A Gotinha De Amor Que Faltava escrita por Sill Carvalho, Sill


Capítulo 1
Capítulo 1 - Frustrações


Notas iniciais do capítulo

Primeiro capítulo, muito importante para o desfecho da história.

Estou tão feliz de está compartilhando essa fic com vocês hoje :)



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Detroit, Michigan, EUA.


O jovem empresário Emmett McCarty, vinte e oito anos de idade. Casado há cerca de três anos com a jovem Rosalie Hale McCarty, vinte e seis anos de idade. Rosalie trabalha atualmente com organizações de festas infantis. Dona de um buffet, ela tem se mostrado ótima no que faz. Sua doçura com crianças é inigualável, poderia até mesmo ser considerado um dom.


Em tão pouco tempo de casados o jovem casal já enfrenta sua primeira crise conjugal.


Desde que casaram-se que a jovem Rosalie parou com todo e qualquer método anticonceptivo, almejando se tornar mãe. Entretanto ainda no primeiro ano de casados suas frustações e seus medos só aumentavam. Rosalie Hale McCarty viu o seu grande sonho de se tornar mãe se distanciando à medida que esperava. Ao contrario do que desejava, todos os meses sua menstruação descia, destruindo sua esperança e abalando suas emoções.


Porém seu mundo ruiu mesmo quando foi dado o diagnostico de que ela era infértil. Rosalie jamais chegaria a ser mãe a menos que fizesse uma tentativa de inseminação artificial. No entanto, antes de qualquer procedimento medico, fora explicado que no seu caso o resultado talvez não fosse o esperado. Se mesmo assim estava disposta a tentar, então fora isso que ela fizera. Ela só não imaginou que seria tão desgastante ao seu emocional...


No decorrer desses três anos de casados, Rosalie fora submetida a cinco inseminações artificiais, todas elas frustradas. Angustia, choro, sensação de fracasso se tornaram constantes na vida do casal.


Então cansada de frustrações Rosalie decidiu adotar uma criança, porém, fora aí que seus problemas ganharam dimensões ainda maiores. Emmett McCarty bateu o pé se negando a qualquer custo adotar uma criança. Entretanto a história foi muito além disso...


Emmett jamais revelou os seus motivos na recusa, o que deixava Rosalie ainda mais frustrada, mas ela não deu trégua, insistia sempre nessa opção, o que vinha gerando a discórdia entre ambos.


Discussões prolongadas haviam se tornado rotina todas as noites naquele apartamento de classe alta. E o motivo era o desejo absoluto de ser mãe. O desejo de se ter um ser pequenino em seus braços, o qual pudesse ninar e amar com todo o seu coração.



[...]


Rosalie estava sentada no piso frio de um quarto vazio, que seria projetado para a criança tão desejada que não chegara a ser gerada em seu ventre. Abraçada aos próprios joelhos ela chorava após mais uma longa discussão com o marido, sempre pelo mesmo motivo.


– Eu fiz tudo o que estava ao meu alcance, Rose – esbravejou Emmett do quarto ao lado – suíte do casal.


– Não, você não fez – revidou ela em meio a um soluço e outro.


Emmett andava de um lado para o outro, irritado.


– Eu gastei uma fortuna em cinco inseminações frustradas. Estive ao seu lado em todas elas, e você vem me dizer que não fiz o suficiente? – uma veia latejava em sua testa, revelando seu estresse. – Não é minha culpa se não deu certo – no quarto do casal onde estava, Emmett sentou a cama, apoiando os cotovelos nos joelhos e ambas as mãos no rosto, totalmente frustrado com o caminho que seu casamento estava seguindo.


No quarto ao lado, Rosalie ergueu a cabeça, embora ele não estivesse ao alcance de seus olhos.


– Claro a culpa é minha – disse ela com sarcasmo. – Eu que sou a seca incapaz de gerar um filho teu – e com essa última frase seu emocional ruiu.


Emmett ficou de pé, passando ambas as mãos na cabeça. Andou até a porta e parou, ponderando se deveria ir até ela ou não. No entanto o som do choro de sua esposa o fez vacilar. Ele foi ao quarto ao lado, parou recostado ao batente da porta, e lá estava ela chorando sentada ao chão de um quarto vazio. Aquilo já havia se tornado rotina na vida do casal.


