Mia olhou em volta. Inexplicavelmente estava dentro do Impala. Sam no banco da frente, Dean ao volante e Cas ao lado dela na parte de trás.. Todos, exceto Cas, estavam confusos.

– Espera um minuto. Como a gente veio parar aqui? – perguntou Mia.

– Cas, o que diabos está acontecendo aqui? – quis saber Dean.

– Dean, só dirija. Eu explico no caminho. – respondeu Cas.

Dean não atendeu ao pedido do anjo, que soava mais como uma ordem e o Impala permaneceu parado.

– Hey! Como assim “caminho”? Eu não vou a lugar nenhum com vocês! – disse Mia ficando preocupada com aquela situação. Tentou abrir a porta do carro, mas não conseguiu.

– Cas, nós não podemos levar ela com a gente independente do que esteja acontecendo. Ela não deveria estar aqui. Ela não faz parte disso. Nós temos que deixá-la ir. - disse Sam.

– Ótima idéia! – apoiou Mia aliviada tentando abrir a porta do carro novamente, mas sem êxito.

– Ela não vai a lugar nenhum. Ela faz parte disso mais do que vocês dois podem imaginar. - disse Castiel um tanto ríspido.

– Ok. Agora eu estou com medo. – confessou Mia sentindo seu coração acelerar. Em que tipo de confusão ela tinha se metido? Foi ao se perguntar isso, que percebeu algo evidente. – Ô meu Deus... Vocês não são do FBI de verdade, são?

Sam e Dean se olharam e Cas lembrou:

– Dean, a estrada. Nós precisamos ir. Agora.

– Não até você me dar um bom motivo para fazer isso, Cas! – impôs Dean irritado com todo aquele mistério.

– Tudo bem. Crowley está nos seguindo. Ele quer uma coisa que está em nosso poder. E vai matá-la se dermos chance para ele. - explicou o anjo.

Sam e Dean olharam automaticamente para Mia que estava visivelmente assustada. Como assim este tal de Crowley queria matá-la? Por quê? Ela nem o conhecia... O que ela fez?

O Impala começou a se mover e logo ganhou velocidade. Mia precisava saber o que significava tudo aquilo. Não era mais um daqueles pesadelos. Era real. E ilógico. Mas não podia entrar em pânico. Tinha que manter a calma se quisesse sair daquela situação viva. E pelo que entendeu, aparentemente, aqueles caras não iam machucá-la.

A morte bizarra do seu professor, o fantasma que viu no cemitério, os pesadelos que eram como premonições, aqueles caras que definitivamente não eram do FBI, todo aquele papo sobre demônios, aquele cara de sobretudo com a inexplicável habilidade de aparecer e desaparecer em questão de segundos e aquela conversa sem sentido mais cedo no seu quarto. Tudo isso tinha que significar alguma coisa. E Mia tinha que enfrentar o que quer que significasse.

– Eu tenho algumas perguntas. – começou ela se virando para Castiel – Pra começar, quem é você? Ou o quê é você?

– Eu sou um anjo. – respondeu ele calmamente.

Mia resolveu não questionar aquela resposta. Estava de certa forma aliviada por ele ter dito aquilo com uma voz calma. Bem diferente de quando ordenou que Dean dirigisse. Olhou para Sam e Dean e perguntou:

– E vocês? E não venham me dizer que são do FBI.

– Cas, isso é mesmo necessário? – questionou Dean.

– Absolutamente. – garantiu o anjo.

Sam respondeu:

– Eu sou Sam Winchester e esse é meu irmão Dean. Nós somos caçadores. Caçadores de coisas...

– Coisas sobrenaturais? – sugeriu Mia.

– Exato. – respondeu Sam.

– Então, vocês estão querendo me dizer que aquilo que eu vi no cemitério realmente era um fantasma e que esse tal de Crowley é mesmo um demônio de olhos pretos? - indagou ela ainda um pouco incrédula.

– Vermelhos. – corrigiu Castiel – Os olhos dele ficam vermelhos. É o que acontece com os demônios das encruzilhadas. Aqueles que fazem os pactos.

– Cas. – repreendeuinterrompeu Dean achando aquela explicação desnecessária.

Mia tentou retomar o raciocínio:

– Então vocês estão querendo me dizer que fantasmas, demônios, monstros e seja lá o que for existem? Existem, de verdade?

