A Física Das Possibilidades escrita por Jessy Hell


Capítulo 17
Calorimetria I


Notas iniciais do capítulo

Em termodinâmica, calorimetria é um ramo da física que estuda as trocas de energia entre corpos ou sistemas quando essas trocas se dão na forma de calor.[1] Calor significa uma transferência de energia térmica de um sistema para outro, ou seja: podemos dizer que um corpo recebe calor, mas não que ele possui calor.

Segurem seus forninhos! Neste capítulo vai ter muita troca de calor!



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Não me conformo com isso!

Sheldon estava no banco do carona no táxi, enquanto Jane e Jack espremiam Judy nos bancos de trás. Judy estava machucada, deveria estar em seu lugar.

A ruiva não se importava com isso. Só conseguia olhar de esguelha para Sheldon. Percebeu que ele havia levado uma pequena bolsa. Só não entendia muito bem o motivo. Jack deu uma piscadela para a irmã, numa tentativa de dizer “relaxa, lá na casa eu dobro a Jane”. Judy riu.

Jane estava remoendo a culpa. Jack estava certo, ela não devia ter falado nada para a mãe. Não disse por mal, simplesmente escapou. Tentaria se redimir com a irmã. Porém, Sheldon teria duas semanas para convencê-la que ele merecia ficar perto da irmã.

Jane também queria saber o motivo da súbita mudança da irmã para Pasadena. Simplesmente pediu demissão e se mudou. New Jersey havia entediado? A loira não compreendia a causa para a ida da irmã mais nova.

Jack pensava sobre a mesma coisa. Judy não estava mais como legista. E não trabalha no hospital geral, pelo que viu. Então... O que a irmã estava fazendo sozinha naquela cidade?

O taxista parou em frente ao prédio. Sheldon logo saiu e esperou Jack descer com o buquê. Assim que o ruivo pisou para fora, Sheldon plantou-se em frente a porta com a mão estendida. Judy corou fortemente quando viu ele abaixar-se:

— Precisa de ajuda. Venha! – E Sheldon sorriu pequeno. Jane estava pagando a corrida. Judy concordou e estendeu a mão para o físico.

Assim que estava fora, Sheldon ofereceu o braço. A ruiva riu. Jack olhou com aprovação e caminhou a frente, puxando Jane. Os quatro viram vários funcionários no saguão falando com o síndico. Ele olhava alguns homens instalarem câmeras de segurança no hall.

— Srta. Winters! O que houve com a senhorita?! – O síndico assustou-se ao ver a pequena machucada. Ele aparentava ter mais de 70 anos de idade. Cabelos brancos e óculos grossos, usava um terno tweed azul claro, uma camisa amarela por dentro e calças sociais marrom escuro acompanhadas com sapatos sociais pretos. Parecia muito com um avô inglês.

— Oh, Olá senhor Thompson! Acabei me acidentando... – A ruiva sorri amarelo. O Síndico sempre foi muito atencioso com ela. Diferente do porteiro, ele se preocupava de uma moça morar sozinha. Ele dizia que ela se parecia com sua finada filha.

— Mas está bem? Eu não sabia... – O senhor soltou um suspiro – Oh Deus, será que todos que trafegam aqui se acidentam? Stu foi atacado e está no hospital...

— Tentaram assaltar o prédio, Sr. Thompson? – Judy estava realmente preocupada. Sheldon tentou andar discretamente, mas não conseguiu puxar a garota.

— Não sei. Ontem houve um curto circuito e acabou queimando as câmeras. Não filmamos quem fez isso. Estou fazendo os ajustes necessários. Vou visitá-lo e perguntar se ele consegue reconhecer o meliante.

Judy confirmou com a cabeça, solene. Mesmo detestando o homem, não desejaria mal a ele. Jane tinha um semblante cínico. Como se não falassem dela. Jack acionou o elevador.

— E esse cavalheiro que a acompanha? Seria seu namorado? Uma moça tão bonita não deve ficar sozinha... – O senhor disse simpático oferecendo a mão a Sheldon. O mesmo retribui enquanto Judy tem mais um ataque de riso nervoso.

