Pessoa Certa escrita por Mary


Capítulo 2
Capítulo 1


Notas iniciais do capítulo

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Eu tinha que falar com o sindico sobre consertar o elevador. Esse era o primeiro ícone da minha lista de reclamações.

Ele nem faz ideia de como é chegar do trabalho às três horas da manhã e ter que subir seis lances de escada até meu apartamento. Ainda depois de ter dançado durante duas horas sem intervalo.

No meu andar sou somente eu e o fantasma que vive no apartamento ao lado, 6B. Ou seja, eu tenho o sexto andar só para mim, além da chave do telhado – que eu só consegui graças ao cara do 4B, que deu uma festa no telhado e jogou fogos de artifício no meu apartamento. Depois do incidente dos fogos, fizeram uma reunião no condomínio e me deram acesso restrito ao telhado. Bem, não exatamente só pra mim, mas para o fantasma do 6B.

Já tinha chegado ao quinto lance quando ouvi um grito vindo do andar de cima. Do meu andar. Apertei o passo e subi dois degraus de cada vez. Quando cheguei ao ultimo degrau, uma caixa de papelão voou em cima da minha cabeça e eu cai.

– Moça? Ei moça, acorda!

– Heim?

– Moça acorda! Você caiu da escada.

– Como? Eu só lembro de um idiota jogando uma caixa pra cima e...

– Eu joguei a caixa.

Comecei a voltar ao normal e percebi que estava muito mais confortável do que estaria se estivesse caída na escada.

– Que bom então você é o idiota.

Soltei um gemido de dor e tentei me levantar, mas minha cabeça girou e tive que voltar a encostar a cabeça na almofada.

– Desculpe, mas eu não sabia que minha vizinha ainda não estava em casa ás três da manhã.

– E o que você tem haver com a hora que eu chego à minha casa?

– Somos vizinhos gata e vizinhos se preocupam uns com os outros.

Abri o olho bem devagar pra ter certeza que minha cabeça tinha parado de brincar com minha sanidade. Olhei em volta procurando pela voz, mas só encontrei as costas do meu agressor, quer dizer, vizinho. Babaca.

– Quando você se mudou?

– Ontem à tarde. Bati na sua porta pra me apresentar, mas você tinha saído.

– Ah, sim.

Tentei ver o que ele estava fazendo, mas ele continuava me dando as costas. Cara, ele estava me assustando falando desse jeito e sem me olhar ainda por cima. Ergui as pernas e as coloquei no chão, me sentei e avaliei o apartamento. Era branco igual ao meu, os mesmos degraus que levavam a uma parte do piso que era mais baixa, o chão de madeira escuro e as portas de correr feita daqueles vidros turvos que dava acesso ao quarto. Olhei pro lado e vi um abajur em formato de bota de caubói. As cortinas eram escuras e isso deixava o cômodo totalmente negro, iluminado apenas pelo abajur-bota.

– Uau, tem certeza que só se mudou ontem?

Ele riu antes de responder: - Me mudei oficialmente ontem, mas tenho vindo aqui à noite para arrumá-lo.

– A é? E porque eu nunca te vi antes?

– Aparentemente você nunca está em casa vizinha.

– Ok, 6B. Mas agora estou.

O vizinho pareceu se divertir com o apelido que eu arranjei para ele, pois me olhou por cima do ombro e fez um som reprovador.

– Do que você me chamou? 6B?

– Sim. Já que eu não sei o seu nome...

– É Jake, vizinha.

– O meu é Calli. Então pare de me chamar de vizinha.

Eu disse e comecei a procurar minha bolsa, só então percebi que estava sem meu casaco. E sem as botas. Hum, que esquisito...

– Então Calli, gosta de chá com leite?

– Sim, por favor. Espere, Senhor do 6B que se denomina Jake, por favor, você poderia se virar para eu poder ver seu rosto e saber se eu posso confiar em você ou se devo sair correndo?

Jake soltou uma gargalhada que me fez estremecer. Ele pegou duas canecas, uma em cada mão, e então finalmente se virou para mim.

– Olha, eu não sei se meu rosto vai tranquilizá-la. Já me disseram que eu tenho cara de serial-killer.

Eu já tinha achado que a voz dele era muito bonita, mas a combinação voz, rosto e corpo bonitos me fizeram arregalar os olhos e cravar as unhas no sofá onde eu estava sentada. Até aquele momento eu não tinha percebido que ele estava sem a camisa – a luz da cozinha estava apagada e como eu disse, só tinha um abajur ligado na sala. Jake era muito bonito e eu tinha que dar um jeito de sair daquele lugar antes que ele percebesse que eu estava ficando vermelha.

