- Não vou fazer isso só porque você quer! - Bonnie guinchou, prestes a explodir.

- Então não faça, idiota! - Retrucou Anna, fechando as mãos em punho, tentando se controlar para não acertar um soco no rosto da amiga (ou ex amiga).

- Não me chame de idiota! - Eu e Caroline nos entreolhamos, impacientes, com aquela briga infantil entre as duas.

Desde que Anna e Jeremy começaram a ficar (sim, os dois estão ficando há duas semanas!), Bonnie e ela só sabem trocar farpas. Sair em grupo se tornou uma tarefa árdua desde então. Nenhuma conversa entre a gente é civilizada, porque uma sempre tem que dar um jeito de implicar com a outra.

E quando Jeremy e Anna estão juntos, num clima lindo de puro amor, Bonnie fica resmungando pelos cantos.

Na semana passada, a peguei chorando dentro de um dos reservados do banheiro feminino. Tentei conversar com ela, mas Bonnie me expulsou do banheiro, alegando que ninguém poderia ajudá-la ou entendê-la.

Eu e Caroline estamos muito preocupadas com ela.

- Eu chamo do que eu quiser! E vê se cala a boca e para de transformar tudo em uma briga, garota! - Anna berrou, fazendo com que eu jogasse o livro que estávamos estudando de forma brusca em cima da mesa.

- CALEM A BOCA AS DUAS! Caramba, viemos aqui para estudar e não para brigar! - As duas se calaram quando Caroline se levantou, irritada.

- Será que dá pra vocês duas pararem de brigar pelo menos um pouco? Precisamos estudar, pois amanhã eu tenho um longo dia de trabalho pela frente. - Eu disse, lembrando-me de que amanhã eu começaria a trabalhar num boliche famoso da cidade.

Stefan tinha arrumado aquele emprego para mim, num pedido de desculpas pelos problemas que me causou com o lance do vídeo da "Noite do Compasso." As meninas vivem dizendo que ele tem uma super queda por mim, mas a última coisa que eu quero é me envolver com alguém.

A única coisa que eu não gostava nisso tudo além de ter que trabalhar, era que aquele boliche enchia muito nos fins de semana. O pessoal do colégio, inclusive, está sempre por lá e como amanhã é sábado, com certeza o local estará abarrotado de gente.

Espero que eu me saia bem naquele emprego.

- Eu vou para casa. - Bonnie juntou suas coisas bruscamente e se encaminhou para a porta. - Tchau pra vocês. - Disse ela, batendo a porta da casa de Caroline com força.

- O que deu nela? - Caroline perguntou, apontando para a porta.

- Estou preocupada com essa menina. - Suspirei, guardando meus livros, sabendo que estudar tinha sido uma péssima idéia.

- Eu me sinto culpada... - Anna choramingou, apoiando a cabeça no braço.

- Não se sinta culpada, Anna. Jeremy se interessar por você nada tem haver com a rebeldia de Bonnie. Ela está agindo como uma criança. - Concordei silenciosamente com as palavras sábias de Caroline. - Bom... quem quer ver filme? Perdi totalmente a vontade de estudar.

- Eu quero! - Eu disse, animada.

- Eu também. 

- Que tal assistirmos A Fera? Tem o gatíssimo Alex Pettyfer! Ao menos que queiram ver a Orfã... - A loira fez uma careta, deixando evidente que não queria assistir A Orfã.

- Prefiro A Orfã! - Anna praticamente gritou.

- Ah não, A Fera é bem mais legal! Alex Pettyfer está perfeito no filme e ainda tem a Vanessa Hudgens. - Discordei de Anna, querendo assistir um romance. Eu já tinha visto aquele filme várias e várias vezes. Jeremy vivia dizendo que eu era uma versão feminina do Kyle.

Eu discordava dele totalmente.

- É, parece que a pequena Anna perdeu. Assistiremos A Fera! - Bati palminhas animada e Anna ficou emburrada

Caroline colocou o filme no aparelho de DVD e nos sentamos no grande sofá de couro de sua casa, esperando o filme começar.

Tudo poderia estar completo, se não fosse a falta que Bonnie fazia. A antiga Bonnie, não a nova.
 

(...)

Eu estava nervosa. Hoje era o meu primeiro dia de trabalho no boliche e eu desejava que tudo desse certo. Ouvi meu irmão dizer que uma galera do colégio estava indo para o boliche e só esse fato fez com que meu estômago se revirasse.