— Sheldon Cooper. Não se preocupe, não pretendo deixá-la sozinha. Quero estar próximo sempre que possível.

Judy sufocou com a declaração, arregalando os olhos. Seu rosto estava todo vermelho, e a vermelhidão já ia para as orelhas e pescoço. Jane riu, vendo um pouco da proteção dela naquela frase. Sr. Thompson sorriu feliz.

— Ah, assim que eu gosto! Quero ela muito bem protegida, rapaz! Essa menina é um tesouro... Bem educada, gentil... Às vezes se estressava com uma coisinha aqui e ali... Mas muito querida por mim. Não a magoe.

Sheldon concordou. Se Judy era tão querida, talvez a convencesse a falar com o homem para demitir o porteiro. Acalentou a ideia.

— Sr. Thompson, estes são meus irmãos: Jack e Jane! – A ruiva tenta desconversar, pois desconfiava que choraria com aquela demonstração de carinho, o Sr. Lembrava-a seu pai. O velho senhor sorriu aos dois.

— Oh, vieram visitar a pequena médica das crianças, não? É, essa menina é mesmo encantadora. Deixa saudade... Sejam bem vindos e desculpem a bagunça... – O síndico parecia encabulado – De todo esse tempo em que ela está morando aqui, não a vi tão feliz quanto agora. E ela ainda está machucada! O que não faz a presença dos irmãos e do amor, não é?

Jack gargalhou do elevador com a frase enquanto Jane não sabia o que fazer: se engasgava o velho por ter encasquetado com a ideia que Sheldon era namorado da irmã ou se engasgava Sheldon que estava com um sorrisinho convencido no rosto.

— Bom, simpático senhor... Como vê, Judy está machucada. Precisamos ir... – Sheldon disse, até simpático. Não gostava de pessoas muito abelhudas, mas até que havia gostado do velhinho.

— Oh sim, claro! Perdoem-me... O casal deve ir na frente, não concorda rapaz? – Thompson pergunta a Jack que ainda estava no elevador, segurando o mesmo. O ruivo riu.

— Sim, o namorado deve acompanhar a doente... Está certíssimo, meu caro senhor. Entrem, entrem! – Jack faz uma mesura ao sair ainda segurando a porta. Judy não sabia como reagir. Se dava um croque no irmão, se ria nervosa ou se deveria se preocupar com o semblante assassino que a irmã tinha para com o senhor. Sheldon entrou no elevador acompanhando Judy. A ruiva suspirou.

— Nós vamos atrás, Judy. Ok? – Jack dá uma piscadela enquanto Jane olha o ruivo sem entender. O elevador era grande – Jane vai ajudar o nobre senhor aqui com algumas dicas de segurança. Afinal, ela é policial... – Ele termina com um sorriso, sendo acompanhado por um semblante quase divino do homem para a loira:

— Foi Deus quem mandou a senhorita aqui! Estou preocupadíssimo com a segurança dos meus inquilinos! Ajude-me, por favor!

Judy só teve tempo de rir enquanto via as portas se fecharem. Conseguiu ouvir Jane berrar “ELE NÃO É NAMORADO DELA E ELES VÃO FICAR SOZINHOS LÁ EM CIMA??” e as risadas de Jack.

— Sheldon, me desculpe pelo Sr. Thompson, ele...

Sheldon virou-se para a garota, abraçando-a. Judy ficou paralisada pela ação.

— Como disse, não sei o que há comigo. Preciso desesperadamente tocá-la, sentir seu perfume... E gosto da sua risada – Ele a apertou mais – Não sei se está claro, mas não saio beijando meninas descontroladamente. Sinceramente, não tenho essa vontade... Mas com você...

Ele a encarou. Judy não sabia se os solavancos em seu estômago eram do elevador ou daquele contato. Sheldon aproximou seu rosto no dela. A garota congelou de nervosismo.

— Preciso beijá-la, Judy. Agora! Entende isso?

