Rendendo-se escrita por Jajabarnes


Capítulo 10
Negue!


Notas iniciais do capítulo

Desculpem a demora! Divirtam-se!



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Ao sair da cafeteria, fomos caminhando sob o sol ameno de fim de tarde até em casa, não era longe, o que proporcionava um bom e curto passeio. Nenhum de nós tocou no assunto referente ao fato de acharem – duas vezes - que somos namorados. Fingimos que não aconteceu, como o beijo, e eu ainda não havia decidido se evitar era a melhor opção.

Em casa, o clima não mudou muito e seguimos com a rotina. No dia seguinte, Lúcia apareceu para levar Susana às compras. A festa surpresa para Edmundo seria nesse final de semana e, pesquisando na internet, achei o presente perfeito. Quando Susana chegou com Lúcia, cheias de sacolas, mostrei-o às duas e ambas acharam uma boa ideia, sendo assim, comprei.

Pouco depois de Lúcia ir embora, o celular de Susana tocou. Estávamos fazendo um lanche na cozinha, conversando sobre a faculdade. Ela fez uma careta para o aparelho, não reconhecendo o número, mas atendeu mesmo assim.

–Alô? - perguntou ela, esperando uma resposta. Quando a ouviu, encarou-me pálida e tratou logo de interromper a ligação, abandonando o celular ao lado do seu hambúrguer.

–Está tudo bem? - perguntei.

–Era ele. - respondeu baixo.

–Como ainda pode estar com o mesmo número?! - perguntei.

–Não estou! - defendeu-se. - Eu troquei. Não sei como ele conseguiu o novo. - disse, nervosa.

–O que ele disse?

–Disse que estava em Cair Parável e queria me ver. - falou, quase apavorada. - Daí eu desliguei.

–Fique tranquila. Cair Parável é muito grande, não vai ser fácil esbarrar com ele. - tentei confortá-la, inconscientemente, estendendo minha mão e segurando a dela sobre a mesa.

Susana pareceu levar um choque e eu também. Tocar sua pele alva e macia trouxe de volta à minha mente a lembrança do beijo, mais intensa do que de costume. Meu coração acelerou. Ainda não estava acostumado com aquela sensação, ninguém nunca antes conseguiu provocá-la em mim.

Por longos segundos, não soltamos as mãos, esquecemos do telefonema e apenas permanecemos em choque. Até que, lentamente, senti sua mão deslizar pela minha, que recolhi para baixo da mesa. Susana olhou para baixo.

–Queria saber por que ele me persegue. - sussurrou.

–Ele é doente. Não se preocupe com ele. Há poucas chances de ele encontrar você aqui. - confortei novamente, certificando-me de que minha mão ficaria em baixo da mesa. Susana assentiu algumas vezes.

–Eu perdi a fome, Caspian. Vou subir. - levantou-se.

–Espera. - falei, pondo-me de pé também. Ela parou. - Você não vai lá para cima.

–Por que não?

–Por que se você for lá pra cima e ficar sozinha, vai ficar pensando nesse cara, o que é a última coisa que você ou ele merecem. Fique aqui em baixo, a gente assiste TV e você esquecesse esse filho da mãe. - sorri. - O que me diz?

Susana pensou por segundos, não resistiu e acabou abrindo um sorriso.

–Okay. - concordou. Sorri mais.

–Eu escolho o filme. - parti para a sala, ouvindo-a trazer os lanches para a mesa de centro.

Discutimos por causa do filme e, sem conseguir chegar a um acordo, acabamos vendo o que passava num dos canais fechados. Era mais uma daquelas comédias românticas bem divertidas e loucas, que nos manteve distraídos por um bom tempo. Pouco depois do início do filme, começou a chover, o que nos fez, em um dos intervalos comerciais, subirmos para vestir roupas mais quentes e na volta Susana trouxe cobertores.

O filme acabou por volta de meia-noite. A chuva seguia persistente com raios e como já estávamos caindo de sono, decidimos que já era hora de encerrar o dia. Levei os pratos e copos para a pia subindo logo em seguida com Susana à minha frente, enrolada em cobertores. Estava prestes a entrar em meu quarto, quando sua voz me fez parar.

