A Gotinha De Amor Que Faltava escrita por Sill Carvalho, Sill


Capítulo 19
Capítulo 19 – Voltando Para Minha Gotinha


Notas iniciais do capítulo

Oi pessoinhas. Mil desculpas pela demora, mas aconteceram alguns imprevistos familiares.
**
Eu quero aproveitar e agradecer a: AmandaLampiasi e Isa Stewart por terem recomendado a fic. Muito obrigada meninas, adoreiiiiiiii :)
A todos boa leitura :)



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Por volta das treze horas e cinco minutos Emmett entrou no avião que o levaria de volta a Detroit. Aproveitou o momento de espera e ligou para a casa dos pais avisando que já estava a caminho. A conversa ao telefone durou poucos minutos, mas ouvir a voz de Julia serviu para deixá-lo menos frustrado por ter que deixar a esposa para trás. Apesar de tudo Rosalie já era uma mulher adulta, responsável por suas próprias escolhas ao contrario de Julia que dependia dele para tudo. Ouvir a filha declarar seu amor incondicional fez Emmett perceber que seu lugar era ao lado dela, mesmo que isso lhe custasse um preço alto, ele sabia, não abriria mão de Julia por nada.

O sol brilhava forte no céu de San Diego, e a temperatura continuava elevada. O ar-condicionado era a melhor opção para aliviar o calor. Enquanto esperava o avião decolar ele retirou o tablet de dentro da bagagem de mão com um único objetivo, ver as fotografias de Julia, cujo ele as retirou no playground. Queria matar um pouco a saudade que vinha sentindo daquele ser pequenino que chegou a sua vida feito um paraquedas. Ele ainda não entendia como podia sentir tanta falta de alguém que conhecia à tão pouco tempo. No entanto, começava aceitar que isso se chamava amor paterno. Um amor despretensioso que ama simplesmente por amar. Sem esperar nada em troca. Um amor que por vezes transcende a razão.

Ainda vendo a primeira foto, Emmett sentiu quando alguém sentou na poltrona ao lado. Ao erguer os olhos para ver quem era se deparou com uma bela mulher de cabelos acobreados, em cascatas onduladas, dispensados sobre os ombros. Seus olhos eram de uma tonalidade que fazia lembrar uma lagoa cristalina. Seu sorriso era de tirar o folego de qualquer homem, pode acreditar.

Emmett voltou sua atenção novamente para o tablete e permaneceu olhando as fotos da filha. A mulher ao lado mexeu nos cabelos, gesto esse que fez o perfume atingir o olfato de Emmett, mas ele, no entanto, continuou indiferente até ouvir o som da voz que se dirigiu a sua pessoa.

– Saudades da filha? – perguntou a mulher no momento em que conseguiu identificar o que ele tanto olhava no tablet.

Emmett ergueu a cabeça novamente. – Sim – respondeu com um meio sorrio. – Ansioso também para vê-la. – completou.

– E então você está se divorciando e a filhinha ficou com a mãe em Detroit? – sondou, analisando a aliança de casamento no dedo de Emmett. Mesmo com todas as brigas ele jamais se atreveu a retirá-la, porque para ele significaria o fim de tudo, e ele não deseja por um fim em seu casamento, de forma alguma.

– Na verdade é o contrario – ele explicou. – Minha filha ficou em Detroit com minha mãe e eu vim para San Diego ver minha esposa.

– Ah – suspirou ela, com certa frustração. – Então a esposa está aqui a trabalho e você veio visita-la?! – supôs.

– Na verdade é uma situação bem complicada. Estamos passando por uma crise conjugal – ele explicou se sentindo um tanto desconfortável.

A expressão no rosto da jovem mulher pareceu interessada novamente. – Espera, deixa ver se entendi – arriscou ela. – Vocês estão tecnicamente separados e a filha ficou com você? Que estranho, geralmente as mães não abrem mão dos filhos.

Mesmo incomodado com as perguntas Emmett respondeu tentando não ser rude.

– Bem, essa é uma historia a parte. Descobri a existência de minha filha recentemente e agora tenho que ser pai e mãe dela ao mesmo tempo.

– Agora fiquei confusa – disse a mulher, com os olhos curiosos.

– É uma longa história – avisou Emmett. – Mas abreviando; sou pai solteiro e de primeira viagem. Vou te confessar que não está sendo nada fácil. Eu nunca tive convívio com crianças antes de minha filha chegar para mim. Não tenho sobrinhos nem primos pequenos. Estou aprendendo a ser pai sozinho na luta do dia a dia – Emmett olhou a foto de Julia novamente. – Ela tem três aninhos, é um doce de criança. É carinhosa, divertida e meiga – ele pareceu refletir um pouco antes de prosseguir –, e já passou por coisas que você nem imagina....

