Loki: O Resgate escrita por Tenebris


Capítulo 1
O Ataque




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O líder Chitauri pediu as últimas instruções a Loki. O plano seria executado em poucos minutos.

        - Detonaremos as bombas que horas? - sibilou o Chitauri, com uma empolgação gradual à medida que falava.

        - Já combinamos. Às seis horas. Assim que Julia Stark deixar a base. - Loki respondeu, observando os Chitauris com olhar de superioridade.

        Em seguida, seu olhar voltou à gigantesca base da SHIELD. Inúmeros projetos de armas de destruição em massa, instrumentos de última tecnologia, fontes ilimitadas de energia, talvez algum Tesseract oculto...         Tudo seria perdido com a explosão. Bom, seria necessário. A expressão de Loki se suavizou em um fino sorriso de escárnio.

        Ele considerava seu plano infalível. Ora, a engenhosidade do mesmo se devia à sua inteligência e preparação perfeitas, pensava ele.

        Um plano que só um verdadeiro Asgardiano saberia executar, sendo digno de reinar sobre a Terra, e quem sabe, controlar a Bifrost um dia...

        Assim, Loki repassou o plano mentalmente. Ele reconhecia a imprudência e impulsividade de planos passados, e não cometeria o mesmo erro.       

        Ele e um pequeno grupo de exército Chitauri estavam dentro de uma nave, a qual estava invisível e indetectável, parada bem à frente da base da SHIELD, onde os Vingadores estavam em reunião.

        Seria a oportunidade perfeita. Alguns Chitauris colocaram bombas em lugares estratégicos. Bombas que seriam detonadas às seis horas, fortes o suficiente para causar danos significativos para SHIELD. Para fazê-la cair. E, com ela, os Vingadores.

       

        Loki segurou com força o controle que faria, com um só toque, todas as bombas detonarem. Entretanto, seu orgulho e ego se sobressaíram. Ele precisava ser visto derrotando a SHIELD. Resignado, entregou o controle nas mãos do Chitauri líder e lhe fez recomendações expressas. Loki teve outra ideia. Após a explosão, ele sairia da nave e se certificaria, pessoalmente, de não deixar ninguém sair vivo daquele lugar.

        Deram seis horas. Loki esperou por um minuto. Depois dois. Desesperou-se internamente. Julia ainda não tinha saído, o que contrariava seu hábito de pelo menos duas semanas atrás. Julia nunca tinha saído depois das seis horas. A verdade era que Loki queria afundar a SHIELD, mas não com Julia dentro. Algo que ele desconhecia o impedia de detonar as bombas naquele momento.

        O Chitauri o encarou, com um aviso mudo de que iria apertar o botão. Loki ainda tinha esperança - se é que alguém como ele podia senti-la, - de que Julia saísse pela porta e fosse embora para longe dali, mas não podia esperar mais tempo.

        Enquanto pensava, o Chitauri foi mais rápido. Foi tarde demais que Loki tentou impedi-lo. A bomba fora detonada. A SHIELD iria cair.

        - Não! - Loki berrou. Seus olhos azuis cegos do brilhante clarão da explosão que se seguiu.

        - Que foi? - Grasnou o Chitauri.

        - Dei-lhe ordens expressas. A bomba deveria ser detonada assim que a filha do Stark deixasse a base. - Vociferou Loki, uma fúria irrompendo de si.

        - Uma vítima a mais, ou a menos... Que diferença isso faz? - Desdenhou o Chitauri, desafiando Loki.

        - Quer saber? Tem razão... - Disse Loki, em seu tom de voz mais suave, perigoso e irônico. - Uma vítima a mais, ou a menos... Tanto faz.

        E, com isso, desferiu um golpe com seu cetro, rasgando o peito do Chitauri. Diante da cena, todos os outros se calaram.

        - Vão! - Berrou Loki. Os outros saíram da nave, em direção ao caos que agora dominava a SHIELD, em chamas.

        - Fomos atacados! Código vermelho! - Berrou Nick Fury aos seus comandados.

