#Third chapter – Keeping secrets

{Lily Evans}

Pelo barulho, Tuney está mesmo fazendo coisas com Vernie. Nem na sala estou a salvo. Porque eu estou na sala e ainda sim estou ouvindo o barulho. Cadê o papai quando precisamos?

Ou melhor, por que James Potter fora existir para massacrar o meu lindo carrinho em um poste, quando eu mais preciso do meu bebê?

Man, the world is testing me.

Será que eu ligo para a Lene para ela voltar? Podíamos ir num pub, ou algo assim. Só música alta e muita bebida para me fazer tirar a imagem de Tuney e Vernon – argh, nem consigo dizer sem vomitar – transando.

Outch, as imagens estão queimando meu cérebro!

Ah. Acabei de lembrar que eu não posso chegar perto da bebida por um tempo. A última vez foi com o incidente com o meu carro, no qual, eu estava bêbada demais para pensar direito e acabei deixando o bosta ambulante – também conhecido como Potter – dirigir.

Só que ele também estava bêbado demais para fazer alguma coisa. Então, pimba!, ele bateu com tudo em um poste de luz.

Vida cruel. Vida muito, muito cruel.

Ok, já chega. Vou apelar para a moto velha do meu pai. Petúnia e Vernon chegaram lá, se é que vocês me entendem. Preciso ir embora agora.

Cadê as chaves dessa moto quando eu preciso delas? E por que eu não pensei nisso antes?

Ah, é porque eu não sou fã de motos. Sirius Black é fã de motos. Ele tem umas, sei lá, cinco motos. E tem umas que ele guarda. Sem usar uma só vez, dizendo que são “muito valiosas para tocar o asfalto nojento de Londres”.

Se bem que ele tem razão.

Bem, eu achei as chaves. Vamos ver se eu ainda lembro-me de alguma coisa. Faz anos que eu não vou nessa parte da garagem. Ou ao menos, chego perto. E nem me pergunte sobre tocar na moto.

Vai ter que funcionar. Porque parece que eles têm energia para um segundo round.

~**~

Senti a brisa no meu rosto e o cheiro de gasolina. Isso que é vida!

Ai, aquilo era uma mosca ou uma aberração que quase se prendeu no meu capacete?

Quer saber? Eu prefiro não descobrir.

O primeiro lugar em que pensei chegar fora na casa de Dorcas. Eu havia visto minha amiga apenas hoje de manhã, então eu precisava contar para ela sobre minha visitinha na tenda dos horrores.

Quem sabe ela não me dá uma força e me empresta dinheiro para eu me mudar para o continente africano? Lá não tem James Potter. Nem Marlene McKinnon.

Será que é uma boa ideia contar para Dorcas? Ela meio que não sabe guardar segredos. Não por mal, nem nada disso. Mas ela é meio desligada e acaba contando algumas coisas. Como no dia em que eu e Amos... Caham. Era um segredo de estado. Mas os Marotos acabaram sabendo mesmo assim.

Ela é sua amiga, Lily. Dorcas Meadowes não é capaz de rir de você. Nem com uma situação extremamente cômica como essa. E além disso, é tudo farsa. Nada é de verdade. Ela não vai rir de você, mas vai rir com você.

É. Eu vou contar para a Dorquitchas, já que estou extremamente perto da casa dela. Só torço para que ela não abra a boca para, não sei, Remus Lupin, por exemplo. Ela contaria qualquer coisa pra ele sem nem pensar uma vez. Ela lamberia o chão que ele pisa se ele pedisse.

Para vocês verem o quanto Dodô é apaixonada – obcecada, caham, que coceira na garganta – por ele.

Se ela contasse para Remus, Potter ficaria sabendo. Não que Remus seja fofoqueiro, mas eles são melhores amigos para sempre. Eles comentam esse tipo de coisa.

Desci da moto e deixei o capacete pendurado no guidon. A coisa mais foda em andar de moto é com certeza, o estilo que ela passa. Bad boys são simplesmente fantásticos.

Bati na porta da casa dos Meadowes. Consigo ouvir os passos das pantufas de unicórnios da minha amiga. De tanta convivência, seu som é bastante comum.

– Sirius Black, já disse para não parar a moto na frente da minha casa. E não, Remus não está aqui, se está se perguntando. Porque nós não estamos namorando. Eu queria que estivéssemos, mas não estamos e-, Lily! – caramba, ela disse tudo isso num fôlego só!

Uma das semelhanças entre mim e minhas amigas é que quando começamos a tagarelar, não paramos mais.

– Você está andando de moto? Meu Deus, a última vez que a vi andando de moto foi na garupa de Sirius, e depois James quase o matou. E Marlene ficou toda ciumenta, mesmo tentando disfarçar... – e ela continua.

Fomos até a cozinha e Dorcas me ofereceu um chá, que eu aceitei. E nos sentamos nas poltronas de sua sala, com a TV ligada no canal de séries de romance que ela assiste. Não são novelas, ela diz sempre. São séries de comédia-romântica, com um drama de vez em quando.

Para mim, isso é novela.

– Por que está aqui? Pensei que estivesse na sua casa, como de costume – acabou de me chamar de antissocial. O que eu sou, mas o mundo não precisa saber disso.

– Problemas com barulho – Dorcs não merece saber de que barulho se trata. Eu já estou traumatizada o suficiente pelas duas. Eu garanto.