A mulher tocou a mão de Emmett que segurava o tablet. – Dá para ver que você a ama muito apesar de, como disse, se descobrir pai há pouco tempo – Emmett encarrou a mão que tocou a sua, e, de repente, se sentiu estranhamente nervoso. Fora algo como se alguém fosse contar para Rosalie que uma estranha estava flertando com ele. – Aposto que ela sente sua falta também – ela arriscou, recolhendo a mão após notar o desconforto dele.

Emmett sorriu imaginando a filha, seu sorriso idêntico ao dele, e seu jeitinho de falar sem igual, único exatamente como ela era. – É verdade, ela é muito apegada a mim. E isso em tão curto espaço de tempo.

– Entendo – disse a mulher. – Você sendo pai e mãe ao mesmo tempo o vinculo se torna ainda maior. E a cumplicidade se torna algo impressionante. Eu sou mãe solteira sei bem como funciona essa ligação – revelou. – E acredite meu filho só ver o pai uma vez por ano. O pai é um ex-namorado do tempo de faculdade que me virou as costas quando descobriu minha gravidez.

– Imagino que tenha sido muito difícil para você – disse Emmett, de repente se sentindo mal pelo o que fez a Savannah. Os primeiros anos de vida de sua filha teriam sido diferentes caso não tivesse tratado Savannah como tratou quando ela veio lhe falar da gravidez. Caso não tivesse agido como um crápula.

O avião se preparou para decolar, Emmett guardou o tablet sem nada dizer. A mulher sentada ao seu lado continuou falando como se o conhecesse há anos.

– No começo foi muito difícil, eu admito. Eu não estava preparada para esse passo em minha vida, muito menos que fosse enfrentar tudo sozinha. Quebrei muito a cara até acertar. Um dia ao entrar em uma emergência de hospital com meu filho, de meses apenas, nos braços, queimando de febre e eu sem saber o que fazer acabei encontrando ajuda além da que esperava encontrar. Depois que o meu bebê, Zack, foi atendido e medicado uma enfermeira conversou comigo e me indicou um grupo de apoio a mães e pais solteiros. Ela disse que foi no grupo que seu sobrinho encontrou o apoio que precisava para cuidar dos dois filhos pequenos depois que a esposa morreu vitima de um assalto. Então eu fui para casa com o meu bebê, e pensei muito no que ela me disse. Acabei pesquisando na internet a respeito. No dia seguinte eu decidir arriscar indo até lá. E, acredite, eu frequento até hoje. Nós aprendemos muito uns com os outros além de receber o apoio de psicólogos e orientadores.

– Você disse mães e pais solteiros? – questionou Emmett, já despertando certo interesse no assunto.

– Sim – ela confirmou. – Alguns pais chegaram ao grupo à beira de um colapso e hoje são totalmente seguros de si na criação de seus filhos. Alguns deles você não reconheceria se os visse quando chegou, não sabiam nada sobre crianças e hoje são capazes de cuidar de seus filhos sozinhos, sem medo de errar.

– Ah eu posso imaginar como é... Pode me tomar como exemplo – divagou Emmett.

– Mas olhando para você, o jeito como olhava para a foto de sua filhinha, não me pareceu ser um pai ruim. Pelo contrario a primeira imagem que me passou foi de um pai amoroso. E como dizem; a primeira impressão é a que fica.

Emmett sorriu ironicamente. – Nem sempre fui assim. O homem que você vê hoje é o reflexo do que a minha gotinha de amor fez em minha vida. Julia, esse é nome dela. Essa garotinha, que tanto herdou de mim, derreteu uma grossa camada de gelo em meu coração, mas ainda não sei como ser um pai de verdade para ela. Um pai que esteja seguro sobre tudo o que precisa. Que saiba lidar com todas as situações que aparecer. Que saiba tudo sobre a rotina de uma criança. Um pai que saiba que atitude tomar em caso de emergência. Um pai de verdade.

– Acho que tenho a solução para os seus problemas – disse ela. Emmett a olhou com os olhos semicerrados. – Não, não é o que você possa estar pensando. Apesar de você ser um gato, não estou pensando nisso agora. Embora me pareça uma ideia tentadora – ela sorriu.

– Eu sou um homem casado – murmurou um Emmett desconfiado.