— S-S-Sim... Eu... – Judy já sentia aquele frio na barriga, vindas das famosas borboletas no estômago. Sheldon segurou seus ombros e seus lábios tocaram a testa da garota. Ela não entendeu e o olhou confusa. Ele segurou seu rosto de forma delicada:

— Mas não posso! Seu irmão tem razão, preciso me controlar... – Sheldon suspirou, seu rosto contorcido numa careta que transparecia imensa dor.

— Dane-se meu irmão, Sheldon!

Judy puxou a gola da camisa, fazendo o rosto o homem ficar ao nível do seu. Sheldon corou violentamente com aquilo. Era o sonho se tornando real?

— Acha que eu também não sinto essa vontade de beijá-lo a todo instante?! – Judy estava com um olhar decidido – É quase surreal! Quando disse que viria para minha casa, quase enfartei de felicidade!

Sheldon relembrou uma parte da conversa que teve com Leonard na noite passada:

[...] – Caramba, isso é muita informação... Mas ok – Leonard sorriu – Também é normal, Sheldon. Só tem que saber se ela também sente essas coisas.

— Não! Ela é tão doce, tão pura... N-Não poderia...

— Ela é humana, Sheldon. Claro que vai ficar como você ficou, se ela gostar de você. Nossa, cara... Como você consegue ser tão esperto numas coisas e nisso...”

** Judy, você... Você... Também quer me... Beijar? **

Esse pensamento fez Sheldon suspirar.

— Você mesmo disse que aprenderíamos tudo o que estamos vivendo juntos. Do lado científico da coisa está tudo bem claro. Pelo menos, para mim. Estou atraída por você. Não como essas atrações bobinhas que as garotas tem por homens atléticos... Mas estou loucamente atraída por você, Sheldon. Seu intelecto, seu comportamento... Seus olhos, sua voz... Seu cheiro de quarto recém-faxinado... Sei lá. Gosto muito do cheiro – Ela se permitiu uma risada.

— Eu o desejo, Sheldon Cooper. Compreende isto? – Ela o largou. Sheldon soltou um soluço de nervoso. Ele também sabia que a desejava. Seu sonho nada mais era que um recado de seu subconsciente. Agora ele entendia. Confirmou com a cabeça.

— E isso não o assusta? – Ela pergunta educada, como se perguntasse “acha que irá chover?”

— Não. Você é uma boa pessoa, Judy. E... E... – Ele cora e pigarreia – E tão bonita... Eu...

Sheldon se sentia com 9 anos, quando se encantou com um trem em miniatura que vira numa loja da sua cidade. Ele não conseguiu convencer sua mãe de comprar, pois estava tão afoito em explicar como o trem era incrível que se enrolou com seus argumentos.

Ele sentia a mesma coisa agora. Ele tinha noção que palavras não eram suficientes para explicar seu fascínio por aquela garota. Mas ela tinha duas coisas em comum com o tal trem: Ela era especial. E ele a queria. Desesperadamente.

E Judy ele conseguiria. Custasse o que custasse.

Puxou-a pela cintura, aproximando-os. Judy soltou um gemidinho com o choque dos corpos. Ele respirou fundo, procurando ser dominado pela lógica, e não pelo desejo.

— Eu a quero, Judy Winters – Aquela afirmação fez Judy ficar boquiaberta.

— Não só pelo desejo em si... Não só pelos beijos ou pelos futuros toques... Sua presença me faz bem. Se eu só pudesse vê-la uma vez por dia já me faria bem. Não digo que me satisfaria. Parece que, quanto mais estou perto de você e quanto mais tempo passo com você, mais preciso de tempo e menos distância entre nós. ISSO não a assusta?

O barulhinho indicando que o elevador chegara ao seu destino não foi ouvido pelos dois. Judy inclinava seu rosto para o dele, entreabrindo os lábios. Sheldon tremeu com aquela visão.

— Nem um pouco... Não mesmo, Sheldon...