–Obrigada mais uma vez, Caspian. - falou suave. Quando olhei, ela me encarava sorrindo.

–Pelo quê? - não pude deixar de sorrir também.

–Pelo apoio que vem me dando. - falou. - Se não fosse por você, eu estaria entocada no meu quarto com medo dele.

Sorri.

–Nesse caso, de nada. - Nós rimos.

–Boa noite, Caspian. - abriu a porta do quarto.

–Boa.

Entrei no meu, ouvindo-a fechar a porta do dela. Deitei na cama e cobri-me, ainda sentindo o sorriso em meu rosto. O que era aquilo...?

[…]

–Você está caidinho por ela! - Edmundo gargalhou. Empalideci com o coração aos saltos.

NEGUE! - gritou minha consciência, que vinha sumida nos últimos dias.

–NÃO! - falei de repente, alto, mas logo abaixei o tom, olhando para os lados para ver se alguém prestava atenção. Edmundo gargalhava. - Claro que não, de onde você tirou essa ideia?!

–Na verdade, foi a Lúcia. - ele falou, vermelho de tanto rir. - Mas eu suspeitava. - deu de ombros, mordendo seu sanduíche. Estávamos no shopping, esperando Lúcia e Susana.

–Eu não estou caidinho por ela. - rolei os olhos, como se aquela fosse a coisa mais absurda do mundo. E era, né? Tomei o milk shake pelo canudo.

Ele ergueu seu melhor olhar irônico e sorriu de lado.

–O primeiro sinal é negar. - mordeu seu hambúrguer.

–Deixe de coisa. - debochei.

–Fala sério! - pediu ele. - É claro que está! Isso está tão óbvio!

Parei.

–... É mesmo? - questionei, me arrependendo em seguida.

–Lógico! - ele gargalhou. - Se entregou, Caspian! - falou de forma normal e com plena certeza. - Só vocês que não percebem. Está nos seus olhos Caspian, quando você olha para ela, quando ela olha para você... Vocês estão caidinhos um pelo outro! - afirmou. - Quer uma prova? - desafiou. Assenti rapidamente, agarrando-me às esperanças de conseguir contradizê-lo. Edmundo indicou o lugar em volta, a praça de alimentação do shopping. - Olha para onde estamos. - pediu. - Quem veio com a gente?

–Lúcia e Susana... - falei, tentando entender onde ele queria chegar.

–É. - continuou ele, em seu tom “eu sei do que estou falando. Por que você tá errado e EU VOU PROVAR ISSO MWHAHAHAHAHA” - Eu estou esperando Lúcia. E você?

–Estou esperando a Su...

–Exatamente! - animou-se. - Agora me diga – inclinou-se para frente, em minha direção, encarando-me nos olhos. - Por que está fazendo por ela algo que eu nunca o vi fazer nem para Lilliandil? - e como toque final, ele ergueu as sobrancelhas dando seu melhor sorriso desafiador.

–Ora... - tentei. - É um favor...

–Não é, não. Ela está com Lúcia, poderia muito bem vir sem você, mas não. Você quis vir. Por que?

–Dar uma volta.

–Se você tivesse vindo dar uma volta, estaria andando pelo shopping ou em uma das salas de cinema. Mas não, você está aqui sentado e esperando, assim como o bom namorado que eu sou. - ele sorriu, limpando a boca com um lenço de papel e jogando-o amassado no prato vazio. Eu estava em choque.

–Não estamos namorando, se é o que você insinua. - estreitei os olhos, bebendo mais do milk shake só para não poder falar.

–Bem – ele encostou-se na cadeira. - Perdoe-me por acabar com todas as desculpas que você criou para si mesmo, Caspian, mas não é o que o comportamento de vocês demonstra. Admita. Você está caidinho pela Su, e eu posso ver que ela também está caidinha por você. - olhou com aquele sorrisinho torto.

–Como você pode ter tanta certeza?

–Foi assim que Lúcia e eu começamos.