– Eu sei você já me disse isso. Relaxe – ela sorriu novamente. – A solução que estou me referindo é que você frequente um grupo de mães e pais solteiros. Bem – ela mexeu dentro da bolsa e de lá retirou um folheto –, eu tenho aqui o endereço e algumas informações do grupo que eu faço parte. Se te interessar passe lá qualquer dia desses para conhecer – ela entregou o folheto para Emmett, que aceitou despertando certa curiosidade no assunto.

– Obrigado. Isso pode ser o que preciso no momento...

– Mas não se sinta obrigado a frequentar exatamente esse grupo caso não queira. Você pode pesquisar e encontrar um mais perto de você. O que achar mais conveniente.

– Eu vou analisar a sua sugestão. Verificar os horários e ver com quem deixarei minha filha. Somente então, talvez, eu apareça por lá. A propósito, meu nome é Emmett McCarty.

– O meu é Skyler Johnson – depois de pensar um pouco ela deduziu. – Não brica, você é o filho mais velho de Carlisle Cullen McCarty, o dono da rede de hotéis e resorts de luxo mais procurados pelos ricos e famosos?! Meus pais viajam todo final de ano para se hospedar em um resort que é de sua família, na costa. Difícil acreditar que um homem bonito e rico como você esteja criando uma filha, sozinho.

– Nem tudo é perfeito – brincou Emmett, com seu sorriso de covinhas em evidencia.

– Olha que se continuar sorrindo desse jeito vou sair desse avião apaixonada por você –brincou Skyler, com um quê de verdade em suas palavras.

Emmett maneou a cabeça se divertindo. – Minha esposa me disse algo parecido quando nos conhecemos – confessou ele.

Skyler sorriu se sentindo vitoriosa. – Então estou no caminho certo.

– Não brinca – sibilou Emmett.

– Não estou brincando.

– Mas eu sou casado. Mesmo sendo pai solteiro no momento, eu ainda sou casado e apaixonado por minha esposa.

– Uma esposa que não quer saber de você nem de sua filha... – Skyler deixou a frase morrer no ar enquanto se ajeitava na poltrona.

– Ela não sabe de minha filha.

– Bem isso não descarta o fato dela ter te deixado – rebateu Skyler.

Emmett se sentiu desconfortável com a situação, mas tentou não ser grosseiro. – Desculpe Skyler você é linda e muito atraente, mas eu sou casado e permaneço com esperança de que terei minha esposa de volta algum dia. E que esse dia seja breve. Por nada no mundo procurarei motivo que a leve me pedir o divorcio.

– Ela é uma mulher de sorte... – sibilou Skyler.

– Porque diz isso? – Emmett quis saber.

– Por você amá-la tanto. Muitas mulheres dariam tudo para ter um marido assim. Que as ame de verdade, exatamente pelo o que são. Com falhas e defeitos.

– Sinto muito Skyler pela relação com o pai de seu filho não ter dado certo. Mas veja bem, eu não sou um homem perfeito. Fiz coisas horríveis no passado. Coisas das quais me envergonho e me arrependo. Minha esposa, e minha ex-namorada – mãe biológica de minha filha – teriam muito a falar a meu respeito... Com certeza teriam. E posso afirmar que não seriam coisas boas.

O silêncio se instalou por alguns minutos. Emmett até chegou a tirar um cochilo. Depois da noite mal dormida que tivera na casa dos pais de Rosalie fora impossível não cochilar durante o voo. Skyler se distraiu folheando uma revista de moda e não tentou mais puxar assunto.

As horas passaram e o avião aterrissou em Detroit. Nos últimos minutos de voo nenhum dos dois falou mais nada, cada um se distraiu a sua maneira. Quando desembarcaram se despediram como se fossem amigos e cada um seguiu para o um lado.

Apesar de Skyler ser uma mulher linda, na vida de Emmett não havia espaço para mais ninguém. Rosalie, apenas Rosalie seria a mulher que poderia fazê-lo feliz.

Ansioso para chegar à casa dos pais e reencontrar sua gotinha de amor, ele foi pegar seu carro no estacionamento privado do aeroporto.

Trinta minutos foi o tempo que ele levou para chegar à casa dos pais. Tocou a campainha e Dora, funcionaria da casa, foi quem liberou sua entrada. De todos os carros da família o de Carlisle era o único que não estava na garagem. Emmett deduziu que o pai estivesse na empresa cuidando dos negócios.

