Loki: O Resgate escrita por Tenebris


Capítulo 2
Encontro




Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/325519/chapter/2

Stark chegou desvairado, tirando a armadura e pousando logo em frente à filha.

        - Vou chamar uma equipe médica! - Falou Capitão América pronta e prestativamente.

        Viúva Negra murmurava algo a um rádio comunicador, possivelmente fazendo relatórios a Phil Coulson.

        Thor aproximou-se de Julia, intrigado:

        - Ela parece estar com algumas feridas cicatrizadas. Como é possível?

        Mas calou-se de pronto. Conhecia aquela magia como Asgardiana, mas não queria expressar opiniões equivocadas. Somente uma pessoa poderia tê-la salvado, vinda de Asgard, menos ele. O problema era que a pessoa não tinha a menor inclinação a salvamentos.

        - Que cara é essa, Thor? - Indagou o Arqueiro. Como Thor fizesse não ter ouvido, ele o cutucou.

        - Nada. - Disse Thor simplesmente, mas sem conseguir disfarçar a cara curiosa e pensativa.

        - Acorda, filha! - Gritou Stark.

        Julia abriu os olhos, confusa, como se alguém a chamasse de um lugar bem distante. Recuperou a consciência lentamente, mas sentia um vazio em sua memória. Como se tivesse viajado e só voltasse agora.

        Havia uma lacuna em sua mente, lembranças inexistentes de minutos passados, que ela não conseguia lembrar por mais que se esforçasse.

        Mas havia um nome. Um nome e uma fisionomia que ela conseguiu captar, e que não deixara desvanecer. Sim. Ela se lembrava do nome, agarrara-se a ele com vontade, para lembrar-se de não se esquecer o que realmente havia ocorrido. Como se sua vida tivesse dependido disso. Bom, talvez realmente tivesse.

        E esse nome era Loki.

        Quando recuperou plenamente sua consciência, Julia estava em um quarto de hospital. Seu pai estava ao seu lado, conversando com Natasha sobre o prejuízo da explosão.

        A SHIELD tinha ido pelos ares. Equipamentos, projetos, planos... Tudo fora perdido. Fury só havia conseguido salvar o que era estritamente importante. Infelizmente, alguns agentes e seguranças perderam a vida. Em suma, tinha sido um desastre. Então Julia abriu um olho e tentou levantar, mas havia vários fios ligados a ela que impediram sua fuga.

        Tony virou-se de pronto, perguntando:

        - Você está bem?

        - Melhor. – Ela respondeu, incomodada com os fios e tentando arrancá-los. Tony sorriu:

        - Deixe-os aí. Você terá alta no final da tarde. Mas... Diga-me. Como escapou da base? Coulson me contou que você ainda estava lá pouco antes da explosão. Fiquei desesperado e fui procurá-la, quando Fury disse que uma enfermeira tinha encontrado você lá na frente, do lado de fora...

        Julia forçou a memória, hesitando. Lembrava-se do nome e da pessoa. Entretanto, era somente isso. E não podia contar ao pai o que tinha acontecido. Se mencionasse o nome de Loki, Tony surtaria. Ela simplesmente franziu o cenho e falou:

        - Não me lembro... Acho que alguém me tirou de lá... É confuso.

        - Entendo... Talvez se lembre daqui um tempo. O importante é que está bem. E eu nunca mais te levarei comigo em nenhuma reunião da SHIELD.

        Julia sorriu cabisbaixa. Ainda se lembrava da primeira vez em que fora a uma dessas reuniões. A imagem veio nítida em sua mente. Em meio a isso, seu pai a interrompeu:

        - Tem uma pessoa querendo te ver.

        - Quem?

        Então, Luiza entrou pela porta, sorrindo tímida e animadamente, trazendo nas mãos um pote de paçoquinhas.

        - Vou sair, preciso tomar um café. – Disse Tony, inclinando-se para beijar a filha na testa.

        - Até logo. – Ela se despediu.

        Luiza aproximou-se de Julia, parando ao seu lado e estendendo o pote de paçoquinhas. Luiza era amiga de Julia desde muito tempo. As duas, desde pequenas, aprontavam muito na Stark International. Ela era filha de um executivo da empresa, então, onde uma estava, a outra acompanhava. Tinha cabelos castanhos até um pouco depois dos ombros, e os olhos receptivos mais negros que Julia já tinha visto. Ela a considerava verdadeiramente uma irmã.

        - Sei que adora paçoquinhas... – Começou Luiza.