– Se servir de consolo, o coelhinho da Páscoa não existe. – respondeu Dean sorrindo com deboche.

Mia não queria discutir aquilo. Na verdade não tinha argumentos para isso. Talvez aqueles caras não fossem loucos e talvez ela não estivesse ficando louca. O fantasma que viu no cemitério não tinha sido imaginação. Os pesadelos também significavam algo. Seria burrice continuar negando o óbvio. O sobrenatural realmente existia. Se virou novamente para Castiel e perguntou:

– Hoje de manhã, o que você quis dizer com “está chegando a hora”? E agora há pouco, você disse que “eu sou parte disso”. O que isso significa exatamente?

– Estas são ótimas perguntas. – incentivou Dean que também queria algumas respostas.

– Você ainda não está pronta para saber a verdade. – avisou Castiel.

– Eu te digo que eu estou sim. - garantiu Mia.

Os dois se olharam por um longo período, até que aquela coragem que Mia sentia desapareceu e ela percebeu que estava constrangida por ficar encarando aquele... anjo.

– Cas, você pode pelo menos dizer para onde nós vamos? – questionou Sam.

– Lawrence. Kansas. – respondeu o anjo.

Sam olhou para Dean surpreso com aquela resposta e Dean parou o carro de repente. Mia se segurou para não bater a cabeça no banco da frente. Dean desceu do Impala dizendo:

– Cas, você pode vir aqui fora um instante?

Mia olhou na direção Castiel, mas ele não estava mais ao seu lado. Olhou pela janela e ele já estava do lado de fora com Dean.

– Ele realmente é um anjo, não é? – quis certificar-se Mia.

– O mais nerd deles. – respondeu Sam.

Do lado de fora, Dean perguntou:

– Cas, o que está acontecendo aqui? A entrada triunfal no cemitério? Envolver essa garota nisso? E agora Lawrence? Sério? Por que tudo isso? Por que você está fazendo isso?

Castiel ficou pensativo e visivelmente perdido. Era como se ele não soubesse exatamente a resposta para todas aquelas perguntas. Sabia por que tinha que levar Mia com eles, mas não lembrava como tinha chegado a esta conclusão. Não conseguia lembrar. Dean continuou:

– Cas, você está esquisito desde que saiu do Purgatório. Desaparecendo do nada. Voltando com respostas prontas. Por favor, diz alguma coisa que faça sentido? Por que Lawrence? O que tem lá de tão urgente e por que nós temos que levar esta garota com a gente?

– Cães do Inferno. Uma pessoa fez um pacto há quase dez anos. É isso o que tem em Lawrence. – respondeu o anjo. Em seguida olhou para Mia dentro do carro os observando e revelou – E aquela garota vai nos ajudar a matá-los.

– Eu não ouvi direito. O que você disse? - disse Dean incrédulo.

– Aquela garota, Dean, ela vai nos ajudar a fechar as portas do Inferno de uma vez por todas. - afirmou Castiel.

– E como ela vai fazer isso exatamente? - duvidou o Winchester mais velho.

Castiel olhou mais uma vez para Mia dentro do carro e depois para Dean. Então revelou:

– Ela pode vê-los.

Dean ficou sem reação por um momento. Aquilo era absurdo. Ninguém podia ver Cães do Inferno, a não ser demônios ou pessoas que tivessem feito um pacto.

Sam saiu do carro e disse para Mia:

– Espere aqui. – quando chegou perto de Dean e Cas, questionou – Caras, o que está acontecendo aqui?

– O Cas estava contando como nós vamos sacrificar a vida de uma garota inocente a convencendo de que ela está ajudando a salvar o mundo. Ele acredita que ela pode enxergar os Cães do Inferno. - respondeu Dean irritado.

– Isso é impossível. Só demônios ou pessoas que fizeram um pacto podem vê-los. - disse Sam.

– Embora ela não seja um demônio nem tenha feito um pacto com um deles, a Mia é especial. Ela pode mesmo enxergá-los. - garantiu Castiel.

– Mesmo que fosse verdade, nós não podemos colocar a vida de uma pessoa em risco, Cas. – lembrou Sam – Ela ao menos sabe desse seu plano homicida? Ela concordou com isso? - questionou ele.

Castiel ficou em silêncio por uns instantes enquanto voltava a olhar para Mia dentro do Impala e depois respondeu:

– Eu não vou permitir que nada a machuque.