Quando a porta abriu, revelou o casal num beijo profundo. Sheldon segurava aquela juba de cabelos longos enquanto sua outra mão pousava na cintura da garota. Judy agarrou-se ao pescoço do homem, como se sua vida dependesse disso. Judy provocava-o fazendo seus lábios cobrirem os dele, Sheldon pensava se ela estranharia se ele colocasse sua língua no beijo. Não precisou. Judy, como se lesse pensamentos, encostou sua língua na dele levemente. Ele estremeceu e correspondeu ao movimento, rodopiando a sua com a dela.

Agora não havia nada mais de “leve” no beijo. Judy segurava um punhado dos cabelos bagunçados de Sheldon enquanto sua outra mão percorria a nuca do mesmo. Sheldon largou os cabelos da garota e espalmou a cintura fina de Judy. Os rostos iam de um lado para o outro e suas línguas não paravam um só segundo. Ele não entendia como conseguia aquilo. Muito menos ela. Porém, a falta de ar estava cada vez mais próxima...

Sheldon estava diminuindo o ritmo do beijo para avisar que as portas estavam abertas quando Judy (num ato de coragem e ousadia), sugou o lábio inferior de Cooper de um jeito rude. Sheldon foi pego tão de surpresa que seu corpo reagiu a instinto: Agarrou Judy de um modo firme, levantando-a do chão e a imprensando contra a parede segura pelos quadris. Judy ofegou quando ele saiu do beijo:

— C-Céus, o que foi isto? – A pergunta saiu rápida quando Sheldon encostou sua testa na dela. Judy deu de ombros:

— Não sei, mas que foi bom, isso foi! – E ela riu nervosa enquanto Sheldon a colocava no chão. Ela estava suada e ofegante. Sheldon estava com os cabelos bagunçados e vermelho.

— C-Concordo... – Sheldon riu junto, admirado com esse rompante. As portas fecharam novamente. Sheldon apertou o último andar. Judy lhe lançou um olhar maroto...

— Eu moro no quinto andar, Sheldon...

— Se eu tivesse combustível de foguete agora, faria seu elevador quebrar pra ninguém mais usar... – Ele deu um sorriso diferente. Um sorriso desejoso.

Apesar de Judy não entender muito bem o que um elevador quebrado teria em comum com combustível de foguete, ela não se importou. Sheldon estava se aproximando dela. Afoito. Implacável.

— Sabe? – Ela sussurrou perto do ouvido do físico, fazendo-o arquejar – Realmente não me importaria se este elevador tivesse uma pane e ficássemos aqui dentro por um tempo.

Sheldon soltou um suspiro antes de seus lábios serem dominados por ela.

***

— Jack... Se eles se trancaram aí dentro...

Jane batia o pé implacável em frente a porta do apartamento. Jack não entendia o motivo da sua irmã não estar ali.

— Será que o elevador quebrou? É bem a cara da zicadinha da Judy – Jack comenta por alto.

Eles tinham tocado a campainha várias vezes. Jane mantinha seu dedo teso no botão do elevador. Jack olhou para o buquê.

— Eu mato aquele vara-pau, Jack. Estou avisando!! – Jane bufou quando viu a luz do elevador piscar, seguida do aviso sonoro. E a cena que desenrolou-se acabou causando reações diferentes nos irmãos:

Judy sorria bobamente que acompanhava um olhar feliz e sem foco, como se estivesse sob efeito de álcool ou alguma droga similar. Os cabelos espessos em desalinho, seus óculos tortos e uma manga de sua blusa estava pendendo no ombro nu que ela teimava em arrumar, sem sucesso. Estava visivelmente corada e respirava rápido.

Sheldon estava tão bagunçado quanto a mulher. O cabelo tão impecavelmente penteado agora era um desarranjo, seus lábios avermelhados e levemente brilhosos de saliva, o rosto vermelho assim como algumas marquinhas pelo seu pescoço. A gola de sua camisa estava completamente esticada e um leve arranhão aparecia em seu bíceps direito. Ele resolveu olhar para o chão quando a porta abriu, mas dava olhadelas para a ruiva. Eles estavam de mãos dadas e riam bastante.