Emmett entrou no quarto a passos curtos, se aproximando devagar estendeu a mão em um convite.


– Vamos Rose, levanta daí. Esse quarto não te faz bem...


Rosalie o olhou, seus olhos transbordavam angustia e dor.


– Você é quem não está me fazendo bem – murmurou antes de passar ambas as mãos no rosto, secando assim as lágrimas recentes.


Emmett abaixou a cabeça um tanto ressentido.


– Não fale assim, Rose – pediu. – Eu tenho feito de tudo para te ver feliz... – completou não tão seguro de si.


Com essa, Rosalie ficou de pé.


– NÃO É VERDADE – gritou. Passou ambas as mãos nos cabelos e apertou os dedos finos por entre os fios dourados com força. – E sabe por que não é? – questionou irritada, andando de um lado para o outro. – Eu não posso entrar na fila de adoção porque juiz nenhum jamais me permitirá obter a guarda de uma criança já que o meu marido é contra – aproximou-se, tocando levemente o rosto de Emmett com as pontas dos seus dedos delicados. – Por favor, Emmett, vamos adotar uma criança. Já não me interessa que seja um bebê, eu só quero ter a chance de ser mãe. Me apoie nisso. Fique ao meu lado, é tudo o que te peço – suplicou com lágrimas nos olhos.


Emmett recuou dois passos, afastando ambas as mãos de Rosalie de seu rosto.


– Não me peça para fazer isso – pediu como se Rosalie estivesse convidando-o a cometer um crime. – Não estou aberto a essa opção... – com essa frase Emmett retornou a suíte do casal, deixando Rosalie sozinha novamente, sem muitas explicações.


Rosalie o seguiu batendo o pé. Entrou na suíte feito um furacão, exigindo uma explicação que fosse no mínimo coerente.


– SÓ ME DÁ UMA EXPLICAÇÃO, MAS UMA QUE SEJA BEM CONVICENTE. QUE SE ANIVELE A SEU ESGOISMO – esbravejou enquanto gesticulava freneticamente ambas as mãos.


– Eu não sou um egoísta, Rose. – ele estava de pé em frente à porta do banheiro. – Eu te amo... – murmurou.


Liberando os fios de cabelos que mantinha entre os dedos, ela respondera.


– Se me amasse o bastante me apoiaria na adoção de uma criança. Não estou te pedindo muito Emmett. SÓ O SEU APOIO – fez questão de ressaltar a plenos pulmões.


Essa fora a gota d’água para a irritação de Emmett.


– Parece que tudo o que importa para você é a porcaria de uma criança – esbravejou. – E eu fico onde em tudo isso? – questionou, com um olhar sofrido. – Seu desejo de ser mãe está ocupando todo e qualquer espaço nessa relação. Você tem me deixado de lado, Rose. Não me pergunta mais como foi o meu dia. Não se interessa em organizar e escolher as minhas roupas como quando nos casamos. Não me acompanha mais nos jantares de negócios. Há meses não me deixa te tocar – disse com saudade ressentida. – Sinto falta da mulher com quem me casei. A cuidadosa Rose que me amava. Aquela que me jurou amor diante o altar, e com nossos amigos como testemunha.


“Eu te amo”, pensou ela com fervor, porém, não teve coragem para falar em voz alta. Estava ferida demais para isso. – Me diz Emmett porque você é contra adoção? – suplicou angustiada.


Emmett cerrou os lábios em uma linha reta, alguns segundos antes de responder.


– Não suporto a ideia de ser pai de uma criança que não terá nenhum traço físico semelhante ao meu. Ou ao seu... Não pode me obrigar a aceitar isso – riu sarcasticamente. – Uma criança que nunca chegamos a conhecer já causou um abalo sísmico em nosso casamento...


Indignada, Rosalie o interrompeu.