Ele estacionou e saiu do carro levando apenas o celular. Despreocupado, já tendo a certeza de que a filha estava bem. Louco de vontade de vê-la caminhou até a porta principal da casa. Abriu devagar e a primeira coisa que viu no hall foi a bicicletinha de Julia com a cestinha cheia de flores, colhidas no jardim da avó. Sorriu consigo mesmo imaginando a filha brincando no jardim com os tios, com eles fazendo suas vontades, porque eram apaixonados por aquela garotinha que despertava tanto amor.

Com intensão de surpreendê-la, ele caminhou pela casa sem fazer barulho. Continuou andando até que ouviu vozes vinda da sala de TV. Ele reconheceu imediatamente, era sua gotinha de amor conversando com o tio Edward.

– Titio, esse é azul? – Julia perguntou, erguendo a mãozinha com um giz de cera para que o tio pudesse ver.

– Não Julinha esse é o verde. Azul é aquele ali – explicou Edward, apontando para o giz específico, com uma tranquilidade e cuidado como somente um bom tio o faria.

Emmett seguiu em frente, sorrindo consigo mesmo, prestando atenção ao que eles falavam.

Julia esticou o braço, recolhendo o giz azul. Sorriu ao colorir com ele, admirando a tonalidade que ela ainda não sabia distinguir, ergueu o bracinho e falou novamente com o tio.

– Titio esse ficô bonito?

Edward sorriu. – Ficou lindo Julinha. Foi para o titio que você fez esse desenho bonito?

Julia afirmou com a cabeça, sorrindo. – Titio e você sabe fazê um monto? – ela piscou os olhinhos como se estivesse com sono enquanto esperava pela resposta. – Sabe? Sabe fazê monto?

Edward fingiu pensar um pouco. – Um monstro bem feio e assustador ou um monstro divertido?

– Monto feio – ela gargalhou. – Um monto assim titio – ela rugiu tentando imitar um monstro, mostrando as mãozinhas em garras. – Eu sou um monto e vou pegá você titio – rugiu novamente. – Que sou. Que sou um monto. Julinha monto.

Edward caiu na gargalhada, puxando Julia para um abraço. Julia gargalhou junto ao tio se divertindo com ele. Dividindo uma cumplicidade de cuidado e carinho que ela nunca havia conhecido antes.

– Que monstrinho lindo – disse Edward, beijando o rostinho de Julia antes de soltá-la. – O titio nem ficou com medo desse monstro.

– Mas que sou um monto de mentilinha. Não pode ficá com medo da Julinha, titio. Não pode – ela explicou fazendo sinal com o dedinho.

– Cadê a gotinha do papai? – perguntou Emmett assim que parou na entrada da sala de TV. Bastou ouvir a voz do pai para Julia arregalar os olhinhos, surpresa.

– Meu papai? – ela ergueu a cabeça, com os olhinhos brilhando. – Meu papai chegô – gritou. Imediatamente deu um pulo e saiu correndo ao encontro do pai com os bracinhos erguidos esperando que ele a pegasse.

Emmett a pegou no colo erguendo-a no ar cobrindo seu rostinho de beijos, cheirando seu pescocinho também.

– Que saudade que o papai estava dessa gotinha linda – murmurou entre um carinho e outro. Julia encostou uma mãozinha no rosto do pai e lhe beijou a bochecha.

– Meu papai bonitinho – disse ela –, que já chegô de lá longe pla ficá com a Julinha.

– Você sentiu saudade do papai?

– Julinha sentiu muita sodade do papai. Calinho sentiu, sabia? Julinha cholou – confessou abraçando o pescoço de Emmett –, pô caso que quelia o papai e o papai tava lá longe.

Emmett beijou os bracinhos e pernas de Julia, somente então notara que estavam riscados de canetinha colorida. Olhou para o irmão e o encontrou com um bigode falso, feito de canetinha preta. Foi inevitável deixar de sorrir com o que estava vendo.

– Qual é – queixou-se Edward, com um leve tom de gozação –, não rir de mim não seu sacana.

Emmett continuou sorrindo sem dá a mínima importância. – Foi você filha que fez o bigode no titio?

Julia olhou do pai para o tio, sorrindo. – Foi a titia Bella que sinô Julinha fazê bidogue no titio – ela explicou meio atrapalhada com próprio riso. Emmett gargalhou também.

– Mano você está lindo assim bigodudo – zombou.

– Titio tem bidogue – ela gargalhou. Emmett beijou toda sua barriguinha, fazendo-a sorrir ainda mais.

– Agora conta para o papai. Foi a titia Bella que deixou você ficar toda riscada de canetinha assim, foi gotinha?

– Não – Julia fez a denuncia –, foi o titio que dexô Julinha ficá assim toda icada.

