao passo que se martirizava pensando que fosse melhor se Emmett tivesse ficado. Ele sem dúvida saberia o que fazer, Julia estava acostumada a ele. Mas todas às vezes que perguntava à Julia se ela queria o pai, ela apenas chorava e a abraçava como se sua vida dependesse disso. Da proteção e do amor de uma mãe. Algo que jamais tivera antes.

Às 2h28 a enfermeira aplicou uma dose de analgésico e uma de anti-inflamatório. Depois disso, Rosalie sentou na poltrona ao lado da cama com Julia em seu colo, acalmando-a pouco a pouco. Mas todas as vezes que a colocava deitada novamente na cama, minutos depois, ela começa a chorar e reclamar dos incômodos na barriguinha.

Quando o relógio atingiu às 3h29 da manhã, Rosalie estava beirando o choro. Completamente convencida de que não tinha o menor jeito para ser mãe. Que havia sido imatura e boba, ao imaginar que poderia assumir tamanha responsabilidade como a da maternidade. Havia sonhado com imagens de filmes e livros. Ela e Emmett ninando um bebê comportado e quieto, fazendo piqueniques ao ar livre em um dia de sol. Outras vezes, já maiorzinho, ensinando-o a andar de bicicleta.

Sabia que uma criança dava trabalho, mas não imaginou o senso de responsabilidade. O medo de errar e perder, a angustia de se sentir impotente, o desejo de tomar para si todas as dores, e a sensação de não saber o que fazer.

Ela suspirou olhando a garotinha tão ferida e indefesa. Seu coração afundando no peito, com os pensamentos que rondavam sua mente.

“Você merece uma mamãe melhor, uma mamãe que te faça esquecer todo o sofrimento que passou. Não consigo nem colocá-la para dormir.”, pensou Rosalie com lágrimas nos olhos.

Estava distraída quando uma enfermeira nova entrou no quarto. A enfermeira se aproximou do leito e verificou o soro, verificou também a temperatura da garotinha.

– Ela se acalmou? – pediu a enfermeira, já avisada pela anterior de que talvez a criança estivesse inquieta.

– Talvez pelos próximos dez minutos – disse Rosalie, desanimada.

– Não fique assim – começou a enfermeira. – Sempre dizemos que é proibido deitar no leito. Que a cama é do paciente. Mas sua filha é quase um bebê ainda. Deite-se com ela, ninguém vai reclamar. As incisões realmente incomodam por algumas horas e ainda por cima ela está estranhado o quarto. Fique à vontade.

Como estava realmente apavorada com a ideia de não ser uma boa mãe, decidiu seguir o conselho da enfermeira. Deitou-se com cuidado, com medo de machucar Julia. Assim que sentiu o corpo da mãe se aconchegou nela, como se aquele colo tivesse sido projetado apenas para si.

Julia começou a choramingar mais uma duas vezes, mas assim que ouvia a voz de Rosalie se acalmava.

– Shhhhh! – murmurava Rosalie, com o coração cheio de afeto. – Mamãe está aqui docinho. Não chore, está tudo bem – a garotinha choramingou mais uma vez. – Aqui a mamãe, aqui amor. Está tudo bem... Estou aqui com você. A mamãe te ama tanto... – em pouco tempo Julia estava quietinha.

A nova mamãe se encantou com isso, com o poder maravilhoso de calar o choro apenas com sua presença.

Com toda aquela magia de ser mãe crescendo em seu coração, se alastrando poderosamente, havia até mesmo esquecido que há pouco estava desesperada achando que não levava o menor jeito para a maternidade.

Como nunca antes, estava se sentindo segura e capaz de oferecer qualquer coisa à filha. Ser mãe era despertar para uma nova vida e Rosalie começava acreditar que estava pronta para isso.

Com delicadeza afagou o rostinho de Julia lhe dizendo palavras suaves, de carinho e aconchego.

– Você nem imagina o quanto te desejei gotinha. Não é assim que o papai te chama? – um sorriso suave surgiu no canto de seus lábios. – Deve ser gotinha de amor. Você é mesmo a gotinha de amor que faltava em minha vida, na nossa família. A gotinha de amor que trouxe luz onde havia trevas.

A mulher que outrora sofrera por não poder ser mãe estava agora encantada com a maternidade. Sentia que poderia passar a eternidade fazendo carinho no rostinho daquela criança.

Ali, sozinha no silêncio da madrugada, conseguiu enxergar com assustadora clareza os traços físicos do marido naquele rosto infantil e delicado. Os traços do homem que ama; o homem de sua vida, o pai de sua filha.

Contudo, o cansaço e todo o desgaste físico e mental daquele dia a venceu, Rosalie acabou cochilando com a filha aconchegada em seu peito, sentindo sua respiração suave e tranquila.

Sentia-se completa pela primeira vez. Cochilou com a sensação de realização e tranquilidade. Sabendo que a maior e mais angustiante busca de toda sua vida havia chegado ao fim.

Sentia-se mãe daquela gotinha de amor... Porque ela era tudo o que lhe faltava. Era a criança que sempre desejou.

Era a criança que o destino lhe reservou...


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

E aí pessoal?
Apesar de a Julinha estar dodói, adoro esse capítulo. Espero que tenham gostado também.
Não se esqueça de dizer o que achou.
Beijo, beijo
Sill