A Gotinha De Amor Que Faltava escrita por Sill Carvalho, Sill


Capítulo 13
Capítulo 13 - Coincidência, Talvez Destino


Notas iniciais do capítulo

Oi pessoinhas, capítulo chegando o/
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Esse vai especialmente para LunnaMM, Ruuh McCarty Cullen, MafySilva por terem recomendado a fic. Não sabem o quanto fiquei feliz ao ler o que cada uma escreveu :)) Obrigadaaaa!!

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Bem, divirtam-se com a gotinha e o seu papai.



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A manhã chegou ensolarada em Detroit, mas, a temperatura permaneceu agradável. Entretanto, a madrugada não foi das melhores na mansão Cullen, a pequena Julia teve mais uma crise de pânico noturno, e, dessa vez, Emmett não fora o único a presenciar, e sofrer com o desespero de sua gotinha. A família inteira acordou, e, de alguma forma, tentou ajudá-lo. Alice, no entanto, não soube o que fazer. Encolhida em um canto da cama, ela chorava baixinho, sentindo o desespero da sobrinha. Esme ajudou o filho ninar e confortar Julia até que a crise passasse. Mesmo depois da crise controlada o corpinho de Julia ainda tinha espasmos causados pelo medo.


Emmett sentiu-se, o tempo inteiro, horrível, por não conseguir fazer o os traumas desaparecerem da vida de sua gotinha de uma vez por todas. Arrependia-se do que fez no passado. Se tivesse tido coragem o bastante e procurado Savannah, algum tempo atrás, para saber da filha, sem dúvida, teria evitado grande parte de todo sofrimento. Mas deixara Savannah, ainda grávida, para se casar com Rosalie, e agora, Rosalie o deixara sozinho, remoendo suas lembranças e lutando para ser um bom pai. E ele começava a aceitar o fato dela tê-lo deixado como parte de seu castigo.


Esme somente voltou para seu quarto quando o dia estava quase amanhecendo. E logo cedo Alice acordou, ainda na cama do irmão, mesmo depois da crise de pânico noturno de Julia ela continuou lá. Embora seu pé estivesse machucado, ela estava frequentando as aulas normalmente. Estava no último ano do ensino médio e já tinha milhares de planos para a faculdade.


Trinta minutos depois de Alice ter saído, Esme foi ao antigo quarto do filho verificar se a neta ainda estava com febre. Evitou fazer barulho ao entrar no cômodo, e, encostou a mão direita na testa de Julia, que ainda dormia. Como Esme temia, ela ainda estava meio febril. Por esse motivo decidiu não ir trabalhar aquele dia e ficar em casa ajudando o filho no que ele precisasse.


Carlisle e Edward foram à empresa da família, naquela manhã, sem a companhia de Esme.  Por volta das nove da manhã Emmett acordou, mas não levantou da cama, ficou observando a filha dormir ao seu lado. Com um olhar coruja, porém, carregado de preocupação, fez carinho na bochecha da filha.


“O papai fez uma coisa por você ontem”, pensou, roçando o nariz no rostinho de Julia, sentindo seu cheirinho de bebê.


Ele se afastou e permaneceu observando-a em silêncio. Até que Julia acordou e sentou, ainda sonolenta, na cama. Com a chupeta na boca e o paninho em uma das mãos, mantendo-o sobre o colo.


Emmett permaneceu em silêncio observando a reação dela. Como sempre dormia com o paninho colado em uma das bochechas, ela sempre acordava com a marquinha no rosto. Emmett teve que conter a vontade de apertar e beijar ambas as bochechas, antes mesmo que a filha despertasse totalmente.


Julia olhou em volta, parecendo estranhar o local onde estava. – Eu domí com papai, nessa casa da vovó – murmurou, com a voz ainda sonolenta.


Emmett sorriu consigo mesmo ao constatar que a filha não estava tão caidinha quanto o dia anterior. Envolveu seus braços em volta do corpo pequenino, cuidadosamente, levando-a para um abraço.