– Ei Julinha – Edward fingiu ficar chateado –, não me denuncie assim para o seu pai. Vou ficar em maus lençóis.

– Diculpa titio. Não fica tliste, tá bom?! Diculpa.

– Titio não está triste não bebê. Estou só brincando. Outro dia o titio faz mais desenho com você.

– E deixa Julinha fazê bidogue?

Edward e Emmett sorriram da pergunta dela. Olhando em volta Emmett notou que o cômodo estava uma bagunça. Todos os brinquedos que Julia havia levado para casa dos avós; os cadernos de colorir, o giz de cera, e as canetinhas, que certamente fora Edward quem comprara, talvez Alice, estavam todos espalhados. No meio da sala estava um castelo enorme feito de lego, e na parte interna dele, no que parecia ser um pátio, estavam o pônei de pelúcia, Carinho, e o porta-retratos com a foto de Rosalie. Havia também dois bonecos que Emmett tinha certeza que a filha não os tinha levado para lá. Eram eles: uma boneca Bela e a Fera em pelúcia.

– Onde estão a mãe e Alice? – perguntou Emmett após uma breve olhada pela sala, como que buscasse a presença de alguma delas.

– A Mãe acabou de subir para tomar banho. Alice está lá na cozinha com Bella. Elas foram levar as bandejas do lanche que fizemos aqui na sala. Apesar de a mãe não gostar que façamos isso, por causa da Julinha ela nem reclamou – explicou Edward. Ao ouvir o tio mencionar seu nome Julia se contorceu no colo do pai, fazendo a maior cara de dengo.

– Papai – Julia o chamou, encostando a mãozinha no rosto de Emmett, buscando por sua inteira atenção.

– Fala gotinha do papai – murmurou ele, com a voz suave, beijando o rostinho dela.

– Titia Bella deu oto plesente, sabia? – os olhinhos dela brilharam com essa revelação.

– Foi mesmo filha? – Emmett fingiu surpresa, entendendo agora a origem dos dois bonecos diferentes.

– Essa titia Bella, deu pla Julinha uma boneca que é a Bela e tem uma Fela, sabia papai? Tem uma Fela. E eles tão no catelo que o titio fez. O Calinho e a mamãe Ose da foto também tão no catelo.

Edward sorriu dá explicação da sobrinha, orgulhoso.

– O titio sabe fazer castelos, né gotinha?! Esse ficou bonito e muito grande. Vocês devem ter usado mais de um balde de lego e o titio deve ter levado horas para fazer isso.

– O titio sabe mesmo – concordou Julia. – Eu gosti muitão. O Calinho blincô com a Julinha e a mamãe da foto – ela suspirou antes de continuar a falar –, com a titia Bella, a titia Alice e o titio. Papai a titia Alice falô que tem uma menina que é do país da malavilha. E também falô que a luzinha que voa lá no jadim da vovó quando fica esculo é vagalone – ela estendeu bem a palavra carregando na pronuncia.

– É vagalume, gotinha.

– Vagalone. Acende apaga. Acende apaga, acende apaga o popô – ela explicou abrindo e fechando a mãozinha. Em seu rostinho era notável o quanto estava feliz por estar com pessoas que a amavam de verdade e de forma alguma tencionavam machucá-la.

– Foi mesmo gotinha?! Então foi muito legal ficar na casa da vovó. Você brincou com todo mundo e correu atrás de vagalumes no jardim. Ganhou presentes e agora está toda riscada de canetinha – ele cutucava a barriguinha dela à medida que falava lhe arrancando gargalhadas gostosas.

Julia piscou os olhinhos, dengosa, agarrando-se ao pescoço de Emmett. – Mas só que tava com sodade do papai. Muita, muita, muita sodade.

– O papai também estava morrendo de saudades dessa gotinha linda. Gotinha do papai – murmurou, beijando a bochechinha dela.

– E como foi lá? – perguntou Edward referindo-se a conversa com Rosalie.

– Não conversamos muito sobre nós. Ela está muito arredia comigo, e também muito abalada com o estado de saúde de Grace. Mas pelo menos dessa vez não me expulsou como das outras vezes em que estive lá, o que já é um bom sinal levando em consideração que antes nem me atendia no telefone.

No momento em que Emmett falava, Alice e Bella entraram na sala, conversando uma com a outra.

– O papai chegou Julinha – comentou Isabella, sorrindo. – Agora ela está toda orgulhosa nem vai mais ligar pra gente.

Agarrada ao pescoço do pai Julia respondeu, sorridente. – Ele chegô titia Bella. O papai chegô mesmo pla fica ota vez com a Julinha.

