O quarto de mamãe não havia mudado muito desde a última vez em que estive ali. Tirando o vaso de rosas vermelhas que papai havia posto em cima da mesinha que ficava ao lado de sua cama, o quarto de hospital permanecia exatamente igual. Inclusive, o estado vegetativo de minha mãe.

Sentei-me na beirada da cama e a observei por um longo tempo. Seu peito subia e descia de forma lenta e seu rosto mantinha a mesma expressão lívida e serena que eu sempre via no rosto de mamãe quando vinha visitá-la. Nada havia mudado.

Segurei sua mão e a apertei entre meus dedos, sentindo-me cada vez mais perdida sem minha mãe. Eu não podia mais ver a cor dos seus olhos e nem ouvir o doce som de sua voz, que na maioria das vezes tinha o poder de me acalmar.

Os médicos sempre diziam a mesma coisa sobre o seu estado: Os sinais vitais estão ótimos, mas eles não sabiam explicar o porquê de minha mãe ainda não ter acordado.

Eu sentia muito a falta dela.

Tentei dizer alguma coisa para ela, pois eu sabia que mamãe conseguia me ouvir, mas nada saiu da minha boca. A única coisa que eu fiz foi me deitar ao seu lado e derramar algumas poucas e solitárias lágrimas.

Acho que meu estoque de lágrimas está se esgotando e eu estou ficando cansada de tanto chorar.

[...]

– Honey, o dia dos namorados está chegando e Caroline e Tyler ainda nem se acertaram. - disse Anna, debruçada em sua cama com o celular nas mãos.

– Ah, eles estão se reaproximando aos poucos. - Dei de ombros, deitada no chão de Anna com o olhar perdido no teto.

– Aos poucos? Aqueles dois estão parecendo duas tartarugas! - disse Bonnie, rindo de alguma coisa que apareceu na tela do celular de Anna. - Deixemos os dramas amorosos para o Damon e a Elena.

– Não existe um Damon e Elena. Na verdade, nunca existiu. - retruquei, mal humorada.

– Vocês dois são muito complicados! - Anna bufou, largando o celular para olhar para mim e Bonnie. - Mas agora a questão é a Caroline e o Tyler. Temos que dar um jeito de fazer com que os dois fiquem juntos.

– Ouvi dizer que os garotos estão lá no Mystic Grill. Porque não damos uma passadinha lá e levamos a Car juntos? É só darmos um jeito de fazer com que os dois fiquem sozinhos. - sugeriu Bonnie, fazendo os olhos de Anna brilharem.

– Vocês podem fazer isso sem mim? - perguntei, encolhendo os ombros. - Aposto que o Damon estará lá também.

– Elena, você mora com o Damon. Não adianta ficar se escondendo dele. - Anna disse, revirando os olhos e se levantando.

– É mas isso não quer dizer que eu tenha que ficar frequentando os mesmos lugares que ele.

– Você vai e pronto. Não vamos mais falar do idiota do Damon, ok? - Anna me olhou incisivamente, estendendo-me a mão para me ajudar a levantar.

– Ok.

– A Operação Conquista começa agora! - exclamou Bonnie, rindo.

Respirei fundo, tentando reunir a pouca coragem que eu tinha para encarar o Damon depois de tudo o que aconteceu.

Nós fomos embora da Casa de Praia no dia seguinte, mas eu mal havia visto o Damon desde que chegamos. Quando eu estava em casa, Damon raramente aparecia. Ele sempre dava um jeito de ficar trancado dentro do quarto ou sair com os amigos e eu fazia o mesmo que ele, tomando cuidado para não trombar com ele no corredor.

A única hora em que nos encontrávamos era para ir para o colégio, mas nós não íamos juntos.

Eu basicamente me sentia desconfortável estando perto dele e acho que ele se sentia da mesma forma em relação a mim. E eu teria que encará-lo esta noite.

Eu sabia que isso não seria nada agradável.

[...]

Caroline e eu não estávamos no clima de socializar, mas Anna e Bonnie não nos deixaram em paz um minuto até convencerem Caroline a ir para o Mystic Grill junto conosco.

Quando chegamos, o lugar já estava cheio e algumas musiquinhas no estilo balada chiclete que Caroline e Bonnie tanto amavam preenchiam o ambiente e faziam com que muitos adolescentes e jovens de nossa idade começassem a dançar pelo lugar.

