POV Scorpius.

Atrasado. Estamos muito atrasados. A senhora Weasley não nos acordou na hora e agora nós todos estamos praticamente colocando as calças na escada de  tão atrasados que estamos.

Primeiro que nós tivemos que praticamente sentar em cima da mala pra ela fechar, uma cena linda de se ver, porém não. Depois eu consegui a proeza de derrubar moho branco na minha blusa e tive que abrir de novo pra trocar. Perceberam como eu estou sortudo hoje não é mesmo?

Então, finalmente saímos de casa. A ruiva foi até a estação praticamente dormindo em cima de mim. Quando chegamos, todos nos despedimos e atravessamos a barreira bem no momento em que o ultimo apito do trem soava.

-E  então Malfoyzinho, o que achou da nossa típica saída a la família Weasley?-me perguntou James. Sim, depois de tudo que aconteceu eu me acostumei (leia: a Rose me obrigou) a chama-lo de James, não mais de Potter.

  -Achei muita adrenalina para tão cedo-respondi sarcasticamente. Ele riu.

-Sabia que você não daria conta da nossa família-ele respondeu. Dei-lhe um soco no braço.

-Calado Potter!-respondi. Rose me olhou e revirou os olhos. 

-Achei que ja havíamos passado da parte dos sobrenomes não é mesmo?-ela perguntou ironicamente.

-Ele começou!-respondemos nós dois juntos. Foi uma cena tão hilária que até nos esquecemos de brigar para rir.

-Vocês não tem jeito mesmo heim?- a ruiva comentou, socando a cabeça dele e me dando um beijo.

-Ei, porque eu evei um soco e ele um beijo?-disse o Potter, com um falso jeito amuado. Eu segurei ela pela cintura com força e a beijei.

-Porque EU sou namorado dela, e  VOCÊ é primo-eu respondi. Eles riram. Durante esse meio tempo nós havíamos encontrado uma cabine praticamente vazia e nos acomodamos nela. A ruiva automaticamente se deitou em meu colo.

-Vo dormi, quando a gente tiver perto de Hog me avisem-ela disse-E ai do engraçadinho que pensar em zoar comigo-ela avisou. Eu e James nos entreolhamos e sorrimos.

Ela dormiu um bom tempo e eu e o Potter ficamos conversando sobre banalidades. O episódio com Dominique não foi mais comentado desde aquele dia. A loira vazou da casa dos Weasley no mesmo dia, e seus pais se desculparam por ela o saberem o que aconteceu.

Quando a ruiva acordou (ilesa, óbvio, não somos doidos de fazer alguma coisa quando ela nos ameaça daquele jeitinho tão "delicado") ela saiu para ir ao banheiro e também procurar por Alvo e Claire, que haviam "desaparecido" misteriosamente. 

Novamente ficamos conversando banalidades, mas ela demorou demais para voltar e eu resolvi procura-la. Certamente que eu fiquei surpreso quando a encontrei perto do banheiro conversando, ou melhor, discutindo, com Peter Parkinson.

-Eu não vou te falar garoto, não adianta!-ela dizia.

-Fala logo e me poupa da lenga lenga garota!-retrucou o outro. Não gostei nada dessa conversa, então resolvi intervir.

-Que merda que ta acontecendo aqui?-perguntei, abraçando a ruiva pela cintura. Eles me olharam e não responderam, até que a ruiva falou

-Nada Scorps, só que o Peter quer que eu empreste a minha tarefa de runas pra ele copiar mas eu não vou emprestar-ela disse, lançando um olhar fulminante a ele.

-Ta bom ruiva, mas a gente ainda vai conversar-ele disse, como se deixasse no ar, e  saiu pisando duro.

-To com fome!-exclamou a ruiva. Eu achei essa poha toda muito estranha, mas eu conhecia a ruiva bem o bastante pra saber que se ela ta tentando mudar de assunto é porque eu não vou conseguir tirar nada dela.

-Eu acho que o carrinho de doce já passou, mas eu procuro ele por você-eu disse, beijando a ponta de seu nariz e ela riu.

-Eu vou junto-ela disse, me pegando pela mão. Achamos a mulher do carrinho já no fim do trem, compramos um pouco de muita comida (sério, as vezes eu acho que a Rose tem algum problema de furo no estomago, porque sério, pra onde vai toda essa comida?) e voltamos para a nossa cabine.

Quando ela terminou de comer, fomos nos trocar e colocar as vestes de Hogwarts. Depois de mais meia hora de brincadeiras, o frio começou a reinar.

Muito frio.

Medo.

Tudo de ruim começou a se apoderar de mim. Instintivamente abracei Rose mais forte e ela também se aconchegou mais em mim.

As janelas começaram a ficar embaçadas. Mais ou menos por ai todos desconfiamos do que estava acontecendo. E isso só foi confirmado quando uma mão podre entrou pela porta da cabine.

-Dementador!-exclamou Rose, quase sem voz. A criatura era horrenda. Parecia um cadáver que ficou apodrecendo por décadas em um lago. As roupas rasgadas iam até o chão, e um capuz escondia seu rosto. Mas pelo que eu sabia, eu não queria que ele o tirasse.

A criatura rodou a cabeça de modo a ficar com o "rosto" virado para nós. Rose se escondeu de medo. Eu nem sentia mais nada, só a tristeza me sugando para ela, a mesma de anos atras, quando tudo aconteceu.

Os flashbacks ameaçavam invadir a minha mente. Eu lutei para não deixar. Puta que pariu, eu não quero lembrar disso!

Não.

Não!

NÃO!

-NÃO!-eu gritei, antes de envolver a cabeça com as mãos. Depois disso tudo se tornou um túnel  negro que me sugava, cada vez mais para o fundo da infelicidade.

Eu estava meio consciente dos gritos da Rose ao longe, mas nem isso conseguia me puxar de volta.

E eu desmaiei. Só sei disso.

Mas os flashbacks me perseguiram na minha inconsciência.

Tudo que eu vi e ouvi naquela época, naquela ocasião, que eu com muita dificuldade havia enterrado no fundo da memória, estava de volta.

E não é legal isso. Nem um pouco.