[…]

Para falar a verdade, elas nem estavam no shopping. Foram até lá conosco, disseram para esperarmos por ali, eu fiquei enrolando Edmundo enquanto elas foram atrás dos preparativos para a festa surpresa dali a dois dias. Demoram muito a voltar e eu tive que ser bem convincente para fazer Edmundo desistir de procurá-las por ali.

Ele deu uma carona para Susana e eu até em casa, quando desci do carro, sem que as garotas percebessem, apontou para mim, depois para Susana e moveu os lábios dizendo “vai falar com ela”. Respirei fundo e fui para casa enquanto ele partia no carro.

Não me pergunte como, mas ele conseguiu me convencer a falar com Susana.

Você é um imbecil! Não devia ter contado a ele sobre o beijo! - gritou a voz na minha cabeça.

Eu sei, mas foi ele que arrancou de mim!– resmunguei mentalmente para ela.

Parabéns! Agora ele não vai parar até que você realmente fale com ela sobre isso! - insistiu a voz.

Talvez até seja bom falar com ela. Esclarecer de vez o que aconteceu naquele dia. Quero saber o que aquele beijo significou para ela. - confessei.

E o que significou para você?

–Eu não sei.

–Caspian...

–OK! Eu gostei! Satisfeita?!

–Já era...

Minha discussão interna foi interrompida pelos passos de Susana subindo as escadas. Iria falar com ela agora, aproveitando o fato de ainda estar encorajado por Edmundo. Antes, fui até a cozinha pegar água, mas a coragem sumiu a cada gole.

No fim, acabei não indo.

[…]

No sábado, Susana saiu assim que recebeu o toque de Lúcia. Edmundo já estava com Pedro e tínhamos que correr para conseguir terminar a decoração do apartamento dele a tempo. Corremos para lá e encontramos uma Lúcia hiperativa, nervosa e empolgada.

Levamos um tempo tentando convencê-la de que daria tempo de fazer tudo até realmente começarmos a fazer. Lúcia abriu caixas e mais caixas de pisca-piscas e penduramos todos em lugares estratégicos. Alguns ficaram pela sala e os outros levamos para o terraço. O apartamento de Edmundo era privilegiado por estar na cobertura do prédio e uma escada no fim do corredor dos quartos dava acesso ao grande terraço no qual ele fizera um belo jardim. E seria lá que boa parte das pessoas ficariam. Penduramos o resto dos pisca-piscas no postes de luz que haviam lá, semelhantes ao Lampião de Ermo, os coloridos colocamos nos arbustos que ladeavam o caminho de cascalho que serpenteava por todo o espaço ao ar livre. Tinha bancos de ferro adornados no espaço central, também pavimentado de cascalho e um pequeno coreto de madeira, localizado mais distante. A vista era incrível e a noite prometia ser estrelada.

No fim da tarde, Susana e eu voltamos para casa para nos arrumarmos a tempo de voltar e começar a receber só convidados com Lúcia. Fui primeiro tomar banho, já que Susana disse que ainda escolheria a roupa. Ela aguardava na porta quando saí do banheiro e pude ouvi-la fechar a porta antes de eu entrar no quarto. Vesti-me de forma casual com a camisa polo que eu gostava e a jaqueta de couro. Estava terminando de vesti-la quando Susana desceu. Meu coração acelerou e ainda não tinha me acostumado a isso.

Ela estava linda. Não havia como negar nem como tirar brincadeiras. Ela tinha os cabelos presos de forma frágil, com finas mechas soltas, as duas maiores encontravam-se uma de cada lado do rosto em suaves cachos. Usava pouca maquiagem, dando destaque aos lábios. No pescoço alvo repousava uma delicada corrente de ouro; usava sapatilhas modelo Oxford, um short preto curto, na minha opinião, de tecido, o que não o deixava colado ao quadril, e cintura alta. Uma blusa rosada de mangas por dentro do short. A blusa vagava pela categoria suéter, mas era bem folgada, tinha o pescoço em “V” e Susana puxou as mangas até acima dos cotovelos. De acessório, vinha uma pequena bolsa bege de alça comprida que ela trazia pendurada em um do ombros.

–Eu esperava saltos.

–Viu o chão do lugar onde vai ser a festa? Salto não combina com cascalhos. Vamos?

–Vamos.