Logo avistamos os rapazes numa mesa no fundo do bar, bebendo e jogando cartas como se fossem os donos do lugar. Pareciam descontraídos e felizes. Contive a vontade que eu tinha de dar meia volta e ir embora e me aproximei junto com as meninas da mesa onde os meninos jogavam, bebiam e riam.

Senti raiva do Damon por estar se divertindo tanto que quase peguei a lata de cerveja que um dos barmans levava para uma mesa para jogar no rosto dele. Mas me contive novamente, respirando fundo umas quarenta vezes.

– Olá, girls! - disse Stefan, sorrindo para nós amistosamente. - O que fazem por aqui?

– O mesmo que vocês! - Anna respondeu, abraçando Caroline pelos ombros - Estamos à procura de diversão.

– Fale por você. - disse Caroline, de cara emburrada.

– O Jeremy sabe que você está aqui, Anna? - Matt perguntou, debochado. Os outros deram risadinhas.

– Claro que sabe, idiota!

Tyler sorriu para Caroline, que retribuiu o sorriso quase de imediato. Bonnie me cutucou quando percebeu e eu sorri quando uma música lenta começou a tocar.

– Tyler, porque você e a Caroline não dançam um pouco? Ela ama essa música! - sugeriu Bonnie, na maior cara de pau. Olhei para ela de forma incrédula enquanto Caroline corava ao meu lado.

– Boa ideia. Eu estou perdendo mesmo... - Tyler jogou as cartas que tinha em mãos em cima da mesa e se levantou, fazendo com que os rapazes reclamassem.

Enquanto eu observava Tyler e Caroline caminharem até a pista de dança de mãos dadas, percebi que em nenhum momento desde que cheguei Damon olhou para mim.

Me afastei das meninas e fui para um canto qualquer me lamentar mentalmente pela minha vida. A noite estava estrelada e o céu, sempre tão magnífico, fez com que um sorriso se abrisse em meu rosto.

– Eu soube que você foi visitar a sua mãe. - disse Damon, sem olhar para mim. Levei um susto quando ouvi sua voz e pensei em lhe dar um fora, mas no último instante, desisti.

– Fui. - respondi, desviando o olhar da janela para observar os casais que dançavam agarradinhos.

– E como ela está? Houve alguma melhora em seu estado? - Ele perguntou, parecendo realmente preocupado.

– Nada. Ela continua do mesmo jeito desde que chegou no hospital. - falei, sentindo um aperto no peito ao pensar em minha mãe.

Algumas pessoas começaram a gritar e aplaudir e tarde demais eu percebi que eram os meus amigos e que eles comemoravam o beijo que Caroline e Tyler compartilhavam na pista de dança.

Damon segurou a minha mão e eu senti o quanto ele estava receoso. Aquele simples toque foi o suficiente para que meu coração acelerasse e nossos olhares se encontrassem. Quando percebi, estávamos tão perto um do outro que era quase impossível respirar.

Apertei a sua mão, como se com aquele gesto eu desse permissão para o que quer que ele estivesse pensando em fazer naquele momento.

No entanto, meu celular vibrou no bolso da calça. Eu havia recebido uma mensagem.

Cliquei em abrir para ler o conteúdo da mensagem e quase desmaiei quando vi o que estava escrito:

Curta o momento enquanto pode, Elena. Afinal, nunca se sabe quando o príncipe encantado descobrirá que a princesinha é uma vilã. Um vídeo pode estragar tudo, não acha? Beijinhos, MR

Olhei para Damon com os olhos cheios de lágrimas e com o coração retumbando no peito. O desespero me dominou de uma tal forma que eu soltei sua mão e saí correndo do Mystic Grill, deixando um Damon desolado para trás e uma vida que nunca poderá pertencer a mim.

Quando todos virem aquele vídeo, quando o Damon vir aquele vídeo, tenho certeza de que me odiará para sempre.

Nós nunca poderemos ficar juntos. Sempre há algo que nos afasta. No entanto, não são as circunstâncias, as memórias perdidas ou as brigas que são capazes de nos afastar.

Sou eu mesma.

Eu sou o problema.