        Julia pegou-as e começou a comer uma a uma, virando-se de lado para poder enxergar Luiza melhor. Então, sussurrou apressadamente:

        - Preciso falar com você, Lu... É urgente.

        Luiza puxou uma cadeira pra perto e sentou-se de modo a encarar Julia. 

        - Eu não tenho muita certeza do que aconteceu na SHIELD ontem... Mas me lembro de quem me tirou de lá... Não sei quanto tempo foi, nem como. Mas eu me lembro da pessoa. E sei que só posso contar a você. – Explicou Julia.

        O tom apressado e misterioso fez Luiza revirar os olhos e pedir para a amiga revelar a identidade do misterioso salvador.

        - Bom, então me diga...

        - Era Loki. Loki me salvou. – Julia desabafou, e sabia que de pronto a amiga se assustaria.

        - Loki? – Luiza repetiu, indignada. – Julia... Esse cara é perigoso... Como ele pode ter te salvado? E por quê? Quero dizer, ele é do mal...

        - Eu sei... Mas é perfeitamente possível. Foi ele que comandou o ataque à SHIELD. Covarde como é, não apareceu para a luta, mas estava lá... Ouvi meu pai comentando com Natasha.

        - Mas Loki? Tipo... Ele não salva ninguém. – Luiza preocupou-se, fitando Julia com o olhar vivo e aflito.

        - Você sabe Lu... Eu te contei... Muitas vezes encontrei com Loki, e muitas vezes discutimos. Ele é, aparentemente, detestável e muito cruel. Mas... Não sei, depois de tudo que ele passou... É compreensível que esteja com raiva do mundo.

        - Julia... – Luiza advertiu, mas foi interrompida pela amiga, ainda decidida a falar em Loki.

        - Lu... Não estou dizendo que concordo com o que ele faz, mas eu posso entendê-lo... E, não sei, ele teve várias chances de me matar... E não o fez...

        - Loki não espera uma chance qualquer para matar alguém. Ele espera a chance. A melhor delas. A certa. É isso que me preocupa.

        Julia suspirou, triste. Por que só ela pensava existir algo bom em Loki? Sentiu-se deslocada e perdida.

        - Eu não sei por que, mas não sinto que ele queira de fato me matar... Quando conversamos, ele parece ser... Só ele mesmo.

        Luiza pigarreou e perguntou, incrédula:

        - Então você acha que...?

        - Sim. – Confirmou Julia. – Eu acho que ele não é inteiramente mau. Posso estar errada, mas essa é a impressão que tenho.

        Luiza pensou e refletiu durante um tempo. Como se pensasse se deveria ou não dizer algo, mas, com um suspiro, prosseguiu:

        - Temo por você. Por sua segurança. Thor me conta histórias... Loki sempre foi meio... Desequilibrado. Mas, como sua amiga, quero que faça o que achar melhor... Mas, me prometa uma coisa.

        - O que? – Julia perguntou.

        - Fique segura, por favor.

        Julia e Luiza se abraçaram.

        - É como seu namorado diz... Ele é adotado... – Julia riu da própria piada e Luiza ruborizou, mas não escondeu o sorriso de satisfação.

        Luiza e Thor viviam juntos pela SHIELD, em sua base, aviões ou submarinos. Thor, vindo de Asgard, precisava de alguém que lhe guiasse pela Terra e lhe ensinasse os costumes. E Luiza fora a escolhida.

        Nas lutas, Thor não hesitava em protegê-la e fazer de tudo para que ela ficasse bem. Até prometera levá-la um dia para conhecer a Bifrost, Heimdall, Odin e Arsgard.

        - Vou embora, então... Até mais... Eu te mando SMS... – Luiza despediu-se, acenando.

        Julia, ainda sentada em sua cama, acenou em resposta, brincando com a amiga:

        - Até mais, futura Rainha de Asgard...

        Luiza sorriu.

        E o tempo passou. Julia melhorou, e agora passava a maior parte do tempo longe das reuniões dos Vingadores. Ficava metade do dia na Stark International, ajudando Pepper Potts com alguns afazeres administrativos. Ela não se queixava. Gostava de Pepper e ela era confiável, diferentemente de Obadiah Stane e seus capangas.

        Seu pai também não lhe perguntou mais nada sobre a explosão da SHIELD, ao passo que praticamente ninguém mais tocava no assunto. Ninguém mais queria saber como Julia escapara, embora tal fato ainda fosse considerado milagre.