A única que parecia empolgada com isso era a minha mãe. Ela tinha esperanças de que eu mudasse e isso estava me deixando muito irritada.

Ninguém queria me aceitar do jeito que eu sou e aquilo estava me matando!

- Respire fundo, Elena. Você consegue. - Ajeitei o uniforme de trabalho, me olhando no espelho e prendendo o cabelo num rabo de cavalo alto.

Minha mãe estava trabalhando. Desde que ela se separou do meu pai, a única coisa que ela faz é trabalhar. Agora, ela tem dois empregos e sempre que chega em casa, eu e Jeremy já estamos dormindo.

Saí de casa sem me dar ao trabalho de me despedir do Jeremy e peguei um ônibus, já que minha mãe havia vendido o meu carro na semana passada.

Acreditem, eu surtei quando ela fez isso.

Cheguei no meu local de trabalho pontualmente e sorri por dentro. Pontualidade contava muitos pontos e dava uma boa impressão para o chefe.

- Boa tarde, Elena. - Meu chefe me cumprimentou com um aperto de mão frouxo. 

- Boa tarde, senhor McLean. - Sorri tentando parecer simpática sem sair forçado.

- Você vai ser uma faz tudo aqui dentro. Começará limpando os banheiros. - Minha expressão simpática se desfez na hora quando meu chefe disse que eu teria que limpar os banheiros.

- Limpando... os... ba... banheiros? - Um nó se formou na minha garganta e a vontade que eu tinha era a de sair correndo dali, igual ao Greg do "Todo o mundo odeia o Chris."

- Sim, algum problema? - Ele fez uma expressão totalmente intimidadora do tipo: "Ou vá ou morra."

- Não, nenhum problema senhor! - Céus, eu estava parecendo um soldado amedrontado dentro de um quartel.

- Então, vá ao trabalho! Quando terminar, me chame para que eu lhe diga qual será sua próxima tarefa. Daqui a pouco o estabelecimento abrirá e quero tudo pronto antes das 18:00. - Balancei a cabeça afirmamente várias vezes, o nó preso em minha garganta e meus pés coçando, ainda cogitando a possibilidade de sair correndo.

Depois que eu peguei os devidos materiais de limpeza, me dirigi ao banheiro feminino, abrindo a porta do mesmo e sentindo um fedor horrível ali dentro.

Abri a tampa da privada e senti vontade de vomitar ao ver o estado que ela se encontrava. As pessoas não sabem que existem a descarga não?

- Que nojo. - Prendi a respiração e comecei a limpar aquela nogeira, com o rosto virado para o lado contrário. - Eca, eca, eca! - Joguei apenas uma água na privada e dei a descarga, não aguentando mais aquele fedor.

Joguei um balde de água no chão e um vidro inteiro de desinfetante, sentindo um cheiro agradável no banheiro. Despejei mais um vidro de desinfetante no chão, dentro da privada e na pia do banheiro, achando que estava tudo limpo.

Fui até o banheiro masculino e repeti o mesmo processo, gastando mais dois vidros de desinfetante e deixando por ali mesmo. Não precisava passar pano. Aquilo secaria sozinho.

Me sentindo satisfeita com minhas tarefas, o senhor McLean me chamou para fazer outras coisas, como limpar as bolas de boliche e passar o aspirador de pó no chão.

Depois disso, o estabelecimento abriu, e logo, estava totalmente cheio.
 

(...)

O pessoal do colégio estava ali, jogando boliche e se divertindo enquanto eu, estava do outro lado do balcão, fazendo tudo o que o senhor McLean mandava com uma carranca nada simpática. Rebekah e suas amigas ficavam olhando para mim e cochichando, o que já tinha me deixado totalmente irritada.

Elas estavam tramando alguma.

Jeremy também estavam por ali, junto com Damon, Tyler, Stefan e Matt.

- Elena, a bola prendeu. - Meu chefe me chamou.

- Hã?

- A bola do grupo 9 prendeu. Vai até lá e tira. - Ordenou ele.

Caminhei até a pista de boliche. O grupo 9 era exatamente o grupo da Rebekah e suas amigas. Engraçado, tive a impressão de que enquanto eu caminhava, todos ficaram em silêncio.

Tentei ignorar e continuei andando, até que eu ouvi um barulho.

Olhei para trás e vi que um pote de vidro cheio de bolinhas coloridas havia se quebrado e as bolinhas rolavam em minha direção.

Rebekah estava próxima ao pote quebrado.

