Rendendo-se escrita por Jajabarnes


Capítulo 7
Obrigada.


Notas iniciais do capítulo

Esse é um dos capítulo que eu chamo de "Bomba" hehehe
Ele é bem comprido e tem muitas informações, então, aproveitem!



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/327435/chapter/7

Susana trancou-se no quarto novamente e eu decidi sair e falar com ela quando voltasse. Liguei para Lilliandil avisando que passaria em sua casa, ao pegá-la, fomos em direção ao cinema, depois demos uma volta à beira mar. Namoramos mais um pouco e então eu a deixei em casa, comemorando internamente por ela não ter tocado no assunto casamento durante todo o encontro, mas a paz acabou logo no caminho de volta.

-Então, como vai a convivência com a sua insuportável prima? - perguntou ela.

-Ela não é minha prima. - respondi contra vontade, quando na verdade queria ter-lhe chamado a atenção por referir-se a Susana nessa forma de desdém.

-Que seja! - deu de ombros. - Ela não está dando em cima de você, está?

-O que? Não... - respondi. Num átimo, passaram em minha mente todos os pequenos momentos em que pintou um “clima” e nenhum deles foram provocados de nenhuma parte, foram acidentais. - Susana não é desse tipo.

-Rá! - debochou ela. - Ela não me engana com aquele jeitinho sonso de garota do interior.

-Já falei que ela não é assim. - repeti, paciente. - Achei que tivesse gostado dela.

-O que? Ora, como se eu fosse gostar da garota que está morando na casa do meu namorado!

Uni as sobrancelhas.

-E toda aquela gentileza que você demonstrou ter por ela? - questionei.

-Tenho que ganhar a confiança dela, oras, não posso demonstrar que estou pronta para quando ela quiser dar o bote.

Aquilo fez meu sangue ferver. Ouvir Lilliandil falar daquele jeito de Susana, agir em ataque a ela sendo que Susana era inocente a tudo isso, Susana estava sendo enganada por aquela víbora que andava ao meu lado. Inocente, Susana confiara na gentileza de Lilliandil. Senti uma revolta enorme nascendo em mim, como se eu tivesse chegado no limite com Lilliandil. E algo me dizia que na verdade eu estava prestes a ultrapassá-lo.

Mas não consegui fazer nada a respeito naquele momento. O verdadeiro estopim veio pouco tempo depois, quando chegamos à casa dela.

-Venha, Caspian, entre, papai está esperando você. - disse ela, pegando minha mão e já levando-me para a porta.

-Para que? - perguntei, fingindo não entender.

-Para falar sobre nós dois e nosso futuro. - falou como se fosse óbvio.

-Lillian, acho que já deixei bem claro que não quero pensar em casamento agora. - falei sério.

-Então é isso, não é?! - dramatizou ela. - Está óbvio que você não quer nenhum compromisso comigo!

-Por que você sempre tem que levar para esse lado? Acha que se eu não quisesse nada estaria com você até hoje? Só estou dizendo que...

-Que eu sou uma diversão. - interrompeu ela. - Não precisa continuar, Caspian, eu já entendi tudo!

-Nós estávamos tão bem e você está conseguindo acabar com tudo isso! - Não estava acreditando que ela iria começar com aquilo de novo, logo hoje que já estou de cabeça quente.

-Ah, agora a culpa é minha? - indignou-se ela. - Sou eu quem venho sustentando esse relacionamento e você não sabe o quanto isso tem sido difícil!

-Sustentando? Eu que aguento todos os seus pitis, todas as suas futilidades! Mas se é assim, Lilliandil, não se preocupe. Eu não vou mais ser esse fardo pesado que você tem que carregar. Eu não aguento mais isso! Diga ao seu pai que eu não ocupo o posto de seu namorado.

-O que está dizendo? Caspian, não, espere...! Quer saber? Vá! Vá! Tenho certeza que sua priminha inocente vai estar esperando você para lhe consolar da melhor forma possível! - berrou. Eu já seguia, mas ao ouvir isso, voltei-me para ela furioso.

