Estúpido Acidente! escrita por Julia


Capítulo 5
Melhores amigos? Nah.


Notas iniciais do capítulo

Oi pessoas lindas! Obrigada pelos reviews em especial para Ms Nanda que foi muito fofa comigo ♥ Esse capitulo é pra você linda ;)

Não tive muito tempo, então se ficou ruim me perdoem.

Enjoy!



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No momento em que botei os pés na casa da Annelise, fui recebido por um garoto alto que começou a me abraçar como se não me visse durante anos. Minhas costelas gritaram por socorro quando aquele abraço de urso ficou demais e fiz um som involuntário com a falta de ar, o que despertou o moleque daquela palhaçada toda. Ele analisava o rosto de Annelise com cuidado, procurando por algum machucado e aquilo já estava me incomodando. 

Quem ele era, afinal? Eu jurava que se tentasse me beijar ou coisa parecida, não importando o quão fraco era o corpo dessa maluca, ele acabaria com um olho roxo.

—Annelise McCarty! Você tem noção do quanto eu fiquei preocupado?! – Será que era o namorado dela? A Annelise tinha um namorado? – Quando a mamãe disse que você tinha sido atropelada eu quis socar a cara do infeliz até ficar inconsciente, mas me disseram que era aquele babaca que você odeia e já sabia que você ia fazer isso por mim.

Franzi a testa com aquela informação sobre a minha ilustre pessoa, mas ainda sim, enquanto o irmão dela tagarelava sem parar, fiquei com uma sensação de alivio no peito por saber que ele não era algum namoradinho sem sal que a garota tinha as escondidas. 

Ok. Estranho. Eu não gostava do rumo que meus pensamentos estavam indo; então decidi dar um sorriso amarelo para todos ali presentes e apontar em um direção qualquer, fingindo conhecer o local. 

—Err... Sabe, eu to muito cansado... cansada! Muito cansada do hospital. Posso dormir um pouco?

—Ah Anne, é claro! Desculpe! - A mãe da garota deu um tapa no irmão, com uma expressão irritada antes de sorrir para mim outra vez com ternura -  Pode ir para seu quarto, tomar um banho e trocar de roupa enquanto eu preparo alguma coisa pra você comer.

Não pude evitar de arregalar um pouco os olhos ainda que não tivesse tirado o sorriso amarelo do rosto. Onde, exatamente, era o quarto? Eu estava perdido.

Tive que pensar rápido e antes que algo melhor surgisse, fingi uma tontura repentina. Como eu suspeitei, o seu irmão veio correndo me segurar antes que eu caísse para trás, enquanto "minha mãe" soltava um suspiro de surpresa. 

—Você está muito fraca, por causa do acidente. Vem, vou te levar pro quarto.

Depois de subirmos a escada, eu tendo que me apoiar no irmão de Annelise (ugh, aquela garota ainda me pagava!) para não entregar o fingimento, passamos por um corredor estreito, cheio de fotos da família e paisagens bonitas que pareciam ter sido tiradas por eles mesmos. Tentei decorar o trajeto o máximo que pude, já que não queria ter de fingir um desmaio cada vez que quisesse ir para o meu quarto. 

Ele parou diante de uma porta que, por incrível que pareça, não tinha adesivos de "não perturbe" ou "se entrar, está morto" como eu imaginava. Era apenas uma porta de madeira, simples e limpa.

Assim que o garoto me colocou na cama e saiu, saltei em um pulo, jogando as cobertas para o lado, ansioso por fuxicar no lugar secreto de minha inimiga. No entanto, assim que a ansiedade deu espaço para o que estava diante dos meus olhos, pisquei um pouco decepcionado. Não era nada daquilo que eu imaginava.

A maioria dos móveis eram brancos e a decoração era simples e minimalista, em tons de bordô que contrastavam com a cor clara. O quanrto era bem menor do que o meu mas parecia confortável; o guarda roupa branco ocupava a maior parte do espaço, alguns livros estavam em cima da sua cabeceira e fiquei surpreso ao notar que já tinha lido alguns deles, a mesa de estudos perto da porta tinha um notbook antigo e vários cadernos de diversas matérias, assim como os meus.

Eu sabia que Annelise era estudiosa, mas ri ao pensar no que ela acharia sobre o fato de que eu também era empenhado nos estudos, já que durante todo o nosso tempo discutindo, muitos de seus insultos eram direcionados a minha suposta burrice. Algo que nunca tinha sido verdade e que ela descobriria se ao menos olhasse o quadro de notas do colégio e percebesse que meu nome estava a apenas alguns números abaixo do seu.

Ao lembrar daquela loira maluca no meu quarto, peguei o celular conectado ao carregador em cima da mesa e liguei para a minha casa. Precisava conversar com a idiota que tinha se apossado do meu corpo.

