In Wonderland escrita por Cigarette Daydream


Capítulo 8
Um Convite Desesperador


Notas iniciais do capítulo

Olá! A trilha sonora desse capitulo é:
Different - Acceptance
In My Veins - Andrew Belle
That's What You Get - Paramore
Enjoy,
xoxo



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 Alice ainda estava acordada, olhando para o teto de seu quarto suntuoso. A menina se sentou abruptamente ao notar que o sol começara a surgir e que não tinha dormido nada. A garota passou os dedos pelo rosto para sentir as olheiras, mas não conseguiu sentir muita coisa.

 Alice seguiu para o armário e pegou um vestido escuro qualquer, seguindo para a área de se lavar. Os olhos azuis de Alice estavam cansados, a menina havia pensado muito durante a noite, mas não via uma maneira melhor de fazer isso: Alice teria que fugir.

 Como ela poderia continuar enganando um reino inteiro? E quando ela acabasse o serviço o que ela diria? “Desculpe, dona rainha, mas isso não vai ser publicado, adivinha? Não existe nenhum jornal ou editor interessado nessa porcaria aqui”. Não, o melhor era correr para longe, e se possível, sem contar a Raphael, ele tentaria impedi-la com aquele papo de que a rainha é muito poderosa e que as pessoas devem respeita-la. Alice bufou aborrecida para idolatria do rapaz. Aquela rainha não merecia aquilo.

 A menina prendeu os cabelos em um leve coque e se vestiu, se perguntando como diabos iria sair do castelo sem um guarda ou Raphael vigiando cada um de seus passos. A melhor hora seria agora, porém a menina se sentia receosa, como se fosse perder alguma coisa saindo dali.

 Alice deu uma ultima olhada no quarto, se certificando de que não havia esquecido nada e saiu sem olhar para trás. Alice desceu as escadas cuidadosamente, sem fazer ruído, esperando não encontrar ninguém.

 A menina realmente não viu ninguém e cruzou o jardim depressa, quase correndo, quando ouviu chamarem seu nome, e logo soube que não era coisa boa, pois só uma pessoa a conhecia pelo seu verdadeiro nome e era Raphael, mas a voz não se parecia ou soava nenhum um pouco como a de Raphael.

 Alice se virou lentamente, se perguntando se deveria correr ou não. A menina ficou surpresa ao constatar que era Gabriel. O rapaz bufou irônico.

 – Sério? Você é mesmo Alice? – ele perguntou parecendo admirado.

 – Não – a menina respondeu rápido demais.

 Gabriel analisou-a com cada vez mais certeza de que ali estava uma garota que sabia lutar, ele teve essa impressão desde que a viu pela primeira vez. Se havia alguém que podia derrubar o reino era ela, mesmo que com aqueles olhos cheios de medo.

 – Eu sei reconhecer uma mentira quando vejo uma – Gabriel prosseguiu.

 – Eu não sei do que você está falando – respondeu Alice, na defensiva.

 A menina praticamente estava sussurrando, mas não percebeu. Gabriel entendeu depois de um minuto o que ela estava fazendo.

 – Então por que está fugindo? – ele apontou para bolsa de couro que Alice levava.

 – Eu estou indo ao povoado – sibilou Alice, impaciente. – E que história seria essa de eu me chamar Alice?

 Gabriel quase soltou uma risada, a menina realmente não sabia mentir sobre pressão. Ele se admirava que ela ainda estivesse viva.

 – Eu ouvi você e Raphael conversarem – respondeu Gabriel. – Se meus ouvidos não me enganaram, ele te chamou claramente de “Alice”.

 – Acho que seus ouvidos se enganaram dessa vez – a menina estreitou os olhos e se virou com a intenção de ir embora.

 – Se você for agora e não der tempo de escutar o que vou lhe contar, a responsabilidade é toda sua – ele falou dando de ombros.

 – E o que seria? – a menina se virou abruptamente. – Anda! Fala logo.

 – Antes de tudo, eu sou um membro da realeza, Alice, me trate com o devido respeito – o rapaz começou, para logo acrescentar: – Você não vai fugir.

 Alice revirou os olhos e falou: – Acho que já deixei isso bem claro, mas vou repetir: Eu não estou fugindo.

 O rapaz deu de ombros e respondeu: – Se você é Alice vai ficar e me ajudar, caso contrario, eu divulgo teu verdadeiro nome e veremos se a mocinha estará viva até o outro dia.

 Gabriel se virou e começou a caminhar de volta para o castelo pisando duro, como se o que Alice tivesse feito fosse uma grande afronta. A menina ficou em dúvida se devia obedece-lo ou não, mas... E se ele achasse que ela já havia se decidido e estivesse indo chamar os guardas?