- Isso mesmo, minha gotinha, nós dormimos na casa da vovó – confirmou, beijando a bochechinha dela.  – Esse era o quarto do papai antes de casar com sua mamãe Rose.


Ele colocou Julia sentadinha sobre o abdômen, enquanto permanecia recostado aos travesseiros.


Julia retirou a chupeta da boca e suspirou olhando a claridade que vinha da varanda do quarto. – Já é oto dia, e não tá esculo – mexeu a mãozinha uma na outra maneando a cabeça  negativamente. – Não tá esculo papai, vamo bucá a mamãe?


Emmett pigarreou sem saber o que dizer. Não esperava, de forma alguma, que Julia fosse lembrar-se disso.


- Gotinha... – foi tudo o que ele conseguiu dizer, com a voz cortada.


- Essa mamãe não chega nunca, palece... – sussurrou fazendo beicinho.


- Se a mamãe demorar, o papai promete que vai buscá-la.


- Tá demolando já... – sussurrou em resposta.


Emmett pegou o controle da TV, na mesinha de cabeceira, e ligou, zapeando os canais infantis tentando distrai-la. Quando de repente passou pelo Disney Junior e estava passando o desenho: agente especial urso.


Julia virou o rostinho em direção a TV ao ouvir as vozes já conhecidas.


- Olha papai – disse ela, apontando o dedinho indicador para a tela da TV. – O agente epecial ulsô.


Emmett disfarçou um sorriso, fingindo-se de desentendido. – Quem? Esse urso amarelo com manchas verdes nas orelhas e ao redor dos olhos?


Julia maneou a cabeça positivamente. – Esse mesmo papai, esse mesmo. O agente epecial ulsô.


Enquanto pai e filha conversavam o desenho seguia normalmente. E, nesse momento, passava a musiquinha da missão especial.


“A sua missão foi mesmo de mais com três etapas especiais... Agente urso...”


Julia tentou cantar a música, mesmo que pela metade. – Com tlês etapas epeciais, o agente ulsô...


Emmett gargalhou ouvindo a filha cantar. – Porque esse urso é um agente especial, gotinha? Fala para papai.


- Pulque ele ajuda as quianças.


- Ah, então ele é um ursinho muito legal, não é?


- Mais ele nem vem na casa do papai – murmurou mexendo as mãozinhas uma na outra. – Nem na casa da vovó...


- E porque você queria que o agente especial urso viesse na casa do papai, e na da vovó?


- Pla ajudá a Julinha bucá a mamãe... – ela ficou em silêncio por alguns instantes. – Pulque o agente epecial ulsô não vem aqui papaizinho?


- Porque ele é de faz de conta, filha. Ele só ajuda as crianças lá do desenho.


- Pulque?


- Porque é como nas historinhas do livro que papai lê pra você. É faz de conta...


Julia se remexeu, ainda sobre o abdômen do pai, para ficar de frente para a TV, porque, até então, ela olhava meio que de lado. Só então se dera conta de que estava usando fraldas. Ela estava tão caidinha ontem à noite que nem lembrava que a avó tinha colocado a fralda nela.


- Eu não fiz xixi na sua caminha papai, pulque eu tava com essas flaldas.


- Foi o papai que comprou – disse Emmett, com uma piscadela. – Assim você dorme e acorda sequinha. Nada de cobertor e lençol molhado de xixi.


Julia ergueu a blusinha do pijama para ver melhor a fralda e sorriu, tocando as laterais.


Esme entrou no quarto, sorrindo, ao vê-los acordado e conversando.


- Já acordada, meu pedacinho do céu?! – cantarolou Esme ao se aproximar da cama.


- Vovó eu não fiz xixi na caminha do papai, pulque eu tava com essas flaldas. E papai deixou eu assisti o desenho do agente epecial ulsô, sabia vovó?


- Que legal, meu amorzinho. A vovó está muito feliz de vê-la conversando assim hoje. Bem diferente de ontem...