—Residência dos Greenleaf, com quem quer falar?

O choque daquela voz, me fez afastar o celular da orelha por alguns segundos. 

—Maria?!

—Hã sim, quem é? - Era, de fato, muito esquisito ouvir aquela voz sem o tão comum toque maternal e sotaque carregado, sempre divertido ao falar comigo.

Maria era uma senhora muito simpática que imigrou do Brasil para os EUA, logo depois de seus pais a abandonarem quando tinha 10 anos. Ela nunca guardou rancor de sua família, sempre dizendo que o destino tinha feito seu trabalho e a colocado em nossas vidas, já que minha mãe a salvou de um roubo muitos anos atrás, quando eu ainda era um bebê e quando ela ainda olhava para mim. Não queria nada em troca mas Maria insistiu em pagar a gentileza, trabalhando para nós e ajudando a me criar quando o trabalho de minha mãe começou a ocupar todo o seu tempo.

Pisquei para voltar ao presente e tentei me lembrar de que Maria não conhecia Annelise; de que eu era ela agora. 

—Ah, sim, hã... Eu gostaria de falar com Josh Greenleaf se possível.

—Ah é claro, só um minuto – Ouvi ela chamando Annelise (bem, chamando "Josh" mas ainda sim... Ugh, era confuso) com aquele mesmo tom amoroso de sempre e toda a situação pareceu ficar mil vezes pior. Eu queria minha vida e meu corpo de volta, logo.

—Alô? – Uma voz grossa substituiu a de Maria e engoli um grito de surpresa quando percebi que era a minha voz.

—Annelise? Ah finalmente garota! É o Josh.

—Só um minuto... – Ouvi uns ruídos esquisitos – Pronto pode falar. Meu deus, eu não acredito que to ouvindo a minha voz pelo telefone, com esse seu tom enjoado e prepotente. Isso é um pesadelo.

Revirei os olhos mas não pude deixar de concordar mentalmente. Era mais do que estranho ouvir minha voz com aquele tom de sabe tudo, irritado com o mundo que a garota sempre tinha. 

—Onde é que você ta?

—No closet do seu quarto e...Ugh! Tem uma cueca jogada aqui e não parece ser uma limpa! Josh seu porco! 

Grunhi irritado e suspirei profundamente; eu não iria aguentar por muito tempo ter que ouvir minha voz masculina dar um piti daqueles sem explodir de raiva. 

Será que os genes raivosos daquela maluca foram transmitidos para mim também? Oh Deus! Eu esperava que não.

—Annelise! Foco garota! Foco! – Ouvi ela falar mais um "eca" antes de voltar ao normal.

—Tudo bem. Estou bem. Sei porque me ligou então não precisamos conversar mais do que o necessário. Onde quer que eu te encontre? Ah, a propósito, Shannon e Luke já sabem sobre tudo.

—Sério? E eles acreditaram?

—Bem, sim. Depois de muito trabalho e dedicação eu convenci eles. Você sabe que eu sou demais.

—É, ok. O que faz você dormir a noite, eu acho. Bom, podemos nos encontrar em um lugar que ninguém nos veja, já que iria ser muito estranho as pessoas me verem com você.

Foi a vez dela soltar um grunhido irritado e sorri, era maravilhoso irrita-la! Nunca perdia a graça, mesmo com aquela troca de corpos. 

—Cala essa boca Greeanleaf. Eu é que nunca vou querer ser vista com você!

—Ta, ta que seja! Deixa esse ataque de raiva pra mais tarde. Onde podemos nos encontrar?

—Hã, não sei. É você que... Ah! Como eu não pensei nisso antes? – Não tive tempo para retrucar com alguma coisa irônica, pois logo ela me passou um endereço, dizendo para estar lá as oito e meia da noite e avisar aos "meus pais" que eu dormiria na casa de uma amiga. 

Como não queria me estressar mais ainda, apenas concordei e assim que desligamos, arrumei as coisas para o dia seguinte, aproveitando para espiar seu guarda roupa, muito bem organizado e metódico, para o meu espanto.  

Sua lingerie, no entanto, era como eu esperava: sem graça e desinteressante. Pelo menos naquilo eu não tinha surpresas.

Não que eu quisesse que tivesse.

É claro que eu me troquei longe de qualquer espelho e tentando ao máximo não precisar olhar para algo do pescoço para baixo. Não, obrigado, eu não estava interessado em ver o corpo da minha pior inimiga.

Do jeito que ela surtou vendo minhas cuecas não duvido que ela tenha feito o mesmo, o que foi um alivio para minha mente já que imaginar Annelise McCarty espiando meu corpo era mais do que minha sanidade podia aguentar, e não no bom sentido. 