– Acha que eu também não desejei com todas as forças uma criança que herdasse os seus traços físicos? O seu sorriso de covinhas perfeitas? Sabe quantas noites sonhei carregando em meus braços um bebezinho idêntico a você? – lágrimas voltaram a percorrer o caminho já tão conhecido em sua face. – Por algum motivo Deus me castiga me fazendo ser infértil. Seca como um deserto. Incapaz de gerar a um filho teu quando milhares de vagabundas dão a luz a todo o instante e abandonam seus bebês a própria sorte. Sem amor, sem afeto... Eu te amo Emmett, gostaria muito que não tivéssemos que chegar a esse ponto. Daria tudo para salvar o nosso casamento, mas eu também quero ter uma família. Quero sentir a doce melodia de ser chamada de mamãe. Quero ler historinhas para essa criança antes dela dormir. Quero ouvir o seu sorriso inocente durante as brincadeiras. Especialmente nas manhãs de natal onde os corações estão abertos ao amor, até mesmo os mais ranzinzas de todos. Quero presenciar a inocência de um ser pequenino que acredita em Papai Noel. Quero ver o brilho nos olhos dessa criança ao acreditar que a fada do dente levou o seu primeiro dentinho de leite e lhe presenteou em troca. Quero fazê-lo acreditar nos sonhos e no amor...


Emmett bufou contrariado.


– Você quer fazê-lo acreditar em bobagens – disse com desdém.


– Nada disso é bobagem, Emmett. É sustentar a inocência de uma criança. De um ser inocente. Alguém que depende de você para se tornar um adulto com caráter. Aposto que seus pais fizeram tudo isso por você... Como pode agir assim?!


Emmett passou uma das mãos sobre os cabelos, se sentindo frustrado.


– Me perdoa amor. Eu não sei mais o que estou falando. Estou confuso, me sinto perdido. Até nossas brigas começarem eu nunca tinha me sentido assim antes. Eu só quero você, Rose – estendeu os braços para abraçá-la, mas Rosalie recuou.


– Vamos dar um tempo, Emmett – disse ela encarando o chão.


– O QUÊ? – questionou exaltado. – Não Rose, meu amor... – agora ele parecia um garoto perdido mendigando amor.


Rosalie se afastou ainda mais.


– Eu vou sair de casa Emmett, mesmo que você não queira. Quero que pense bem em suas atitudes. Será que é tão difícil assim para você ter alguém te chamando de papai?! O quão horrível pode ser isso aos seus ouvidos? Me diz?!


– Você não pode me deixar – sussurrou. – Não vai sair de casa, Rose – dessa vez ele esbravejou com irritação.


– Por favor, Emmett, não torne as coisas ainda mais difíceis.


Emmett andou de um lado para o outro, maneando a cabeça propositalmente, prova clara de sua irritação. Seus instintos foram mais fortes, ele aproximou-se da esposa e a tomou em um beijo forçado. Rosalie não aprovou a atitude do marido, e, relutou exigindo sua liberdade momentânea. Com dificuldade ela conseguiu se afastar, deixando Emmett com a mão direita estendida no ar.


– Vou deixá-lo sozinho para que reveja os seus conceitos, sobre se ter uma família. Não pode me obrigar a desistir do maior sonho de minha vida. Vou lutar por isso custe o que custar. Eu vou ser mãe, Emmett, com ou sem o seu apoio. Vou resgatar uma criança do abandono e vou amá-la como se essa tivesse sido gerada dentro de mim – virou-se de costas para Emmett, indo em direção ao closet onde começou a reunir alguns objetos de uso pessoal, e logo depois buscando uma mala.


Emmett a seguiu. Dentro do closet ele a puxou por um dos braços, fazendo-a derrubar alguns objetos ao chão.


– Não faça isso, Rose – pediu ele, controlando sua raiva ao máximo. – Não pode fazer isso comigo. Você é minha esposa e eu não quero me separar de você – Rosalie sacudiu o braço em uma tentativa de se afastar, mas Emmett não a libertou. – Para onde você vai? – exigiu, levando sua mão livre ao rosto dela, tentando beijá-la, mas Rosalie, no entanto, foi categórica em suas ações e palavras.


– Não estou te pedindo o divorcio, Emmett – disse ela com rancor. – Só estou te pedindo que reveja os seus conceitos.


– Isso não é certo – revidou ele.


– O que não é certo é você ser tão egoísta – rebateu, afastando os cabelos que insistiam em lhe cair ao rosto.


