A Gotinha De Amor Que Faltava escrita por Sill Carvalho, Sill


Capítulo 24
Capítulo 24 – Destinados


Notas iniciais do capítulo

Oii pessoal!
Para quem estava ansiosa (o) para a continuação, ou querendo me trucidar, lá vamos nós outra vez.
*
Mas antes, deixa eu agradecer a essas lindas que recomendaram a fic: IsabelaCarvalhO, Izabela Snape Grissom e Ninfa Rosa de Dominus Ater, muitíssimo obrigada. Amei o que escreveram. Espero que gostem do capítulo.

A todos boa leitura :)



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/328735/chapter/24

Depois que o taxi sumiu de vista, Emmett caminhou na direção contraria, completamente perturbado, passando ambas as mãos na cabeça, sem saber como agir. Girou o corpo e voltou a andar na direção de onde o taxi havia sumido. Tateou os bolsos em busca do celular, quando enfim o encontrou, buscou o contato do irmão na agenda e efetuou a chamada. Apenas três toques, Edward o atendeu.

– Oi irmão – disse ele, do outro lado da linha.

– Acabou – Emmett lamentou-se com o coração partido, sentindo um nó se formar na garganta. Tendo a certeza de que tudo estava destruído – A perdi pra sempre...

– Você contou tudo pra ela?

– Contei... – ele respirou fundo, passou a mão no rosto, e soltou o ar devagar. – Ela me acusou de só querer tirar proveito dela. Que eu só a queria por perto para ser mãe de minha filha. Eu posso, e sei que sou capaz de criar minha filha sozinho – ele afastou o celular do ouvido, por um breve momento, e o trouxe de volta –, mas eu não consigo viver sem a Rose. Por isso tinha medo de falar, ela entendeu tudo errado. Ela entendeu tudo errado – ele repetiu. – Viu somente aquilo que queria ver.

– Para onde ela foi? – o irmão pediu.

– Ela falou algo sobre voltar pra casa dos pais. Disse que precisa pensar... Mas eu não acredito. Ela só está tentando fugir de mim outra vez. O que vou dizer pra minha filha quando ela perguntar pela mamãe “Ose”? Como eu vou voltar pra casa e dizer pra minha gotinha que a mamãe que ela tanto ama, não quer nem conhecê-la?! Que ela não quer saber de nós. Vai machucar o coraçãozinho dela. Vou passar o resto da vida mentindo sobre isso? O que vou fazer sem essa mulher, irmão? Não sei viver sem ela. Eu mudei por ela e pela minha gotinha e, mesmo assim, ela se afastou de mim...

– Ainda dá tempo. Vá atrás dela – disse Edward, com o tom de voz firme.

– De minha gotinha? – pediu Emmett, confuso, sem conseguir pensar direito, transtornado pelo medo de perder a esposa para sempre.

– Não, estou falando da Rose. Vá e não a deixe embarcar naquele avião.

Olhando para o lado, Emmett viu o manobrista trazer seu carro. Ainda com o celular próximo ao ouvido, caminhou apressado para receber as chaves do veículo. Desligou o celular assim que o manobrista lhe entregou a chave. Entrou no carro e jogou o aparelho telefônico no banco do carona e no minuto seguinte, manobrava para poder seguir o mesmo caminho que o taxi seguira.

O céu da cidade, ainda coberto por nuvens escuras, o fazia pensar que o tempo inteiro esteve certo, era um mau agouro.

Lutando contra o nervosismo e a ansiedade de impedi-la de fugir mais uma vez. Ele dirigiu o mais rápido que a lei lhe permitia. A todo o tempo pensando em Rosalie. Traria ela de volta para casa nem que para isso tivesse que se ajoelhar aos seus pés, no saguão movimentado do aeroporto, implorando seu perdão. E se não tivesse outra opção, a traria na marra. Estava decidido, Rosalie não entraria naquele avião de jeito nenhum.

Entretanto, mais uma vez, o destino se encarregou de provar o contrario.

Abandonado no banco do carona, o celular começou a tocar sem intervalos. A princípio Emmett se recusou a atender, até mesmo verificar quem o procurava. Mas aquilo se tornou insistente demais para ser ignorado. Ele estendeu o braço e o pegou, passando a falar usando o bluetooth auricular. Nem se deu ao trabalho de verificar quem o procurava.