        Mas isso não contribuía para Julia se esquecer do assunto. Pelo contrário. Não parava de refletir e pensar. O que poderia ter levado Loki a salvá-la? Porque ele fizera isso? E porque justo ela? As perguntas se agitavam em sua mente a todo o momento, sedentas de uma resposta. Tanto mais Julia pensava no assunto, menos conseguia chegar a uma conclusão. Entretanto, parecia recuperar, aos poucos, pedaços da lembrança que lhe fora tirada.

        Ela pensava, se esforçava, tentava arrancar à força de sua mente o que tinha acontecido naquele dia... E assim, com muita dificuldade, conseguia lentamente ir se lembrando do que realmente ocorrera.

        Cada atitude, cada palavra, cada gesto. Menos o que levara Loki a fazê-los.

        E foi assim que dentro de um mês, Julia já se lembrava de praticamente tudo o que tinha se passado, inclusive de que Loki tentara apagar sua memória. Pelo visto, sem sucesso. Tendo descoberto isso, agora só faltava descobrir o porquê de Loki tê-la salvado. Os motivos, as razões, os objetivos. E, para fazê-lo, só tinha uma alternativa. Ir falar diretamente com Loki. Interrogá-lo e tirar dele as respostas que a consumiam por dentro.

        Depois de arquitetar um plano cuidadosamente, Julia conseguiu, depois de uma semana, descobrir o esconderijo de Loki. Em uma tarde de inverno, saiu da Stark International discretamente e pegou uma condução até uma parte mais afastada de Manhattan, perto de uma fábrica de explosivos abandonada.

        - É aqui... – Murmurou, quando estava de frente para a fábrica abandonada.

        Julia abriu o portão, e este rangeu fantasmagoricamente. Ela se surpreendeu ao não encontrar nenhum Chitauri ou alienígena por perto. Principalmente porque Loki não atacava fazia quase um mês.  Ela seguiu até à porta principal, que era feita de um alumínio já oxidado. A porta estava entreaberta e ela entrou.

        Por dentro, era um grande espaço amplo com algumas janelas sujas e pequenas, conferindo insalubridade ao ambiente pouco iluminado. No canto direito, havia umas caixas de vários tamanhos e disposições, todas contendo explosivos velhos ou materiais pertencentes à antiga fábrica.

        Do lado esquerdo, havia armas e dispositivos variados que não pareciam tecnologia nuclear terrestre. Ao fundo é onde ficava o mais surpreendente.

        Era um grande painel com controles que ocupava praticamente toda a parede. A tecnologia era, obviamente, Asgardiana, e as cores que predominavam eram douradas e verdes.

        Sentado em uma cadeira logo no centro, de costas para Julia, estava Loki.

        Ele não demonstrou tê-la visto, mas Julia tinha certeza de que ele o sabia. Ela continuou se aproximando dele, andando em linha reta. Teve raiva. Raiva porque Loki considerou a possibilidade de hipnotizá-la... De usá-la para seu próprio benefício. Teve raiva por não descobrir o que se passava na mente dele quando simplesmente mandou que ela mantivesse um olho aberto...

O silêncio cortante foi quebrado quando Loki disse, com um sarcasmo bem sutil:

        - Poucas coisas conseguem me surpreender, e já é a segunda vez que você o faz...

        Loki virou-se para encará-la com um sorriso levemente inclinado e com os cotovelos apoiados nos braços da cadeira, mas Julia manteve-se séria. Ela viera com o objetivo de obter respostas. Seria clara e direta. Não cairia em mais nenhum joguinho de Loki.

        Foi a vez então de Julia encará-lo. Podia sentir que incomodava Loki com seu olhar penetrante e incisivo, com a expressão obstinada que fazia ele se lembrar insistentemente de Tony Stark.

        Julia estacou a um metro dele, cruzando os braços e o encarando. Não precisava dizer palavra. Loki pressupunha o que a trazia ali. Bastava que contasse.

        Passados alguns minutos, ele indagou, elevando teatralmente o tom de voz:

        - Devo esperar que a qualquer momento os agentes da SHIELD virão até aqui se vingar de mim?

        - Vim sozinha. – Retorquiu Julia rispidamente, ainda sem alterar a expressão. – Sabe por que estou aqui.

        Loki revirou os olhos. Então tornou a fixá-los em Julia. Pareciam retribuir a intensidade que os de Julia emitiam.

        - Por que me salvou naquele dia? – Ela perguntou, lutando para manter o rosto composto.

        Loki parecia ligeiramente confuso e tenso quando respondeu:

        - Salvar? Do que está falando, menina?