— Como você me explica essa cena, Judy Sofia?! – Jane se controlava para não berrar. Judy saiu do elevador aos tropeços ainda risonha. Jack balançou a cabeça, descrente.

## Judy, sua medicazinha saliente! Seu primeiro amasso num elevador? ## Jack pensou enquanto dava um sorriso para Sheldon que dizia: “Eu sei o que fizeram, seus indecentes!”

— O elevador enguiçou! Travou no último andar! – Judy disse enquanto controlava o riso.

— Como travou no vigésimo sétimo se você mora no quinto?! – Jane ainda bufava atrás da ruiva, que caminhava para abrir a porta. Sheldon ainda estava calado, com um olhar travesso no rosto. Como se tivesse comido a sobremesa antes do jantar.

— Qual a parte do “enguiçou” que você não entendeu, Solar? – Jack resolveu ajudar a ruiva. Ela não estava em condições de burlar o interrogatório. Eles entraram rápido – Com certeza o elevador ficou doido e subiu sem parar. Né, faísca?

— Hum? – Judy não ouviu nada, pois estava perdida olhando Sheldon. Ele sorriu e tornou a baixar o rosto enquanto sentava-se no sofá – Ah, sim! Subiu sem parar... – Ela sorriu enquanto passava a mão pelos cabelos, a fim de arrumá-los.

— Você vai apoiar essa mentira, Jack? Eles só não chegaram rasgados! – A loira parecia uma madre superiora. Jack olhou para a irmã com raiva:

— E você não deve falar nada! Eu já vi você chegar em pior estado!

— Jane, se o elevador não estivesse com problemas, assim que você chamasse, ele iria para o andar – Sheldon pigarreou para clarear a voz. As carícias e a ocitocina deixaram-na mais grave (o que Judy adorou quando ele sussurrava em seu ouvido) – Mas você viu como ele demorou...

Judy olhou Sheldon tentando disfarçar a cara de culpada e abismada pela mentira. O elevador só não desceu porque ele mantinha seu dedo travado no 27º. Parecia uma competição de luzes e barulhos. Judy não se importou nada, ela só ficava frustrada de só uma mão dele estar livre durante o beijo.

“ – Ela pode subir as escadas, Shelly... – Judy ofegou quando ele a encarou.

— Pode ser, mas não significa que conseguirá abrir a porta do elevador, não é? – Ele deu aquele sorriso que Judy estava aprendendo a gostar. Um sorriso exclusivo pra ela.

— Uhum... – Ela concordou, voltando a beijá-lo”

— E estamos nesse estado pois tenho claustrofobia, acabei tendo um ataque de pânico e sua irmã me socorreu... E fui ao elevador pois não queria magoar o simpático senhor da recepção. Viria pelas escadas tranquilamente – Ele terminou a “explicação” com um rosto digno de assombro. Judy só viu a alternativa de confirmar. Jack queria rir da cara de Jane, mas e controlou.

— Viiiiu? Uma explicação lógica! Satisfeita? – Jack cruzou os braços – Agora vou tomar um banho enquanto você vai atrás do café da manhã! – Jack já levava sua mochila para o quarto. Jane bufou.

— Sheldon, quer um copo d’água? – Judy pergunta depois de “tentar” se arrumar. Sheldon confirma enquanto pensa que foi sorte trazer sua mala de emergência. Se Leonard visse o estado de sua camisa, ele falaria disso para sempre. Judy vai a cozinha pegar a água enquanto Jane colocava as chaves da casa no bolso e se preparava para sair:

— Não vai achando que engoli essa mentirada toda, Cooper! – Jane o fuzilou com o olhar – Não se meta a besta com a minha irmãzinha!!

A batida seca que ela deu na porta foi um ótimo reforço. Sheldon deu de ombros. Estava fascinado de mais com aquela ruiva para dar espaço ao medo da irmã.