-Não fale dela! - falei alto, ignorando onde estávamos e os olhares dirigidos a nós. - Eu conversei com você sobre a vinda de Susana, lhe expliquei toda a situação e você concordou. Expliquei que estava dando abrigo a ela por causa dos meus tios e você con-cor-dou! Então não me venha com esse papinho de ciúmes por que isso não tem fundamento! Susana não é assim, já lhe disse isso, mas você nunca se importa com o que eu penso ou digo! Eu não aguento mais!

Ela parecia assustada, mas isso não fez com que eu mudasse de ideia. Já era tarde para continuar com aquele relacionamento fajuto. Eu já havia lhe dado as costas e seguido em frente. Ela chamou mais algumas vezes, mas ignorei e continuei o caminho para casa.

[...]

Ao abrir a porta de casa, já a noite, e dei de cara com Pedro, vindo da cozinha para a sala com uma tigela de pipocas.

-O que está fazendo aqui? - perguntei, jogando as chaves e tirando o casaco.

-Oi para você também. - rolou os olhos com a boca cheia de pipocas, sentando-se no sofá. Engoliu. - Estava esperando você. - falou, agora mais sério.

-Por que? - tirei os sapatos enquanto ele enchia a boca com mais pipocas. - Susana ainda está lá em cima?

-Não, ela saiu.

-Saiu? Pra onde?

-Não importa. Ela está com Lúcia, então está bem.

-Algum problema, Pedro? - passei por ele em direção a cozinha, parando em frente ao balcão e pude ouvi-lo vindo atrás de mim. Ele parou de frente a mim, apoiado com as mãos no balcão.

-O que aconteceu? - perguntou.

-Do que você está falando?

-O que você fez para a Susana?

-Eu não fiz nada. - defendi-me por impulso.

-Então por que ela estava tão pra baixo?

-Pra baixo...?

-É. Nunca vi Susana daquele jeito.

-Você a conhece faz poucos dias... - desdenhei.

-Não faz diferença. - falou sério. - Ela estava triste, dava para perceber isso de longe. Ela não é assim. O que aconteceu?

-Nós... Discutimos. - resmunguei torcendo para ele não ter escutado.

-Discutiram? Por que? O que você disse para ela?

-Coisas que não devia ter dito...

-Eu não acredito! E você ainda saiu para passear sabendo que ela estava mal por sua causa?! - indignou-se.

-O que você queria que eu fizesse se ela não queria falar comigo?!

-E para quê ela iria querer?! Para você dizer sei lá mais o que para ela?!

-Hey, hey, não venha querer me dar lição de moral! Afinal, foi por sua causa que discutimos! - acusei.

-Minha causa?! - apontou para si mesmo.

-É! De onde surgiu todo esse seu interesse em relação a ela, Pedro? Se você acha que ela é como aquelas garotas com que você está acostumado, eu vou logo lhe avisando que Susana não é assim, então se você está fazendo o que eu acho que está é melhor ir parando!

-Quem é você para se meter na minha relação com Susana?! Por acaso se esqueceu do que me disse antes dela chegar? “Ótimo, pode levar ela pra sua casa, nem precisa pedir!”. Agora eu lhe pergunto, Caspian, de onde surgiu todo esse interesse em Susana? Como você mesmo disse, ela não é assim! Eu jamais trataria Susana de um jeito que ela não mereça, mas parece que isso não faz sentido para você!

-Ora, vai me dizer que você subitamente mudou de personalidade e não é mais aquele mulherengo safado de antes?! - debochei.

-O negócio é bem diferente com a Susana. - defendeu-se ele. - Ela é diferente! É especial, não é como todas as outras, você saberia disso se não a tratasse tão mal! Entendo que vocês não se davam bem quando eram crianças, mas a questão é exatamente essa, eram crianças! Ela cresceu, Caspian! Por que você não experimenta crescer também?!

Não pude responder. Não tinha o que responder. Pedro estava certo. Logo após a gritaria veio o silêncio em que ambos nos arrependíamos do que dissemos e do tom que usamos.