        - Você me tirou da SHIELD em chamas... Você curou meus ferimentos. Quero saber por quê.

        Loki tentou manter-se inalterado, mas vacilou por alguns segundos, e Julia percebeu, pois sorria triunfante.

        - Eu não te salvei de lugar nenhum. Está louca! – Gritou Loki, como se estivesse aturdido com tal possibilidade.

        Bem, ele estava. Então a magia que lançara não cumprira seu propósito. Julia recuperara a memória, após breve período de esquecimento. Então ela se lembrava dele. E agora vinha atrás de explicações.

        - Não estou louca. Eu sei bem o que eu vi. Você me tirou de lá... – Julia argumentou, quase beirando o desespero. Não podia ter imaginado o acontecido, podia?

        - Como me encontrou aqui? – Contestou ele, fazendo um gesto com a mão que abarcava toda a extensão da sala. Loki queria urgentemente mudar o rumo da conversa. Ele precisava de tempo para pensar.

        - Eu fiz minha pergunta primeiro. Responda-a. – Retorquiu Julia.

        Loki voltou a sorrir. Era estranho e divertido para ele ver a fúria de Julia, posto que ela não tivesse a mínima chance contra ele, caso Loki quisesse matá-la.

        - Proponho que responda a minha primeiro. Então, responderei a sua.

        - Por que eu confiaria em você? – Desdenhou ela.

        - Ora, você não diz que eu salvei sua vida? – Indagou Loki, sorrindo vitorioso.

Ele se levantou da cadeira e se aproximou de Julia. Ela não recuou e se manteve firme.

- Pesquisei de onde vinham os maiores índices de energia nuclear asgardiana. A propósito, onde está sua nave invisível? – Ironizou ela.

Loki revirou os olhos e apoiou uma mão no queixo.

- Boa resposta... – Murmurou.

- Agora responda à minha pergunta. – Insistiu Julia, desta vez se aproximando para olhá-lo. Seus olhos azuis e frios se desviaram dos dela.

Loki queria evitar essa pergunta. Como poderia contar para Julia os motivos de tê-la resgatado, sendo que ele mesmo os desconhecia?

- Foi muita estupidez vir até aqui sozinha, garota... Sabe que posso matá-la com um estalar de dedos, não sabe? – Perguntou Loki, mais uma vez tentando fugir do assunto.

- Então me mate... – Julia enfrentou-o, agora quase grudada ao rosto dele, de tão perto que tinha chegado.

Loki não encontrou forças. Não encontrou coragem. Ele não queria matá-la. Era exatamente isso. Não queria feri-la, porque talvez até simpatizasse com essa mortal... Ele gostava de desafiá-la, de discutir com ela... Gostava de deixá-la irritada constantemente e sem reação. Loki viu-se sem opção. Em toda sua vida medíocre, nunca havia sido sincero em algo. Desta vez, ele seria.

- Eu não sei por que a salvei. Acredite-me, tenho passado metade do meu tempo tentando descobrir a resposta. Não sei... Mas algo me fez salvá-la. E sei que é a mesma coisa que me impede de fulminá-la neste instante.

Julia, até então impassível, hesitou. Loki parecia estar sendo sincero. Até tinha largado seu cetro no chão e falava pausadamente, como se buscasse exatidão nas palavras que proferia.

- Você... parece estar sendo sincero. – Julia observou tolamente. Sentiu-se vulnerável.

- É a primeira vez que estou sendo, na verdade. – Loki observou, recuando um pouco. Estava sentindo-se igualmente tolo. Não estava acostumado a viver uma verdade. E era assim que se sentia ao lado de Julia.

Julia afastou-se, confusa.

Já era quase noite. Ela precisava ir. Tentou falar umas três vezes, mas não conseguiu. Quando sua voz finalmente saiu, foi fraca e entrecortada:

- Bom... Tenho... Que ir. Está tarde.

E saiu andando lentamente. Loki não dizia nada e aquilo a irritou. Ela virou-se por duas vezes, mas Loki fitava o chão, perdido em pensamentos como se nem a tivesse ouvido. Novamente, teve raiva.

Quando chegou à porta da fábrica, cogitou a possibilidade de olhar outra vez para trás, esperando uma reação de Loki. Mas não o fez. E então, assim que encostou a porta, ouviu a voz baixa de Loki:

- Não quero lutar contra você. Eu a salvei por algum motivo. Não desperdice isso.

Mais confusa do que antes, Julia fechou a porta. Ao invés de resposta, ganhara outras perguntas. E outras perspectivas também.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!




Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Loki: O Resgate" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.