- Não vai trabalhar hoje, mãe? – perguntou Emmett, curioso.


- Não. Mais cedo vim aqui ver como a Julia estava e como ela ainda estava um tanto febril decidi ficar por perto – Esme estendeu os braços para Julia. – Vem com a vovó, Julinha. Deixa vovó ver se você ainda está com febre.


Emmett ergueu Julia pela cintura, colocando-a de pé na cama. Ela caminhou, afundando os pezinhos nos lençóis, até a beirada da cama onde Esme a pegou no colo. Em seguida encostou a mão da testa dela e sorriu ao constatar que a temperatura estava normal.


- Nada de febre. Graças a Deus – murmurou, aliviada.


Emmett suspirou, também, aliviado sentando-se na cama. – Eu vou dar banho nela e pôr uma roupa confortável para ela ir brincar – saiu da cama disposto a cuidar da filha, como vinha fazendo recentemente, mas Esme ofereceu ajuda.


- Pode deixar filho, eu cuido do banho dela essa manhã.


- Obrigado mãe. Então eu vou fazer minha higiene e me vestir.


- E vou tomá banho com a minha vovó, é papai?


- Vai sim gotinha. A vovó vai te dar um banho decente, depois o papai vem pra ficar com você. E também vou fazer sua mamadeira, está bem?


- Tá bom, papaizinho.


[...]


Minutos depois, Emmett já estava de banho tomado, usando um roupão de banho preto. Ele fazia a barba em frente ao espelho, quando Julia entrou no quarto correndo, toda feliz. Nem parecia a mesma criança do dia anterior, mais um aprova viva de que carinho e amor ameniza qualquer sofrimento.


Ela usava um shortinho xadrez, cor de rosa, de elástico nas perninhas. Uma blusinha branca com o desenho de um arco-íris, e nos pezinhos, sandálias com detalhes em tons de rosa. Seus cabelos estavam presos em duas chiquinhas no alto da cabeça, com prendedores coloridos e tic-tac de joaninhas. 


- Papai a vovó deixou meu cabelo lindão – disse ela, parando em frente à porta do banheiro que estava aberta.


Emmett sorriu, com o rosto cheio de creme de barbear, após tê-la visto através do reflexo no espelho.


- Ficou linda gotinha – elogiou arrancando um sorriso orgulhoso da filha. – E também está muito cheirosa. – ele já havia notado que Julia adorava receber elogios, de que estava cheirosa.


- Vovó lavou esse cabelo e secou e fez esse negócio bonitinho. E a vovó também lavou a flózinha, sabia papai?! Vovó disse: papai não sabe lavá flózinha.


Emmett gargalhou. – A vovó sabe das coisas – disse ele, ainda sorrindo.


- Pulque a vovó tem flózinha também. E o papai tem pintinho. E ele faz piu-piu?


- Quem? – perguntou Emmett.


- O seu pitinho, papai.


Gargalhando ele respondeu:


 - Não, ele não faz piu-piu. Ele faz xixi, assim como a florzinha faz. “E também faz garotinhas lindas”, pensou.


Julia apontou o dedinho indicador em direção ao rosto de Emmett. – O que é isso, papai?


- É creme de barbear. O papai está fazendo a barba. A sua mamãe gosta da barba do papai bem feita – Emmett a pegou no colo e colocou sentadinha na bancada da pia. – A vovó escovou os seus dentinhos?


- Ecovou sim, papai.


- Dá um sorriso para o papai ver se a vovó fez direitinho – brincou ele.


Julia sorriu e Emmett sorriu junto com ela. Fora como se um fosse o reflexo do outro.


- Julinha... – Esme a chamou, entrando no quarto do filho. – Emmett, a Julia está aí com você?


- Está sim, mãe. Ela veio me mostrar o penteado que você fez nos cabelos dela. Veio mostrar para papai como está lindona né, filha?! – disse, com uma piscadela.


Esme caminhou até a porta do banheiro e a encontrou, sentadinha, na bancada da pia, com o rostinho feliz.


