A Física Das Possibilidades escrita por Jessy Hell


Capítulo 16
A Lei Zero da Termodinâmica II


Notas iniciais do capítulo

Este é o capítulo mais longo da trama até agora! E olha que ainda não é o mais fofinho...



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Como pude ser tão estúpido?

Sheldon brigava consigo mesmo enquanto respirava com dificuldade em frente à floricultura. Leonard chegou minutos depois. Sheldon não havia dado ouvidos a Leonard, mas não se arrependia disso. Poderia ter cometido um erro enorme se comprasse as flores antes. Agora ele tinha um trunfo em mãos: sabia que girassóis agradariam Judy com a mais absoluta certeza.

Mas só isso não era o suficiente para aplacar a necessidade que ele tinha em ser perfeito para com a ruiva. Sheldon sabia que ela jamais encontraria alguém tão incrivelmente fabuloso como ele. Ele só não entendia muito bem o desejo nele em agradá-la. Afinal, se ele era tão fabuloso assim, era ela quem deveria agradá-lo. Não era o óbvio?

Não. Sheldon sentia fome por mais informação sobre ela. Judy. Ele respirou fundo. Ele sentia raiva por ser tão estúpido! Se ele queria informação, por que não a procurou no facebook? Ele rosnou em raiva e pegou o celular enquanto entrava na floricultura. Leonard respirava pesado quando o seguiu.

— Bom dia! Em que posso... – A atendente loira e sorridente apareceu detrás de uns vasos de tulipas, mas Sheldon logo a interrompeu:

— Girassois. Todos os que você tiver em sua loja. Faça o buquê mais lindo que possa fazer. Não aceito nada menos que “incrível” – Sheldon finaliza um tanto irritado ainda olhando o celular. A garota ficou assustada com o timbre de voz de Cooper, mas logo foi fazer o que lhe foi pedido. Leonard estranha o comportamento de Sheldon:

— Sheldon, o que você... MEU DEUS, VOCÊ TÁ STALKEANDO A JUDY?!

O grito de Leonard assustou tanto Sheldon quanto a atendente. Sheldon quase derrubou o celular. Deu uma encarada furiosa para o amigo:

— Não faça mais isso! E não estou “stalkeando” ninguém. Estou... Estou... Coletando dados! É isso! – Ele termina num bico. Leonard gargalha:

— “Coletando dados”? Você tá bisbilhotando os amigos dela! Tá procurando quem?!

— Ninguém importante! Que coisa! – Ele coloca o celular no bolso, não antes de salvar o link do perfil em seus favoritos. Não conseguiria mandar um convite ainda. E ele sorriu ao ver que Judy não tinha aquele porteiro na lista de amigos – Essa atendente está demorando! Céus!

— Sheldon... Se tivesse me ouvido... – Leonard começa.

— Teria feito tudo errado. Sinceramente, Leonard! Como consegue acertar e errar ao mesmo tempo? “Rosas”! Judy detesta rosas, vi em seu perfil e... – Sheldon se cala, acabrunhado. Leonard volta a rir.

— Imagina se não tivesse “stalkeando”... Oh, perdão! “Coletando dados” – Leo revira os olhos, descrente. Sheldon engole a raiva. Batia o pé furiosamente, contando os milissegundos da demora. Leonard resolveu se afastar um pouco, para testar uma teoria.

Bingo! Foi só se afastar para Sheldon voltar a pegar o celular com velocidade surpreendente. Sheldon passeava o olhar rapidamente entre todas aquelas informações. Percebeu-se em um dilema sobre salvar uma foto da garota em que ela estava vestida como Sith. Sua memória eidética não o faria esquecer, mas ele queria rever aquilo sempre que quisesse e não só lembrar. Optou por salvar a foto.

A atendente voltou com um buquê lindo que continha sete girassóis belíssimos. Sheldon sorriu. Judy gostaria daquele mimo. Além do mais que “sete” era seu número favorito (ele vira no perfil). Se permitiu um sorriso mínimo ao imaginar a reação da ruiva. A atendente tomou aquilo como elogio ao seu trabalho.

— O senhor gostou? – Ela perguntou enquanto Leonard se aproximava. Sheldon afirmou com a cabeça enquanto pegava o pacote.

— Leonard, você paga. Queria comprar um buquê mesmo... – Sheldon ia embora com o buquê, deixando Leonard estupefato com a ousadia e petulância. Ele pagou o valor de catorze dólares e seguiu o amigo.

