Logo, Julia estava em seu quarto. Não demorara sequer vinte minutos para chegar em casa, que ficava mais ao norte de Manhattan. Seu pai a colocou cuidadosamente em sua cama e ligou para um médico de confiança. Por sorte, Pepper tinha voltado de Washington e também pôde ir ajudá-lo com Julia.

         - Você vai ficar bem, querida... O Doutor Jones está chegando. – Pepper tranquilizou-a.

         Julia, que tinha ficado quieta todo o caminho, apenas assentiu. Além da dor nauseante que sentia no pé, não conseguia pensar em outra coisa que não o encontro entre ela e Loki em Asgard. Não conseguia raciocinar. Ela, sempre tão falante e animada, nunca tinha estado tão quieta nos últimos meses. E ela sabia que o pai estava percebendo, mas não lutou contra isso. Não conseguia animar-se quando seu humor não lhe dava opções.

         - Julia, precisamos conversar. Urgente. Sobre você e sobre Loki. – Tony exigiu.

         Nesse minuto, a campainha tocou.

         Era o Doutor Jones.

         Ele ficou cuidando de Julia por cerca de meia hora, receitando anti-inflamatórios e outros remédios enquanto enfaixa o tornozelo dela. Tony não falou mais nada, mas estava claro em sua expressão que não mudaria de resolução.

         Por fim, Doutor Jones pediu repouso absoluto e pouca conversa, a fim de evitar que Julia se preocupasse. Tony sorriu sarcasticamente e acompanhou o médico até a porta da sala.

         Logo estava de volta, acompanhado de Pepper. Tony puxou uma cadeira ruidosamente para si e outra para ela, de modo que os dois ficaram olhando diretamente para Julia.

         - Sei que o médico pediu para não importuná-la... Mas nunca fui muito de obedecer, sabe... – Tony falou, e Pepper o cutucou, reprovando. – Julia... Desde que a SHIELD explodiu, você está diferente. Está mais quieta, calada, sozinha. Quero saber o que aconteceu lá que te deixou assim.

         - Nada. Deve ser o estresse da escola, ou algo assim... – Julia falou cinicamente.

         - Não acredito em você. Só quero te ajudar, filha. Conte-nos.

         Julia pensou e viu que não tinha mais sentido em esconder certos fatos. Se algo desse errado, poderia botar a culpa em algum dos remédios. Ela fixou os olhos no pai e despejou:

         - Naquele dia, eu pensei que fosse morrer. Fiquei presa em uma das salas que pegaram fogo, e, acredite ou não, Loki me tirou de lá de dentro... E agora, tentou me sequestrar. Acho que é algum tipo de implicância contra mim. Bom, não sei o que é, mas me irrita bastante. Acho que isso tem me deixado meio... calada. Não sei...

         Tony revirou os olhos, inteiramente incrédulo:

         - Loki... Esse cara salvou você? Ele que te tirou de lá? Mas por quê? Loki nunca faz nada sem uma intenção...

         - Bom, eu não sei... - Disse Julia. Ela não esconderia nada do pai, a exceção do beijo.

         - Ele te feriu? - Perguntou Tony, aproximando-se dela. Pepper ficou calada no canto, aparentemente temendo opinar.

         - Não. Torci o tornozelo na queda quando fomos até Asgard...

         - ASGARD? - Perguntou Tony, aflito. Julia esquecera-se desse detalhe.

         Então, ela se pôs a contar tudo o que acontecera de uma maneira mais apropriada. Disse que Loki a salvara, e omitiu que fora procurá-lo em busca de respostas. Contou que ele a sequestrara e levara para Asgard através do anel-portal de jaspe verde.

         Tony tentou se conter, mas manifestava esporadicamente sua raiva enquanto Julia fazia seu relato. E também manifestava seu desejo de se vingar de Loki por tudo o que fizera à filha.

         - Não se preocupe, Julia... Agora, deite e durma. Não vou deixar Loki sequer se aproximar de você de novo.

         Julia dormiu, mas foi com interrupções durante toda a noite. Sentia-se tonta, e culpou a sonolência pelo remédio que havia tomado. Por várias vezes pensou ter ouvido turbinas sobrevoando a casa, mas não era a mesma que seu pai usava na armadura. Preferiu ignorar.

         Foi quando, subitamente, sua janela de vidro estourou.

         Estilhaços voaram por toda a parte, e Julia precisou colocar às mãos nos olhos para se proteger. Um alarme, instalado pelo pai por toda a casa, foi ligado e começou a fazer um barulho ensurdecedor. Foi com horror que ela percebeu uma nave parada do lado de fora da casa, parada no ar e com um canhão laser apontado diretamente para ela. Era uma nave grotesca, primitiva e azul marinho. O fogo que saía de seu escapamento era azul e parecia emitir um vento gelado e cortante.

         Então, um Gigante de Gelo pulou da nave em seu quarto, falando com uma voz pontuada de chiados e ruídos animalescos:

         - Julia Stark. Você vem conosco.