- Vai descer com a vovó para tomar café ou vai esperar o seu papai?


- Eu vou epelá o meu papai, tá bom vovó?


- Está bem, meu pedacinho do céu. Emmett tenha cuidado para deixá-la cair daí.


- Eu terei mãe. Não se preocupe. Né gotinha? – disse ele, tocando a pontinha do nariz da filha.


Esme maneou a cabeça, disfarçando um sorriso. Emmett sujou o narizinho de Julia com creme de barbear, fazendo-a sorrir. Depois que Esme saiu, ele se concentrou em fazer a barba enquanto Julia esteve o tempo inteiro observando. Quando terminou a deixou no quarto e foi ao closet se vestir. No seu antigo closet ainda havia algumas peças de roupas, sendo assim, não houve problema algum em se vestir aquela manhã.


Ele pegou Julia no colo novamente e desceu as escadas indo em direção à cozinha para tomar café. Esme já tinha tomado o café mais cedo, então somente Emmett e Julia sentaram-se à mesa. Julia comeu um pãozinho – bisnaguinha –, com geleia, e depois tomou a mamadeira, que o próprio Emmett fez questão de prepará-la. E, sem que ela notasse, ele acrescentou as vitaminas que a Dra. Kate prescrevera, assim como a mesma sugeriu que fizesse. Julia tomou a mamadeira sentadinha no colo do pai, e não chegou a notar nenhuma diferença de sabor. Emmett agradeceu por isso, pois sabia que ela daria trabalho para tomar se soubesse. Enquanto ele preparava a mamadeira, Esme cochichou ao lado do filho que Julia só tomou na noite anterior porque Carlisle fingiu tomar um pouco e garantir que era doce.  


[...]


A manhã pareceu correr. Julia brincou no jardim enquanto Esme aproveitava o dia livre para podar algumas flores.


Emmett ficou na varanda, respondendo alguns e-mails, e, algumas vezes, olhava de canto de olho, a filha correndo no gramado. Ele aproveitou o tempo livre para responder a mensagem de Rosalie que acabara de ler.


“Sem você aqui eu nunca estarei bem. Volte logo. Sinto sua falta, caramba. E não apenas eu... Mesmo que você pense o contrario, nunca amei nenhuma mulher na vida como a você. Precisamos conversar, então, pelos menos, atenda a minha ligação da próxima vez que eu te ligar.”


Rosalie não viu a mensagem chegar. Pela primeira vez, desde que chegara a casa dos pais, ela decidiu ir a praia tomar um banho de mar. E isso apenas ocorreu porque a mãe praticamente a botou para correr de dentro de casa. Mas, algo estranho aconteceu, embora ela soubesse nadar, quase se afogou quando começou a ouvir a voz de uma criança chamando-a de mamãe. Rosalie se debateu contra as ondas, e saiu do mar ofegante, achando que estivesse ficando louca.


No jardim da casa dos avós, Julia saltitava no gramado murmurando:


- Mamãe... Mamãe... Pala de ficá lá longe e vem pla casa... Eu tô epelando você mamãezinha.


Rosalie sentou-se na areia, ofegante, apertando ambas as mãos na areia fofa e úmida até que seus dedos não aguentassem mais.


[...]


Mais tarde, Esme saiu para buscar Alice no colégio, e demoraram mais que o previsto para voltar.


Depois do almoço Emmett aproveitou que Julia estava bem, na companhia da avó e da tia, para ir a empresa conferir e assinar alguns documentos.  Carlisle havia ligado e pedido que o filho fosse até lá. A empresa de hotelaria da família estava analisando a ideia de construir um resort de luxo em uma praia brasileira.


Alice levou Julia ao estúdio de ballet particular, o qual ela treinava em casa. Embora estivesse com o pé machucado, ela foi até lá somente para mostrá-lo a Julia e vesti-la com uma roupinha de ballet e fotografá-la. Alice pediu que Esme a levasse ao shopping especialmente para isso, por isso o motivo da demora em voltarem para casa.