Se retirou do closet arrastando duas malas, além de sua bolsa, que levava ao ombro. Emmett ficou meio sem saber como agir diante a afirmativa da esposa. Então ele saiu do closet, passando a frente dela, barrando assim sua passagem para sair da suíte.


– Me deixa passar, Emmett – exigiu, porém, por trás de sua segurança havia uma vontade imensa de chorar. Havia uma fraqueza camuflada pelo desejo absoluto de ser mãe.


Emmett a olhou intensamente no fundo dos olhos.


– Não vou deixar que saia do nosso apartamento sem saber onde posso te encontrar. Não adianta Rosalie McCarty – ele fez questão de frisar o sobrenome de casada para que ela entendesse que mesmo que se negasse seria sempre sua esposa.


Rosalie respirou profundamente, erguendo a cabeça para o teto de gesso branco. Então voltou a olhá-lo, evitando ao máximo algo mais intimo.


– Estou indo para a casa dos meus pais. Preciso ficar um tempo com a minha mãe...


Emmett a interrompeu sem reservas.


– Mas a sua mãe mora em San Diego?! – disse ele, um tanto quanto surpreso. Esperava que ela fosse para um hotel ali perto e não para San Diego.


– Nada que uma passagem de avião não resolva – respondeu com descaso. – Dependendo de como nossa situação fique, talvez, eu mande alguém vir buscar o restante de minhas coisas...


– Rose... – murmurou com a voz fraca. – Você está me punindo – disse ele, com os olhos marejados de lágrimas, liberando a passagem para que Rosalie se retirasse da suíte.


Ela seguiu em direção à saída, e Emmett ia logo atrás, parecendo um garoto perdido. Rosalie saiu do apartamento e chamou o elevador sem se importar que ele a seguia de perto.


Emmett pigarreou, engolindo o nó que se formara em sua garganta.


Ao entrar no elevador Rosalie dissera.


– Você precisa ficar sozinho, Emmett...


Ele maneou a cabeça com frustração.


– Eu preciso é de você, Rose... – murmurou, se sentindo desprezado. – Fica comigo, Rose – pediu. Seu olhar lembrava um garotinho assustado. – Perdoa e volta pra mim...


Rosalie ignorou seu pedido angustiado. Enquanto as portas do elevador se fechavam ambos trocavam olhares com amor ressentido.


E quando as portas enfim se fecharam, Emmett chorou. Chorou feito um garoto. Chorou porque não queria perder a mulher que ama. Chorou porque sua vida estava agora de pernas pro ar. Chorou porque o seu passado o condenava.


Sem Rosalie nada seria igual...


Dentro do elevador não fora diferente. Rosalie chorava sem reservas. Seu coração estava destroçado. Seus sonhos de uma família feliz estavam indo por água abaixo. Não queria perder o homem de sua vida, mas também não queria perder a única chance que a vida estava lhe oferecendo para realizar seu sonho de ser mãe.


Com Emmett se negando seria impossível que lhe cedessem a guarda de uma criança. Ela precisava fazê-lo repensar, e se ele não mudasse de ideia, tentaria uma adoção mesmo como mãe solteira. Seria bem mais difícil e levaria muito mais tempo, mas Rosalie estava disposta ir até o fim.


Emmett precisava perceber que se ter uma família era bem mais que ser apenas um casal, e a própria vida iria lhe provar isso.


[...]


Um mês depois...


Emmett estava deitado em sua espaçosa cama de casal, que sem Rosalie ao seu lado para dividi-la já não era mais tão acolhedora. Entediado pensando na bagunça que sua vida havia se tornado na ausência da esposa, foi interrompido pela campainha. O som incomodou um pouco sua cabeça que doía de forma persistente, fruto de mais uma ressaca, após mais uma noite nos bares ao lado dos amigos.


A ausência de Rosalie em sua vida estava fazendo-o agir de forma inconsequente. Esquecendo-se de suas responsabilidades, deixando de lado o próprio cargo na empresa da família. Uma rede de hotelaria, localizada no centro financeiro de Detroit ao lado oeste da sede mundial da General Motors.