-Desculpe, eu não devia falar assim - pediu ele, depois de girar de vagar passando as mãos nos cabelos, apoiando-se com um dos cotovelos no balcão e pegando pipoca.

-Não, você tem razão. - falei, respirando fundo e soltando o ar ao bufar. - Eu tenho me comportado de modo infantil, não devia ter dito aquelas coisas para Susana... Acontece que... Eu não sei o que está acontecendo. Desde que ela chegou eu percebi que ela não é mais aquela garotinha, em todos os sentidos, mas... Não sei... É como se eu me sentisse vulnerável perto dela, sei lá...

Pedro uniu as sobrancelhas, como se não estivesse gostando do que ouvia.

-Acho que seria melhor aceitar que essa garotinha cresceu e é uma pessoa muito especial. Você deveria conhecê-la melhor antes de sair falando qualquer coisa para ela. - falou. - Agora eu tenho que ir. Diz pra Su que eu mandei um abraço.

E ele saiu. Deixando-me a sós com minha consciência pesada.

[…]

Quando dei por mim, abri os olhos e despertei em meu quarto. Procurei o relógio e deparei-me com altas horas. Eu havia esperado Susana na sala, mas ela não apareceu, decidi dormir e acordara agora. Sentei de vagar e caminhei para fora, fui até o banheiro onde joguei água no rosto tomando coragem, então caminhei até o quarto de Susana para ver se ela já havia chegado.

Respirei fundo parado em frente a porta, então bati suavemente na porta abrindo-a em seguida. Encontrei um quarto totalmente diferente do que eu lembrava que era, havia uma cortina fina na janela, porta-retratos coloridos sobre o peitoril da janela, uma colcha bege sobre a cama, livros sobre a mesa com um computador e um urso de pelúcia sobre a poltrona. Sorri ao reconhecer o urso que tantas vezes escondi dela. Susana estava acordada.

-Chegou agora? - perguntei fechando a porta.

-Não. - respondeu normalmente. - Faz tempo... Era pouco mais das dez e meia... - ela sentou na cama, de pijamas.

-Eu tinha acabado de subir para o quarto. - falei, sentando ao seu lado.

-Lúcia me levou para fazer compras na loja preferida dela. Ela disse que eu precisava sair. - sorriu levemente. - Pedro ainda estava aqui quando você chegou?

-Estava... - respondi. - Mas foi embora logo depois.

-Hm...

-Ele abriu meus olhos... - comentei.

-Como assim?

-Ele me fez perceber o quanto eu estava sendo imaturo. - falei. - Talvez eu ainda visse você como aquela garotinha chata que eu adorava irritar, mas na verdade a criança era eu. - falei. Ela riu um pouco olhando para as próprias mãos.

-Lúcia também conversou comigo. - contou. - Ela me disse que você estava um pouco atordoado por Lilliandil estar pensando em casamento e por ter que abrigar uma velha inimiga de infância. - ela riu na última parte. - Ela disse também que acha que deve ter sido um choque para você me encontrar depois de tanto tempo, ela acha que eu destruí a lembrança que você tinha e que acabei com todos os seus argumentos comportamentais com o qual você trataria a garotinha, deixando você indefeso. - nós rimos.

-Acho que ela não queria que eu soubesse o que ela acha a respeito disso. - comentei. Susana riu.

-Por isso eu sei que você não vai dizer nada para ela! - disse. - Mas acho que ela está certa. De certa forma foi um choque para mim, eu guardava a lembrança do garoto chato, egoísta e orgulhoso que vivia me provocando em Ermo. Então eu chego aqui e encontro você totalmente diferente, não só na aparência. - sorriu. Eu sorri de volta. - Não somos mais aquelas duas pestes irritantes que viravam a fazenda de cabeça para baixo, no fim das contas.

Não pudo deixar de rir. Ela tinha razão.

-Isso quer dizer que você me desculpa? - perguntei um pouco depois. Ela assentiu.

-Também peço desculpas. - falou.

-Quero que saiba que as coisas que eu disse... Foram todas da boca para fora, eu...