Afinal, ele não faria nada para magoar a mulher para Jane vir com sua vingança assassina. Ele se permitiu um sorriso enorme quando viu Judy colocar a cabeça no corredor da sala:

— Ela já foi? – Judy entrou na sala um pouco nervosa enquanto trazia o copo. Sheldon afirmou.

— Um pouco brava, mas foi.

— A Jane vive com raiva, cara! Melhor se acostumar – Jack ressurgiu na sala enrolado numa toalha. Judy assentiu. O irmão se dirigiu ao banheiro quando a irmã sentou-se ao lado de Sheldon.

— Judy... – Sheldon perguntou assim que ouviu a porta do banheiro trancar – Não a machuquei no elevador, não é? Me desculpe... Eu não sei o que deu em mim e...

— Shelly, calma! – Judy o silenciou com o dedo indicador – Estou bem. Sério... Apesar do... Bom... – Ela corou – Do nosso “rompante” hormonal, hehe, não houve danos. Não bati minha cabeça e nem meu braço. Tá tudo bem...

Sheldon a abraçou fortemente. Judy estava realmente gostando daquele convívio. Aqueles toques estavam virando costumeiros.

— Não sabe o quanto fico aliviado – Ele se afastou para poder encará-la – Não sou de agir assim! Teve uma vez que bebi e fiquei um pouco mais atirado e acabei dando uma palmada em Amy, mas...

— Como foi que o assunto foi pra ela, mesmo? – Judy fez um bico enorme, num ato puro de ciúme, mas Sheldon ignorou.

— ...Mas foi só quando estava sob efeito do álcool! Li em algum lugar que, quando estamos bêbados, mudamos de personalidade. E isso aconteceu comigo naquela ocasião.

— O álcool age no lóbulo frontal do cérebro, inibindo a autocensura — Judy começou a explicar, um pouco desanimada –  Que impede os indivíduos de tomar atitude socialmente condenáveis, de acordo com seus valores e crenças.

Sheldon viu os olhos verdes translúcidos ficarem opacos. Ele se desesperou quando viu uma pequena lágrima surgir no olho esquerdo da garota. Afinal, lágrimas que começam pelo olho esquerdo são de dor. Judy desviou o olhar. Estava triste. Como ele podia comparar o que fizeram no elevador E o que estavam sentindo um pelo outro com uma porcaria de palmada na ex dele enquanto ele estava de porre?

— Quando a autocensura é rebaixada, a pessoa passa a ter comportamentos que já estão dentro dela, mas que não apareciam por causa do freio social – Judy continuou, com uma dignidade fria – Se ela se torna agressiva ou erotizada, por exemplo, é porque a personalidade dela é assim, mas só com o álcool ela se sente livre para demonstrar isso...

Sheldon a prendeu entre o braço do sofá e ele assim que viu a pequena lágrima rolar pelo rosto redondo da ruiva. Ele segurou seu queixo e a fez olhar para ele. Ele agora compreendia o motivo da tristeza e riu. Judy era muito emotiva às vezes. Ele relevou, afinal... Ele a conhecia tão bem quanto ela o conhecia. Seria um aprendizado. E era hora de Judy ter sua primeira lição.

— Não estava bêbado quando a beijei no elevador, Judy – Ele disse de forma firme. Judy suspirou – O que aconteceu agora... Foi... Sinceramente, não tenho palavras para descrever o quão maravilhoso foi. Nem se eu fizesse um dicionário só com adjetivos benéficos eu conseguiria transmitir o que sinto agora. Entenda isto, pois só vou falar uma vez:

Judy segurou a respiração e concentrou-se o máximo que conseguia. E ela estava fazendo um bom trabalho, levando em consideração a proximidade de Sheldon e ele acariciando seu braço de forma suave enquanto falava com uma voz profunda:

— Já disse que NUNCA senti isso que sinto agora, Judy. Essa vontade enlouquecida de tocá-la... E quando senti algo parecido, estava bêbado. Não estava em mim. Mas como você é diferente. VOCÊ é o motivo. Eu quero tocar você, beijar você... Estar perto de você! Entende? Não precisei beber para ter essa coragem. Você é meu álcool, se seguir essa lógica – Ele agarrou os ombros da garota – Você me provoca com um olhar! Faz meus instintos... Meus...