Esme voltou ao jardim para colher algumas flores, para enfeitar alguns vasos. Como não foi trabalhar decidiu fazer alguma coisa na casa, já que Julia estava distraída com a tia.


- Julinha vem ver o que a titia trouxe para você – disse Alice, colocando duas sacolas de compras no chão, no centro do salão, do estúdio de ballet particular, em frente à parede de espelho.


Julia estava distraída andando de um lado para o outro, esticando os bracinhos para tocar as barras de apoio. Ela parou em frente à parede de espelho, ergueu os bracinhos e começou a girar sem sair do lugar.


- Julinha vem cá – insistiu Alice ao notar que a sobrinha estava distraída.


- Eu tô dançando, titia, olha – disse Julia, continuando a girar.


Alice sorriu consigo mesma. – Ah que linda – e ao elogiar arrancou um sorriso de covinhas, da sobrinha. – Vem vê o que a titia comprou.


Julia abaixou os bracinhos e saltitou feliz, antes de correr até onde a tia estava.


- Você complô um plesente pla mim, foi titia? – seus olhinhos azuis brilharam ao alcançar as duas sacolas de papel.


Com um sorriso presunçoso, Alice enfiou as mãos em uma das sacolas e de lá retirou um collant helanca, meia-calça, saia jersey transpassada e um tutu.


Julia abriu a boca e seus olhinhos brilharam feito joias preciosa. – Ô que linda, titia. Uma oupa de bailalina, pequenina – suas perninhas roliças se agitaram com ansiedade. – Que linda!


Alice sorriu gigantescamente presenciando o entusiasmo da sobrinha. – Você gostou Julinha?! Olha tem mais – Alice enfiou as mãos na outra sacola e de lá retirou um par de sapatilhas, faixa e redinha para cabelo. Lembrando que tudo era em tons de rosa.


Julia pulou agitando as mãozinhas. – Eu gosti mesmo – suas mãozinhas ansiosas tocaram o tutu, e ela sorriu ao fazer isso. – Eu posso vesti? Eu posso, eu posso? – suas perninhas não paravam quietas.


- Mas é claro que pode minha jujuba linda. Vem cá que a titia te ajuda – sugeriu Alice, segurando os bracinhos de Julia trazendo-a para mais perto.


- E eu posso mostlá ao papai e vovó?


- Bem, o seu papai ainda não chegou, mas a vovó está lá no jardim, então depois nós vamos até lá mostrar pra ela. E podemos tirar bastante foto para mostrar ao seu papai depois.


- E pla minha mamãe?


- Sim, pra sua mamãe também.


- Eu quelo titia, eu quelo – respondeu ansiosa.


- Então está bem, gostosinha – respondeu Alice, apertando a cintura de Julia, beijando sua barriguinha.


- Isso faz coquinha, titia – disse, sorrindo.


Alice gargalhou apertando Julia em um abraço. – Coisa linda da titia. “Como alguém teve a coragem judiar de você”, completou em pensamento.


Julia segurou o rosto da tia com ambas às mãozinhas, beijando uma das bochechas.


- Minha titia bonitinha – disse, com as mãozinhas ainda no rosto de Alice.


- Levanta os bracinhos para a titia tirar sua blusinha para pôr a roupinha de ballet.


Julia obedeceu, sorridente, ansiosa para pôr a roupa de bailarina. Alice tirou, também, o shortinho e as sandalinhas que ela usava. Quando Julia ficou somente de calcinha, colocou as mãozinhas na cintura e remexeu de um lado para o outro.


Alice sorria enquanto vestia nela a meia-calça depois o collant, e ao invés da saia transpassada, Julia preferiu o tutu. Alice guardou a saia na sacola para usar em outro momento. Os acessórios de cabelo, ela optou por não usar, para não estragar o penteado que Esme tinha feito mais cedo.