Isabella sorriu e soprou um beijo para Julia, que beijou a mãozinha mandando o beijo para Isabella.

– Linda – elogiou Isabella, deixando Julia toda orgulhosa.

Ao contrario de Isabella, Alice foi logo querendo saber como foram as coisas em San Diego.

– E aí Emmett você conversou com a Rose? E a mãe dela, a Dona Grace como está?

De repente três pares de olhos se voltaram para Alice com espanto e incredulidade. Ao se dar conta da burrada que tinha acabado de cometer, Alice bateu com a mão na própria testa.

Bastou ouvir o nome de Rosalie para Julia ficar cabisbaixa. Seu lábio pendeu em um beicinho e os olhinhos lacrimejaram encarando Emmett como que dizendo “você me enganou papai”.

– Papai... – ela murmurou, com o lábio tremendo –, pulque não bucô a mamãe Ose. Você foi lá longe e não tloxe a mamãe... Pulque não tem Ose. Não tem – ressentida Julia escondeu o rostinho no vão do pescoço de Emmett, chorando aos soluços, carregado de ressentimento.

– Satisfeita com o que você acabou de fazer Alice?! – acusou Edward, chateado com o deslize da irmã caçula. – Ela estava feliz porque o pai chegou e você fez questão de transformar isso em tristeza. Fizemos de tudo para ela não voltar a chorar aí vem você e faz uma dessas.

– Me desculpe foi sem pensar – pediu Alice realmente arrependida. – Foi sem querer. Eu jamais faria com intenção de fazer minha jujuba chorar – ela olhou de Edward para Emmett, encontrando a sobrinha chorando o que a fez se sentir ainda pior. – Desculpe Emmett foi sem querer. Eu juro.

– Não precisa ficar se desculpando. Já falou agora não tem mais jeito – passando a mão no rostinho da filha Emmett pediu. – Olha para o papai, gotinha. O papai quer conversar com você bebê.

Julia negou com a cabeça. – Eu quelia a mamãe... – soluçou, seguido de uma fungada. – Papai você viu a mamãe Ose e a Julinha não viu. Julinha não viu... Não...

– Me desculpe, gotinha. O papai não queria que fosse assim.

– Julinha tá tliste... – Julia se lamentou, com a voz chorosa e a expressão de seu rostinho era de dar dó tamanho seu ressentimento com o que Emmett lhe fez.

Emmett olhou para Alice, desacreditando no que ela tinha feito. Ele sentou na beirada do sofá com Julia no colo. Alice chegou perto segurando a mãozinha de Julia buscando lhe confortar.

– Não fica triste não minha jujuba linda. Titia confundiu tudo. Titia é uma boba.

Julia ergueu os olhinhos, olhando para Alice. – Pulque você fez isso...? Ganô a Julinha... – lamentou, com o lábio pendendo em um beicinho.

Emmett afastou a mão de Alice da de Julia sem cerimonias. – Deixe que eu explico para minha filha o que aconteceu.

– Mas... – Alice tentou argumentar, mas foi em vão.

– Mas nada Alice. Já chega. Você já falou demais – ele esbravejou, fazendo Alice recuar.

– Eu já pedi desculpas... – ela se defendeu.

Julia olhou para Emmett, com os olhinhos assustados agora. Para fazê-la entender que não era com ela que ele estava bravo, Emmett afagou seus cabelinhos finos e lhe beijou a testa.

– Papai não vai gritar com você não gotinha. Foi a titia que fez besteiras.

Julia fungou, piscando os olhinhos. – Não guita com a minha titia, papai – ela pediu. – Não guita.

– Está bem – concordou Emmett. – O papai não grita com a sua titia – ele olhou para Alice, que agora estava sentada ao lado de Isabella no sofá oposto. – Me desculpe por ter levantado a voz para você, Alice.

– Está tudo bem, eu mereci isso. Eu não tinha nada que falar sem pensar. Eu realmente mereci essa bronca.

Edward estava distraído recolhendo as canetinhas coloridas e o giz de cera que estavam espalhados por toda a sala de TV, os guardando em um baldinho vermelho. Emmett assentiu e voltou sua atenção a filha que estava ressentida sentada em seu colo. Julia olhava para Alice, com preocupação.

– Não titia. Não fica tliste, o papai não vai mais guitá com você. Ele plometeu.

Alice sorriu para ela. – A titia não está triste não minha jujuba linda – assegurou. – Está tudo bem. Não fica preocupada não amor.