Sheldon segurou o rosto da garota e beijou-lhe o mais profundo que pode. Judy gemeu entre seus lábios, completamente entregue e esquecida da fúria. Sheldon foi claro e sucinto em sua explicação. Agarrou-se na nuca do físico e deixou que ele invadisse sua boca sem pudor nenhum. Soltaram-se devagar enquanto Sheldon limpava o rosto de Judy:

— Estamos entendidos? Percebo que não gosta de Amy. Tudo bem... Não falarei dela. Nem quero – Aquilo tirou um sorriso de Judy – Mas pare de me achar burro! Acha mesmo que eu achei uma tapa na nádega da minha ex melhor do que aconteceu agora há pouco? Por favor... – Ele terminou com um semblante ofendido. Judy o abraçou:

— Desculpe! Desculpe! Não foi por mal... – Ela corou enquanto estava com a cabeça pousada no peito dele. Havia colocado as pernas sob as pernas dele. Sheldon ficou tímido com aquilo – EU só... Bom... Fiquei enciumada.

— Não há necessidade para tal... Eu... Pode parecer clichê, mas... Eu só consigo pensar em você, Judy. Isso... – Ele se perdeu naquele olhar tímido e tão bonito que ela tinha. Ela corou.

— Compreendo. Eu também estou passando por isso... – Ela levantou o rosto e se apoiou no pescoço do homem – Bom, quer assistir Star Wars? Como na sua casa não deu... Eu pensei...

— Gosto de pipocas salgadas e você de pipoca doce coberta de chocolate ao leite e M&M’s. Não haverá problema? – Sheldon pergunta rápido antes de perceber o que dissera. Judy se espantou:

— Como sabe disso?

— Intuição – Sheldon comenta – E sua irmã me disse que gosta de chocolate – Sheldon tentou disfarçar que havia fuçado o facebook da garota. Ela sorriu.

— Não tem problema fazer pipocas doces e salgadas. Já volto! Você compraria refrigerantes? – Ela pediu carinhosa enquanto se levantava. Ele concordou.

— O seu de laranja, não é? – Sheldon tentou se segurar, mas não conseguiu, ela afirmou.

— Sabe... Não sei como faz isso... É engraçado. Eu quero tentar saber sobre você desse jeito! – Ela o beijou no rosto – Não demore muito!

Sheldon se levantou e caminhou para porta enquanto pegava a carteira. Ele virou-se e viu Judy cantarolando enquanto pegava a pipoqueira e rasgava um pacote de pipocas. Ela odiava pipocas de microondas. Ele sorriu.

Ele não procuraria mais nada sobre ela no facebook. Tentaria descobrir no dia a dia. Seria mais um motivo para ficar perto dela. Exceto seu trunfo sobre o jantar. Ela era fascinada por cozinha italiana. E no primeiro encontro de verdade, queria impressionar e usaria toda a sua artilharia.

E, e essa possibilidade não era remota. Sheldon pensava com carinho sobre isso a cada segundo. Caso ele a pedisse em namoro, não haveria contratos e as coisas que existiram antes com Amy. Ele faria tudo certo, mas com a delicia das surpresas e imprevistos da vida de casal. Coisas que existiam e que eles dois iriam ter que resolver juntos. Sem contrato, cláusulas e coisas obrigadas. Sheldon percebeu que até veria uma cirurgia sanguinolenta, caso isso fizesse Judy feliz.

— Ah! Sheldon! Ainda está aí?! Vá logo! Se a Jane me pega comendo chocolate antes do café, ela me mata!! – Judy deixa a tampa da panela cair de sua mão no suto. Sheldon sorriu.

— Não demoro! – E saiu, visivelmente feliz com aquela sensação nova em seu peito.


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Notas finais do capítulo

Primeira briga do casal contornada com sucesso! Sai, olho gordo!!! hahaha!


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