– Alô! – disse ele, rápido demais. – Não posso conversar agora, me ligue depois.

– Senhor McCarty – soou uma voz feminina do outro lado da linha. – Aqui é Andrea, diretora da escola onde sua filha estuda. Sei que deve estar bastante ocupado, por isso demorou em atender a ligação. Mas é de extrema importância que venha à escola.

Não houve tempo nem mesmo para pensar, Emmett freou o carro bruscamente fazendo o próprio corpo se jogar pra frente, sendo puxado de volta pelo cinto de segurança. Alguns carros, que vinham logo atrás, frearam bruscamente para não atingi-lo.

– O que aconteceu com minha filha? – pediu ansioso. Medo e culpa se alastrando em seu coração, digladiando com a necessidade de ir atrás de Rosalie.

– É importante que venha. Você precisa levá-la a emergência do hospital.

– O que? Mas o que aconteceu? – perguntou tão rápido que mal conseguiu raciocinar direito.

– Ela está com febre alta e se queixa de dores na barriga. Está chorando e a todo tempo pedindo por você. Também pediu pela mãe – mencionou com a voz um pouco contida. Sabendo que a relação de Emmett com a esposa não estava nada bem. – Nossa enfermeira está cuidando dela agora, e fará isso até que possa vir buscá-la e levá-la a emergência do hospital.

Frustrado, Emmett bateu com ambas as mãos ao volante e só então se deu conta de que tinha alguns carros, parado atrás do céu, buzinando.

– Já estou a caminho. Não devo levar mais que alguns minutos... – avisou.

Ele desligou o celular e então se inclinou pra frente, olhando o céu além do para-brisa. Buzinas ainda reclamavam exigindo que liberasse o caminho. Emmett ligou o motor, apressado, e fez a curva, para logo depois virar à esquina.

– Obrigado por sempre me pôr à prova – resmungou mal-humorado, mantendo as mãos firmes ao volante. – É castigo não é?! – resmungou, como que falando com Deus. – É, eu sei que é. Mas pode fazer isso diretamente comigo, não através das pessoas que amo. Quer me atingir, ok. Mas deixe as duas fora disso.

Ele pensou na esposa indo embora outra vez, e acabou batendo a mão com força ao volante novamente. Não podia ir atrás dela, por mais que quisesse, não podia. Julia precisava de seu amparo. E, de repente, já não seguia mais a rota do caminho para o aeroporto. O destino, traiçoeiro, lhe impôs uma nova rota.

Mesmo com o coração doendo por ter que escolher entre dois amores, ele foi ao auxilio da filha. Rosalie, embora tudo o que acontecera nos últimos minutos, era uma mulher adulta e estava acompanhada da mãe, ao passo que Julia era uma criança e estava sem ninguém da família por perto.

Mais uma vez, o destino lhe golpeava com a realidade.

Em uma rua qualquer, a caminho do aeroporto, Rosalie ficou incomodada a tal ponto que praticamente obrigou o motorista a mudar o percurso.

Preocupada, Grace não pode deixar de observar a mudança repentina na expressão do rosto da filha.

– O que você tem? Está se sentindo mal, filha?

Rosalie passou a mão no rosto secando as lágrimas que pareciam não ter fim.

– Mal, eu já estou com tudo o que Emmett me fez. Como ele pôde me ocultar tantas coisas?! E me negar outras da forma como me negou?! Sim, está doendo, eu o amo. Mas ele faz tudo do modo errado. Ele é uma decepção como homem. Porque com tantos homens no mundo eu tinha que me apaixonar justo por ele...? – ela respirou fundo. – Mas não é isso que está me incomodando agora. Estou com aquela sensação de que um pedaço de mim foi arrancado. De que alguém me chama, e precisa de mim. De que eu deveria estar em algum lugar que não aqui. Não sei como explicar mamãe. Talvez eu esteja louca, mas minha intuição me diz que não devo ir por esse caminho – ela se inclinou um pouco no assento e tocou o ombro do motorista com a mão. – Por favor, mesmo que o trajeto seja mais demorado, vamos por ali – pediu, indicando o caminho por onde deveriam seguir. O taxista assentiu sem fazer objeções, desde que o pagasse a levaria a qualquer lugar.

Enquanto o taxi mudava o percurso Grace não mencionou uma única palavra, apenas segurou firme a mão da filha, como que dizendo que estava ali para apoiá-la, em qualquer situação. Como mãe, sabia que o convite que Rosalie lhe fizera, para acompanha-la na volta a Detroit, estava baseado na insegurança. Ela precisava de um ponto de equilíbrio, alguém em quem se apoiar, como agora depois da discussão com o marido, alguém em quem confiar, e ninguém melhor para isso do que a própria mãe.

Houve um momento em que Rosalie apertou firme o tecido da blusa, bem na altura do coração, como se estivesse doendo, além da dor emocional.

Não obstante toda dor e angustia que demonstrara desde que discutira com Emmett, ela parecia sofrer por algo mais, algo do qual não sabia a origem.

– Filha você tem certeza de que está se sentindo bem?

Encarando o vazio, para além do vidro da janela, ela sussurrou:

– Estou... – no fundo, ela sabia que não era verdade. – Eu só quero ir embora desse lugar, o quanto antes. Só quero ir pra longe de tudo isso.

Mas não era isso que o destino reservava...

Pela primeira vez, o taxista se pronunciou. – Tem certeza moça? Se preferir, posso levá-la ao hospital. Tem um há poucos minutos daqui.

– Apenas me leve para o aeroporto... – acrescentou.

Sua alma já estava na lama; seu casamento, imerso em poças; seus sonhos, soterrados. Importar-se com o quê? Desmaiar seria o menor de seus problemas.

O taxista não disse mais nada, apenas seguiu em frente. Seguiu pelo caminho que ela insistira em seguir. Rosalie não sabia tampouco podia imaginar, mas um imã invisível a puxava para aquele lugar.

A cada minuto a angustia crescia em seu coração.

Distraída, olhando através da janela, Grace o reconheceu; era Emmett. Ele cruzava os portões de uma escola infantil carregando uma criança no colo, que, mesmo a distância, Grace pode perceber que chorava.

– Aquele não é o Emmett, filha? – mencionou, indicando com o dedo.

Rosalie seguiu o gesto com o olhar, duvidando que realmente fosse ele. Mas, para sua surpresa e choque, era mesmo seu marido. Ele segurava uma criança no colo, cujo ela imaginou ser a filha que ele acabara de revelar a existência.

Ele parecia bastante enrolado, tentando se equilibrar com a criança no colo, sacolas, mochila e o celular, tudo isso enquanto procurava as chaves do carro no bolso. Uma das sacolas caiu de suas mãos, mas, mesmo assim, continuou a procura desesperada pelas chaves do veículo.

– Sim... É ele – ela confirmou sem conseguir desviar o olhar, mesmo que tentasse, era forte o bastante para lutar contra.

– Ele parece bastante sobrecarregado – comentou Grace. – Porque não vai até lá ajudá-lo?

Rosalie sorriu um tanto sarcástica, embora a dor e a angustia ainda atacasse seu coração com garras de monstro.

– Não mesmo – resmungou ela. – Ele que se vire sozinho, e procure outra trouxa para bancar a mãe da menina. Não quero saber nada sobre os dois – para provar a contradição de sentimentos, uma lágrima solitária rolou em seu rosto. Ela passou a mão afastando-a rapidamente.

Grace a olhou com espanto. Custou acreditar que aquelas palavras haviam saído da boca da filha.

– Não posso acreditar – sibilou Grace. – Essas palavras são filhas da raiva, Rose. Não do coração. Eu não queria ter que dizer isso, depois de como você ficou, mas, tem certeza de que quer que Emmett comece um relacionamento com outra mulher? Por Deus Rosalie, você vai perder esse homem. O ama, mas não consegue perdoar. Pediu tanto uma filha e agora não quer? Deixe todo esse orgulho ferido de lado e tente ser feliz ao lado deles. Dê uma chance a você mesma...

– Mamãe, a senhora também não, por favor. Acha mesmo que foi justo ele ter me negado a adoção, permitido que eu saísse de casa da maneira que saí. E agora querer me empurrar goela abaixo uma filha que é só dele. Como se não bastasse ele foi capaz de financiar um aborto. A vida inteira eu sonhei tanto ser mãe e me casei, sem saber, com um homem totalmente contrario aos meus sonhos e anseios.

Grace suspirou e pediu, educadamente, que o taxista dirigisse mais devagar.

– Não acho justo, mas também não vejo dessa forma. Acredito que Emmett realmente não sabia sobre a garotinha, apesar de reprovar a parte do aborto. Isso foi terrível, tenho que admitir. Mas sei que esse homem te ama. A gente pode perceber a dor e o desespero nos olhos dele quando você se afasta. Quando recusa um gesto de carinho dele. Quantas vezes ele foi a San Diego para tentar te trazer de volta, antes mesmo de tomar conhecimento sobre a garotinha. Você o escorraçou feito um cão sarnento e, mesmo assim, ele continuou te esperando. Quantos homens fazem isso, a menos que ame a pessoa de verdade. Veja bem, Rose, não foi um caso de traição e uma pensão alimentícia clandestina...

– Mamãe, por favor, já chega. Não quero ouvir mais nada.

Mesmo contrariando a filha, Grace se inclinou pra frene, fazendo um pedido ao taxista.

– Pare o caro, por favor.

Sem fazer perguntas, ele fez como ela havia pedido, parando no acostamento. Nesse momento, Grace se ajeitou no banco olhando para Rosalie outra vez.

– Escute apenas isso filha, e eu me calo. Juro que me calo. Você está magoada e com raiva. Isso está dificultando sua capacidade de sentir, de pensar. Você ama seu marido, eu sei e não adianta tentar negar. Chegou lá em casa dizendo que para se sentir plena precisava ser mãe. Deus escreve certo por linhas tortas, Rose. Talvez não seja como você sonhou, mas é uma possibilidade. Tente seguir com o coração, esqueça o que sua mente insiste em dizer. Tente enxergar isso, meu bem. Abra os olhos e o coração para o que a vida está lhe oferecendo.

Com o coração apertado e um nó se formando na garganta, Rosalie abaixou o olhar encarando as próprias mãos. Seus lábios se mexeram lentamente em um murmúrio contido, mas Grace percebera muito bem.

– Se eu me aproximar estou perdida...

Era tudo o que Grace precisa ouvir para ter certeza de que estava fazendo a coisa certa. Sem pedir a opinião de Rosalie, ela fez sinal para que o motorista voltasse com o carro. E ele a obedeceu, voltando de ré. Parando no lado oposto em que ficava a escolinha.

Emmett continuava atrapalhado, na verdade, desorientado, com a criança chorando, tentando encontrar a chave do carro que parecia ter evaporado.

– Mamãe... – murmurou Rosalie, com os olhos marejados, olhando na direção de onde o marido estava.

– Vá até lá – sugeriu Grace. – É sua chance de refazer a vida ao lado do homem que ama. Não perca a chance que a vida está lhe oferecendo Rose. Você pode até achar que estou me metendo demais, mas, acredite filha, só quero sua felicidade.

Como que entorpecida, reagindo automaticamente, Rosalie abriu a porta do carro sem nem mesmo desviar a atenção de onde Emmett e Julia estavam. Ela atravessou a rua sem reagir ao impulso, sendo puxada por uma corrente invisível, tão forte que nem mesmo ela saberia explicar.

Quando seus pés tocaram a calçada em frente à escolinha, Rosalie sentiu um repuxo forte no peito, como se amarras firmes estivessem lançando seu coração. Ela mal conseguia respirar direito, o corpo inteiro tremia.

Julia chorava muito e um Emmett desesperado lutava para consolá-la, tudo isso enquanto procurava a chave do carro, com as mãos carregadas de coisas.

Do outro lado da rua, dentro do taxi, Grace suspirou olhando a cena. Ela tinha certeza de que aquilo tudo era o reflexo da vida do genro. Ele estava lutando para se equilibrar entre as consequências de suas escolhas. E tentando, sobre todas as circunstancias, ser um homem diferente do que fora antes.

E então ela viu Rosalie se aproximar a passos lentos, talvez, amedrontados.

A garotinha soluçava em meio ao choro contínuo. O pai a cada minuto ficava mais aflito.

– Papai. Papai... Mamãe... Calinho. Calindo papai. Volta, ele ficô sozinho... – ela pediu, com a voz entremeada pelo choro. – Quelo o Calinho, papai.

Naquele instante Rosalie ouviu a vozinha de Julia sobrecarregada de soluços. E a consciência de tudo aquilo fez seu coração, já afetado, gelar.

O choro se tornou mais intenso, desesperado. Com as mãozinhas sobre a barriga, o corpo pequenino se curvou nos braços do pai.

Para Emmett foi desesperador não saber como fazer a dor passar. Sem muito pensar, ele largou todas as coisas na calçada, para poder ficar com as mãos livres e acalentar sua gotinha de amor.

– Já vai passar gotinha. Já vamos para o hospital, a Dra. Kate vai fazer o dodói passar – ele tentava massagear a barriguinha dela, mas Julia se mantinha curvada, com as mãozinhas na barriga, dificultando o cuidado.

– Calinho... – ela implorou entre o choro.

– Não podemos pegar Carinho amanhã? Papai vem buscar ele depois. A senhorita Megan cuida dele pra você.

Ela fungou entre o choro. – Tá dodói, papai. A baíga de Julinha tá dodói. Quelo o Calinho, ele tá com medo. Ele tem medo. Ele tem medo... Muito medo.

Sabendo que a filha projetava seus sentimentos no bichinho de pelúcia, e que sua gotinha de amor já tinha sido submetida a muitas dores, decidiu voltar para pegar seu amiguinho de pelúcia.

– Papai vai buscar o Carinho – sussurrou ao dar alguns passos na direção dos portões da escolinha. E foi aí que ouviu, atrás de suas costas, uma voz melodiosa, quase celestial. A voz que reconheceria em qualquer lugar do mundo, em qualquer idioma.

– Emm...

Emmett se virou, devagar, com a filha chorando em seus braços. Sem acreditar que a esposa pudesse estar mesmo ali.

– Rose – sua voz soou quase como um suspiro no instante em que seus olhos encontraram com os dela. – Como você...? – ele piscou meio atônito. Não acreditando no que seus olhos viam.

– Acho que o destino... – sussurrou Rosalie. – Eu estava passando e... – ela fechou os olhos com força e ao abri-los, completou. – Precisa de ajuda?

– Não. Você não precisa fazer isso se não quiser. É só que a enfermeira acha que ela precisa ir ao hospital. Eu já tinha marcado uma consulta, mas era pra amanhã, e agora ela está com febre e essa dor que não passa. E, como se não bastasse, parece piorar a cada minuto.

– O que eu faço? – perguntou, hipnotizada pela presença de Julia, que escondia o rostinho choroso na curvatura do pescoço do pai sem se dar conta de quem estava ali.

E, de repente, Rosalie sentiu seus braços formigarem, como que sabendo que segurariam pela primeira vez aquela que seria o alvo de seu amor mais singelo. O amor de mãe.

– Segure-a, por favor. Carinho ficou na classe, preciso ir buscá-lo.

Chorando, sem se dar conta de quem estava ali, Julia se agarrou ao pescoço do pai se negando a se afastar dele.

Mesmo contra a vontade, Emmett afastou os bracinhos dela de seu pescoço e ao fazer menção de passá-la pros braços de Rosalie, Julia a viu. Imediatamente a reconheceu, mesmo nunca a tendo visto pessoalmente. A imagem da mamãe da fotografia, no porta-retratos, surgiu na mente de Julia. Ela não teve dúvidas tampouco medo e, no minuto seguinte, os bracinhos se ergueram enquanto o corpo pequenino se inclinava na direção do colo tão sonhado.

Rosalie estava trêmula e seus braços formigavam como jamais acontecera antes. Ao sentir Julia em seus braços a olhou intensamente. O corpo inteiro reagindo com uma torrente de emoções jamais sentida. Seu coração deu um solavanco dentro do peito, para logo depois voltar a bater em um ritmo diferente. Algo inspirador para a mulher que tanto sonhou em ser mãe. Fora como se seu coração reconhecesse o chamado. O chamado da alma. O chamado do destino.

Por um instante, que pareceu parar no tempo, as duas ficaram presas em um olhar intenso, se reconhecendo, absorvendo a nova realidade de terem uma a outra.

Fugando, com lágrimas no rostinho, Julia ergueu a mãozinha direita devagar, tocando o rosto de Rosalie suavemente como que para ter certeza de que era mesmo real e não apenas um sonho.

Rosalie fechou os olhos apreciando o toque suave e singelo daquela mãozinha. O coração renovando as esperança.

– A mamãe da foto. Mamãe Ose. Você veio mesmo, eu tava te chamano...

Hipnotizada pela presença de Julia, Rosalie nem percebeu quando Emmett cruzou os portões da escolinha, apressado, em busca do pônei de pelúcia. Nada além daquela garotinha atraia sua atenção agora. E ao ouvi-la falar, com uma pequena diminuída no choro, não teve dúvidas de que era a mesma garotinha com quem falara ao telefone alguns dias atrás. De repente, teve a certeza súbita de que aquele telefonema jamais fora engano. Fora, sim, uma brincadeira do destino. Aquele que reveste o amor de um poder maior. Como se tivesse marcado com um sinal vindo de lá de cima.

E foi aí que se lembrou de como Julia estava triste, ferida, pela ausência da mãe. A mamãe “Ose” ela tinha dito. Um sorriso repleto de carinho surgiu no canto dos lábios de Rosalie enquanto sua mente fazia a associação dos fatos. Aquela garotinha também a desejava. Era um encontro de almas destinadas. Amores de outras vidas.

O transe foi interrompido pelo choro intenso de Julia, que voltou a se curvar com as mãozinhas sobre a barriga se contorcendo de dor.

Emmett voltou apressado, segurando o pônei de pelúcia em uma das mãos. Do outro lado da calçada, Grace se aproximava de olho na cena.

– Pedi ao motorista do taxi que levasse nossas malas para seu apartamento aqui. Dei mais dinheiro também – comunicou Grace. – Só espero que ele não suma com as nossas coisas. Para onde vamos agora?

– Hospital – respondeu Emmett, rapidamente. Ainda segurando o pônei, ele estendeu os braços. – Vem com o papai, vem filha.

Mesmo com dor, e muitas lágrimas percorrendo seu rostinho, Julia suspendeu o olhar ameaçando um sorriso de covinhas herdadas.

– Tá eculo não, né papai? Você bucô a mamãe da foto. A mamãe Ose. Agola ela vai ficá com a gente plá semple? Até ontem?

Com o olhar resignado, Emmett não soube o que responder. Era tão estranho ter Rosalie tão perto, e ao mesmo tempo tão longe. Ele não sabia o que ela estava pensando tampouco o que pretendia fazer.

Ela ainda estava anestesiada pela experiência de conhecer a filha, de vê-la pela primeira vez. Porém, estava com medo de que tudo não passasse de um sonho. Ou, até mesmo, fantasia de sua mente desejosa e confusa.

Emmett tentou pegar a filha de volta, mas Julia se encolheu recusando-se a trocar de colo.

– Até amanhã, filha. Se fala até amanhã – ele explicou, enquanto insistia em tentar pegá-la. – Vem amorzinho, você está pesada.

Rosalie se recusou a entregá-la, virando um pouco o corpo de lado.

– Eu consigo carregá-la – afirmou. – Onde está o carro? – perguntou de forma objetiva, não dando chance para Emmett retrucar. Ver Julia sofrendo daquele jeito estava deixando-a nervosa. Tudo o que queria era que sua garotinha parasse de sofrer e que aquela dor sumisse tão rápido quanto surgira.

Vendo que Rosalie estava firme em sua decisão. Ele se abaixou, recolhendo todas as coisas que deixara no chão anteriormente, na agonia de acalentar a filha chorosa.

Grace tentou ajudá-lo, mas ele se recusou, não por orgulho, apenas para poupá-la de esforços. Imaginando que ela ainda seguisse algumas restrições para manter a saúde bem.

– O carro está logo ali – ele apontou pro outro lado da rua, depois de ter recolhido todas as coisas na calçada.

Rosalie virou o rosto brevemente e reconheceu no mesmo instante o Ranger Rover branco do marido, estacionado entre dois carros.

Eles atravessaram a rua às pressas. Rosalie acalentando Julia em seus braços, da melhor forma que conseguia.

Depois de toda aquela luta em busca das chaves, ele acabou a encontrando no bolso da frente, da calça. Desligou o sistema de alarme e abriu a porta traseira. Imediatamente Rosalie notou a cadeirinha cinza, com partes em cor de rosa, no assento, e ficou satisfeita com o que vira.

Novamente Emmett tentou pegar a filha, dessa vez para colocá-la na cadeirinha, mas Julia se recusou sem querer deixar o aconchego do colo tão sonhado.

– É para sua segurança gotinha. Senta na cadeirinha amor. Nós vamos ver a Dra. Kate e ela vai fazer o seu dodói passar. Você não quer que sua barriguinha pare de doer, filha? – Emmett tentou convencê-la com doçura, mesmo assim, Julia se recusou agarrando-se ao pescoço de Rosalie aos prantos. Seus olhinhos azuis, um reflexo de desespero e dor.

Rosalie olhava o marido, espantada, completamente abismada com a forma delicada e cheia de cainho com que ele falava com a criança. Aos seus olhos, era outro homem.

Orgulhosa do genro, Grace maneou a cabeça afirmativamente como que dizendo que ele estava fazendo a coisa certa.

– Julia – disse Rosalie, com a voz suave. – Esse é seu nome, não é?

Em meio ao choro Julia apenas balançou a cabeça afirmativamente.

– Então Julinha você senta na cadeirinha e o papai coloca o cinto bem folgadinho para não te apertar. Eu vou aqui atrás com você, segurando sua mãozinha.

Como que concordando com as palavras, Julia afastou os bracinhos do pescoço dela estendendo-os na direção do pai. Ele a pegou e colocou sentada na cadeirinha, deixando o cinto frouxo para não apertar sua barriguinha. E enquanto ele fazia isso, Julia manteve os olhinhos vidrados em Rosalie temendo perdê-la de vista.

Ele se afastou e fechou a porta. Usando a outra porta Rosalie entrou no carro, ficando ao lado de Julia como havia prometido. Grace entrou e sentou ao lado da filha.

O trajeto até o hospital não levou muito tempo. Tiveram sorte em não pegar trânsito.

Na emergência, Rosalie permaneceu com Julia em seus braços enquanto Emmett preenchia a ficha e toda parte burocrática. Poucos minutos depois, ele voltou e ficou sentado esperando que o nome da filha fosse chamado, mas isso não aconteceu tão rápido como imagina que seria.

Os minutos se passavam e a cada batida do relógio Julia chorava com mais intensidade. Foram trinta minutos de muita dor e desespero, na sala de espera. Nem mesmo todo cuidado e atenção de Rosalie estavam conseguindo consolá-la.

Quando menos esperava Rosalie viu o marido ficar de pé. Seu semblante parecia irritado. Ele começou a andar na direção do balcão da recepção. Ela o seguiu com o olhar. Tentou ler os lábios dele, para ver o que falava, mas tudo o que conseguiu entender foi: “Mas minha filha está com muita dor. Está bem que seja.”

Ela fazia carinho no rostinho de Julia ninando-a em seu colo tentando amenizar um pouco o desconforto causado pela dor intensa na barriguinha. Enquanto Grace sussurrava uma musiquinha buscando distrai-la.

Emmett voltou aparentemente irritado, sentou, mas não levou mais que dois minutos o nome de Julia foi chamado.

Antes mesmo que ele fizesse menção de pegar a filha, Rosalie ficou de pé com ela nos braços. Demonstrando interesse em ir junto. Mesmo assim ele a pegou, dessa vez, Julia não fez recusa, estava com dor demais para reagir.

Sem pedir permissão, ela os acompanhou deixando Grace sozinha na recepção. Embora preocupada, Grace estava esperançosa também.

O casal com a criança seguiu por um corredor, e entrou em uma sala decorada com bichinhos onde um médico jovem os atendeu. Imediatamente colocou o termômetro embaixo do bracinho de Julia e se sentou do outro lado da mesa, ficando de frente para eles.

Apreensivo, Emmett foi logo avisando.

– Antes que chame a assistente social. Minha filha foi vitima de maus tratos por três anos, e eu a conheço há a pouco mais de um mês. Há varias marcas em seu corpo e por isso pedi que a Dra. Kate a atendesse, ela é a pediatra da Julinha e está a par de tudo. Jamais machucaria minha garotinha.

Com um ar calmo, o médico respondeu.

– Ela está acompanhando um caso grave de acidente. Mas posso ver o prontuário de sua filha, não se preocupe. A Dra. Kate me adiantou alguma. – Diga-me. O que há com essa princesa?

Emmett olhou a filha em seu colo. – Ela se queixou de dor na barriga ontem à noite antes de dormir. Eu pensei que ela só queria dormir na minha cama, então fiz uma massagem e ela acabou dormindo. Hoje ela tinha uma programação especial na escolinha: a visita de biólogos com alguns animais para o projeto de ciências. Como eles só poderiam ir à tarde ela ficou em período integral. O que foi providencial, pois tinha um compromisso na hora do almoço – ele olhou de relance para Rosalie, que estava sentada ao lado. Ela fez menção de pegar Julia de volta, e ele permitiu. – Tomei todo cuidado em contar pra ela, ela ainda fica muito insegura quando algo em sua rotina é alterado. Ficou especialmente manhosa com o fato de não poder almoçar comigo e não me ver nesse período. Ela voltou a se queixar da barriga, mas não liguei muito. Ela tinha uma consulta marcada para amanhã, mas era de rotina mesmo. Realmente achei que ela estava tentando me enganar para ficar comigo ou com minha mãe. Há cerca de uma hora me ligaram da escolinha pedindo que eu fosse buscá-la porque estava com febre e reclamando de dores na barriga.

– Deu algum remédio?

– Não, os remédios dela estão todos em casa. A enfermeira deu banho, para tentar diminuir a temperatura.

– Mudou algo na alimentação?

– Na verdade, tudo – respondeu Emmett. – Na antiga casa ela só comia enlatados, fast food e coisas industrializadas. Estamos tentando uma alimentação mais saudável. Mas hoje ela só comeu alimentos que já havia experimentado. Dei a mamadeira com as vitaminas enquanto ela ainda dormia. No café ela comeu cereal com iogurte e chupou algumas uvas. Levou pera, biscoito de leite e um achocolatado para o lanche e almoçou na escolinha. Elas disseram que deram feijão, purê de abobora, que ela adora. Frango grelhado e uns pedacinhos de pepino. Mas que ela comeu pouco, já reclamando do incomodo na barriguinha. Como havia avisado a professora sobre o comportamento dela quando a rotina é alterada, ela disse que a sentou em seu colo e ela se acalmou. Mas o desconforto foi aumentando e com ele veio febre alta.

O médico maneou a cabeça afirmativamente, demonstrando que estava entendendo. – E o intestino? – perguntou ele.

– Uma vez por dia, na maioria das vezes quando acabo de dar o almoço a ela, e ainda estou comendo. E minha sobremesa.

– Eles adoram fazer isso... – concordou o médico. – Disse que meu filho seria diferente. Mas veja como eu estava enganado. Ontem mesmo troquei uma fralda depois de comer no mexicano. Imagina aquele presente depois de comer uma porção de guacamole? – os dois acabaram rindo. – Notou algo diferente no xixi? Ela reclamou de dor ou ardência ao urinar.

– Não.

– Posso examiná-la?

– Claro – Emmett assentiu, reforçando com um maneio de cabeça.

Ele saiu da cadeira e se ajoelhou em frente à Rosalie, para poder falar com a filha. Ela ainda chorava, e ele acariciou seus cabelinhos finos.

– Gotinha – começou ele –, a Dra. Kate não pode vir. Ela mandou um amigo para te examinar. Não precisa ficar com medo, ele não vai te machucar amor. Papai está aqui.

Emmett tornou a ficar de pé e pegou Julia no colo. A levou para a maca onde seria examinada. Com delicadeza retirou a roupinha dela, deixando-a só de calcinha, e a deitou na maca, permanecendo de pé ao seu lado segurando sua mãozinha.

Rosalie observava tudo admirada. Baseado em seus medos e magoas concluiu que o marido desejava seu retorno por não saber, ou não querer, cuidar da filha. Jamais imaginou que Emmett houvesse tomado toda a responsabilidade pela garotinha. Estava orgulhosa do marido. Mas, não podia negar que tudo aquilo a chocava. Ele estava tão seguro em seu relato que era inegável como participava ativamente dos cuidados da filha. Era um pai zeloso e atento, sabia dizer horários e birras.

Era um novo homem.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Tomaram um susto achando que eu ia deixar a loura ir embora, né? Peguei vocês.
o/
Piraram do cabeção como eu?
Gostaram?
Não se esqueça de deixar seu comentário.
Recomende se achar que a fic merece.
Beijo, beijo
Sill