CNK 80Q3... Uma placa de um carro. Foi a última coisa que Mia viu antes de acordar e sentar na cama meio atordoada no meio da madrugada.

— Pelo menos não foi tão ruim quanto o pesadelo da noite passada... – disse para si mesma depois de alguns instantes respirando ofegante e enquanto esticava a mão para acender a luz do abajur.

Foi quando seu pé esbarrou em alguma coisa e ela olhou rapidamente para o final da cama. O susto do pesadelo não foi nada comparado ao susto de ver aquela pessoa desconhecida sentada na sua cama, imóvel como uma estátua, olhando, aparentemente, para o nada. Muito bizarro. Antes que ela pudesse dizer ou fazer qualquer coisa, ele se virou e perguntou:

— Sonho ruim?

Em uma situação como aquela, o normal seria gritar, espernear, chutar, sair correndo ou até desmaiar. Tinha um estranho dentro do quarto de Mia, sentado em sua cama, falando com ela e, no entanto, no momento em que viu o rosto do estranho, com aquele olhar tão profundo e rosto tão sereno, Mia ficou completamente sem reação, como se estivesse hipnotizada ou sob o efeito de alguma substância desconhecida. De repente ele continuou:

— Está chegando a hora.

— Hora? Hora de quê? Do que você está falando? Como você entrou aqui? - indagou ela.

Ele franziu a testa meio confuso e disse:

— Vocês humanos tem a estranha capacidade de fazer uma série de perguntas ao mesmo tempo... Nunca me acostumei com isso...

— Humanos? - estranhou Mia.

O estranho fez que sim com a cabeça e ela perguntou intrigada:

— Quem é você?

— Um amigo. - respondeu ele após alguns instantes imóvel a observando.

De repente, Mia caiu em si e percebeu como aquilo era estúpido. Ela tinha que se defender e não ficar batendo papo com alguém que poderia ser um potencial psicopata pronto para matá-la ali mesmo.

Num gesto instintivo e rápido, ela pulou da cama, abriu a gaveta do criado-mudo, pegou o spray de pimenta e se virou para o estranho gritando:

— Bela tentativa! Não se mexa ou eu juro que...

Mas, algo ainda mais estranho tinha acontecido e ela parou de falar. O estranho invasor simplesmente havia desaparecido do quarto. Como se tivesse desaparecido no ar.

Mia ficou alguns instantes parada sem entender o que tinha acabado de acontecer. Olhou em volta. Correu e acendeu a luz do quarto. Só havia ela naquele lugar. O estranho realmente havia saído, de alguma forma, que ela não sabia explicar. Também não sabia explicar como ele havia entrado em seu quarto e por qual motivo tinha ficado ali parado, provavelmente há muito tempo, esperando que ela acordasse só para assustá-la daquele jeito e falar coisas sem sentido. Será que aquilo havia sido parte do sonho? Não. Tinha certeza que não havia imaginado aquela situação por mais que quisesse que fosse só mais um pesadelo. Eles estavam ficando cada vez mais frequentes e esquisitos mesmo...

De repente, um arrepio correu pelo seu corpo quando uma ideia passou por sua cabeça. Ela ficou olhando para a cama sem piscar enquanto tentava conter o tremor provocado pelo medo, adrenalina, o que quer que fosse aquela sensação. Se aproximou, se abaixou com os olhos fechados e afastou o lençol para que pudesse ver se tinha alguém embaixo da cama. Abriu os olhos rezando para não tomar mais um susto. Olhou embaixo da cama e para seu alivio não havia nada ou ninguém ali. Mas, um barulho ensurdecedor a fez pular de qualquer jeito em mais um susto. Só que desta vez, era só o despertador avisando que eram 6 horas da manhã. Hora de levantar e ir pra faculdade...

— Droga... – resmungou a garota indo desligá-lo e aproveitando para guardar o spray de pimenta na gaveta.

Deu mais uma olhada ao redor para se certificar de que realmente estava sozinha e em seguida foi para o banheiro. Se olhou no espelho e acabou rindo de si mesma.

— Patética... Além de pesadelos, agora você também tem alucinações, Mia? – perguntou para o seu reflexo. – Vai ver que eu estou ficando louca mesmo... – afastou os cabelos longos do pescoço e tirou um colar, na verdade uma espécie de amuleto que ganhou há alguns anos, e que sempre usava. Começou a tirar o pijama. – Bem... Mas pelo menos uma coisa não dá pra negar... Até que o estranho era bonitão. Com aquele sobretudo...

Terminou de tirar a roupa e entrou no chuveiro enquanto tentava esquecer o que havia ou não acontecido naquela estranha madrugada. E o dia estava só começando...