— Seu pilantra! Que situação, Sheldon! – Leonard comenta quando se aproxima do amigo. Sheldon o olhou:

— Por que me xinga? Você queria mesmo dar um buquê antes. Estou guardando meu dinheiro  caso Judy queira comer quando sair do hospital, Leonard. Flores são bonitas, mas não saciam um estômago.

— E você sabe o prato favorito dela porque andou fuçando o facebook da menina? Sorte sua que não registra visitantes, Sheldon... – Leonard riu – Para alguém que não gostava de redes sociais...

— E não gosto! Mas se elas tentam evitar contato real... Por que não usar? – E esta em especial me fez descobrir coisas sobre uma pessoa que me intriga bastante. Tanto que, nem seu perfil consegue me saciar – Podemos acelerar o passo?

— Acho melhor não. Você não quer chegar fedendo a suor, né? – Leonard riu do pequeno tremelique que Sheldon fez a menção da palavra “suor”. Fez uma cara repugnante.

— Você tem razão. E não quero machucar as flores – Sheldon arrumou-as em seu colo com cuidado.

Leonard riu bastante. Sheldon segurando girassóis era um tanto bizarro. As flores estavam com quase um metro de caule. E o laço da fita estava ficando torto. Deu de ombros. Se Sheldon achou-o bonito... Quem era ele para discordar?

Sheldon soltou um suspiro ao ver a fachada do hospital. E isso o levou a pensar no primeiro encontro:

“– Então, você é formada em medicina? – Sheldon perguntou com genuíno e súbito interesse.

— Sim, tenho Phd em neurologia e cardiologia. Mas tenho um fascínio por física e química. Talvez eu curse uma delas – Respondeu Judy, nervosa – Porcaria de koopa! Pula nele!”

Sheldon soltou uma risadinha. Ela o fez perder o Yoshi e morrer. No Super Mario World! Era ilógico e adorável ao mesmo tempo.

Mas ela era médica e era legista em New Jersey. E, segundo Jack, estava em Pasadena há um ano. O que ela fez nesse tempo? Onde trabalhava? No hospital não era, senão a teriam reconhecido. Sheldon ficou intrigado. Isso não constava no perfil da garota. De um ano para cá não havia nada de novo. Compartilhamentos sobre alguns filmes e só. Nada mesmo da vida pessoal da menina.

Chegaram junto com uma ambulância. Os paramédicos estavam chocados com a vítima. O homem estava desmaiado e com sinais de agressão pelo rosto todo. Leonard deu uma olhadela rápida e assustou-se em ver o porteiro do prédio em que Judy morava.

— Meu Deus, ele... – Leonard falou alto, até ser interrompido por uma mulher loira:

— Deve ter sido assaltado. Pobre rapaz... – Jane resmungou enquanto caminhava com uma pequena mochila. Sua mão direita tinha respingos de sangue. Sheldon admirou-se no início, mas logo depois somou um mais um e entendeu o que acontecera. Somente Leonard ainda estava atordoado com a cena. Entraram junto com Jane no elevador.

— O que ele fez a você? – Sheldon perguntou a Jane. Estavam somente os três. Ela riu.

— Em mim, nada. Perguntou se a Judy estava bem e se ela estava disponível hoje. Já que ela estava saindo com tipos estranhos – Ela olhou os dois com uma expressão incrédula, que logo tomou um esgar de raiva enquanto falava o resto – Com certeza ela sairia com ele. Um homem de verdade que a faria... – Ela deu de ombros – Sinceramente, não sei o resto. Acidentalmente o soquei e depois seu rosto encontrou o balcão de informações da recepção. Dezessete vezes... – Ela finalizou com um sorriso diabólico.

— O-Obrigado por ter nos defendido... – Leonard começou, mas logo se calou ao encontrar um olhar furioso de Sheldon.

— “Nos defendido”? Que absurdo, Leonard! – Sheldon balançou a cabeça, descrente. Virou-se para Jane – Agradeço por ter defendido a Judy. Aquele sujeitinho é nojento!

— Concordo – Jane comenta. Ela ficara feliz em socar o homem, mas ficou mais feliz em ver Sheldon elogiar sua atitude. Aquele porteiro comparou sua irmã com uma qualquer!