Chegamos de volta ao apartamento antes dos convidados. Lúcia abriu a porta dentro de um vestido preto, daquele tipo charmoso: justo, mas não vulgar. Chegava a ser fofo, inclusive, e como Susana, ela usava sapatos baixos.

–Wow, Lú! Desse jeito roubo você do Ed. - brinquei. Ela riu, rolando os olhos.

–Entrem, os convidados não vão demorar a chegar. Não é muita gente, como eu já disse. Os pais do Ed vão dar um almoço em comemoração amanhã, então, eles não vem. - ela fechou a porta. - Só vem o pessoal da faculdade. Vamos apresentar Susana a eles. - sorriu.

Aquilo me incomodou, afinal, eu sabia como os caras de faculdade são. Pouco depois a campainha tocou várias vezes e logo a sala estava cheia. Apresentamos Susana a todos eles e me incomodou o fato de alguns caras ficarem quase babando em cima dela. Alguns se arriscaram a puxar assunto, mas foram interrompidos por convidados recém-chegados. Depois que todo mundo chegou, Susana ligou para Pedro avisando que podia trazer Edmundo. Fomos todos para o terraço, fechando a porta que dava acesso a ele.

Meia hora depois, Pedro chegou avisando que Edmundo estava estacionando o carro. Apagamos todas as luzes, e fizemos silêncio esperando o momento em que a porta abriria. Ouvimos passos e, finalmente, quando ela abriu, Pedro acendeu as luzes e gritamos “Surpresa!”. Não aguentei e comecei a rir da cara que ele fez. Primeiro ficou pálido feito cera, depois, vermelho de vergonha e, por último, escondeu o sorriso com a mão.

Fui até ele e o trouxe para perto de nós. Abrimos caminho para Lúcia que trazia o bolo com as duas velas acesas, não aquelas comuns, mas aquelas que soltam faíscas. Começou a música de parabéns e ao fim da mesma, Edmundo soprou as velas, beijando Lúcia em seguida. Depois que ele deu o primeiro pedaço a ela, todos se espalharam, cumprimentando-o individualmente. Susana e eu nos aproximamos.

–Eu sei que vocês estão metidos nisso até as orelhas! - acusou ele, abraçando-me.

–Fomos pegos, Su. - falei, rindo. - Parabéns, cara.

–Parabéns, Ed. - disse Susana, abraçando-o.

–Obrigado. - disse ele. Ela desfez o abraço e voltou ao meu lado, já íamos sair, mas Edmundo falou. - Hey, espera aí – notou ele. - Lúcia, olha só. - passou o braço pela cintura da namorada e a trouxe para mais perto de si, olhando para Susana e eu de forma analítica.

–O que, Ed? - perguntou Lúcia.

–Olhe aqui. - ele juntou as pontas dos polegares, deixando os indicadores em riste, formando um suposto quadro. Juntando seu rosto ao de Lúcia, pôs seu “quadro” direcionado a nós. - Diz aí, eles parecem ou não um casal? - perguntou malandro. Empalideci. Não acredito que ele estava fazendo aquilo. Pensei que Lúcia nos salvaria, mas com um sorriso mais malandro ainda, ela falou.

–Né que é mesmo? Eu já suspeitava, mas não tinha comprovado ainda. Vocês ficam lindo juntos. - sorriu.

–O que você diz, Lú? Eu diria que estão namorando e não nos contaram nada. - continuou Edmundo. Lancei-lhe meu melhor olhar ameaçador. Você está morto, Edmundo.

–Mas, Ed, seria muita falta de consideração estarem namorando sem a gente saber. - incentivou Lúcia.

–Abra o jogo, Caspian. - ordenou ele. - Vocês estão namorando. Devem estar, depois dos conselhos que eu dei e...

–Não, Ed, não estamos. - garanti, ainda fulminando-o com o olhar, entendendo tudo. Ele achava que eu tinha falado com Susana e, se estávamos bem, era por que tínhamos nos acertado.

Agora, foi ele quem me lançou um olhar fulminante.

–Você. Eu. Agora. Papo sério.


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Notas finais do capítulo

Que tal? O que acharam? Reviews? Recomendações?
Beijokas!!



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