Com a loira pediu (ou ordenou), avisei para a “minha mãe” que iria dormir fora e ela ficou em silêncio, me avaliando dos pés a cabeça como se detectasse alguma mentira antes de me dar mil e uma recomendações sobre o quão perigoso era os dias de hoje para garotas. Para alguns, aquilo seria insuportável, mas para mim era incrível (se não contássemos a parte em que eu era uma garota agora).

Minha mãe nunca havia ligado para onde eu iria e com quem eu iria. Se voltasse vivo, estava tudo bem. Então toda aquela preocupação e carinho na voz, que normalmente só vinha de Maria, me fez apenas balançar a cabeça e sorrir, tendo medo de que seu eu falasse algo, minha voz embargada me delataria. 

Vesti um moletom surrado que estava sob a cama e joguei a mochila que eu havia preparado anteriormente, sobre os ombros. Notei que lugar não era tão longe a ponto de precisar dirigir até lá então decidi ir andando. Era uma uma direção que eu nunca tinha ido antes, e eu já estava começando a ficar preocupado se ela tinha realmente passado o endereço certo quando avistei uma árvore enorme, com troncos grossos que abrigavam uma casa de madeira no topo. Fiquei na duvida, mas subi mesmo assim, vendo meu corpo deitado em uma espreguiçadeira, parecendo tão sereno que me perguntei quando tinha sido a ultima vez que eu realmente tinha ficado assim. 

Eu ficava bem daquele jeito. A expressão de tranquilidade me caia bem.

—Se alguém visse isso agora iria acabar com a minha reputação sabia? – Perguntei, assustando-a. Ela abriu os olhos rapidamente e ficou parada, apenas encarando o meu corpo. 

Bem, o seu corpo. 

—Isso é... estranho.

Soltei um riso anasalado, mas não pude deixar de concordar com a cabeça. Cheguei mais perto de onde ela estava. 

—Muito estranho.

Meus olhos castanhos me encaravam de volta, com tanta confusão, angustia e medo que tive que desviar o olhar. Eu achava que Annelise iria estar imune ao que acontecia, com toda aquela pose de forte, mas ao que parecia, tinha suas preocupações com aquela situação tanto quanto eu. 

Pirraguei, desconfortável com o clima pesado.

—Então... Uma casa na árvore? 

—É. Eu e meu pai construímos isso aqui quando eu era pequena. Ficava bem afastada então quando eu ficava triste vinha pra cá.

—Ninguém conhece isso além do seu pai?

—Não, você é o primeiro – Vi a “minha testa” se enrugar de confusão. Eu estaria do mesmo jeito. Trazer o seu inimigo para o lugar que você mais gostava no mundo... Definitivamente é incomum.

—Bom, obrigado pelo hã, voto de confiança. - Mexi meus pés para espantar o desconforto - Temos que começar a pensar em como vamos trocar de corpo de novo. É tudo muito confuso e novo, tantas pessoas que eu não conheço e "devia" conhecer, ugh. Eu nem sei o nome do seu irmão!

— É Jimmy – Ela disse automaticamente, ainda pensando no que tinha acontecido.

No final, passamos a noite trocando informações (de forma mais ou menos pacifica, quem diria) e como eu suspeitava, ela também tinha se trocado de olhos fechados.

+

A hora de dormir, como eu também já esperava, foi um sacrifício, pois tínhamos que colocar o pijama e todas aquelas situações desconfortáveis que haviam acontecido antes não eram nada, se comparadas ao momento presente.

—Mantenha esses olhos bem fechados Greenleaf ou arranco seus olhos com uma tesoura!

—Nossa McCarty, estou morrendo de medo! Digo o mesmo pra você, eu sei que sempre sonhou em ver meu corpo nu, mas... Ai! – Senti uma coisa macia bater com tudo na minha cabeça e me virei dando de cara com o meu rosto furioso. Eu, ainda bem, já estava vestido.

—Eu não quero ver o seu corpo, seu otário! Preferia arrancar meus olhos a ter que ver isso.

Ela apontou para o próprio corpo, agora cheio de músculos e soltei uma risada meio latido. 

—Aham, me engana que eu gosto Annelise. Aliás, qual é a dessa obsessão com arrancar os olhos das pessoas? Que sádico. 

Ela sorriu de modo sarcástico e me mandou um dedo do meio, jogando um travesseiro direto na minha cara logo depois. Aquilo doeu mais do que o normal, com a minha força e toda sua raiva canalizada.

—Você não cansa de ser um babaca? 