Emmett passou a mão no rostinho de Julia secando as lágrimas – Olha para o papai gotinha – ela obedeceu, coçando o olhinho ainda com carinha triste. – O papai viu a mamãe Rose, sim, gotinha. Mas não pôde trazê-la para ficar com você porque a mamãe dela está dodói no hospital. Você lembra que o papai falou que iria visitar uma pessoa que estava dodói? – Julia afirmou com a cabeça, prestando atenção ao que o pai falava. – Então gotinha, essa pessoa é a mamãe dela. Por isso a mamãe Rose vai ter que ficar mais alguns dias em San Diego, para cuidar da mamãe dela que é a Grace.

– Pla dá emedinho?

– Sim – respondeu Emmett, afagando o rostinho dela. – Para cuidar direitinho da mamãe dela. Para dá os remedinhos na hora certa. Para não deixá-la sair fazendo coisas que não pode.

– Pla ela não chegá peto do fogo nem tomada?

Emmett, Isabella e Alice sorriram da definição de Julia para coisas que não se deve fazer.

– É, isso também – Emmett deixou que ela continuasse pensando assim quanto à tomada e ao fogo e os perigos que eles ofereciam.

– E depois o papai bucá a mamãe Ose. Oto dia que não tive esculo?

Emmett ponderou sua resposta antes de falar.

– Só depois. Quando a mamãe dela não estiver mais dodói. Você espera a mamãe Rose mais um pouquinho?

– Epelo.

– E o Carinho vai esperar também?

Julia ameaçou um sorriso. – Ele tá epelando a mamãe Ose de monte de tempo. De amanhã, de ontem e de semple.

– Então está bem. Os dois vão ter que ter paciência e calma. Quando o papai poder traz a mamãe Rose para casa. Agora dá um beijinho no papai e vai brincar com o Carinho.

Julia se esticou no colo do pai, lhe dando um beijo estalado na bochecha. Quando ela fez menção de sair do colo, Emmett a colocou no chão.

Esme chegou à sala de TV a tempo e ver a neta correndo pela sala, sem choro. Correndo para ir brincar com seus brinquedos e o castelo de lego feito pelo tio atencioso.

– Oi filho – disse Esme ao vê-lo. – Já faz tempo que você chegou?

– Não. Faz só alguns minutos. Quando cheguei Edward disse que a senhora tinha acabo de subir para tomar banho.

Esme sentou ao lado do filho, repousado a mão direita sobre o joelho dele. – Como ocorreram as coisas por lá. Grace está bem, querido?

– Foram melhores do que eu imaginei que seriam. Ela não me botou para correr. E embora ainda esteja magoada com minhas atitudes aceitou ouvir tudo o que tenho para dizer. Mas ela vai precisar de alguns dias em San Diego, somente depois disso ela virá para termos aquela conversa. Eu estou ansioso, mas confesso que estou também morrendo de medo.

Edward deixou o baldinho com as canetinhas e o giz de cera sobre a mesinha ao lado do sofá. Chegou mais perto do irmão e juntou-se a conversa se mostrando compreensivo como sempre.

– Você chegou a mencionar a Julinha em uma de suas conversas com a Rose? – perguntou Edward uma vez que Julia estava afastada distraída com os brinquedos.

Emmett negou com a cabeça. – Não pude. Ela não estava preparada emocionalmente para essa noticia. Tive medo que ela entendesse tudo errado e acabasse se afastando ainda mais de mim. Tenho medo que ela pense que Julia é fruto de uma traição, ou simplesmente não aceite minha filha por algum outro motivo. O fato é que ela não estava preparada para ouvir e eu para falar. Deixei o assunto pendente até que Grace esteja bem e ela possa vir até Detroit. E torço para que isso seja o quanto antes.

– Mas irão manter contato pelo menos? – perguntou Esme.

– Nós decidimos que vamos conversar sempre nas noites em que ela não estiver no hospital com a mãe. Ela e Ryan estão reversando nos horários com Grace para que um possa descansar enquanto o outro estiver no hospital. Estranho como estou me sentindo um adolescente no inicio de um namoro. Ansioso...

– Vai dar tudo certo, filho. Tenha fé – afirmou Esme, afagando a perna dele.

– Eu tenho mãe. É basicamente isso que me faz ter animo para esperar que as birras de Rosalie diminuam. Que ela pare de bancar a difícil e volte para mim.

– Então porque tanto medo de falar a verdade?!

– Porque eu a amo demais. Estou enlouquecendo sem ela ao meu lado. Só parei de sair à noite e de voltar para casa com a cara cheia por causa de minha gotinha de amor. Minha filha está sendo minha força para seguir em frente sem a Rose. Julia me ensinou outro significado para o amor. Um amor absurdamente grande e sem limites. Se lembra de como eu estava antes de Julia chegar para mim?

