In Wonderland escrita por Cigarette Daydream


Capítulo 12
Quem Roubou as Tortas?


Notas iniciais do capítulo

Esse foi rápido, né? Ainda vai ter a parte 2, se tudo for como planejado quando eu sentar para escrever. Agora só próximo final de semana... Espero que gostem!



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 Alice não poderia encontrar palavras suficientes para descrever o que estava sentindo. Nada parecia suficiente para explicar como seu peito queimava da maneira mais doce, como seu sangue corria com uma expectativa inconsciente e como o cheiro de Raphael parecia estar em todo lugar em que ela passava. Os sentimentos a assustavam, principalmente pelo fato de que não imaginava que se sentiria segura para tentar alguma coisa desse tipo depois do que sofrera. Mas foi tão inesperadamente seguro... Se antes as atividades a ajudavam a tirar Raphael da cabeça, agora o contrário acontecia. O desempenho de Alice em qualquer coisa tinha se tornado bastante mediano. Não se interessava mais pelas lutas, os livros ou em demonstrar sua segurança para o povo. Sua mente e seu coração estavam bagunçados demais para se importar com o resto. E, sinceramente, a menina começou a ficar com medo da revolução: tinha plena consciência de que Raphael podia ser capturado ou morto no processo, e isso ficava no caminho de seus ideais.

 Já Raphael começou a se esforçar mais para demonstrar sua lealdade à rainha e merecer sua confiança, tinha como plano conseguir acompanhar o processo de procura de Alice, para ter certeza de que a menina não seria capturada e morta. Além disso, também sabia que, caso chegasse à captura, poderia usar o fato de estar nas graças da rainha para evitar a parte sobre morte. Ninguém ficou mais surpreso do que o próprio Raphael ao perceber que não havia mais volta de seus sentimentos prematuros. Ainda que o pensamento de trair a rainha o causasse arrepios na espinha, o pensamento de perder o modo como se sentia agora o deixava extremamente enfurecido, nauseado e até mesmo triste. Essa dor agoniante junta a um sentimento incontestável de felicidade era um sentimento único. E às vezes ele pensava nesse sentimento como algo que poderia ser explicado com uma palavra simples, mas não queria se apressar em conclusões. Tudo que sabia, se é que sabia de alguma coisa, é que não havia nenhum sabor, cheiro ou som que se comparasse aqueles momentos de desespero mutuo que passaram juntos. Não havia melhor palavra que desespero para explicar como dois corpos se consumiam com tal avidez; como um fosforo aceso no qual o fogo se apaixonou pela madeira. Mas não podia se dar ao luxo de gastar tempo pensando nisso, tinham maiores problemas que seu coração em andamento na corte.

 – Por quê a reunião foi convocada? Diga de uma vez! – esbravejou o coelho branco – Francamente, já estou atrasado para minha consulta com o alfaiate e, se não for nada importante, gostaria de saber logo.

 A rainha olhou para cada membro que se encontrava naquela sala e suspirou. Sabia que o que estava prestes a dizer, colocá-la-ia em sério risco de perder a coroa, mas não podia manter em segredo: seria uma questão de tempo até que descobrissem. E, se não soubessem por ela, o risco seria mais que apenas um risco. Ao chegar ao centro da sala e olhando fixamente para Raphael foi que ela revelou o corrido.

 – Alguém roubou as tortas – sua voz não demonstrou nada do medo que sentia.

 Toda a sala entrou em choque, exceto pela Tartaruga Falsa que, por não costumar ir dentro do castelo, não fazia ideia do que faria o roubo de umas simples tortas algo assim sério: – Me perdoe Majestade, mas não podemos achar novas tortas?

 A rainha apenas fechou os olhos, em sua extrema irritação com a pergunta, e esperou que outra pessoa respondesse. Não sabia nem o motivo da tartaruga real ter sido convidada, para inicio de conversa.

 – As tortas são os prisioneiros em processo de tortura, aguardando o Dia da Forca. São as pessoas que cometeram crimes contra a coroa, em sua maioria – foi Raphael quem explicou.

 – Como você sabe que alguém os roubou e não simplesmente fugiram? – perguntou o chefe dos guardas.

 – Havia um bilhete – ela respondeu. – e os guardas foram mortos por obra de veneno, ninguém dentro de uma cela conseguiria acesso a tais recursos.

 – E agora? – perguntou um nobre gordo e baixinho. – Esperamos até o ataque acontecer?