        Bruce Banner saiu correndo da sala, temendo uma transformação rápida demais e incontrolável. Natasha Romanoff se preparou assim que Nick deu a ordem, com armas em punho. Uma flecha tilintou na aljava de Clint Barton. Thor parecia constrangido e conformado ao mesmo tempo, mas preparou o Martelo de Mjolnir. Em Steve Rogers, era possível ver que ideias e planos eram traçados com precisão em sua mente ardilosa de soldado. E Tony Stark ativou a armadura do Homem de Ferro.

        - Nunca vou me acostumar a esses ataques surpresa. Quero uma boa dose de Martini depois disso. - Murmurou Tony, sob o olhar reprovador de Steve.

        Julia Stark estava apreensiva. Olhava ansiosa para as luzes vermelhas que piscavam, indicando a emergência da situação.

        - Filha, quero que saia daqui o mais rápido possível. Conhece o caminho. Provavelmente, quem nos atacou vai entrar. Então, estará segura lá fora. - Orientou Tony.

        Julia assentiu. Tony não gostava muito de trazê-la até a SHIELD, mas ultimamente, contando com possíveis ataques de Obadiah Stane na Stark International, era preciso trazer a filha para reuniões da Iniciativa Vingadores.

        E depois, Julia estava acostumada à rotina do pai. Na grande maioria das vezes em que frequentava essas reuniões, algo acontecia e ela precisava sair depressa. Foi assim que memorizou os corredores da SHIELD que a levariam à saída. 

        Tony fitou a filha. Pensou em como ela deveria estar se sentindo com tudo aquilo. Ter que frequentar reuniões exaustivas e fugas ainda piores, diante de seres de outra dimensão que queriam governar a Terra ou destruí-la.

        A verdade era que Julia era bem parecida com seu pai. O mesmo tom castanho nos olhos e nos cabelos, o mesmo olhar determinado e esperto de quem sempre tem uma resposta para tudo. E, principalmente, o jeito divertido e irônico. A menina sabia honrar o nome que levava.

        - Tudo bem pai, estou acostumada. - Ela sorriu, tirando do bolso uma pequena arma laser que o pai lhe dera semana passada. E disparou para fora da sala, seguindo o caminho que tanto conhecia, em direção ao mundo real.

        Quando Julia virou o corredor, pôde ouvir as turbinas da armadura e a voz robotizada do pai:

        - Fique bem.

       

        A SHIELD estava um caos. Agentes estavam feridos, alguns mortos. Um grupo tentava impedir que o incêndio dominasse a base, mas estava difícil. O fogo iria se alastrar. Outros ainda tentavam resgatar projetos e armas, em vão. Foi quando os Chitauris invadiram a base, para completar a destruição. Logo, os Vingadores entraram em cena, cada um atacando os Chitauris a seu modo, unidos em sua divergência por um mesmo objetivo.

        Loki saiu da nave, transtornado. Observou que seu plano saíra exatamente como planejou, exceto por um detalhe. Com um golpe de seu cetro, pulverizou qualquer um que entrasse em seu caminho, saindo da base. E ficou andando pelo perímetro, confuso e perdido em pensamentos. Não queria que Julia fosse atacada, mas não podia simplesmente entrar na SHIELD. Pelo menos não naquele momento. Sua hora havia de chegar.

        Julia errou o caminho pelo menos umas três vezes. Teve de procurar rotas alternativas, visto que o fogo agora consumia praticamente metade daquela base. Sem contar que os Chitauris agora invadiam a parte livre, e uma grande luta ocorria lá.

        Depois de minutos, Julia passou por um lugar desconhecido, mas recuou. O lugar era uma sala de substâncias químicas, agora completamente dominada pelo fogo. As estruturas da parede rangiam e ameaçavam ceder. Logo atrás de Julia, uma viga caiu, impedindo sua passagem. Ela estava sem saída. Não conseguia avançar, nem retroceder.

        A fumaça agora era quase tangível, com nuvens gordas e cinzas de fumaça pesada. Ela não aguentaria por muito tempo. Se tentasse escapar por qualquer brecha, poderia fazer o que restava da estrutura terminar de cair. Uma tosse incessante se apoderou dela, e o fogo se alastrava cada vez mais rápido.