— Vejo que Jack já lhe contou dos girassóis... – Jane diz por alto. Sheldon fica vermelho – Ninguém acerta de primeira a flor favorita dela. Papai dizia que era flor de sepultamento... – Jane ficou em silêncio por um momento – Judy gosta de chocolates. Nada de meio amargo, quanto mais doce, melhor. E ela não gosta de chocolate branco – Jane se permitiu um sorrisinho pequeno.

— E ela gosta de bichos de pelúcia e livros – Sheldon conclui. Jane o olha com uma expressão indecifrável. O elevador chegou ao andar em que Judy estava. Saíram em silêncio.

— Espere aqui. Trouxe uma roupa para ela... – Jane diz enquanto colocava a mão na maçaneta – Você não verá a calcinha dela novamente – E entrou. Sheldon engoliu em seco.

— E qual será a flor que Jane gosta? – Leonard pergunta sem um motivo aparente.

— Flor não. Planta. Planta carnívora! – Sheldon responde. Leonard não sabia se ele dizia sério. Estava esperando o “bazinga!”. Não veio.

Devia mesmo ser verdade.

***

— Solar! Carambola, como você demorou!! – Jack deu um pulo da poltrona enquanto Jane ainda estava enrolada na toalha. Jane colocou os óculos escuros que estavam na cabeça no colarinho da camisa. Tirou a mochila e jogou-a na cama.

— Não achava quase nada naquele ovinho de apartamento! – Jane passou a mão direita pela franja. Isso atraiu a atenção da irmã:

— Você se machucou, Jane? – Judy caminhou em direção a irmã. A pergunta saiu doce enquanto Judy segurava sua mão – Quando o médico chegar, peça para ele ver isso, Solar! Desculpe, você se machucou no meu apê...

 Jane quase se arrependeu quando ouviu o tom preocupado da irmã. Quase. Limpou o sangue na calça jeans e soltou um riso:

— Ah, o Einstein me arranhou. Estava com fome. Tá tudo bem... – Jane olhou Jack e riu. O ruivo sabia que o gato não tinha feito aquilo coisíssima nenhuma! Mas esperaria Jane falar sobre. Resolveu afastar sua suspeita e começou a abrir a mochila. Judy virou-se para a cama.

— Olha, até que a roupitcha tá apresentável! – Jack diz pegando uma blusa roxa com mangas compridas e que era acompanhado por um corselet preto. Uma calça jeans preta skinny terminava o visual junto com um all-star lilás. Até mesmo Judy se surpreendeu. Era uma roupa bonita, mesmo. Jack jogou a blusa nele mesmo:

— Me faltam tetas para esta blusa. Mas não faz mal, a Faísca também não tem! – Jack escapou de uma tapa que sua irmã lhe deu. Pegou as roupas visivelmente aborrecida e foi para o banheiro. Jack virou-se para Jane e sussurrou:

— Ok, qual é desse lance do sangue? Você bateu em quem?

— No porteiro. Quando entrei no saguão ontem, ficou assoviando e me cantando. Quando saí hoje, falou besteira da Faísca. Fiz ele tomar sopa de dente. Qual o problema?

— Não é porque sou seu irmão que vou te defender sempre! Quero meus honorários, sabia?

— Ora, fique quieto. E me ajude a falar uma coisa para a Faísca!! – Jane apertou a ponte do nariz com a mão esquerda e fez uma cara sofrida – A mamãe ligou!

— Merda! O que você disse?! – Jack sabia que a irmã tinha feito burrada. Jane só fazia aquele movimento quando havia feito besteira. E das grandes.

Estava certo.

— Acabei despejando tudo! Desde o porteiro babaca até ao acidente... – Jane olhou o irmão caçula com um semblante súplice de desculpas. Jack pôs as mãos na cintura.

— Você bebeu xixi?! Por que fez isso, mulher?!!

— Não sei! Estava com raiva daquele maldito porteiro. Ela ligou enquanto estava dando comida pro gato. Acabei falando tudo... Inclusive do compridão que está aí fora.

— Ah, ótimo! Falou do crush da Faísca! Parabéns, Solar! Se a gente não estivesse sussurrando, estaria batendo palmas pra você. Não! Estaria enfiando juízo na sua cabeça na base do tapa! Caramba! – Jack morde o lábio em fúria. Jane corou.

— Juro que foi sem querer! Apesar de estar com raiva de um cara como o Sheldon ficar rondando a minha irmã, ele... Sabe? Aparenta ser legal... – Jane olhou para o chão, um pouco confusa – Mas não significa que vou facilitar pra ele! – Ela retorna aquela expressão decidida, até levar uma tapa na testa do irmão.