– Você não respondeu a pergunta do Sammy. – reforçou Dean – Ela sabe desse plano imbecil que provavelmente irá matá-la?

– Não. Mas eu contarei quando chegar a hora. – garantiu Castiel.

– Antes ou depois dela ser rasgada por um Cão do Inferno? – indagou Dean ainda nervoso com aquele plano.

– Dean, Sam, não existe outra forma de fazer isso. Para fechar as portas do Inferno, esse é só o primeiro teste. Se vocês não conseguem fazer isso, nunca conseguirão mandar todos os demônios para o Inferno. Para sempre. - salientou o anjo.

Sam e Dean se olharam. No fundo sabiam que não teriam chance contra os Cães do Inferno se não pudessem vê-los. Se aquilo realmente fosse verdade, se Mia realmente podia ver os Cães, eles teriam uma certa vantagem. Mas por outro lado, isso a colocaria em perigo. Provavelmente ela acabaria como Jo ou Ellen. Sam cortou o silêncio:

– Cas, há cinco minutos aquela garota não acreditava em fantasmas. Como você tem tanta certeza que ela pode nos ajudar?

– Por que ela é especial. Sobrenaturalmente especial. – respondeu o anjo.

– Eu e o Sam fizemos todos os testes com ela. Ela é 100% humana. - lembrou Dean.

– Não se trata disso. Ela não é uma criatura sobrenatural. Mas ela tem sonhos que são presságios. Ela ainda não sabe, mas pessoas mortas tem tentado contatá-la através dos sonhos. Quando ela era criança, ela podia ver gente morta... - contou Castiel.

– Como em O Sexto Sentido? – sugeriu Dean.

– Eu não entendo esta referência... – respondeu Cas confuso.

– Cas, o fato dela ter essa... antena sobrenatural, não significa que ela possa ver Cães do Inferno. – expôs Sam.

– Vocês não entenderam. Ela já os viu. Há muito tempo. Só que ela não lembra disso. – respondeu Castiel voltando a olhar para Mia – E vocês não entendem por que nós temos que tirá-la desta cidade imediatamente. Então, eu pergunto, o que vocês acham que o Crowley faria com alguém que consegue ver a sua arma mais secreta e mortal?

Os irmãos pensaram um pouco e depois de alguns instantes, Dean finalmente concordou, mas ainda preocupado:

– Tudo bem, Cas. Vamos sair dessa cidade, mas assim que a gente chegar num lugar mais seguro, nós vamos ter que contar a verdade para aquela garota. E se mesmo assim, ela for burra o suficiente para aceitar correr esse risco, eu espero, para o seu próprio bem, que você realmente consiga mantê-la a salvo.

Então ele voltou para o carro seguido por Sam. Castiel também os seguiu, e quando os três estavam de volta ao Impala, Mia questionou:

– E então? Vocês decidiram quem é o macho alfa? - ninguém respondeu e ela insistiu - Sério, sobre o que vocês tanto conversavam lá fora?

Após mais um longo período de silêncio, Dean respondeu:

– O Cas está certo. Você ainda não está pronta para saber a verdade. Ainda não.

O ar parecia ter ficado pesado diante daquela resposta. Todos estavam tensos e extremamente sérios. Pelo visto Mia tinha se metido em algo muito maior do que ela imaginava. Se não estivesse tão cansada, insistiria para que eles contassem o que estava acontecendo. Mas seu corpo inteiro doía. Sua cabeça e tudo em volta parecia girar. Naquele exato momento, na noite anterior, ela estava em seu quarto se preparando para dormir após ter ficado horas na Internet. No Facebook (seu vício). E agora ela estava dentro de um carro, com um anjo e dois caçadores, indo para outro estado. E sabe-se lá o que descobriria quando chegasse lá. E ainda tinha essa história do Rei do Inferno estar atrás dela. Por quê?

De repente percebeu que sua cabeça tinha pendido para o lado e caído no ombro de Castiel. O olhou constrangida e se afastou. Será que tinha babado nele também? Espantou essa idéia do pensamento e encostou a cabeça no vidro da janela. Fechou os olhos. Dean ligou o rádio. Tocava Hells Bells do AC/DC. Abriu os olhos e olhou a estrada. Não viu nada, só escuridão. O Impala parecia voar. Flutuar. Fechou os olhos novamente.

Acordou aos gritos. Se debatendo. Cães latiam...

– Faça-os parar!!! – implorou ela.