        As chamas devoravam tudo ao seu alcance, chegando a um armário de substâncias químicas. Ele era grande e de vidro, com substâncias de todas as cores e consistências. Foi então que Julia observou que o fogo seguia direto para uma poça de alguma substância que havia caído ao chão.

        E então várias explosões se seguiram, quando o fogo entrava em contato com cada substância esparramada ao chão. Julia tentou se esquivar como pode, mas o fogo agora chegava ao armário, explodindo-o também.

        As portas de vidro se quebraram com um rangido ensurdecedor, e Julia caiu deitada no chão, sobre alguns cacos de vidro, completamente ferida. A fumaça parecia chegar até seu cérebro, o que também contribuía para retardá-la. Alguns cacos de vidro ficaram incrustados em sua mão, e foi com aflição que ela os retirou, um por um, de sua palma, que vertia sangue.

        Julia não aguentou. A fumaça, o fogo, o calor, os ferimentos, o cheiro de ferro e sal que invadiam o seu nariz. Ela fechou os olhos, triste e arrependida por ser tão fraca. Não cumpriria a promessa feita ao pai.

        Loki, após pulverizar alguns agentes, cansou-se. Estava entediado, e percebia que não poderia mais contar com Chitauris para um plano delicadamente perfeito. Franzindo o cenho, resolveu entrar na base da SHIELD, a fim de ver o andamento da luta e também, secretamente, procurar Julia.

        Ele então percebeu que Nick havia chamado reforços, e que uma equipe médica e outra equipe espiã estavam montando um acampamento atrás da SHIELD, para onde estavam se dirigindo quem conseguia escapar da confusão interior.

        Loki não se preocupou, pois estava do lado oposto a esse acampamento.

        Ao entrar, ele se deu conta de que não aguentaria muito tempo, nem se ao menos quisesse. O lugar iria para os ares em minutos. Sim, o plano teria dado certo.

        Loki andou por entre os escombros, observando de longe a luta entre Chitauris e Os Vingadores. Viu os Chitauris massacrados, um por um, com ataques da armadura de Stark, do escudo de Vibranium do Capitão América, dos golpes precisos do Gavião Arqueiro, com a agilidade de Natasha Romanoff, o descontrole doentio de Hulk, e a força do martelo de Thor.

         Loki preferiu então se afastar da luta. Tinha objetivos mais nobres que lutar com um punhado de heróis dementes que tinham como aliado um gigante verde imprevisível.

        E foi andando que Loki ia refletindo. Talvez seu plano perfeito não fosse tão perfeito assim. Talvez tudo, antes dado como certo, agora estivesse dando completamente errado. Mas a culpa não podia ser dele, logicamente. Devia ser dos Vingadores, que, com alguma sorte, estavam levando a melhor na batalha.

        Ele então entrou em uma sala pequena, quase toda queimada, e algo lhe chamou atenção. Poucas coisas conseguiam surpreendê-lo, mas aquilo o fez.

        Julia jazia desmaiada entre alguns escombros, toda ensanguentada e ferida. Loki não conseguiu medir seus atos, nem os motivos que o levaram a fazê-lo, mas a segurou em seus braços. Não queria deixá-la para morrer. Tentou convencer a si mesmo que era simplesmente para evitar a ira de Tony Stark, mas intimamente sabia que tal desculpa era ridícula.

        Julia entreabriu um olho, zonza.

        - Loki... - Murmurou fracamente, mas parecia mais desperta que outrora.

        - Shhh! - Pediu ele. Segurou Julia nos braços de maneira desajeitada e saiu da sala rapidamente. Em poucos segundos, sentiu-se aliviado por salvá-la a tempo, já que as últimas estruturas da sala terminaram de desabar.

        - Loki... - Tornou Julia, parecendo lívida, mas ainda desperta.

        - Ouça, apenas mantenha um olho aberto, está bem? - Retorquiu Loki rispidamente. A loucura do que estava a fazer o deixava nervoso e inábil.