Emmett saiu da cama com a maior cara de ressaca, andando arrastando os próprios pés. Passou ambas as mãos na cabeça, que latejava de maneira incomoda. Andou pelo extenso corredor, esbarrando em um objeto de decoração. Atravessou a grande sala de estar que tinha uma grande parede de vidro com uma vista privilegiada, indo em direção ao hall de entrada. Uma vez lá, abriu a porta e virou as costas sem ao menos olhar para a pessoa que estava por trás dela.


– Emmett McCarty o que pensa que está fazendo com sua vida? – ecoou a voz de Esme, sua mãe. Ela deu alguns passos, entrando assim no hall. Murmurando alguns lamentos ela seguiu apartamento adentro, sem ao menos se dar conta de que seu filho estava usando apenas uma cueca boxer vermelha. – Olha para esse lugar – esbravejou ela, gesticulando em torno da sala de estar, que se encontrava sem um feixe de luz do dia. – Escuro e sem vida – completou enquanto andava em direção a grande parede de vidro, abrindo todas as cortinas de seda, permitindo assim a entrada da luz solar.


Quando voltou a olhar para o filho, ele se encontrava de pé no meio da sala, segurando uma almofada em frente a suas partes intimas, escondendo assim sua meio nudez.


– O que você está fazendo com sua vida, filho? – questionou com o olhar carregado de preocupação. – Você é um homem brilhante com um bonito e longo futuro pela frente, e está se perdendo na irresponsabilidade. É assim, agora todas a noites você sai para beber e esquece-se que tem responsabilidades. Seu pai e seu irmão precisam de você na empresa. Há uma pilha de documentos esperando por sua assinatura e seu consentimento. Até onde você acha que isso vai te levar? – questionou com autoridade que só uma mãe tinha.


Emmett abaixou a cabeça, um tanto envergonhado.


– Estou afogando as minhas magoas mãe. Tentando aceitar o fato de que minha esposa me deixou sozinho apenas por um capricho. Me deu um pé na bumba sem ao menos se importar com o que eu sentia por ela – respondeu ao passar a mão livre sobre a cabeça.


– Ela não te deu o pé na bumba, como diz você. Meu Deus olha só o que me fez falar – murmurou como se tivesse dito o pior dos palavrões. – Rosalie apenas deu um tempo na relação de vocês que andava muito conturbada. Vocês brigavam todos os dias porque você não estava disposto a ceder um desejo dela. O que você chama de capricho ela chama de o sonho de uma vida.


– Você a defende, mãe – resmungou. – Eu fui buscá-la duas vezes dentro de um mês, e ela o que fez? Me escorraçou como se eu fosse um vagabundo qualquer. Ela não dá a mínima para mim.


– Ela está magoada, filho. Por Deus tente entender. Dê tempo ao tempo, tudo isso vai passar.


– Eu fiz tudo por ela, mãe. Gastei o que foi preciso em cinco inseminações, mas nenhuma foi sucesso. Afetava-me vê-la tão angustiada. Vê-la chorar durante as madrugadas. Sempre que sua menstruação descia o desejo de ser mãe era destruído. E isso a deixava com os sentimentos a flor da pele. Você sabe disso mãe...


– Sim, eu sei filho. Mas ainda assim lhe dê um tempo. Ela vai voltar.


– E se nesse tempo ela decide que quer o divorcio definitivamente? Eu estou lascado, não sei viver sem aquela mulher...


– Rosalie não fará isso, filho. Ela te ama demais, não é possível que duvide.


– Não estou certo disso, mãe. Parece que tudo o que importa para a Rose é a porcaria de um filho.


Emmett falou o que queria, e em troca, recebeu o que não queria. Esme lhe deu um tapa no braço, e devo ressaltar que ela usou de força.


– Por acaso você e seus irmãos são para mim e para seu pai uma porcaria? – questionou com grande irritação. – Acha mesmo que o amor que tenho por você e seus irmãos é baseado em um sentimento de porcaria? – Esme estava incrédula diante as palavras do filho.


– Não foi isso o que eu quis dizer, mãe – resmungou em sua breve defesa.


– Mas foi o que deu a entender. Pense bem no que você vai falar para não magoar as pessoas que te cercam. É por isso que sua esposa está magoada, você fala sem se preocupar como vai soar aos ouvidos de quem ouve. – Vai tomar um banho agora mesmo Emmett, se não quiser apanhar depois de velho. Vá jogar no ralo essa sua ressaca, não faça o seu pai sentir vergonha de você. Volte para a empresa e seja o homem o qual criamos você para ser.