— Tô vendo que não vai facilitar, você já dedurou pra mamãe!! – Jack suspira pesado – Quando ela vem?

Jack sabia que a mãe viria. Só não sabia quanto tempo tinha até preparar tudo para tentar reverter essa situação. Se seu pai estivesse vivo, as coisas seriam diferentes. Ele ajudaria o “quase” relacionamento da ruiva. Robert chamaria Sheldon para beber (Jack suspeitava que Sheldon não concordaria com isso) e faria aquele discurso de “cuide da minha filhinha, ela é o meu tesouro” e tudo o mais. Depois conversaria com Judy e tiraria sarro de como Sheldon parecia o C3-PO. Simples. Almoços em família quando eles viajassem para lá e talvez algumas discussões sobre o novo MAD MAX.

Mas não com Helen. Helen faria um questionário sobre Sheldon ao próprio Sheldon. Discutiriam física de um jeito nem um pouco alegre e ele nunca seria suficiente para a filha, na percepção materna. Jack bufou. Ele nunca ligou para a opinião da mãe sobre suas namoradas e Jane praticamente não apresentou nenhum cara a mãe. Mas Judy pagaria o pato por eles dois. Ela era muito doce para se rebelar contra a mãe. E como Judy era uma versão feminina do pai, fisicamente falando, Helen sempre pegara mais pesado com ela.

— Daqui a duas semanas. Ela tem um seminário em algum lugar. Pensilvânia, eu acho – Jane deu de ombros. Apesar de também ter escolhido a física, ela não concordava com 79% das teorias da mãe. E isso resultava em discussões acaloradas.

Podia parecer para alguém de fora que eles não gostavam de Helen, mas não era isso. Justamente o contrário: os três amavam a mãe com toda a força que possuíam, só que eles eram muito diferentes e também passaram pouquíssimo tempo com ela. Ela se entregara ao trabalho para suportar a dor de perder Robert, mas esqueceu que tinha três continuações dele ainda perto dela. Mas que nunca tentou entender como eles suportavam. Eles entendiam o lado e as ações da mãe deles, mas nunca concordaram com elas. E isso causava conflitos.

— Uma pergunta básica, minha querida e doce irmã: Você disse a Helen que a Faísca caiu das escadas... Ou disse ABSOLUTAMENTE TUDO? – Ele terminou com um sorrisinho psicopata. Jane retribuiu com o olhar mais gélido que possuía:

— Só disse que caiu das escadas. Foi nesse momento que minha insanidade temporária acabou. Eu me liguei que não podia falar sobre aquelazinhas ainda – Jane fez uma cara de extremo nojo ao mencionar Amy e Penny – Quero resolver do meu jeito. Conhece a mamãe, sabe o que ela faria – Ela cruza os braços.

Jack concordou solene. Helen viria voando o mais rápido que pudesse. Largaria qualquer seminário ou palestra para “defender” Judy. Processaria Deus e todo o resto que ela achasse que fosse culpado. Mandaria Jack exigir prisão das duas por tentativa de homicídio. E depois ordenaria Judy a voltar para New Jersey e esquecer Sheldon. Ou pior, se mudaria para o apartamento da filha e faria um inferno da relação dos dois. Helen era imprevisível. Jack passou a mão direita pelos cabelos, bagunçando-os ainda mais:

— Ok. Duas semanas é um bom tempo. Vamos ficar um mês, mesmo. Ainda quero saber por que diabos a Judy veio para cá – Jack suspirou – Dá tempo de ver se isso entre a Faísca e o C3-PO vai pra frente e preparar os dois pra vinda da Chanceler Winters que vem aí...

Jane se permitiu uma risada.

— Vamos combinar: Ninguém fala nada pra Faísca. Não ainda. Nem sobre a mamãe e nem sobre sua agressão ao porteiro. Combinado?

 - Por mim... Mas sabe que não podemos esconder isso por muito tempo, né? – Jane colocou as mãos nos bolsos.

— Sei... Mas vamos esperar. Judy passou um turbilhão de coisas. Deixa ela ter um sossego agora.

Jack ouviu batidas impacientes na porta. Seguida por um “Jack, Jane, Judy”. Três vezes seguidas. O ruivo ficou confuso.