– Aqui está seu chá com leite senhorita.

O senhor 6B me entregou a caneca e se sentou ao meu lado no sofá. Tentei parecer calma e feminina. Ok, isso foi estúpido. Só tentei parecer calma e civilizada, mas quando fui virar a caneca na boca eu meio que errei o alvo e entornei o chá quente na minha blusa.

– Ah, mais que merda!

Coloquei a caneca o mais longe de mim o possível e puxei a blusa que tinha começado a grudar no meu corpo. Me levantei do sofá e comecei a procurar minhas botas. Achei-as ao lado do sofá, agachei para colocá-las nos pés. Parei de repente, Jake estava rindo de mim.

– D-desculpe! Eu não queria rir de você...

Que engraçado, para quem não queria rir, ele estava realmente se divertindo.

– Idiota!

– Desculpe Calli, mas é que você fez um escândalo e eu não resisti...

Ele mal conseguiu terminar de falar e se dobrou ao meio apertando a barriga e rindo.

– Certo. Obrigada pelo chá-com-leite. Eu já vou indo. Ah, e não me chame nunca antes das nove. Eu costumo dormir até tarde. Considerando a hora que eu chego em casa.

Joguei a bolsa sobre o ombro e sai do apartamento dele. Atravessei a grande distancia de dois metros que dividiam nossos apartamentos e parei em frente à minha porta. Procurei a chave na bolsa e não encontrei. Encostei a cabeça dolorida contra a porta.

– Que ótimo.

Dei a volta pela grande passagem até a porta do 6B. Respirei fundo e bati duas vezes na porta. Parecia que ele estava esperando eu voltar.

– Olá vizinha!

– Sabe, eu nem teria voltado se eu não tivesse deixado meu casaco aqui e eu não precisa-se dele para entrar em casa... Quer dizer, eu não preciso do casaco, preciso da chave que está no bolso do casaco.

– Ok.

Ele desapareceu da porta e voltou cinco segundos depois com meu chaveiro de chaves na mão.

– É esse aqui?

– Sim, obrigada. Mas onde está meu casaco?

– Está aqui dentro. Mas amanhã você pega.

Então ele jogou as chaves em mim e fechou a porta na minha cara chocada. Mas qual é o problema desse cara afinal?

Voltei o corredor até minha porta e finalmente consegui entrar em casa. No momento em que eu coloquei os pés para dentro foi que eu tive total consciência de como eu estava cansada. Joguei a bolsa no sofá, larguei uma bota na sala e a outra na cozinha. Me arrastei até o quarto e no caminho larguei a calça e a blusa. Fui a caminho do banheiro e quando cheguei lá tirei a calcinha e o sutiã e me aconcheguei dentro da banheira e deixei a água quente me limpar e amolecer meus músculos.

Esse trabalho estava me cansando tanto! Mas era, sem duvida, o melhor trabalho que eu podia ter arranjado. Afinal, quantos trabalhos você conhece que te dá a liberdade de se vestir e ser quem você quiser durante uma noite? E o melhor de tudo: eu não preciso ficar pelada e nem sair dando pra todo mundo para ganhar um salário enorme.

Isso foi meio grosso. É? Tanto faz. Peguei o vidro de sabonete liquido e despejei metade na banheira pra fazer bastante espuma. Soltei o cabelo e me afundei até ficar só com o nariz para fora.

Acho que devo ter cochilado por que estava com a sensação de estar morrendo afogada. Levantei da banheira num pulo e limpei a espuma dos olhos. Olhei o relógio. Já eram 5:30. Liguei o chuveiro e lavei o cabelo e tirei a espuma do corpo. Puxei a tampa do ralo e me enrolei numa toalha.

Voltei pelo mesmo caminho que fiz até o banheiro juntando a roupa no caminho. A melhor parte de viver sozinha é que você mesma limpa sua própria bagunça. Joguei tudo no cesto de roupa suja e coloquei a blusa de molho, era minha blusa favorita e não podia deixar manchá-la. Fui à cozinha e enchi uma tigela com cereal e leite. Voltei ao quarto e deixei a tigela na cômoda enquanto colocava o pijama que eu tinha usado na noite anterior. Aconcheguei-me nas cobertas e comi meu cereal. E menos de meia hora já tinha caído em sono profundo.


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Notas finais do capítulo

E comentem se gostarem.