 – Espere – gritou Alice.

 – O que foi? – ele se virou com uma expressão assassina.

 – No que eu preciso te ajudar?

 A fisionomia do rapaz se relaxou em um sorriso e ele caminhou até Alice.

 – O povo precisa de motivação para lutar – ele disse –, e você pode ser essa motivação.

 Alice prendeu a respiração e então soltou. A menina lembrou de uma vez em sua infância quando seu pai a falou que ela devia ser a motivação da casa para ficar feliz e desde então Alice havia parado de chorar e era a mais forte de todos, mas, sem duvidas, a mais infeliz.

 – E por que acha isso? – a menina despertou de seus pensamentos.

 – Você é destinada – ele disse. – Raphael não te contou?

 A menina negou com a cabeça e Gabriel suspirou.

 – Acho melhor nos sentarmos... É muita coisa para contar.

 A cabeça da menina começou a girar. O que Raphael não a contou? E por que ela era destinada a alguma coisa? Alice nem ao menos acreditava em destino! A menina se sentou antes que desmaiasse pela quantidade de informações e perguntas que seu cérebro recebeu.

***

  Raphael estava olhando para Meredith, com lágrimas nos olhos. Então era por isso que ela estava com um bom humor tão grande ultimamente? Um amante?

 Era tão irreal olhar nos olhos verdes que ele amava tanto e sentir dor ao invés do coração aos pulos, como se fosse um adolescente.

 – Desde quando? – o rapaz perguntou, olhando para o chão.

 – Desde que você partiu para a base de entrada – a moça respondeu sem rodeios. – Eu estava me sentindo sozinha.

 – E você ainda teve coragem de me receber daquele jeito quando eu cheguei? – a voz de Raphael era puro nojo.

 – Me perdoe, eu...

 – Eu nunca vou perdoar você – o rapaz falou. – Deuses, eu te amava! Como pode fazer isso comigo?

 – Essa atitude não melhora as coisas, mas se você quer saber, eu estou feliz! E sugiro que você busque sua felicidade também, eu só quero teu bem!

 – Bela forma de demostrar.

 O rapaz disse isso e saiu da casa de Meredith, seguindo para os jardins, ele precisava ficar sozinho. Raphael caminhou para os jardins se perguntando o quão idiota a cena dele chorando devia parecer. Ele não queria pensar sobre Meredith, nunca mais.

***

 Alice estava boquiaberta. Como Raphael podia ter escondido tudo àquilo dela? Desde as crueldades da rainha até o fato de ela, pelo visto, ser a destinada a fazer o reino cair? A menina se concentrou em puxar ar para os pulmões ou ia acabar desmaiando. Quando finalmente organizou os pensamentos, Alice levantou os olhos para encarar Gabriel, mas não soube o que falar.

 A menina lembrou-se das palavras de Raphael da noite passada e duas grossas lágrimas escorreram. Gabriel observava assustado e admirado. Ele esperava uma reação diferente. Talvez raiva? Mas... Tristeza?

 A menina olhou em volta e identificou Raphael observando-os do outro lado do jardim. Alice se levantou abruptamente e começou a cruzar o jardim, se sentindo derrotada e ao mesmo tempo com uma raiva inigualável. Alice parou em frente a Raphael e notou que ele havia chorando, mas esboçou um sorriso.

 – Eu tenho nojo de você – as palavras de Alice chicotearam o rapaz – Sabe de uma coisa? Proteja a rainha e a terra dela, mas isso não vai mudar todo o sangue inocente que você e ela juntos derramaram.

 Raphael ofereceu um olhar confuso a Alice e então notou Gabriel atrás dela.

 – Não acredite em tudo o que ouve – falou Raphael, ainda com uma expressão confusa.

 Alice se virou para Gabriel, que parecia estar se divertindo.

 – Eu quero ir para casa – murmurou Alice. – Não quero lutar com você e o povo, não fui feita para isso.

 – Você tem que ficar, não há opções – disse Gabriel e se voltou para o castelo.

 – O que está acontecendo, Alice? – perguntou Raphael.

 – Nada do que eu não possa lidar sem a sua ajuda – a menina falou e começou a seguir para o castelo também, mas Raphael a puxou pelos braços, a prendendo.

 – Conte agora. – ele voltou ao perfil ameaçador que tinha antes.

 – Eu preciso fazer parte do exercito do filho da rainha, ou ele conta que eu sou Alice – a menina respondeu. – Se eu ao menos soubesse o quão perigoso era revelar o meu nome, se alguém ao menos houvesse me contado.

 – Você nunca perguntou – o rapaz murmurou.