Ignorei o comentário com um sorrisinho de lado e deitei no colchão de ar que havia ali. Annelise tinha quase parido um filho quando notou o fato de que teríamos que dividir o colchão e gritou, batendo o pé, insistindo que eu deveria "ser um cavalheiro uma vez na vida e dormisse no chão" ao qual eu respondi que era, tecnicamente, ela o homem agora. Então que cedesse o colchão para meu corpo pequeno e frágil.

 Foi uma batalha intensa, mas no final, acabamos concordando que, de alguma forma, eramos adultos o bastante para aceitar dormir juntos sem matar um ao outro.

Com um bufo de ódio intenso, Annelise deitou do meu lado (o mais longe que o colchão permitia, devo ressaltar) e puxou o precário cobertor para seu corpo de modo grosseiro. Normalmente eu ignoraria esse ato infantil, já que eu mesmo nunca dormia com cobertores; no entanto, assim que o tecido foi tirado de perto, contive um arrepio violento e me encolhi involuntariamente com o frio repentino.

Não entendi o que estava acontecendo até que a garota bufou ao meu lado outra vez, jogando o cobertor de volta para mim, sua testa franzida em irritação. 

—Que calor dos infernos Josh, como você aguenta? 

Abri a boca para perguntar sobre o que ela estava falando até que entendi. Eu normalmente não sentia frio pois era maior, e meu corpo era fisicamente mais preparado para o clima; mesmo estando no outono e as brisas frias da noite já começando a surgir, eu sempre senti calor e evitava usar camisas e cobertores enquanto dormia. 

Annelise por outro lado, era miúda, magrela e sedentária, o que fazia seu corpo ser desprovido de qualquer aquecimento e eu não duvidava de que dormia com cobertores em qualquer época do ano. Suspirei cansado; sabendo que teríamos que nos adaptar a isso também.

Enquanto ela se virava sob o colchão, desconfortável, me lembrei de um detalhe terrível e assustador. 

—Ah pirralha, eu me lembrei de uma coisa.

—Não sou pirralha, animal. O que foi?

—Sexta que vem vai ter as finais estaduais de futebol americano e você vai ter que ir.

—O quê?! Mas nem morta! Eu não sei jogar esse negócio! – A garota se sentou num pulo, me desestabilizando no processo com seu peso.

—Não se preocupe. Eu te ensino – Me aninhei despreocupadamente no cobertor e encarei ela, que mantinha minha perfeita sobrancelha arqueada – Eu sei, pode falar, você está morrendo de felicidade por dentro.

—Até parece que não me conhece! Esqueceu do porque eu te odeio?

—E é por isso que eu também te odeio! Mas esse jogo é muito importante para mim então vou ter que ensinar você a jogar.

—Bom se eu vou ter que fazer isso, você vai ter que ir no casamento da minha meia-irma – Ela revirou os olhos – Odeio ela, mas meu pai obrigou a fazer o discurso já que eu sou a madrinha. Então vou ter que te ensinar como ter bons modos. Tudo bem que eu também não tenho muitos mas você não tem nenhum.

—Ha ha. Maria já disse que você está muito engraçadinha? – Provoquei. Eu havia falado de Maria para a Annelise durante uma conversa por mensagem e ela ficou incrivelmente animada, comentando o quanto a mulher era querida e a única pessoa que não parecia um robô naquela casa.

Eu não podia negar aquilo, então só a xinguei um pouco antes de mudar de assunto.

—Ainda não, mas ela disse “Ah Josh finalmente você esta criando juízo e começou a andar com amigos decentes” – Ela ria da minha cara, desgraçada!

—Ah é? Bem, sua mãe comentou algo como “Ah Annelise! Finalmente você liga para a sua aparência" e blá blá blá.

Senti um sorriso se espalhar em meu rosto de forma preguiçosa assim que vi meu corpo retesar e ela virar lentamente a cabeça, espremendo os olhos em minha direção.

—O que, exatamente, você falou para minha mãe?! – Ela começou a bater inúmeras vezes em mim com o travesseiro e com a minha força era capaz de quebrar algumas costelas. Ok, talvez não, mas ainda doía.

Eu não conseguia parar de rir, o que só aumentava sua raiva, mesmo que seus xingamentos foram ficando menos agressivos e com um tom de risada na voz cada vez que levantava o travesseiro para me atingir outra vez. 

Nenhum de nós dois notou, mas talvez quem visse de fora, até pudesse achar que era uma briga entre melhores amigos.

[...]

Acordei sentindo uma dor no peito. Olhei e vi Annelise com a cabeça encostada no meu peito me abraçando como um bichinho de pelúcia. Seria uma cena muito normal se não fossemos inimigos ou se... Sei lá... ESTIVESSEMOS COM OS CORPOS TROCADOS!!

Isso definitivamente era bizarro


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Notas finais do capítulo

Gostaram? DEIXEM REVIEWS!

Até o próximo cap amores.