Antes mesmo de pôr as sapatilhas Julia correu para perto das barras e ficou se olhando no espelho, se remexendo com ambas as mãozinhas na cintura.


- Vem Julinha. A titia ainda não terminou, falta pôr as sapatilhas.


- Ô – disse ela –, a Julinha tá muito bonita, titia. Eu quelia mostlá ao papai.


- A titia vai tirar algumas fotos e você mostra a seu papai depois. Agora vem cá para pôr as sapatilhas.


- Eu tô palecendo uma bailalina. Obligada titia – com um agradecimento ela correu de volta até onde a tia estava. Sentou no chão, de frente para a tia, com as perninhas esticadas.


Alice colocou a sapatilhas nos pezinhos dela, finalizando com as fitinhas de cetim em volta dos tornozelos.


- Pronto. Que coisa mais linda que você está minha jujuba – murmurou Alice, ajudando-a ficar de pé novamente.


Julia correu novamente para perto da parede de espelho, onde ficou se olhando, passando as mãozinhas na própria roupa.


- Eu sou uma bailalina. Eu sou... Uma... Bailalina... Que sou... Bailalina – ela cantava em frente ao espelho.


Alice teve um pouco de dificuldade para ficar de pé por causa de seu pé imobilizado na botinha ortopédica. Logo se apoiou em uma das muletas facilitando seu equilíbrio. Com a mão livre ela posicionou a câmera fotográfica, em pouco tempo estava sugerindo a Julia como se posicionar diante da lente. Até a fez sentar-se no chão, e, embora Julia nunca tivesse praticado ballet, ela conseguiu fazer um espacate perfeito, o que quase matou Alice de orgulho. Entretanto, Julia conseguira apenas porque seu corpo ainda era pequenino e fácil de manipular.


Julia parecia tão feliz. Seu sorriso de covinhas herdadas não deixava o rosto pequenino um segundo sequer.


Depois de quase uma hora somente tirando fotos e ensinando a Julia algumas posições de ballet, o mínimo, já que Alice ainda não podia se movimentar muito por causa de seu pé machucado, elas foram até a cozinha tomar água. Alice aproveitou e deu um Danoninho a Julia com uma colherzinha de plástico. Quando Julia terminou pediu que fossem mostrar a Esme como ela estava.


- Titia vamo mostlá pla vovó que eu sou uma bailalina.


- Está bem, mas vamos devagar porque a titia não pode sair correndo.


- Pulque esse seu pezinho tá dodói né, titia?


- É isso mesmo Julinha.


Julia se posicionou ao lado da tia, e, juntas, foram andando devagar.


 - Titia eu goto de você muitão.


Alice sorriu. – Que bom amor, porque a titia também gosta de você muitão. Mas muito, muito mesmo.


Ambas continuaram andando até a varanda, na parte lateral da casa. Alice gritou chamando a atenção da mãe, que arrancava algumas flores no jardim.


- Mamãe.


Esme estava com luvas de jardinagem e uma pequena tesoura de poda. Ao ouvir a voz de Alice, ela ergueu a cabeça olhando na direção de onde vinha o som voz.


- Oi, filha?


- Olha mamãe, que coisa mais linda – respondeu Alice, apontando o dedo indicador para Julia de pé ao seu lado.


Esme abriu um sorriso enorme vendo seu pedacinho do céu caminhar em sua direção.


Enquanto andava Julia disse:


- Eu sou uma bailalina vovó.


- Que bailarina mais linda, amor. Vem cá, pertinho da vovó para ganhar um beijo.


Julia aumentou os passinhos, quase correndo, e ao chegar perto de Esme, abraçou suas pernas.


- Eu tô bonita, vovó?


- Está linda, meu pedacinho do céu. Sua titia tirou fotos para mostrar ao seu papai quando ele chegar?


- A titia tilou umas monte de foto pala eu mostlá ao papai e a mamãe – explicou gesticulando as mãozinhas.  


- Foi mesmo amor?! A vovó tem certeza de que eles irão amar – Esme se inclinou beijando a bochecha de Julia. – Está com cheirinho de morango a garotinha da vovó.