 – Defesa é, sem dúvida, uma prioridade agora – respondeu o estrategista da corte. –, mas não podemos depender completamente dela. Eu e a rainha organizamos os guardas em dois grupos: o maior defenderá o castelo e o menor, formado por alguns poucos soldados bastante astutos, investigará o ocorrido. Com a ajuda dos depoimentos de todos vocês sobre o que e quem vira no castelo ontem, talvez possamos dar inicio a algum movimento. Os servos estão sendo questionados neste momento, enquanto conversamos, estamos otimistas sobre alguma informação. É praticamente impossível entrar e sair do castelo com tanto prisioneiros sem ninguém ter visto ou ouvido nada.

 A sala se encheu de cochichos no minuto em que o estrategista terminou seus esclarecimentos. Todos se perguntavam se essas medidas realmente dariam resultados e, caso não dessem, sabiam que o próximo passo era fazer alguém de exemplo do que acontece quando se trabalha contra a coroa. E não seria nada bonito. Considerando o nível desse atentado, a rainha teria pelo menos dez servos enforcados em praça publica por suposta conspiração. Pensando que essa seria a oportunidade perfeita para se reaproximar, Raphael foi para perto da Majestade.

 – Eu gostaria de liderar o grupo de busca, Vossa Majestade – disse ele. –, penso que devemos começar a entrevistar os moradores das vilas mais próximas do castelo imediatamente, já que vai levar pelo menos cinco dias para visitarmos todas elas.

 – Eu concordo – ela sorriu –, mas imediatamente é muito cedo. Vamos esperar até o fim das entrevistas. – então acrescentou mais alto para o resto da sala: – Agora que a situação foi esclarecida, embora daqui vão. Preciso, entretanto, que entendam a importância de depor sobre a noite passada em relação qualquer coisa fora do normal e, mesmo que dentro do normal, qualquer movimento perto das tortas.

 Raphael sorriu para rainha demonstrando sua solidariedade e saiu junto aos outros nobres. Comentou com alguns deles que isso poderia acontecer com qualquer um que estivesse no comando, para disseminar a ideia e os despistou bem rapidamente. Sua mente só podia o levar para um possível responsável pelo ocorrido, e ele estava provavelmente em seu escritório no anexo. Sendo mais cuidadoso que o normal, devido ao fato de que todos estavam procurando algo suspeito, Raphael foi até o labirinto do anexo. E os guardas já o deixavam entrar sem perguntas ou outros problemas. Se sentia um agente duplo, e não gostava nada. Lealdade sempre foi seu ponto forte.

 Ao ir até o anexo, não pensou em encontrar Alice, mas ao ver que Gabriel não estava, decidiu procura-la durante o período de espera. Assim a encontrou, distraída, enquanto olhava uma grande pintura da rainha sem olhos na parede.

 – Isso é bem assustador – disse Raphael.

 – Não tanto quanto a que tem olhos – respondeu Alice provocando, para logo depois se virar para o rapaz e sorrir. – Oi.

 – Oi – ele sorriu de volta. –, eu vim tratar de um assunto urgente com Gabriel, mas ele não estava.

 – Ele foi visitar um médico – explicou Alice, deixando o sorriso desmoronar. –, Gabriel não tem se sentido nada bem ultimamente.

 Raphael parou sem ação, não sabia da doença do amigo. Se é que ainda podia o chamar assim, já que os dois tinham se afastado bastante desde que o movimento começou a ganhar proporções mais sérias do que um simples ato de rebeldia de um filho incompreendido. Antes da politica e das armações entrarem no meio, eram bastante amigos, do tipo que você conta para o bem e para o mal.

 – Eu não sabia – foi o que ele conseguiu dizer.

 – Você gosta dele – retrucou Alice. –, achei que não gostasse dele.

 – Eu não gosto disso – Raphael apontou para o chão. –, não gosto do anexo e seu propósito. Gabriel é meu melhor amigo.

 – Ele nunca me contou sobre isso – ela pegou sua mão. –, mas não precisa se preocupar. O médico que ele foi ver é ótimo, recomendado e já o tratou antes.

 O som da voz de Alice era tão consolador que não a beijar foi impossível naquele momento. A menina o beijou de volta e o abraçou. Não parecia certo se separar dele com sua clara preocupação.

 – Aconteceu alguma coisa? Você parece muito abalado, para ser só sobre o mal estar de Gabriel – ela disse.

 Uma moça passou no corredor e encarou Raphael assustada, provavelmente sem entender que ele não reportava mais tudo que sabia de volta para a rainha de copas.

 – Tem algum lugar privado onde possamos conversar? – o rapaz perguntou.