– Como não lembrar filho. Não havia um só dia que eu não pegasse no seu pé para fazer as coisas como um homem de bem. Para que agisse como o homem para o qual seu pai e eu te criamos para ser. E não como você vinha agindo.

Alice anunciou. – Você estava insuportável bancando o playboy.

– Você estava se perdendo – Edward concordou. – Mas nossa garotinha te fez encontrar um ponto de equilíbrio para a situação em que estava antes.

– Agora você está no caminho certo Emmett – assegurou Isabella. – Acredite que tudo pode, e vai dar certo.

– Obrigado pelos conselhos. Obrigado também por terem cuidado da minha gotinha de amor enquanto estive fora – ele olhava furtivamente a filha brincar à medida que falava com os familiares.

Quando Emmett menos esperava Julia veio correndo em sua direção, trazendo a boneca Bela e a Fera de pelúcia junto.

– A titia Bella deu esse plesente pla Julinha – ela explicou, erguendo as mãozinhas com os bonecos para Emmett ver melhor.

Emmett recolheu os bonecos e analisou antes de dar sua opinião.

– Eles são lindos, filha. Você gostou deles?

Julia afirmou com a cabeça. – Eu gosti muito. Gosti mesmo. Agola Julinha tem uma Bela e uma Fela que nem da hitolinha.

– Você já agradeceu a titia Bella pelos presentes que ela te deu?

– Agadeci papai. E dei beijinho nela também. Não foi que a Julinha agadeceu titia Bella?

Isabella sorriu. – Foi sim amor. Ela é muito fofa Emmett, agradeceu a titia sem ninguém mandar – elogiou se mostrando satisfeita.

– Papai a gente blincô de plincesa no catelo que o titio fez. Titia Alice foi uma plincesa também. Vovó ficô assistino só que não ela desenho. Ela ota coisa. E vovozinho veio almoçá e depois foi tlabalá de novo. E o titio não foi. O titio ficô com a Julinha e blincô de cololi e aí a titia Bella sinô Julinha a fazê o bidogue no titio – ela sorriu ao se lembrar e institivamente olhou para Edward que ainda estava com um bigode feito de canetinha.

Todos sorriram enquanto Edward fingia mexer no bigode falso.

– Titio você tá englaçado, sabia?!

– Eu sou assim – brincou Edward.

– E porque você se riscou assim, gotinha? – perguntou Emmett.

– Eu tava fazeno desenho papai com o titio.

– E o seu titio ficou com o papel só para ele foi?

– Ele deu papel pla Julinha também – ela defendeu o tio. – Só que icô tudo.

– E agora como faremos para retirar esses riscos de canetinha de seus bracinhos e pernas hein, gotinha?! Como faremos filha? Hummm, fala para o papai?

Julia deu de ombros, olhando para ele. – Não sei papai – olhou os rabiscos no próprio corpo e disse. – E agola?!

Emmett olhou para Esme com expressão de duvida estampada no rosto. – Mãe isso sai com água?

– Com água e sabão e com algumas esfregadas com esponja de banho – explicou Esme. – Vem com a vovó Julinha que a vovó vai te dar um banho e retirar todas essas manchinhas de canetinha. Vem amor.

– Pode deixar que eu mesmo darei banho nela, mãe. Assim conversamos mais um pouco sobre o dia na casa da vovó, né filha?!

– Está bem, filho – Esme assentiu, com um sorriso orgulhoso. – Como você quiser. Mas você vai ter que dar banho nela no meu banheiro porque as coisinhas dela estão todas lá no meu quarto.

– Certo – murmurou Emmett ficando de pé. – Vem com o papai, gotinha – ele estendeu os braços convidando-a. – Papai vai te dar um banho lá no banheiro da vovó.

Julia se animou agitando as perninhas. – De banheila? – ela quis saber antes de se jogar nos braços do pai. Emmett a pegou no colo, beijando seu rostinho.

– Você quer de banheira?

– Julinha qué sim – anunciou animada. – Quelo mesmo.

– Então vai ser de banheira. Do jeito que a gotinha do papai desejar. Tudo, tudo o que a minha gotinha quiser.

Emmett a ergueu no alto beijando sua barriguinha, fazendo-a sorrir enquanto saía da sala de TV rumo às escadas com destino ao quarto de Esme.


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Notas finais do capítulo

Não esqueçam de comentar, estarei esperando por vocês :)
Beijo, beijo
Sill