– Eu não sou velho – queixou-se.


– Emmett McCarty vai para o banho agora – ordenou. – Eu vou passar um café bem forte para você tomar, e, por favor, vê se quando retornar esteja de forma apresentável.


Emmett seguiu em direção a grande suíte, como se fosse apenas um garotinho sendo repreendido pela mãe. Assim que virou de costas para ela, mudou a almofada de ângulo, tentando esconder sua meio nudez.


Esme sorriu consigo mesma da atitude do filho ao tentar esconder sua cueca, e assim ela seguiu em direção à cozinha. Entretanto seu sorriso deu adeus assim que ela entrou no cômodo. Suspirou pesado, frustração retornando ao ver o estado em que a grande cozinha se encontrava. Havia uma quantidade enorme de louça suja sobre a pia e balcão. Muitas embalagens de comidas prontas, espalhadas por todos os lados.


– O que farei com você, filho? – resmungou mais para si mesma que para Emmett, que nem ali se encontrava.


Maneou a cabeça, dando inicio a uma breve organização da louça suja na maquina de lavar. Deu inicio ao processo de lavagem da louça e foi ligar a cafeteira para passar um café bem forte. Recolheu todas as embalagens de comidas e jogou na lixeira de aço inoxidável que ficava logo ali ao lado do balcão.


Enquanto concluía uma parte da bagunça, Emmett entrou na cozinha. Seus cabelos estavam úmidos, e estava agora devidamente vestido. Sentiu-se envergonhado ao notar que sua mãe organizava parte de sua bagunça. Sentou-se em um dos bancos altos em frente ao balcão onde permaneceu em silêncio.


Esme o olhou de soslaio enquanto servia duas xicaras de café fumegante. Estendeu uma para o filho por sobre o balcão.


– Bebe, e sem reclamar – disse ela.


– Obrigado, mãe.


Segurando sua xicara de café, Esme sentou-se no banco ao lado.


– Filho eu sei que você está chateado e que sente muito a falta de sua esposa – Emmett suspirou ao ouvir a palavra esposa. – Mas se eu voltar aqui e encontrar essa cozinha, ou qualquer outra parte desse apartamento em pura desordem, meramente por desleixo de sua parte, eu juro que vou te bater e te pôr de castigo, mesmo você já sendo um homem feito. Está me ouvindo?!


– Sim, mamãe – respondeu mantendo a cabeça baixa, após um gole de seu café.


– Você não irá morrer se puser a louça para lavar, e, eventualmente ligar para a diarista pedindo que venha limpar o apartamento. Não é porque a Rose não está aqui que você tem que deixar o apartamento em decadência.


– Tudo bem, eu farei isso – disse ele, agora, encarando o liquido fumegante em sua xicara.


– Ótimo, faça isso. Estarei de olho em você Emmett – ela deu seu último gole de café e ficou de pé. – Bem, eu preciso ir. Vou buscar a sua irmã na fisioterapia.


– Como ela está?


– Está triste porque vai ter que ficar alguns dias sem praticar ballet. Cheia de vontades também, seu pai está mimando-a como se ela tivesse apenas cinco anos de idade. E ela está adorando todo esse mimo.


Emmett esboçou um leve sorriso que quase chegara a revelar suas covinhas, que há dias estavam escondidas.


– Tinha que ser o papai, mimando a sua princesinha – murmurou.


– O que? – disse Esme, com um sorriso. – Ela é a minha garotinha.


– Mãe a Alice já tem dezessete anos.


– Exatamente, ainda é um bebê. E você, mesmo com vinte e oito, ainda leva uns petelecos da mamãe aqui se for o caso. Agora eu vou indo, ou do contrario, ela estará com um bico enorme por conta do meu atraso. Amanhã quero vê-lo na empresa trabalhando assim como seu pai e seu irmão, e nada de sair para beber essa noite. Estarei de olho Emmett – ela reforçou, fazendo sinal com os dedos, como se dissesse “estou de olho em você”. – Se cuida filho e vê se almoça.