 Sendo assim, Alice o guiou até seu quarto no anexo. Era um quarto simples e a parede estava repleta de desenhos da moça, a luz ali dentro era fraca, mas em compensação tudo era bastante limpo e bonitinho. Tinha uma cômoda com repletos papéis de estratégia em analise, o guarda roupa estava escancarado e alguns livros povoavam a cama. A menina foi ajeitando, um pouco constrangida.

 – Não estava esperando visitas – ela explicou enquanto catava os livros para colocá-los no guarda roupas.

 – Eu não me importo – ele deu um quase sorriso e se aproximou da menina.

 – Achei que quisesse conversar – a voz de Alice foi sugestiva.

 – Isso pode esperar.

E então a beijou, puxando-a pela nuca, com as mãos em seu cabelo. Alice correspondeu ardentemente e deixou-o a encostar na parede. Seus beijos desceram até o busto da garota e suas mãos ágeis procuraram subir a saia de seu vestido. Suas mãos deslizavam pelas coxas de Alice lentamente, tornando a expectativa insuportável, até que finalmente seu vestido estava no chão. Ela reagiu o guiando para a cama, posicionando-o entre suas pernas. As mãos do rapaz desciam pelas suas costas, enquanto as dela deslizavam em direção a nuca de Raphael. Os beijos que ela depositava logo viraram mordidas, à medida que ela o ajudava a sair de suas roupas. Quando finalmente estavam juntos, ele pressionava Alice contra a parede, enquanto ela arranhava suas costas. Não se incomodaram se faziam barulho ou não dessa vez. Era tudo um ato desesperado, violento, urgente. Até que Alice deu seu ultimo gemido de prazer, mas Raphael ainda não estava satisfeito. Então, deixando uma trilha de beijos no caminho, levou sua boca até o membro de Raphael. As mãos do rapaz se agarravam ao seu cabelo e suas unhas arranhavam as coxas dele. Até que tinha sido o suficiente. Raphael suspirou e Alice subiu, beijando seu corpo.

 – Eu já comecei a sentir sua falta – ela sussurrou.

***

 Enquanto isso, Gabriel estava febril e ferido em algum lugar da floresta. O transporte real tinha sido atacado supostamente por opositores da rainha que nem mesmo entendiam a ironia nisso tudo. Bárbaros e ladrões. Se estivessem realmente interessados em tirar a rainha do trono, conheceriam a fama de Gabriel e provavelmente seu rosto. De algum modo, ele dera sorte: conseguiu escapar antes que acabasse morto. Mas agora não sabia onde estava e não se sentia capaz de levantar sozinho e procurar alguma ajuda. Sua consciência deslizava de sua mente, à medida que fazer planos e juntar esperanças de tornava inútil.

 Para sua sorte, outra vez, um grupo de leopardos estava passando em direção ao rio e o viram desmaiado. Com rugidos de histeria, foram procurar ajuda e o levaram para o curandeiro da região. O curandeiro era um tipo especial de pessoa. Com duzentos e tantos anos, ninguém sabia ao certo o que o mantinha vivo e ele apenas alegava que o conhecimento não podia morrer. Procurado pela coroa, o curandeiro nunca era visto a não ser que quisesse. Portanto, ao reparar os trajes reais, não sentiu medo algum: se a morte não o capturou até agora, quem conseguiria? Mas era um caso complicado o desse rapaz que ele observava. O menino devia estar morto, disso ele tinha certeza, mas não estava. É difícil tratar casos espirituais quando não se conhece a vitima.

 Os poderes do curandeiro eram algo incomum até mesmo para o País das Maravilhas, sendo assim, ele podia navegar pela mente, procurar o que ela mais deseja: encontrar o remédio da alma. O velho percebeu que vagava por uma mente ambiciosa e de muitos desejos. Mas que desejo faz a alma sucumbir? E então ele encontrou algo que podia funcionar. Veja bem, não era o desejo mais profundo do rapaz, porém o mais puro. O único que ele não havia sujado com atos que agrediam a alma. Alice. Seria essa a Alice destinada a grandes coisas que todos comentavam pelas ruas? Se a menina fosse esperta, não seria fácil encontra-la.

 Mas sendo o velho curandeiro não precisava de fato a achar. Podia mandar uma mensagem a distancia, fazer a carta chegar até as mãos da garota. Enquanto escrevia a atual situação, ele tinha a sensação de que essa Alice não era suficientemente indiferente para deixar o rapaz morrer.

***

 – Todos eles foram levados? – confirmou Alice. – Qual foi o crime dessas tortas afinal?

 – Todos foram levados e foram presos por trair a coroa, conspirar contra a rainha, desviar recursos reais... Por aí – explicou Raphael.