         Julia reagiu instintivamente:

         - Não. - Falou. O Gigante de Gelo sorriu, exibindo horríveis mandíbulas com gengivas avermelhadas. O olho, também vermelho, piscou.

         - Não foi um pedido. Levem-na. - Ordenou o Gigante. - Sou um dos filhos de Laufey, nosso líder.

         - Ninguém perguntou. - Retrucou Julia, tentando, em vão, se desvencilhar de outros dois Gigantes que a tiravam da cama.

         Ela teve raiva novamente. O que Gigantes de Gelo queriam com ela? Só podia ter a ver com Loki. Julia teve certeza de que ele devia ter mandado os Gigantes atrás dela. Amaldiçoou-o e falou nomes feios baixinho.

         Assim que os Gigantes levaram Julia para a nave, jogaram-na em um calabouço, cujas hastes eram feitas do mais puro gelo de Jotunheim. Ela teve frio e sentiu que os dentes iriam trincar.

         Foi nessa hora que Tony Stark surgiu, colocando o capacete da armadura, pronto para combate.

         - Julia! - Ele gritou, ativando os lasers das mãos e do peito.

         Mirou os lasers para o nada. A nave já desaparecera.

         - Loki! Seu estúpido! Idiota! Apareça! - Julia berrou da cela em que estava, odiando Loki com todas as suas forças.

         - Loki não está aliado a nós. - Comunicou um dos Gigantes que guardava a cela.

         - O que? - Julia perguntou, confusa.

         - Loki nos enganou. Demos um exército a ele. Ele tinha que nos fornecer energia nuclear terrestre em troca, mas perdeu nossos soldados em batalha e não cumpriu sua parte no trato.

         Julia conhecia essa história. Olhou descrente para o Gigante, que continuou:

         - Foi por isso que sequestramos você. É a única coisa que Loki teme perder de verdade.

         Julia ­semicerrou os olhos. Mais uma vez, não sabia o que pensar. Então ela estava sendo sequestrada por inimigos de Loki, que queriam chantageá-lo, porque sabiam que ele gostava dela. Ou, poderia ser mais um dos planos de Loki, que queria fazê-la de idiota outra vez.

         Outro gigante de gelo se aproximou nesse meio tempo, aquele que se intitulava outro filho de Laufey.

         - Pare de contar nossos planos a ela, ou jogo você para fora da Ponte Einsten Rosen! - Gritou ele para o guarda da cela.

         - Onde está Loki? - Perguntou Julia.

         O gigante líder sorriu amargamente:

         - Não sabemos. Mas assim que ele souber que você está aqui, com certeza vai dar as caras.

         Loki saiu correndo pelo meio de Manhattan.

         Recebera em seu esconderijo uma mensagem de um grupo de Gigantes de Gelo, que sequestraram Julia.

         - Olá Loki... Lembra-se de nosso trato? Acho que não... Mas espero que isso refresque sua memória... - A mensagem em vídeo dizia.

         E, nesse momento, O Gigante mostrara Julia na cela. Estava quase azul de tanto frio.

         Foi aí que Loki saíra correndo. Não tinha a energia nuclear que tinha prometido aos Gigantes. Ele tinha que pensar em outra coisa... Outro meio. Sabia que os Gigantes estavam levando Julia para Jotunheim, a terra natal deles. Precisava se encaminhar para lá. Traçar um plano, e tirar Julia das garras de seu irmão. O outro filho de Laufey.

         Tony convocara uma reunião de emergência.

         Todos os Vingadores, inclusive Banner e Nick Fury estavam em um avião da SHIELD, sobrevoando Manhattan e procurando um jeito de viajar até Jotunheim. Thor, especialista em pontes espaço-tempo, dizia:

         - Precisamos de um portal suficientemente grande. Algo que nos faça ir para Jotunheim de nave e tudo...

         - Loki! - Sugeriu Natasha. - Ele tem um portal consigo. Até levou Julia para Asgard...

         - Boa ideia, mas o portal é muito pequeno. Precisaríamos de energia para expandi-lo. - Contrapôs Tony.

         - Isso! - Confirmou Thor, resoluto. - Iremos atrás de Loki, roubaremos o anel-portal dele, juntaremos nossos poderes e expandimos o portal!

         - Assim, passaremos com a nave e iremos para Jotunheim! - Incentivou Barton, animado.

         - Resgataremos Julia e vamos mostrar para aqueles picolés que com os Vingadores não se brinca. - Finalizou Tony.

         - A ideia é inegavelmente boa, senhores... - Interrompeu Fury, com a expressão misteriosa. - Mas como vamos encontrar Loki?

         - Sempre tem um jeito... - Observou Tony.

         Ele pegou um palm top e ficou analisando-o:

         - Altas leituras de tecnologia asgardiana no subúrbio da cidade: em uma fábrica abandonada.

         - Loki está lá. E é para lá que vamos. - Decidiu Thor.