Emmett ficou de pé e acompanhou a mãe até o hall do elevador, uma vez que morava na cobertura o hall era exclusivamente seu.


– Não seja cabeça dura, meu filho. Não perca a mulher que ama por um mero capricho seu – inqueriu Esme antes que as portas do elevador se fechassem.


Emmett retornou ao interior do apartamento, aproximou-se da grande parede de vidro onde ficou por alguns instantes apenas observando a vista. Ali ele notou quando o carro de sua mãe entrou na avenida movimentada e sumiu em meio ao transito caótico. Com um olhar cansado ele se afastou da parede de vidro indo pegar o telefone sem fio na base, discando assim o número de sua esposa Rosalie.


A ligação estava sendo direcionada normalmente. Chamou uma, duas, três vezes e nada de Rosalie atender. Isso o deixava tão irritado.


[...]


San Diego, Califórnia.


Rosalie segurava o aparelho celular por entre as mãos, com lágrimas nos olhos. Uma verdadeira miríade de sensações a dominava desde que decidira dar um tempo na relação.


Sentia uma falta absurda de Emmett McCarty, mas precisava fazê-lo passar pela privação de não ter por perto a presença de quem ele mais deseja. Quem sabe assim ele revisse os seus conceitos e deixasse de lado o egoísmo intransigente.


– Eu te amo Emmett, não imagina o quanto me dói ter que fazer isso, mas não voltarei para casa até que você se decida – falou consigo mesma. Sem que se desse conta estava chorando novamente. A saudade era absurdamente insuportável, no entanto, tinha que lutar contra isso.


Recostada ao batente da porta, sua mãe, a senhora Hale, observava com preocupação materna a tristeza da filha.


[...]


Detroit


Emmett tentou por mais duas vezes consecutivas e ainda assim ela se recusou a atendê-lo. Irritado ele atirou o telefone sem fio em um dos sofás quadrangular, de cor branca, que ocupava sua sala de estar.


– Não vou mais te procurar, Rosalie – resmungou consigo mesmo. – Se ainda me quer voltará por conta própria... Depois não venha reclamar quando eu buscar em outras mulheres o que não tenho em casa. E não estou me referindo somente a sexo não – continuava resmungando como se Rosalie pudesse ouvi-lo.


Jogou-se no sofá com a postura desleixada. Completamente largado, ficou pensando em Rosalie por alguns instantes até que o telefone sem fio tocou duas vezes seguidas. Ele atendera somente na segunda ligação. Onde foi informado que precisava ir com urgência até a empresa, pois alguém o esperava e parecia ser de extrema importância.


Emmett quis saber do que se tratava antes de sair do apartamento, mas sua secretaria não deu muitas informações, uma vez que a pessoa que o procurava dissera que só falaria pessoalmente. Apenas dissera que o assunto era delicado e envolvia o passado de Emmett McCarty.


Emmett ficou de pé às pressas, acreditando que fosse Rosalie de volta a Detroit. Talvez por isso ela não atendera a sua ligação. Entretanto ele pensara; por que diabos ela iria até a empresa e não ao apartamento de ambos? O divorcio. Talvez, fosse isso.


Emmett bufou irritado se dirigindo ao hall, onde pegou sobre a mesinha de vidro as chaves do carro. Estava disposto a gritar com Rosalie que jamais assinaria o maldito divorcio se fosse isso o que ela buscara. Que para ela conseguir isso seria somente da forma mais difícil possível.


E para provar que era o dono da situação a tomaria em um beijo forçado. A levaria para sua sala e a amaria sobre sua mesa de trabalho, faria sussurrar o seu nome enquanto pedia para voltar.


McCarty estava disposto a usar de força bruta para trazê-la de volta para casa se fosse preciso.


E nesse instante algo em seu intimo implorou para que a pessoa que o aguardava fosse nada menos que Rosalie Hale McCarty.









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Notas finais do capítulo

E aí o que acharam do primeiro capítulo?

Alguém tem uma leve ideia do que acontecerá como casal no decorrer?

Não deixe de comentar, é super importante a opinião de vocês, mesmo curtinha, não importa :) só me façam feliz.

Beijo, beijo

Sill