Já era segunda. Aquele fatídico dia chegara. Fui obrigado a acordar às sete horas da manhã para terminar de arrumar a casa, tarefa que deixara inacabada no domingo. Teria dado parar deixar a casa um brinco, mas Edmundo me ligou dizendo que eles iam ao cinema e perguntando se eu queria ir também. Aceitei imediatamente, me preparei ansiosamente para sair de casa, mas então ele liga de novo dizendo que não iria poder ir naquele domingo por que seus pais resolveram fazer uma visita a ele, então o cinema ficou para quarta-feira e ele fez questão de acrescentar que “Lucia fazia questão que minha prima fosse junto”...

Sim, eu havia contado a eles sobre a chegada dela na terça, e para minha surpresa, eles ficaram ansiosos para conhecê-la... Era só o que me faltava.

“- Finalmente nosso grupo terá tantas meninas quanto meninos” – disse Lúcia, sorrindo largamente. Ela era muito boa para fazer amizades.

“- É, e talvez, quem sabe, ela não coloque o Pedro na linha...” – comentou Edmundo, dando de ombros.

“- Ótimo, pode levar ela pra sua casa, nem precisa pedir!”- resmunguei de mau humor.

“- Olha que se eu gostar dela, levo mesmo!” – Pedro riu, mas não duvido que ele não esteja brincando.

Ele não sabe o favor que me faria... Afinal de contas, por que eu estou tão preocupado com o que ela vai achar se chegar aqui e encontrar a casa bagunçada? Aliás, isso não é bagunça nenhuma, é meu jeito abstrato de organização...

Larguei as roupas sujas no chão do quarto.

Se bem que... Não quero que meu tio pense que minha casa não é digna para sua queridíssima filha habitar... Ajuntei novamente o monte de roupas e desci até a área de serviço onde as joguei dentro da máquina de lavar, liguei-a e fui para a sala ver televisão enquanto esperava a maquina terminar seu serviço, era a ultima tarefa que faltava. As louças estavam limpas e guardadas, o chão varrido, os móveis polidos, o lixo – caixas vazias de pizza, embalagens de doces e etc. - estava no lixo e as roupas sujas lavando. Por segundos achei que Eliana – a faxineira. – Havia passado por ali enquanto eu estava dormindo. Mas logo ri.

Seria o castelo que receberia a princesinha do titio...

À noite, Pedro apareceu por ali.

- Wow! O que aconteceu por aqui? – questionou surpreso. – Achei que você estava sem faxineira...

- E estou. Fui eu que arrumei. – falei, Pedro me encarou como se eu fosse um gênio.

- Puxa... Parabéns. – ele seguiu para a cozinha, sentando na cadeira alta na frente do balcão. Fui para a geladeira. – Sua prima chega amanhã, não é?

- É sim. – concordei desanimado.

- Por que mesmo ela está vindo para cá? – perguntou Pedro enquanto eu abria a geladeira para pegar as latas de refrigerante.

- Para estudar. – respondi. – Ela poderia alugar um apartamento qualquer, em qualquer canto da cidade, mas meu tio acha que não é seguro para ela, que será mais seguro se morar comigo, por que eu sou de confiança já que crescemos juntos e blá, blá, blá... – respondi, pondo as latas sobre o balcão e abrindo a minha.

- Você e ela passaram a infância toda juntos, morando quase na mesma casa, disso eu sei. Vocês são primos, não? – ele ergueu as sobrancelhas.

- Não exatamente, meu pai e o pai dela são muito amigos, quase irmãos e isso nos obrigou a passar quase a infância toda juntos. – respondi.

- Então qual o problema de ela vir morar aqui? – perguntou sem entender. Tomei um gole.

- O problema... É que nós nos odiamos.

- Odeiam? Mas por quê? – questionou com ar de riso, dando um gole.

-Nunca nos demos bem. Desde pequenos, sempre fomos de opiniões diferentes, nunca concordávamos com nada o que ocasionava constantes brigas e essas brigas... Ela era muito mimada e irritante, adorava me provocar... - tomei mais um gole.

- Talvez ela não seja mais assim. - tentou ele.

- Eu estava tentando me convencer disso, mas não consegui.

Pedro riu.

- Caspian, isso é infantilidade sua. Dê uma chance a ela, talvez você se surpreenda...

- Lúcia está ansiosa para conhecê-la, não é? - perguntei.

- Está sim. - Pedro riu. - Mas me diz, como ela é?

Encarei-o.

- Por que o interesse? - questionei. Pedro deu de ombros.

- Sabe como é...

- Acho que deve se comportar. Mesmo eu não gostando dela, ela estará sob minha responsabilidade. - alertei.

- Tudo bem, tudo bem. Mas você não respondeu minha pergunta.

- Bom... Ela é chata, mimada, irritante...

- Não, isso não! Digo fisicamente.

- Ah... Tem a pele clara... Os olhos azuis claros... Cabelos escuros... Ah, não sei, não a vejo desde os doze anos!

- Hm... E quantos anos ela tem agora?

- Dezessete.

- Ela gosta de esportes?

- Acho que sim...

- Ela tem namorado?

Ele chegou na pergunta que queria. Parei abruptamente. O que era aquele interesse todo?! Não sei por que, mas aquilo me incomodou.

- Não sei. - respondi.

- Hm... Ela gosta de que tipo de filmes?

- Sei lá, talvez daquelas baboseiras românticas.

- Qual o nome dela mesmo?

- Susana.

- Ela é sua prima de primeiro ou segundo grau?

- Já disse que... Ora, mas que interesse todo é esse?! - estava começando a me irritar.

- Nada. Quero só saber mais sobre sua priminha querida. - ele deu de ombros.

- Para que? Não tem nada de interessante, vai por mim. Quer, por favor, mudar de assunto?

Ele assentiu e ficou em silêncio por um tempo.

- Ela tem o copro modelo triângulo, ou modelo violão?

- Ora, cale a boca!