 Alice parou por um minuto, analisando a verdade do que ele havia dito. Ela realmente não havia perguntado, mas ele deveria dizer do mesmo jeito, não devia?

 – Devia ter me contado de todo jeito – a menina falou.

 – Eu sei, me desculpe, mas eu não queria te assustar! – exclamou Raphael.

 Alice olhou para as mãos presas, que estavam machucadas e para a posição de Raphael, como se fosse atacar a qualquer instante. Alice lançou um ultimo olhar sugestivo para as mãos e murmurou: – Belo trabalho, até agora.

 Raphael soltou as mãos da menina e se limitou a lançar um olhar irônico.

 – Sangue inocente que foi contra a lei – ele disse. – Só sigo ordens.

 – Bela justificativa – disse Alice, encarando os pulsos.

 – Sei que não parece, mas eu sempre fiz tudo o que pude para ser melhor, mas esse é o jeito, Alice – ele disse. – Eu não sou perfeito, e nunca afirmei ser.

 A menina suspirou sabendo que fora mais cruel do que o aceitável e levantou os olhos, para olhar Raphael nos olhos e só então se lembrou: – Por que estava chorando?

 Raphael desviou os olhos e pareceu distante por um minuto, e então simplesmente murmurou: – Depois te conto.

 Alice assentiu e disse: – Isso não muda o fato de que você mentiu.

 Raphael passou a mão pelos cabelos e disse: – Eu apenas omiti.

 – Bela diferença – a menina revirou os olhos, mas logo acrescentou: – Assim que quiser me contar o que houve, vou estar aqui para ouvir.

 Raphael assentiu e se sentou na grama, indicando que era para Alice fazer o mesmo. A menina ficou em duvida se deveria ficar ali, mas se sentou.

 – Meredith me traiu isso é o que aconteceu – disse Raphael, encarando o horizonte.

 Alice simplesmente se deitou na grama, sem saber o que dizer e Raphael imitou o movimento.

 – Então... Ela que te contou? – perguntou Alice.

 – Sim.

– Pelo menos ela teve essa dignidade – a menina franziu a expressão.

 – Muito digno.

 – Não é nojento? – perguntou a menina. – Estar com uma pessoa e trair ela? A pessoa traída devia ser bem insatisfatória.

 – Totalmente insatisfatória.

 Alice olhou para o lado, despertando de seu monólogo e encarou a expressão irônica de Raphael.

 – Não quis dizer isso – ela apenas murmurou.

 – Eu sei que não – ele riu.

 – Tá, já pode parar com essas respostas genéricas, elas me dão espaço para monologar – disse Alice.

 Raphael se limitou a dar de ombros e levantar, oferecendo a mão para Alice.

 – Ainda tenho um lugar para te mostrar, lembra? – sorriu Raphael.

 A menina assentiu e se levantou também, falando: – É muito longe? Por que se for muito longe já vou avisando que estou com preguiça...

 Raphael revirou os olhos e começou a correr: – Se você chagar antes de mim, eu te carrego na volta!

 Alice começou a correr também, mesmo que protestando. Sem dúvidas o lugar era bem longe, mas não tinha como saber, pois eles pararam tantas vezes para pegar frutas ou jogar terra um no outro que não havia como saber. Em um minuto eles inclusive atravessaram um pequeno riacho!

 Alice só poderia sugerir que eles estavam indo para o outro mundo, mesmo que o tempo tivesse passado rápido o cansaço que sentia denunciava o quanto eles já haviam percorrido.

 – Deuses! Chega, não aguento mais – disse Alice, se deixando cair na grama.

 – De jeito nenhum eu vou te trazer na volta, miss preguiça – brincou Raphael, também se deitando na grama, ao lado de Alice.

 Alice apenas mostrou a língua e perguntou: – Afinal para onde estamos indo?

 – Visitar o Grifo e a Tartaruga Falsa – respondeu Raphael.

 – Sabe... De onde eu venho animal nenhum fala – disse Alice. – É muito estranho chegar aqui e simplesmente poder conversar sobre o tempo com um Grifo.

 – Nenhum mesmo? – perguntou Raphael, distraído.

 – Nenhum mesmo – disse Alice. – Quer dizer, quase nenhum. Se você contar com o papagaio tem um, mas... Não é a mesma coisa.

 Raphael olhou distraído para a menina e se aproximou do rosto dela. Alice continuava monologando, mas ele nem ouvia mais.

 – Então, vamos? – perguntou Alice, despertando Raphael do torpor.

 – Sim, claro – o rapaz balançou a cabeça positivamente, como quem se sacode. Ele não pode sair beijando as pessoas simplesmente por que ganhou um par de chifres.


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Notas finais do capítulo

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xoxo



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