Quando As Borboletas Se Foram escrita por Beatriz Gallardo


Capítulo 3
#03 Hey, não é só um All Star




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Mais um dia na loja. Um dia calmo, quieto e sem muito movimento. Nem na rua, nem aqui dentro, nem a Mel...

Ela estava sentada em uma poltrona branca, uma calça preta surrada, uma camiseta simples e os cabelos bagunçados. Recostada pra trás, suspirava, encarava o nada.

Um cliente entrou. Uma menina, loira, olhos sem vida, e eu podia jurar que havia uma aura negra sobre ela. Usava um jeans cheio de zíperes e uma camiseta preta sem detalhes. Uma garota com uma expressão estranha.

Dei o primeiro passo, mas um braço me barrou. Olhei para o lado e Mel me encarava, o rosto triste, lábios secos, pequenas olheiras começaram a se tornar habituais em seu rosto.

– Deixa. - Disse e saiu andando na minha frente. Ela iria atender a menina.

Sim, foi a coisa mais estranha que a vi fazer até então. Apenas observei a cena.

A garota queria um All Star, mas não deu detalhes. Mel subiu as escadas e quase se matou com as caixas que veio trazendo. Devia ter todos os modelos possíveis daquela marca. Tive que me apressar para ajudá-la, quando tropeçou e quase caiu da escada.

– Cuidado. - Disse e peguei algumas caixas para ajudá-la.

Levamos tudo até a menina, que parecia olhar para tudo e todos com desprezo. Sem uma palavra ela foi abrindo as caixas e bagunçando tudo. Depois de um bom tempo olhando tudo detalhe por detalhe ela bufou e olhou com indignação para Melissa.

– Não tem nenhum preto. Você sabia que eu queria preto.

– Mas você não especificou! - Protestei.

– Ela sabia. - A garota repetiu.

Senti o ar ficar mais denso.

– Preto.

– É apenas um All Star! - Eu disse sem saber o choque que levaria.

– Não é apenas um All Star. - Mel surpreendeu com uma frase tão grande e... Confusa.

Elas se conheciam, tive certeza. Não discutiam sobre o All Star, ele era apenas uma desculpa. Elas eram rivais? Inimigas eternas? Parecia, tão diferentes...

Meus pensamentos foram cortados quando vi Melissa subindo as escadas novamente. Pouco depois ela voltou com uma caixa igual todas as outras e jogou no chão, consegui prever que logo ela não conseguiria conter as lágrimas.

– Por favor.

– “Por favor” o que? - Provocou a garota.

– Leva. - Uma pausa. - Logo! - Disse com a voz já estridente.

– Claro que eu levarei. - Disse a outra confiante. Levantou e com desprezo, riu. Seus olhos percorreram a imagem de Mel, com crueldade. - Porque eu posso levar as coisas. Eu posso deixar você sem nada. Se for possível ter menos do que... O que você tem mesmo? Ah, é verdade, nada! E eu posso ter tudo, eu posso pegar todos esses sapatos que você mal pode sonhar em ter.

Travei e tive medo de gaguejar.

– Vocês não estão discutindo sobre sapatos, estão?

A menina apenas riu, jogou os tênis para longe e deu de ombros. Virou-se de costas e saiu pela porta. Fiquei perplexo. Ouvi um grunhido, era Mel. As lágrimas lhe enchiam o rosto.

– Ela levou minha voz.

– Não foi só a sua voz, foi? - Perguntei.

– Minha vida. - Disse beijando um de seus dedos, e pude notar novamente aquele mesmo anel. E dessa vez pude ver, era um anel com aparência de ser masculino.

Ela secou o rosto com as costas da mão e tentou sorrir como pode.

– Ainda posso ser feliz. - Disse num tom triste.

– Você pode.


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