— Que diabo é isso? – Ele pergunta em voz alta.

— Eu disse que o compridão tá aí fora.

— E você deixou ele plantado lá? Caramba! – Jack foi para a porta – E fica quieta! Judy tá no banheiro. Você já fez merda o suficiente! Shiiu! – Ele abre a porta e deixa os dois entrarem.

— Desculpe, mas ele tava visivelmente agoniado lá fora! – Leonard sorriu. Jane deu de ombros.

— Onde está... – Sheldon começa a perguntar, mas Jack responde:

— Tá se trocando. Olha, acertou no número. Ela gosta de sete – Jack deu uma boa olhada no buquê – Só o laço que tá torto. É, nota 9.

Sheldon ia retrucar quando viu a porta do banheiro abrir e sair uma Judy um tanto corada lá de dentro. Ela estava olhando para a calça jeans, tentando alisá-la, e por isso não viu Sheldon.

— Estou pronta! Esta roupa está boa? Quero estar apresentável quando o Sheldon... – Ela levantou o olhar e encontrou aquelas orbes azuis que cintilavam ao vê-la. Ela ficou muda, simplesmente perdida naquele olhar.

Sheldon realmente não reparou em como estava vestida. Em seu campo de visão só era permitido o rosto da garota. Seus olhos verdes brilhantes por detrás dos óculos, seu rosto levemente rosado de vergonha e aqueles lábios entreabertos minimamente cobertos por uma fina camada de algo que os deixavam molhados. Sheldon não saberia dizer o motivo. Mas aquele quadro logo o fez se recordar do sonho que teve. Uma péssima hora para aquilo.

Poucas vezes Judy Sofia Winters ficara paralisada. Quando menstruou pela primeira vez, quando apresentou seu TCC, sua primeira cirurgia em uma criança... Mas cada uma delas foi por um sentimento. Medo, nervosismo e expectativa, respectivamente. Agora ela estava paralisada e focada num olhar. E todos os sentimentos e emoções que foram descobertas pela ciência se mostravam presentes no momento. Medo, alegria, nervosismo e empolgação, expectativa e ansiedade. Se pudessem medir seus hormônios, não chegariam a resultado nenhum de tantos que apareceriam nele, segundo Judy.

Sheldon queria se aproximar, mas algo o prendia no chão. O que era ilógico, pois a sensação que tinha era que estava flutuando. Tentou andar, mas seus pés não obedeciam. Soltou um suspiro pesado. O sonho estava sendo revivido novamente em algum canto do cérebro brilhante de Cooper, o que fazia ele querer jogar as flores no chão (por que estava segurando aquilo, mesmo?) e abraçar a pequena ruiva a sua frente. Queria beijá-la. Queria tocá-la.

Judy nunca havia visto aquele olhar. Mesmo não conhecendo Sheldon muito bem, parecia a ela que aquele brilho nos olhos dele não era comum. Corou mais ainda ao perceber que o motivo era ela. Um pequeníssimo gemidinho saiu de seus lábios. Com muito custo, ela se aproximou um passo em direção ao físico. Sheldon estava ofegante. Parecia que tinha corrido uma maratona. Lembrou-se que correu atrás das flores. Podia ser isso.

— *Caham* - Jack pigarreou um pouco sem graça. Apesar de estarem simplesmente se olhando, o clima ficou um pouco desconcertante para quem estava presente. Era de uma intensidade ótica fulminante que os espectadores não estavam acostumados. Parecia que eles estavam atrapalhando algo realmente importante – Eeerh, as flores vão murchar se não forem postas na água logo... – Jack virou o rosto para o outro lado. Ele ficou triste por interromper o contato, mas ELE estava ficando vermelho com aqueles dois. Parecia um filme pornô aquele olhar.

Os dois foram despertos do transe. Judy começou a rir descontroladamente (como era típico dela quando estava nervosa) e Sheldon tentava controlar a respiração. Céus, e eles estavam presentes! Sheldon observou Leonard com uma cara de paisagem e Jane boquiaberta ainda.

— P-P-Pa-Para você, senhorita Winters – Sheldon levou os braços para frente de maneira rápida e mecânica, segurando o buquê visivelmente nervoso. Judy se assustou um pouco pois ainda estava rindo quando sentiu o buquê “surgir” a sua frente. Ela sorriu largamente quando viu os girassóis. Pegou-os com todo cuidado e admirou-os por um tempo.