 – Ou seja, tudo que é feito no anexo – a menina se sentou na cama, enjoada ao pensar em Raphael prendendo pessoas como ela.

 – Eu sei que parece ruim, mas todas essas pessoas mataram alguém no caminho ou iriam matar – ele tentou se defender.

 – Agora os servos da rainha podem prever o futuro? – as sobrancelhas de Alice quase escaparam de sua testa.

 – Essas pessoas realmente são perigosas, acredite em mim – pediu.

 Alice o olhou fixamente pensando se ele afirmaria que essas pessoas são perigosas caso não fossem. Afinal, Raphael é um aliado da rainha e, embora não os denuncie, nunca será de plena confiança em relação aos assuntos da coroa. Então a menina apenas assentiu e fingiu concordar com o que foi dito. Ele também sentou na cama e deu um beijo de leve na bochecha da moça.

 – Neste ponto, nunca teremos total certeza um do outro – tentou. –, mas eu quero te deixar segura de que não pretendo lhe contar mentiras. Eu já fui cegado pela rainha, é verdade, houve uma época em que eu obedecia às ordens cegamente, sem me perguntar o que estava acontecendo por debaixo dos panos. Mas eu mudei. Antes mesmo de você chegar. Só que o fato da rainha querer a cabeça de alguém que eu sabia e via que era completamente inocente me fez acordar ainda mais. Eu ainda devo a rainha, mas sirvo a você.

 – Eu nunca entendi seu sentimento de dívida em relação à rainha – a entoação de Alice deixava claro que havia uma pergunta no ar.

 – Eu nunca te expliquei – ele desconversou.

 Alice suspirou e se levantou, colocando suas roupas. Raphael a observou pensando se valia a pena dizer algo. Sua relação com a rainha não era algo assim fácil de entender e, além disso, Alice talvez visse apenas o lado da história onde ele era vilão.

 – Eu salvei o filho dela – ele começou e percebeu os olhos azuis se voltarem para ele. – e nós dois ficamos amigos. Na época eu tinha só seis anos de idade e frequentava muito o castelo. O chapeleiro me criou e eu nunca soube dos meus pais biológicos para falar a verdade. O fato é que eu sou grato por ele ter tentado, mas aquela casa não é exatamente o lugar ideal para uma criança. Gritos e coisas atiradas... Eu vivia machucado apesar de eles nunca realmente mirarem em mim. Além de o chapeleiro esquecer constantemente de quem eu era, o que me fazia chorar por horas. A rainha me ajudou durante tudo isso e, quando eu fiz doze anos, ela me chamou para servir ao castelo, como seu guarda pessoal. Lógico que ela só queria me fazer sentir importante, para me convencer a sair de casa. Ela me ofereceu uma rota de escape. E foi a melhor coisa que aconteceu comigo em anos. A estabilidade de viver no castelo depois de anos catando louça estilhaçada da hora do chá... Eu não tinha como dizer não, mas o chapeleiro não queria me deixar ir. Então eu dei um jeito em todos os relógios da casa. Agora é sempre hora do chá, e ele não ousa sair da casa na hora do chá. – houve uma pausa. – Eu podia ir lá e dar um relógio novo para eles, mas o chapeleiro vive se metendo em confusões. Ele está a salvo lá: tomando chá.

 – Ele tem o direito de sair de lá – disse Alice. –, não pode o privar disso. Mas entendo seus motivos.

 – Não é só isso. Eu já matei pessoas, mais do que posso contar, sob ordem – Raphael olhou intensamente para a menina. –, se você procura alguém sem sangue nas mãos e de moral intacta, não sou essa pessoa. Isso sempre vai ser parte da minha história. Mas é só isso: história. Passado.

 – Isso é muito importante para se ignorar...

 – Desimportante! Não sou mais o mesmo que era – ele retrucou.

 – Mas o chapeleiro ainda está tomando chá, não está? – perguntou Alice.

 E de fato estava. Raphael não tinha resposta para isso. Não tinha um motivo coerente para ter o deixado em um looping durante os anos. Mas, nesse momento, uma carta surgiu no ar.

 – O que? – perguntou o rapaz, espantado, mas Alice já estava lendo o conteúdo.

 – É de um curandeiro do vilarejo dos leopardos – contou Alice. – Ele diz Gabriel foi ferido e está em risco de morte. Disse também que eu posso ajudar. Mas como?


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Notas finais do capítulo

E aí, o que estão achando? Primeira dr. Fazer o que? Comentem o que gostaram e o que odiaram também, ok? beijões



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