Fui tentar me esquivar, mas acabei pisando em várias bolinhas e cambaleei, quase como se eu estivesse correndo em uma esteira e me estabaquei no chão, rolando como uma bola murcha pela pista até dar de cara com os pinos do boliche.

Derrubei todos eles.

- STRAKEEEEEEEEEEE! - Todos gritaram quando isso aconteceu. Ao longe, pude ouvir a voz do senhor McLean brigando com eles mas nem assim pararam. 

Me sentei, sentindo minha cabeça doer e vi que várias pessoas gravavam tudo com o celular.

Eu estava ficando famosa no YouTube.

Estufei o peito e levantei, caminhando até o pessoal que estava amontoado na pista mancando um pouco. Pude perceber que meu cabelo estava desgrenhado.

- Eu vou me vingar de todos vocês. Um por um. Me aguardem! - Fortemente vaiada, eu saí dali correndo, sentindo lágrimas se acumularem em meus olhos.

Eu não queria chorar, não podia chorar. Eu tinha que ser forte!

Avistei Jeremy do lado de fora e fui até ele, sentindo a raiva me consumir inteiramente.

- Você é um traidor! - Berrei a plenos pulmões.

- Traidor? - Ele praticamente cuspiu a palavra, indignado

- É, aposto que você apoiou a Rebekah nisso! - Jeremy me olhou com desprezo.

- E se eu tiver apoiado? Você merece isso e muito mais. - Abri a boca totalmente incrédula com o que eu estava escutando.

- Como pode dizer isso? Você é meu irmão! - Minhas mãos tremiam de nervoso, de indignação, de tristeza, de raiva...

- Sou, mas você é desprezível e eu não quero me contaminar com sua sujeira. Por sua culpa nossos pais se separaram! - Eu me senti horrível quando Jeremy proferiu todas aquelas palavras.

- Não foi minha culpa! - Berrei, querendo que só com aquele gesto, as palavras o convencessem.

- Qual é, Elena! Eles viviam brigando por sua causa garota! - Esbravejou.

- Não é verdade... - Sibilei.

- Quando você parar de viver no seu mundinho de conto de fadas, me avise ok? - Jeremy saiu dali, entrando de novo no boliche, há passos pesados e irritadiços.

Saí correndo, mas não consegui nem chegar na esquina, pois ouvi passos atrás de mim.

- Elena! - Damon veio correndo em minha direção, tentando tocar meu braço.

- Saia de perto de mim, Damon! - Eu gritei. - Todos vocês fizeram parte disso, não é?

- Você estava merecendo uma lição. Mas não, eu não tramei aquilo. - Fechei minhas mãos, sentindo uma raiva tão grande que se me dessem uma faca, eu sairia matando todo o mundo.

- Mas você contribuiu mesmo que indiretamente! - Gritei de novo, totalmente alterada.

- E que diferença faz? Nos odiamos, não é? Você me acha um pobretão que não tem nem onde cair morto. - Ele me olhou com uma expressão reprovadora.

- É, eu acho mesmo. Você é um fracassado! - Tentei olhar para ele com desprezo, mas fracassei quando senti meu queixo tremer.

- A única fracassada que eu vejo por aqui é você, garota! - Abaixei a cabeça, sentindo-me horrível pela primeira vez naquele dia.

- Então porque veio atrás de mim? - Perguntei.

- Pra ver se você tinha criado um pouco de juízo mas vejo que não.

- Ótimo, agora pode ir.

- Eu desisto de você, Elena. Você não tem salvação. Sempre será uma garota horrível e preconceituosa. - Por incrível que pareça, aquelas palavras me feriram. Meu coração parecia latejar dentro do meu peito e as lágrimas que eu prendia saíram automáticamente.

Damon me deu as costas, lançando-me um último olhar de desprezo antes de fazê-lo e quando o vi se afastando, foi como se algo dentro de mim se partisse. Uma ventania balançou meus cabelos desgrenhados e eu fiquei ali, vendo Damon se afastar até sumir do meu campo de visão.

Eu tinha a impressão de que quando ele fora, levara com ele todas as minhas defesas. Eu via meu muro de proteção desmoronando ao meu redor e meu coração se desmanchando dentro do meu peito.

Pousei minha mão em meu peito e apertei minha blusa fina, do uniforme do trabalho. Chorando compulsivamente, eu só desejava minhas defesas de volta. Eu não me reconhecia mais, não sabia mais quem eu era ou quem eu deveria ser.

Minha cabeça estava confusa mas nada parecia estar pior do que o meu coração. Ele estava destroçado e não parecia haver conserto para ele.