— São lindos, Sheldon... Obrigada! – Ela sorriu enquanto os segurava no colo. Sheldon olhou para o lado, visivelmente envergonhado.

— Que bom que gostou... E perdão pelo laço. Ele está torto...

— Não há problema... Eu realmente adorei todos eles – Ela aspirou o perfume de um – São as minhas flores favoritas. Depois vem as margaridas... – Ela sorriu, mas logo foi interrompido pelo espirro de Jane.

— Oh, desculpe... Sua rinite, Jane! – Judy ficou encabulada. Havia esquecido da alergia da irmã. Devia ter pólen em todo o quarto agora.

— Nah, “da dudo dem” (tá tudo bem) – A loira respondeu enquanto procurava um lenço no bolso da calça. Os girassóis começaram a agoniar desde o elevador. Mas espirros eram preço pequeno depois que viu o sorriso da irmã ao ganhar aquelas flores.

— Opa, com licença – O médico de Judy apareceu no quarto com uma prancheta – Como você está se sentindo, Srta. Winters? Oh, vejo que ganhou flores!!

— E-E-eu m-me sinto b-bem... – Judy respondeu vermelha por conta da observação do médico. Sheldon encostou-se ao lado da garota. O médico riu.

— Aqui tem a prescrição de alguns medicamentos para seu braço. Você deverá retornar em dez dias para tirarmos os pontos da sua testa, ok? Não ficará uma cicatriz grande... Mas podemos contornar isso. Você já pode ir... Nos vemos daqui a dez dias! – O médico sorriu para a ruiva, entregando a receita e todos os papeis importantes. Mas Sheldon se meteu na frente e pegou todos eles. Jane segurou uma risada. Ele estava com ciúme de um médico? Sheldon era burro ou o quê? Do jeito que sua irmã estava olhando para ele minutos atrás, nada iria separá-la dele. Jane bufou. O médico era lindo. Com traços gregos e maxilar protuberante que fariam qualquer mulher suspirar (Jane queria pedir o número dele), mas Judy estava fascinada om aquele caniço em forma de gente.

Um caniço ciumento, pelo que a loira percebeu.

Após arrumarem a pequena mochila e alguns pertences da ruiva, todos saíram rapidamente. Judy foi empurrada por um corredor pelos quatro, com a justificativa que esse era um costume irlandês para que alguém nunca mais voltasse a um hospital e ela riu bastante com aquele gesto, tentou argumentar que ela era médica. DEVERIA voltar para um hospital, mas só foi deixar de ser empurrada quando chegaram ao saguão de entrada (na verdade Stu, o porteiro, estava sendo transferido para outro quarto e eles não queriam que Judy visse).

— Bom, obrigada pelas flores, Sheldon – Judy sorriu, mas logo o sorriso murchou. Não saberia quando o veria de novo. Sheldon não entendeu o motivo daquela expressão. Leonard entrou na conversa:

— Que horas é pra te pegar, Sheldon?

Os irmãos Winters não entenderam a pergunta, Sheldon pensou um momento.

— Quando sair da Caltech. Pretendo ficar na residência de Judy até às 17:00h. Retornando a vê-la às 20:00h, caso ela aceite jantar comigo.

Judy ficou estática mais uma vez. Um dia inteiro com Sheldon e ainda jantar com ele? Se isso era recompensa por ter se acidentado, ela rolaria escadas todos os dias. Soltou um gritinho de felicidade e praticamente pulou no físico, num abraço apertado. Sheldon ficou paralisado por um momento, mas logo retribuiu o carinho sob as risadas de Judy.

— Ninguém convidou você pra ficar em casa, Cooper! – Jane começou, mas logo levou um encarão de Judy (ainda abraçada ao Sheldon), um beliscão de Jack e um sorriso vitorioso de Sheldon. Leonard riu alto com essa.

— Se comporte direitinho, Sheldon... Te pego às cinco! – Leonard saiu rodando a chave do carro sob protestos de Jane. Jack deu de ombros.

— Bom, já que vocês vão jantar juntos – O casal ficou vermelho – Eu preparo o almoço. No seu apartamento tem a lista telefônica, irmãzinha? Quero pedir comida tailandesa! – Jack sai em busca de um táxi (e aproveita e arrasta Jane junto, para que o casal ficasse a vontade). Judy percebeu e agradeceu o irmão mentalmente.

Sheldon notou-se sozinho com Judy e se aproximou. