A Gotinha De Amor Que Faltava escrita por Sill Carvalho, Sill


Capítulo 20
Capítulo 20 – Em Busca de Apoio


Notas iniciais do capítulo

Oi galerinha, capitulo novo chegando o/. Espero que gostem e se divirtam com a gotinha ♥
**
Eu quero agradecer a Lola Swan pela recomendação e dizer que me deixou muitíssimo feliz. Obrigada Lola, esse capítulo é dedicado especialmente a você.



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Emmett subiu as escadas, levando Julia erguida no alto, fingindo que ela sobrevoava pela casa. Julia gargalhava, sentindo a sensação, nova, e maravilhosa, de ser amada, enquanto seu papai se divertia ao som de seu riso inocente. Emmett sentia-se satisfeito consigo mesmo por apenas sua presença ser capaz de fazê-la feliz.

Na sala de TV, Esme sorriu satisfeita. Sentia uma enorme satisfação em poder presenciar o filho, uma vez prepotente e arrogante, se tornando um homem de verdade, um pai de família dedicado e carinhoso. Tudo o que lhe faltava agora era reconquistar o carinho da esposa para ser realizado, e feliz.

– Que sou um avião. Que sou... – Julia repetia, enquanto Emmett a levava para o quarto dos avós. Seu rostinho era o reflexo do que seu coraçãozinho sentia.

Emmett gargalhou, fingindo fazer o retorno, mas continuou seguindo em frente, se divertindo com o riso inocente de sua garotinha.

– Atenção senhores passageiros, apertem seus cintos de segurança que o avião Julinha vai aterrissar – brincou, abaixando os braços, pouco a pouco, até colocá-la de pé no chão. Julia saltitou de frente para ele, querendo que fizesse tudo outra vez.

– Otla vez. Otla vez, papai. De novo. De novo. Eu gosti – sorriu. – Julinha goto muito.

– Agora é hora do banho, gotinha. Papai brinca com você depois.

Julia abaixou os bracinhos e começou a cantarolar.

– Julinha vai tomá bainho no banheilo da vovó. Pla ficá chelosa, muito chelosona – ela correu para o banheiro e Emmett a seguiu, achando graça de tudo o que sua gotinha de amor fazia.

No banheiro de Esme, ele encontrou todos os produtos de higiene pessoal da filha perto das coisas dos avós. Na borda da banheira estava o patinho de borracha de Julia e um barquinho de papel que o fez se pensar quem o teria feito.

Foi olhando em volta que ele encontrou um troninho lilás, semelhante aos dois que havia comprado para pôr no apartamento. Aquilo o fez sorrir involuntariamente.

Emmett preparou a banheira com Julia o tempo inteiro ao seu lado, ficando na pontinha dos pés para vê-lo colocar os sais de banho na água, observando cada gesto com olhinhos brilhando.

– Isso é cheloso, papai – ela comentou, inclinando o rostinho de lado, olhando para Emmett. – Muito cheloso.

– Muito cheiroso, não é filha? A gotinha do papai vai ficar muito cheirosa.

Com olhinhos brilhando, ela respondeu:

– Muito, muito chelosona papai.

Emmett sorriu, segurando a mãozinha dela. – Deixa o papai te ajudar a retirar o vestidinho para entrar na banheira da vovó.

– Eu vou blincá com o patinho – disse ela, erguendo os bracinhos para que o pai a ajudasse.

– E esse barquinho de papel, quem foi que fez ele para você, gotinha?

Ela apontou o dedinho indicador para o barquinho de papel ao lado do patinho de borracha. – Esse? Esse papai? Esse foi o vovô – ela abaixou os bracinhos assim que Emmett lhe retirou o vestidinho. Agora só de calcinha, e sandalinhas nos pés, com os bracinhos e pernas riscados de canetinha, Julia continuou explicando. – O vovô sabe, papai. Ele sabe fazê baquinho de papel. Tinha otlo, mas só que agô.

– Rasgou?

– Uhum – ela murmurou, com os olhinhos brilhando ao olhar para o pai. – Agô na aga dessa banheila da vovó.

– É, barquinhos de papel não duram muito tempo mesmo, filha. Depois o papai faz mais.

– Papai sabe fazê baquinho também. Sabe?

– O papai sabe. O seu vovô que ensinou quando eu era ainda um garotinho.

– Vovozinho sinô, galotinho – ela gargalhou ao imaginar o seu papai, tão grande, sendo um garotinho.

Emmett analisou os machucados, já em processos de cicatrização, no corpinho da filha. Sentiu os olhos arderem, e a garganta apertar, vendo as várias cicatrizes que sua gotinha de amor carregava como prova de um passado sofrido.

Todas às vezes que dava banho na filha sentia como se as cicatrizes gritasse que estavam ali por sua culpa. O remorso o consumia sem piedade, pouco a pouco, como fogo queimando suas entranhas.

Ele afagou a barriguinha de Julia, onde havia um grande número de cicatrizes em tamanhos e formas diferentes. Até mesmo perto do peitinho havia cicatrizes biformes.

– Papai você ficô tliste?

Sem saber o que responder, Emmett abraçou o corpo pequenino de sua gotinha de amor, sentindo um nó se formar na garganta, e os olhos arderem.

– Me perdoa gotinha... – sussurrou ele. – Ninguém nunca mais vai voltar a te machucar. Nunca mais. Eu juro gotinha. Eu juro filha. Nunca mais...

– Julinha ama o papai – ela sussurrou em meio ao abraço que recebia.

Emmett se afastou apenas o suficiente para olhar para ela. Segurou suas mãozinhas e beijou a palma, uma após a outra.

– O papai também te ama muito, gotinha.

Julia abriu os bracinhos o máximo que pode, para enfatizar o tamanho do seu amor.

– Muitão assim?

Emmett a imitou, abrindo os braços o máximo que pode.

– Muitão assim – ele afirmou.

Julia sorriu, chegando até mesmo a fechar os olhos, enquanto as covinhas marcavam presença em seu rostinho inocente. Seus bracinhos se esticaram para abraçar o pai, que estava sentado na borda da banheira. Emmett retribuiu ao abraço da melhor forma que pode. Ele a pegou no colo, colocando-a sentadinha na perna para poder retirar as sandálias dos pezinhos. Prendeu os cabelos dela na touca de banho para não molhá-los, e quando ela já estava peladinha, ele a colocou dentro da banheira com cuidado. Pegou o patinho de borracha e o barquinho de papel e os entrou para ela.

Enquanto esfregava levemente com a esponja de banho, tentando retirar os rabiscos de canetinha no corpo da filha, ele lhe pediu que contasse mais sobre o dia na casa da vovó.

Julia narrou tudo o que tinha feito inclusive o passeio no shopping com a avó e a tia Alice, onde compraram, entre outros objetos, duas cadeirinhas de alimentação cujo uma delas já estava no apartamento de Emmett. Esme deixou lá quando passou para verificar o trabalho feito nas janelas e sacadas da cobertura, visando à segurança da neta.

Depois do banho, Emmett cuidou dos machucados e vestiu nela um macacão azul floral, uma camiseta amarela da Lilica Ripilica, nos pezinhos, sandalinhas com detalhes em azul.

Na hora de pentear os cabelos, Julia pediu que ele deixasse a vovó pentear porque ela sabia fazer penteado bonito. Emmett desceu as escadas levando a filha no colo e uma bolsinha cheia de acessórios para cabelo.

Ele deixou Julia com Esme lhe penteando os cabelos e deitou no carpete recostado a um puff. Relaxado na companhia dos irmãos e da cunhada, ele conversou animado enquanto a filha estava aos cuidados da avó. Esme fez nos cabelos de Julia duas maria-chiquinha no alto da cabeça, e colocou alguns tic-tac em formatos de borboletas ao redor.

Com o rostinho feliz, Julia foi para perto do pai, se aconchegando a ele, com a chupeta na boca e Carinho, o seu inseparável pônei de pelúcia, embaixo do braço. Emmett retirou as sandálias dos pezinhos dela e os massageou até que ela pegou no sono.

Quando a hora do jantar chegou Julia ainda dormia, desse modo Emmett preferiu não acordá-la. Mais tarde ele lhe daria a mamadeira, mesmo que ela ainda estivesse dormindo, e tudo ficaria bem.

Por volta das vinte e uma horas, Emmett guardou todas as coisinhas de Julia no porta-malas do carro para voltarem ao apartamento. Exceto a bicicletinha que ele optou por deixar lá mesmo. Julia ainda dormia quando ele a colocou na cadeirinha.

Além dos brinquedos que havia levado, ela também estava voltando com alguns itens a mais na sacola: jogos de montar, uma fantasia de fada que Alice lhe deu. A princesa Bela, e a Fera em pelúcia. Um livro infantil que Edward comprou especialmente para ela.

Quando chegou ao apartamento Emmett guardou todos os pertences da filha, depois colocou um pijaminha nela, e foi preparar a mamadeira. Julia acordou e ficou deitada na cama do seu quarto temporário, assistindo o desenho Doutora Brinquedos no Disney Junior, abraçada ao pônei de pelúcia, ainda muito sonolenta, pronta para cair no sono novamente.

Emmett não demorou a retornar com a mamadeira, mas Julia voltou a dormir ainda enquanto mamava. Foi preciso segurar a mamadeira na boca dela até que ela mamasse tudo, depois ele substituiu a mamadeira pela chupeta.

Ele aproveitou que a filha já dormia para falar com Rosalie ao telefone. A conversa foi breve, porque ela estava no hospital com a mãe aquela noite. Entretanto, ouvir a voz da esposa o fez ficar mais tranquilo e manter a esperança de voltarem a ficar juntos novamente. Marcaram de conversar pelo o Skype na noite seguinte. Depois disso Emmett ficou trancado no escritório respondendo alguns e-mails e assinando documentos que havia pegado com o pai antes de sair. Quando foi para o quarto já passava de uma hora da manhã. Pouco tempo depois de ter pegado no sono, acordou com o choro angustiante de Julia em meio a mais uma crise de terror noturno.

Mais uma vez Emmett saiu da cama arrastando os próprios pés e foi reconfortar sua gotinha de amor. Enquanto ninava a filha, apreciando a magia do amor paterno que desabrochara em seu coração, ele se perguntou se todo aquele sofrimento teria fim algum dia. Inevitavelmente se viu com medo de que a resposta fosse um “não”.

Depois de muito choro e uma fralda cheia de xixi, que precisou ser trocada, Julia voltou a dormir tranquila, deitada de bruxos no peito forte do pai. Mais uma vez a gotinha de amor recebeu todo carinho e atenção que precisava para espantar seus medos.

A manhã chegou lembrando a Emmett de seus compromissos paterno. Agora uma agenda diferente fazia parte de sua rotina. Levaria Julia à pediatra para tomar algumas vacinas e receber o resultado dos exames feitos anteriormente. Aproveitou também para agendar a primeira consulta com a psicóloga infantil da clínica.

Pai e filha saíram da clínica por volta da hora do almoço. Como sempre, Julia saiu de lá com um pirulito na mão. Pequeno gesto que sempre a animava.

Emmett foi almoçar com a família, e chegou à casa dos pais com Julia toda lambuzada de doce. Esme se ofereceu para dar banho na neta antes do almoço ser servido, e Julia lhe contou, a seu próprio modo, sobre sua consulta com a Dra. Kate.

Dos três filhos, Emmett, mesmo não morando na casa dos pais, foi o primeiro a chegar. Edward foi o próximo. Carlisle demorou um pouco mais porque foi buscar Alice no colégio.

O almoço foi servido com a família reunida, e como de costume Julia deu trabalho para se alimentar corretamente. Esme ajudou o filho na tarefa de fazer a neta comer o que lhe foi servido no prato.

Pouco tempo depois do almoço Alice foi para o escritório fazer seus trabalhos de escola. Carlisle, Edward e Emmett voltaram para a empresa da família. Esme preferiu ficar em casa e cuidar da neta na parte da tarde para que o filho fosse trabalhar sem preocupações.

Por volta das dezesseis horas Emmett deixou a secretária encarregada de lhe passar qualquer ligação importante. Com o folheto do grupo de mães e pais solteiros em mãos, ele entrou no carro e dirigiu até o local indicado, decidido a aprender com outros pais, com o apoio de orientadores tudo que fosse preciso. Tudo que estivesse ao seu alcance para saber como ser um bom pai para sua gotinha de amor.

O endereço o levou até um prédio antigo, de três andares. Apesar de ser uma estrutura antiga estava bem conservado, parecia ser frequentado regularmente.

Ele parou o carro em frente ao prédio, onde ficou observando enquanto vivia uma luta interna. Ir ou ir até lá. Pensou que fosse vergonhoso o fato de precisar estar ali. O que pensariam todas aquelas pessoas a seu respeito? O que seus amigos pensariam? O que diriam?

Talvez diriam que Emmett McCarty não deveria estar ali. Que aquele local não era parte de sua vida. Não era o seu lugar... Mas qual seria o seu lugar então?

Por certo que seria onde fosse bom para sua filha.

Pensou em desistir. Estava com a chave do veículo pronta para girar na ignição, dando vida ao motor potente de seu Ranger Rover, quando a imagem da filha lhe veio em mente. Seu rostinho sorridente enquanto o chamava de papai, envolvendo os bracinhos curtos em torno do pescoço dele. A imagem mudou, e então ele a viu tomando mamadeira sentada em seu colo, com a mãozinha lhe afagando o queixo. Lembrou-se das madrugadas aterrorizantes onde sua gotinha revivia seus medos. Lembrou-se de como ela precisava de seu carinho e cuidado. De como se sentia segura quando ele estava por perto, e, principalmente, quando demostrava saber o que fazer para reconfortá-la.

“Você é meu papai. O meu paizinho”, ele ouviu mentalmente a voz da filha. Com um maneio de cabeça, decidido, ele ligou o motor e manobrou para uma vaga do outro lado da rua. Retirou a chave da ignição, saiu do veículo e acionou o alarme logo em seguida.

Viu algumas pessoas entrarem no prédio enquanto atravessava a rua. Focou os pensamentos em Julia, buscando forças e coragem para seguir em frente.

Como o prédio era antigo sua estrutura não disponibilizava de um elevador. Era grande o número de escadas. Emmett olhou para cima e viu algumas pessoas subindo, seguindo para direções opostas. Talvez houvesse outros grupos de apoio ali, pensou ele.

No verso do folheto estava escrito em caligrafa bonita, em caneta lilás, o número da sala e o andar em que ela se localizava. Ele respirou fundo, olhando as escadas, e começou a subir devagar. Uma mulher passou apressada esbarando nele, se desculpando imediatamente, sem parar de andar.

Observando a mulher apressada sumir no topo das escadas, Emmett continuou seguindo em frente. Andou sem pressa pelo amplo corredor do segundo piso em busca da sala que indicava o folheto.

Ele parou em frente à porta que estava aberta, notando um número razoável de pessoas lá dentro. Homens e mulheres, de idades diferentes, todos em busca de apoio. Em uma previa avaliação notou também que o número de homens era a maioria. Obviamente eram os que mais precisavam de ajuda, deduziu ele em sua defesa, gerando certa confiança. Entretanto, ainda não estava preparado para entrar, se apresentar e dar seu depoimento inicial. Assumir que não estava preparado para ser pai. Preferiu se esgueirar no fundo da sala, sentando-se em uma cadeira que encontrou vazia, permanecendo em silêncio apenas observando o que acontecia.

Passaram-se alguns minutos e uma senhora de cabelos ruivos entrou na sala, indo até a frente, se apoiando em uma bancada. Com uma voz tranquila, ela começou a falar com as pessoas que estavam ali.

Depois de ouvirem a tal mulher falar, pouco a pouco, mãos foram sendo erguidas. Relatos foram dados e perguntas respondidas. Pais compartilhando seus medos e dúvidas uns com os outros. Sendo orientados. Pouco a pouco se tornando seguros de si.

Algum tempo depois, uma jovem ficou de pé, imediatamente Emmett a reconheceu; era Skyler. Ela foi até a frente e parou ao lado da mulher. Skyler falou um pouco, e em alguns momentos parecia emocionada. Respondeu algumas perguntas também. Todos pareciam conhecê-la e pareciam totalmente à vontade para falar uns com os outros. Emmett imaginou que não fosse tão vergonhoso assim assumir que precisava de apoio.

A reunião durou pouco mais de uma hora. À medida que os minutos se passavam Emmett sentia-se mais seguro de que estava fazendo a coisa certa. No final da reunião, o grupo foi se dispersando aos pouco para fora da sala. Emmett foi um dos primeiros a sair. Ninguém parecia focar muito em sua presença, todos pareciam muito envolvidos em sua própria vida. Na busca para serem bons pais.

Do lado de fora do prédio, ele estava prestes a atravessar a rua quando Skyler apareceu, parecendo somente agora notar sua presença no local.

– Ei – gritou ela, aumentando o passo, apressada –, Emmett.

Mesmo tendo uma leve suspeita de quem o chamava, Emmett virou para conferir. Ele ergueu a mão que segurava a chave do carro e acenou para Skyler, com um sorriso amistoso no rosto.

Impaciente, Skyler tentava atravessar a rua, mas o trânsito a impedia de fazer isso com rapidez.

– Espera um pouco – gritou ela, tentando ser ouvida mesmo com o barulho dos carros –, eu quero falar com você.

Emmett olhou em volta, se sentindo incomodado. Passou a mão na nuca e chutou uma pedra olhando para o chão enquanto Skyler atravessava a rua apressada, desviando dos carros. Algumas buzinas protestaram, mas ela continuou seguindo em frente. Skyler chegou do outro lado da rua, meio ofegante, parando em frente à Emmett.

– Você veio – disse ela, um tanto surpresa, esbanjando um sorriso de tirar o folego de qualquer homem –, mas eu não te vi lá dentro. Quer dizer, você chegou a entrar ou estar voltando da porta?

De repente Emmett se viu encarando o lindo sorriso de Skyler. Em pouco tempo seus olhos se encontraram com a fonte cristalina que eram os olhos dela. Ele maneou a cabeça e respondeu rapidamente.

– Eu entrei lá, sim. Acontece que não cheguei a me apresentar... Na verdade, não cheguei a falar com ninguém. Fiquei apenas observando antes de tomar qualquer decisão. Acho que preferi ver como funcionava antes de chegar para ficar.

Skyler chegou mais perto, seu peito ainda arfava um pouco. – E então qual foi sua primeira impressão? Vai voltar?

– Acho que isso pode me ajudar muito – comentou esperançoso. – Estou me sentindo meio motivado a conversar com outros pais do grupo.

Skyler sorriu, satisfeita. – Então isso é um “sim”?

Com um sorriso sapeca, Emmett confirmou. – Sim, eu vou voltar.

Skyler sorriu abertamente, respondendo no ato. – Isso será maravilhoso – Emmett a olhou com certa preocupação. Skyler apressou-se em corrigir. – Digo isso por você e por sua filha.

– Sim. Por mim e por minha filha – repetiu Emmett, deixando claro que não estava ali por Skyler. Afastando qualquer fantasia que ela estivesse criando em sua mente.

Skyler passou a mão no cabelo, se sentindo, de repente, sem graça. Olhou em volta, notando que Emmett parecia incomodado.

– Ok – disse ela –, a gente esbarra por aí. A próxima reunião será dentro de dois dias. Dá um beijinho em sua filha por mim.

– Darei – ele respondeu, evitando encará-la. – Obrigado por tudo.

Emmett virou de costas e desativou o sistema de alarme do veículo. Antes de abrir a porta, Skyler chamou por sua atenção novamente.

– Não gostaria de sair para beber alguma coisa? Tem um café longe aqui do lado – ela explicou ao notar a expressão de dúvida no rosto de Emmett. – É um ambiente bastante agradável e o café de lá é muito bom. Tenho certeza de que você vai gostar de conhecer.

Emmett suspirou. – Skyler – disse ele, devagar –, eu não quero ser grosseiro com você. Você vem se mostrado uma pessoa bastante agradável, mas vem fantasiando algo que não vai acontecer. Vamos esclarecer isso de uma vez por todas, ok?! – Skyler passou uma mecha de seus cabelos para trás da orelha, se sentindo constrangida. – Eu amo a minha esposa mesmo que ela não esteja comigo. Mesmo ela estando longe de mim, mantenho a esperança de que nosso casamento ainda tenha concerto. Por ela, pela minha filha e por mim. O fato de eu ter aceitado sua sugestão de visitar o grupo de apoio não tem nada a ver com você. Tudo está relacionado à minha gotinha de amor. A minha paternidade. Está relacionado ao meu desejo de ser um bom pai para minha gotinha. Somente por ela eu estou, e voltarei, aqui.

Skyler ergueu as mãos em sinal rendição, seu rosto em uma expressão de surpresa. – Certo, não se preocupe eu já entendi... – sibilou ela, meio desconcertada.

– Independente de qualquer coisa Skyler, você é uma mulher linda, mas não é pra mim – afirmou Emmett. – De repente algum daqueles pais lá dentro esteja interessado em você e você ainda não se deu conta disso.

– Não – ela negou com a cabeça. –Você tem razão quando diz que a única razão de estar aqui é a sua filha. Meu filho foi o mesmo motivo que me trouxe aqui, e continuara sendo. Me desculpe por qualquer inconveniente. A gente se esbarra por aí... – ela se virou para ir embora, no entanto, dessa vez, foi Emmett quem a chamou.

– Skyler – ela se virou devagar. – Eu gostaria te fazer uma pergunta. Bem, é um pouco pessoal – esclareceu ele –, mas me faria entender melhor parte do que aconteceu no meu passado. Eu sei que você não tem nada a ver com isso, mas sua história com o pai de seu filho me fez lembrar alguns erros que cometi.

– Vá em frente. Pode perguntar o que quiser, não vejo problema algum – respondeu ela, prontamente.

– Quando você se descobriu grávida e o pai de seu filho lhe virou as costas... – Emmett ficou sem saber como continuar, encarou o chão e por fim voltou a falar. – Alguma vez pensou em se desfazer da criança?

A expressão no rosto de Skyler se tornou de espanto e ultraje. – Jamais. Nunca. De forma alguma – respondeu com convicção.

– Você ama o seu filho? Quer dizer, você sente raiva dele pelo pai não ter ficado com você?

– Eu amo o meu filho sobre qualquer coisa, Emmett. Eu jamais poderia sentir raiva do meu Zach, nunca. Meu filho é a luz de minha vida. O amo como nunca pensei que pudesse ser possível amar alguém. Faria qualquer coisa para vê-lo feliz. Para vê-lo bem. Mesmo que isso custasse minha própria felicidade.

Emmett maneou a cabeça afirmativamente. De uma forma surpreendente ele entendia cada uma das palavras de Skyler. O amor que sentia por Julia se encaixava perfeitamente em cada palavra dita por ela.

– Obrigado – agradeceu, com um sorriso amistoso, demostrando respeito e admiração pela atitude dela.

– De nada. A gente se vê – ela se despediu com um aceno, começando a andar devagar.

– A gente se vê – repetiu ele, antes de entrar no carro.

Sentado ao volante, ele se permitiu pensar em Savannah. Talvez ela fosse mesmo desequilibrada. Não havia justificativa para tanta crueldade com um ser tão pequenino. Com a própria filha. Sangue do próprio sangue.

Miserável, queime no fogo do inferno, foi o que Emmett pensou. Ele girou a chave na ignição e foi buscar sua gotinha de amor na casa dos avós.

Sabia que tinha sua parcela de culpa em tudo o que a filha sofreu nas mãos de Savannah, mas estava disposto a tudo para ressarcir seus danos. Batalharia para corrigir seus erros. Provaria que por amor um garoto inconsequente pode amadurecer e se tornar um grande homem.

[...]

Na casa dos avós, Julia brincava com a tia, Alice, no estúdio de ballet. Ela estava usando sua roupinha de bailarina, tudo em tons de rosa, e rodopiava no salão ao som de Ray Conniff – Lago dos Cisnes. Alice observava, sentada no banco que ficava localizado ao lado da porta – louca de vontade de dançar, sentindo a música tocar sua alma.

– Eu sou uma bailalina. Que sou... Que sou sim. Que sou mesmo. Que sou bailalina. Julinha bailalina – ela cantarolava enquanto a música seguia suave. Dessa vez até mesmo seus cabelos estavam presos em coque de bailarina, o que a deixava ainda mais satisfeita.

Ela saltitou até onde Alice estava e parou a sua frente. Devagar se abaixou e acariciou a botinha ortopédica no pé da tia.

– Sala pezinho. Sala logo pla essa titia dançá. A titia gota de sê bailalina pezinho, então sala logo. Não pode ficá mais monte de dia dodói pezinho pô causo que a titia qué dançá. Né que você gota de sê bailalina, titia?

– É sim amor – respondeu Alice, com a voz suave. – E você amor, gosta de ser bailarina?

– Eu goto. Eu goto sim. Goto mesmo. Julinha gota muito. Bailalina muito linda – ela sorriu. – Elas gilam assim, titia – Julia abriu os bracinhos e começou a girar nas pontinhas dos pés.

– Vem cá minha jujuba linda – Alice a chamou, com os braços abertos. – Vem cá para a titia te dar um beijo bem estalado.

Julia saltitou novamente até onde a tia estava sentada. Alice a abraçou, beijando todo o rostinho, fazendo-a se encolher de dengo.

– Julinha gota de ganhá beijinho – confessou ela.

Alice gargalhou e beijou a barriguinha e os bracinhos de Julia. Quando a liberou do abraço, segurou os bracinhos lhe ensinando a postura correta de uma bailarina, mas Julia entrou em pânico quando a tia mexeu em seus bracinhos de forma diferente.

– Não, não, não puxa titia. Não – Julia se desesperou, com os olhinhos acumulando lágrimas. – Não puxa meu blacinho, minha titia. Isso faz dodói – ela soluçou, beirando o choro, com o lábio projetado em um beicinho.

Pega de surpresa, Alice não soube o que fazer a não ser soltá-la imediatamente, acreditando que a tivesse machucado de verdade.

– O que foi minha jujuba linda? A titia machucou você? Me desculpe meu amorzinho. Titia jura que não tinha a intenção de fazer isso.

– Is... so... Isso... Dói sabia? – ela soluçou, magoada.

– Deixa a titia ver onde está dodói?

– Não... – ela soluçou se afastando de Alice, com medo.

– Porque jujuba? A titia não vai te machucar amor. Titia só quer ver onde está o seu dodói. Porque não deixa? – Alice ficou de pé, se apoiando nas muletas, tentando chegar perto de Julia, mas ela se esquivava cada vez mais.

Com olhinhos tristes, ela respondeu:

– Pulque quando ela quenininha isso ela muito dodói, titia – o lábio dela tremeu e uma lágrima escorreu em sua bochechinha corada.

Surpresa, Alice questionou:

– Quando você era pequenininha? Mas você ainda é pequeninha, jujuba linda.

– Cando ela mais quenininha – ela fungou, passando a mão no rostinho.

– Mas está doendo agora? Fala para a titia – pediu com a voz suave, tentando acalmá-la. – Fala para a titia, amor. Por favor, jujuba.

– Só um pouquinho que agola a titia sotô a Julinha. Você puxô, titia, e isso não pode que fica dodói, sabia? Não faz isso com a Julinha, titia. Pulque eu amo você – os olhinhos piscaram e o beicinho tremeu. – Não faize o dodói no meu blacinho.

– Não amor. A titia nunca vai fazer um dodói no seu bracinho. Vem cá. Vem pertinho da titia, vem amor. Não fica com medo de mim não, jujuba.

– Você não vai puxá o meu blacinho, não né titia?

– Não, jujuba linda. Titia não vai fazer isso. Nunca.

– Jula, julandinho?

– Titia jura, jurandinho.

Alice voltou a sentar no banco. Julia se aproximou novamente pouco a pouco, ainda fungando. Alice a pegou pela cintura e a colocou, sentadinha, no colo.

– Fala para a titia qual é o bracinho que está dodói?

Julia ergueu o bracinho esquerdo, devagar, na direção da tia. Ela deu uma fungada e piscou os olhinhos com força enquanto Alice analisava o bracinho cuidadosamente. Alice massageou o bracinho depois deu vários beijos no local. Os olhinhos molhados de lágrimas brilharam ao receber o gesto de carinho. Mais uma vez, Julia fungou e mexeu o bracinho devagar.

– Dói quando você faz isso? – perguntou Alice, preocupada.

– Só cando ela quenininha que doía muito, muito mesmo. Até Julinha solava muitão. Cholova toda hola.

– Então vamos contar isso para a vovó? – Alice sugeriu.

– Vamo titia. Vamo sim. Vamo contá pla vovó.

Alice a colocou de volta no chão. Julia pegou Carinho, que estava sobre o banco e o abraçou. As duas saíram do estúdio de ballet caminhando devagar.

Emmett tinha acabado de chegar à casa dos pais, quando avistou Julia saindo do estúdio de ballet na companhia da tia.

– O papai chegô – Julia gritou, correndo ao encontro de Emmett. Ele a pegou no colo, beijando todo o seu rostinho e pescoço. Somente depois, perguntou o que tinha acontecido.

– Porque que a gotinha do papai chorou? Fala para papai o que aconteceu? – perguntou, limpando o rostinho dela com a mão.

Julia olhou para Alice como que perguntando se poderia falar. Emmett entendeu aquilo como uma acusação e já foi logo questionando a irmã caçula.

– O que foi Alice? Você machucou a minha filha com essa sua obsessão por ballet? Por querer que ela dance igual a você? Ela ainda é um bebê, não pode exigir muito dela.

– Não – respondeu Alice, com ultraje. – Claro que não machuquei a minha jujuba. E eu não a obrigo dançar. Ela me pede para vesti-la de bailarina e deixá-la brincar no estúdio, eu só fico lá com ela enquanto ela brinca. Ensino muito pouco, se você quer saber. É só que ela teve medo quando eu segurei o bracinho dela para ensinar fazer postura de bailarina. Ela disse que doía muito quando era “quenininha”.

Emmett olhou preocupado para Julia. – Deixa o papai ver gotinha. Deixa o papai ver o seu bracinho filha – Julia ergueu o bracinho esquerdo da mesma forma que havia feito quando Alice pediu. Emmett analisou o bracinho e não notou nada diferente.

Esme chegou à sala onde eles estavam agora, Alice aproveitou e explicou para a mãe o mesmo que tinha acabado de explicar para o irmão.

– Em todo caso é melhor verificarmos isso – anunciou Esme.

– Amanhã antes de levá-la a primeira consulta com a psicóloga vou levá-la para a Dra. Kate dar uma examinada nesse bracinho – avisou Emmett.

Julia olhou para o pai com os olhinhos brilhando em seguida encostou a cabecinha ao ombro dele, buscando o aconchego paterno.

– Faça isso filho – concordou Esme. – Aparentemente é só uma recordação ruim relacionada há algum momento de dor. Uma radiografia vai nos dar uma ideia clara do que aconteceu com o bracinho dela anteriormente.

Emmett assentiu, afagando as costas de Julia, enquanto ela mantinha os olhinhos vidrados nele com amor. Um amor absurdamente grande e confiante.

Ele sentou no sofá com Julia no colo. Começou contar um pouco sobre sua ida ao grupo de mães e pais solteiros. Inicialmente, Alice zombou fazendo piadas e comparações infames, mas Esme a fez parar. A fez perceber o quanto a atitude do irmão estava sendo sensata e responsável.

Se ele encontrou nessa escolha o caminho para o aprendizado para se tornar o pai que a sua gotinha de amor precisa, sem que ninguém o obrigasse a tomar tal decisão, é porque estava certo de que amava a filha e faria qualquer coisa por ela.

Ser um bom pai não era mais uma condição imposta por Esme, era uma escolha que ele mesmo havia feito. E ele estava disposto a provar a todos, e a si mesmo, que conseguiria.


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Notas finais do capítulo

E aí?
Será que Skyler está se apaixonando por Emmett? Será que vai dá trabalho pra Rose?
E esse papai e sua gotinha, hein? Adoro quando eles estão juntos ♥ é a minha paixão ♥
A gente se vê nos reviews, galerinha :)
Beijo, beijo
Sill