Ela pareceu considerar e deu um gole em seu chocolate quente. Isso mesmo. Ela me oferece chá e fica com o chocolate só para ela. Egoísta.

– Que tal chamarmos a Lene para fazermos uma daquelas noites só de garotas? Faz um tempão que não fazemos. E não tem ninguém em casa. Meu irmão e meus pais saíram – opinou.

Eu contaria o negócio da vidente agora ou com a Marlene? Decisão fácil. Marley tentaria fazer um monte de piadinhas e acabaria confundindo Dorcas, e ela acabaria contando para Remus no dia seguinte, quando estudassem juntos, que contaria para Potter, quando eles chegassem ao próprio apartamento deles, que por acaso, é um lugar bem legal para apenas três garotos morarem juntos, ih, isso ficou gay de novo...

O que eu falei de tagarelar sem parar?

– Chame. Mas primeiro você tem que saber de uma coisa – e comecei a falar sobre o meu problema.

Quando terminei a história, Dorcas já tinha certo brilho nos olhos, que nem quando começa a falar de suas novelinhas. Esqueci-me de mencionar que ela também acredita que eu e o traste somos “almas-gêmeas”. This is totally bullshit.

– Isso é fantástico!

– É tudo de mentirinha! Esse negócio de ver o futuro não existe.

Ela fez sinal de pouco caso.

– Por que não me levaram na ascendente? – perguntou magoada.

– É vidente, Dodô.

– Ah.

Dei um tapa mental em minha testa e tomei um gole de meu café. Café me lembra do Potter. Tudo que me lembra do Potter me deixa zangada. Mas café é bom, então é uma coisa bipolar.

– Marlene simplesmente me arrastou para lá – respondi em tom de desculpas.

Dorcas assentiu e foi buscar o telefone para ligar para a dita cuja.

De repente, uma coisa veio a minha mente. E se Lene estivesse ficando com o Sirius? Nem sei por que pensei nisso. Eu acharia extremamente legal. Sirius tenta há tanto tempo, dá até dó do coitado...

Até ele começar a se agarrar com uma qualquer. Pois é.

Não me chamem de hipócrita. James Potter tenta sair comigo por zoação. Ele não gosta de mim de verdade. Talvez ele não tenha mais sua lista como no colégio, mas mesmo assim... É como se eu fosse uma espécie de desafio para ele.

Eca. Eu não quero ser desafio de ninguém, e muito menos de alguém como James Galinha Potter.

Chega de devaneios sobre esse tio. Ele não vale nem o chão que ele pisa. Acho que é essa a expressão.

Dorcas veio me dizer que Marlene está vindo. Ela vai contar a própria versão sobre o desastroso caso de vidência de Sibila Trelawney. E isso não vai prestar. Eu não estou com a mínima vontade de encarar certa pessoa amanhã. Não com Marlene do meu lado.

Vamos esperar. Acho que Dorcas vai cozinhar brigadeiro, aquele doce bom. Muito bom. Hmmm.

~**~

Lene chegou. De pijamas. Não acredito que ela desceu do carro amarelo canário dela com um pijama do Adventure Time. Isso é o cúmulo. Pelo menos, Dorcas não tem vizinhos xeretas que nem Petúnia.

Cheiro de brigadeiro. Isso é a perdição. Melhor que fazer o tchetchereretchetche.

Ok, admito. Só digo isso porque estou sem namorado e sem vontade de sair para arrumar alguém para fazer o nheco nheco comigo.

Não me julguem.

– Dorquitchaaas, você soube da novidade? – Marley...

A loira soltou um risinho, como se compartilhasse de uma piada interna. Rapidamente elas já estavam falando sobre meu casamento (!) com o bulustruco. Por que, ó céus?

Emburrei em meu canto, atacando a tigela com meu doce lindo, que é muito melhor que a companhia dessas traidoras.

– Lírios! Um buquê de lírios vermelhos... – continuavam seu papo casamenteiro.

– Eu não vou me casar com o Potter! Ele não é meu amor. Não é. Nopes. Not. Niet – gritei, já cansada de ouvir tudo aquilo.

Marley e Dorcs soltaram um suspiro. Pelo menos pararam de falar sobre o meu não-possível-casamento-com-um-desgraçado.

– Ainda em negação – concluiu Lene.

– Uma pena – lamentou-se Dorcas.

Rolei os olhos. Que belas amigas eu tenho. Como eu as amo. Elas me apoiam, me dão chocolate quente, me entendem... Que sonho seria ter amigas assim.

Voltei meus olhos para a TV, na hora em que Toby e Spencer começaram seu ato de bater o martelo. Tão bonitos... Quero um carpinteiro assim também, por favor. A domicílio. Minha cama está com uns problemas...

– E quando você vai contar para o Jay? – obrigada por me tirar de meus pensamentos Marlene!

– Nunca, dã. É só um blábláblá ridículo, James Potter não é... – repliquei.

–... “não é seu amor”. Pare com essa bobagem, Lily! É claro que ele é – desdenhou Dorcas. – Você precisa contar para ele! Ele vai adorar a novidade e...

Bufei e fiz um gesto de: “porra, cala a boca”.

– Não! Isso é segredo, estão me entendendo? S-e-g-r-e-d-o – deixei claro.

Elas reviraram os olhos e concordaram em guardar essa informação idiota. Ninguém precisa saber o porquê de eu e Lene irmos a uma vidente, e muito menos o que nós descobrimos lá.

E vai continuar assim. Sem ninguém saber. Eu espero.