-Tudo bem, Caspian. - cortou-me ela, gentilmente.

-Foram coisas horríveis...

-Não se preocupe. Na verdade isso nem me chateou...

-Então por que você se trancou no quarto? - perguntei. Susana olhou para suas mãos e ficou em silêncio por muito tempo. Logo entendi que ela não queria falar sobre aquilo, então levantei pronto para sair.

-Tinha um cara em Ermo... - começou ela, ainda olhando para as mãos. Eu sentei novamente.

-Um cara?

-É... Eu o conheci no colégio. Ele é do tipo popular e bonitão, sabe? Ele nunca tinha me notado até depois das férias de verão do último ano, nós começamos a conversar e eu não acreditava que pudesse existir cara tão perfeito... Não demorou muito e nós começamos a namorar... Quer dizer, não dá para chamar de namoro, mas começamos a andar juntos, sabe... Só que com o tempo ele foi mudando, se tornou impaciente e agressivo. Mas eu continuei ocupando o posto de namorada, afinal eu achava que gostava dele.

-E o que aconteceu? - perguntei, cauteloso, vendo lágrimas se equilibrando nos cantos de seus olhos.

-Encontrei com ele por acaso, uma vez, quando estava voltando para casa. Ele estava bebendo com alguns amigos, mas quando me viu veio até mim, dizendo que me acompanharia até em casa, por que estava tarde. Mas ele mentiu. Não me levou para minha casa e sim para a casa dele dizendo que apenas pegaria uma coisa em seu quarto por que encontraria com os mesmos amigos mais tarde na praia... Mas como eu disse, ele mentiu, e ficou com raiva quando eu não cedi às suas investidas... Ele tentou me levar para a cama, mas eu disse não, consegui sair dali e fui direto para casa. - ela limpou as lágrimas e fungou. - Ele é do tipo que não aceita ser contrariado, sabe? Eu estava assustada e apenas mamãe ficou sabendo do que aconteceu... Eu jamais imaginaria que ele não deixaria barato, achei que tinha sido efeito da bebida e que poderíamos conversar melhor no dia seguinte, mas... No dia seguinte todos na escolha estavam sabendo de tudo, mas não do que realmente aconteceu, e sim da história distorcida contada por ele... Você sabe como é cidade pequena... Logo todos sabiam e aquelas coisas horríveis sobre mim viraram o assunto do momento... Então eu decidi vir para cá. Antes eu não queria de jeito nenhum, mas depois do que aconteceu foi a minha única saída...

E pensar que eu não queria que ela viesse, mesmo inocentemente, estaria deixando-a à mercê dos fofoqueiros de plantão em Ermo. Me senti culpado de certa forma e meu primeiro impulso foi abraçá-la. Susana retribuiu o abraço fortemente deixando as lágrimas virem enquanto eu afagava seus cabelos. Senti nascer em mim um ódio profundo por esse cara.

Abracei Susana tão forte quanto ela me abraçava, como se pedisse desculpas por não tê-la protegido, mesmo não tendo ciência do perigo e muito menos como tê-la guardado de tudo o que passou, mas de agora em diante não deixaria nada machucá-la, nem eu mesmo. Era como se as brigas, tanto as da infância quanto as recentes, nunca tivessem acontecido, como se eu descobrisse que ela sempre ocupara um lugar afetivo em meu coração.

Delicadamente, ela desfez o abraço.

-Obrigada, Caspian... Acho que eu precisava disso. - sorriu. Sorri de volta, secando a última lágrima em seu rosto com o polegar.

-Não precisa agradecer. - falei. - Se precisar de outro, eu tenho dois braços. - Nós rimos.

-Não só pelo abraço, mas por aceitar que a garota que infernizava sua vida viesse se abrigar aqui...

Sorri.

-Mas ela não é mais aquela pestinha... - acrescentei.

Ela assentiu uma vez.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Eu amei esse capítulo, particularmente falando ;)
Eu terminei há pouco minutos o capítulo 8, se tiver bastantes reviews eu posto logo ;)
Beijokas!!



Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Rendendo-se" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.