        E a tirou da base o mais rápido que pode. Loki levou Julia para trás da SHIELD, onde não havia nada ou ninguém senão sua nave. Ele colocou Julia no chão.

        Loki não sabia muito de magia Asgardiana, mas reunindo poucos conhecimentos e a energia de seu cetro, conseguiu curar alguns ferimentos de Julia. Embora ela permanecesse meio acordada, meio entorpecida, em aparência, já estava melhor. Grande quantidade de sangue havia sumido e alguns cacos de vidro também.

        Ele a fitou durante algum tempo, e sua semelhança com Stark era realmente inegável. Ela era muito bonita, ele tinha de admitir. Depois de tantos encontros anteriores, diante da personalidade forte da garota e sua ironia ácida, ele ainda não conseguia encontrar o motivo de salvá-la. Ele nunca tinha feito ato semelhante antes, e a frustração por desconhecer os motivos o dominava por inteiro.

        Loki observou Julia piscar. Ele observava cada movimento dela, mínimo que fosse. Ela parecia confusa ao perceber que fora salva por Loki, o vilão que seu pai combatia. Loki riu-se dessa confusão, sorrindo torto ironicamente. Gostava dessa sensação de deslocamento que provocou nela.

        Começou a pensar então, nas possibilidades racionais que poderiam tê-lo levado a salvar a garota. Poderia sequestra-la, levá-la consigo para Asgard ou para outro dos Nove Reinos e faria uma chantagem a Tony Stark, quem sabe até para os Vingadores. Poderia conseguir armas, rendições ou pensar em alguma trapaça ou armadilha.

        Apesar de querer preservar Julia, Loki não conseguia resistir a esses impulsos ambiciosos e militares, sempre tão presentes nele. Ele era perfeitamente capaz de usar a menina, mas sem feri-la. E ainda tiraria proveito disso. Ele tinha de reconhecer que era uma possibilidade interessante.

        Loki pegou então seu cetro, cuja energia parecia já se agitar. Começou a pensar consigo mesmo, falando alto, enquanto aproximava seu cetro do coração de Julia.

        - Você tem coração... - Afirmou ele, em sussurro.

        A energia em seu cetro se agitou consideravelmente, vibrando levemente.

        - É tão patético... Tão... Simples. Tão fácil. Poderia hipnotizá-la. E você faria tudo que eu quisesse, quando eu mandasse... Fácil demais. - Devaneou ele, os olhos cintilando de cobiça.

        Seu cetro estava pronto. Loki então o ativou em direção ao coração de Julia.

        Mas não foi para hipnotizá-la.

        A intenção era essa, mas não foi seu ato. Loki simplesmente, através do poder de seu cetro, resolveu apagar a memória de Julia dos últimos minutos, a fim de que não ela não se lembrasse de seu salvador.

        Loki não admitiria tal fraqueza. Logo ele, sempre austero e inalterado, sempre o vilão irredutível e maligno, salvando a vida de uma garota? Não. Ele não deixaria isso acontecer. Seria melhor que Julia não se lembrasse. Que a gratidão morresse onde nascera, inconsequente.

        Entretanto, Loki temeu pela eficácia de sua magia. Ao mesmo tempo em que queria que Julia se esquecesse dele, queria que Julia se lembrasse, que soubesse que fora salva pelo vilão. Ele queria que ela se lembrasse dele. Os motivos de tal resolução eram incertos, mas presentes como sempre, guiando suas principais ações.

        Por ter pensado nas duas possibilidades enquanto seu cetro tocava o coração de Julia, temeu que talvez a magia se completasse confusa. E que o esquecimento talvez não fosse feito inteiramente.

        Entretanto, assim que ouviu as turbinas da armadura de Stark cada vez mais perto, Loki entrou depressa na nave invisível, pronto para deixar o lugar.

        Olhou Julia uma última vez, e pensou tê-la visto se remexer inquieta.

        Logo ele voltaria, pois queria saber das consequências e efeitos de seu plano e como Julia agiria em relação a ele.

        Mas ela estava salva e isso bastava. Por ora.


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