Julia mexeu os dedinhos um no outro ao responder. – Eu tomi um Danoninho que a titia deu pla mim. Tava na sua geladela vovó.


- Mas é seu amor. E estava gostosinho?


- Aham – respondeu.


Esme retirou as luvas de jardinagem e pegou Julia no colo.


- Que bom amor.


- Titia vai siná eu dançá oto dia, quando o pezinho dela não tivé mais dodói.


- Sua titia vai ensinar sim, amor – Esme beijou as bochechinhas de Julia antes de colocá-la de volta ao chão. – Fica lá com a titia porque a vovó precisa terminar de recolher as flores para fazer um arranjo bem bonito.


- Tá bom vovó.


Julia saltitou antes de voltar correndo para perto da tia, na varanda. Esme ficou observando elas entrarem em casa novamente. As duas foram juntas à sala de TV, onde Julia sentou-se no sofá e pediu para ver um desenho. Alice ligou a TV e deixou no Discovery Kids.


- Julinha você fica assistindo desenho que a titia vai tomar um banho, tudo bem gostosinha?


- Tá bom titia. Vai tomá banhinho e ficá cheilosa – sorriu.


- É a titia vai ficar bem cheirosa. Fica aí tá amor. Qualquer coisa chama a vovó lá no jardim ou a Dora, na cozinha.


Antes de sair Alice deu um beijinho na testa de Julia. Julia ficou observando até a tia sumir de vista, depois recostou a cabecinha em uma almofada e ficou com os olhos vidrados na tela da TV.


Minutos depois o telefone fixo tocou, na mesinha ao lado do sofá. Julia olhou para um lado e para o outro, para ver se aparecia alguém para atender a chamada. Na cozinha, a empregada iria atender, mas o telefone parou de tocar assim que ela chegou perto, então desistiu, achando que um dos patrões tivesse atendido. No entanto, Julia foi quem atendera.


- Aiô!


Do outro lado da linha, mais precisamente, em San Diego, Rosalie estava sentada na varanda da casa dos pais, usando o telefone sem fio. Naquela tarde, após pouco mais de um mês, ela decidiu ligar para falar com Esme. Porém, para sua total surpresa, fora uma criança quem atendera a ligação. Inicialmente Rosalie arregalou os olhos, sentindo seu coração esmurrar forte o peito. No entanto, algo a fez pensar que a ligação tivesse sido direcionada a residência errada.


- Oi, docinho – murmurou Rosalie, com um sorriso gigantesco, sem ter a menor ideia de quem poderia ser a criança com quem falava. – Qual o seu nome?


- Julinha.


- Que nome lindo você tem, Julinha. Eu adoro esse nome, sabia?


Julia sorriu do outro lado da linha.


- Obligada.


- Quantos aninhos você tem, Julinha?


Julia mostrou três dedinhos sem se dar conta de que falava ao telefone, e quem quer que fosse do outro lado da linha, não poderia vê-los.


- Eu tenho assim ó – disse ela, mostrando os dedinhos.


- Ah amorzinho, a tia não está vendo. Você sabe me dizer sem ter que mostrar nos dedinhos?


Julia encarou os três dedinhos antes de falar. – Eu tenho tlês.


- Somente três aninhos, princesa. Ainda é um bebê. Fala pra titia. Você está sozinha em casa?


- Não. Tem uma vovó, e uma titia que foi tomá bainho pla ficá cheilosa.


Rosalie sorriu imaginando a fofura do outro lado da linha, e sentiu uma vontade absurda de abraçá-la.


- E o seu papai e a sua mamãe?


- O papai saiu, e ele vai tlazê um doce pla mim. Eu quelia a mamãe, mas a mamãe palece que nunca chega – respondeu, com a voz triste.


De repente Rosalie sentiu um aperto no peito e uma vontade absurda de pegar aquela criança no colo e dizer que era sua mamãe, mas, disse para si mesma que era impossível isso ser real, e, com esse pensamento, lágrimas se acumularam em seus olhos.


- Sua mamãe viajou? – perguntou curiosa, talvez para ter a certeza de que a mãe daquela garotinha não a tinha lhe deixado órfã.


- Ela foi pla longe pô isso não tem Ose.


Rosalie sentiu um frio percorrer sua espinha dorsal, lhe causando tremores involuntários.  – Não tem Ose? – repetiu, sentindo a pulsação sanguínea latejar em seus próprios ouvidos. Uma verdadeira miríade de emoções transcorrer seu corpo de maneira devastadora. – O nome da sua mamãe é Rose?


- É Ose mesmo. O papai falou que oto dia que não tivé esculo vai bucá a mamãe – respondeu tristonha.


- Oh meu amorzinho, que vontade de te abraçar. Olha, fala para o seu papai que você ama a mamãe e sente saudades dela. Quem sabe assim ele não vai buscá-la rapidinho e vocês ficam juntos novamente.


- Eu vou falá plo meu papaizinho que eu quelo a mamãe. Sabia que eu tô com uma oupa de bailalina?


- É mesmo, amor? Aposto que está linda – Julia sorriu olhando para o próprio corpinho, admirando a roupa de ballet que a tia lhe dera. – Que cor que é a sua roupa de bailarina?


- É cô de osa.


- Que linda. E foi a sua mamãe quem comprou?


- Não, foi a minha titia.


- Que titia mais legal. E você gosta da sua titia?


- Eu goto muitão.


- Aposto que ela também gosta muitão de você, coisa mais linda desse mundo. Pena que não posso te ver, muito menos, pessoalmente. Julinha, agora eu vou ter que desligar está bem?! Não quero que a sua família fique brava por você conversar com uma pessoa estranha ao telefone. Eu adorei falar com você anjinho, e desejo que sua mamãe volte logo para te encher de beijinhos e abraços. E não se esquece de falar pro seu papai que você quer ficar com a sua mamãe também.


- Tchau moça.


- Tchau princesa.


Julia colocou o telefone de volta na base e deitou-se novamente assistindo ao desenho na TV.


Enquanto isso, em San Diego, Rosalie permaneceu com o telefone nas mãos, encostado ao queixo. De repente seu coração voltou a ficar em pedaços. Se martirizando internamente com os pensamentos. Não era justo que uma mãe não se importasse a ponto de deixar uma garotinha, praticamente um bebê, para trás. Quando tudo o que ela mais queria nessa vida era ser mãe. Ter um ser pequenino o qual pudesse cuidar. Proteger, e, acima de tudo, amar.


Seus olhos se encheram de lágrimas e sem ao menos saber quem era a mãe da garotinha, sentiu raiva por deixá-la sozinha. Por fazê-la sentir sua falta. Por deixá-la a espera de seu amor incondicional.


Mais uma vez Rosalie chorou e pediu a Deus que fizesse algo por ela. Ela queria ser mãe, mas também não queria ficar mais tempo longe de Emmett.


Seu subconsciente a fez acreditar que realmente a ligação havia sido direcionada a residência errada. Nunca passou por sua cabeça que Julia estivesse se referindo a Esme, Alice, Emmett, e a ela mesma, como sendo sua mamãe. Sua mente ficou confusa. Seus pensamentos contraditórios, e então ela acabou esquecendo o real motivo da ligação e desistiu de tentar novamente.




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Notas finais do capítulo

Tão fofinha vestida de bailarina se olhando no espelho ♥ coisinha fofa da mamãe, vontade de apertar >.
Mais uma vez ela insistiu para Emmett ir buscar a Rose. E Emmett cheio de preocupação, quanto ao que Rose vai pensar.

Emmett, Julia e Rose estão mais ligados do que pensam. E esse telefonema. Coincidência ou destino?

Cometem e deixem suas impressões. Estarei esperando vocês nos reviews, combinado?

Beijo, beijo

Sill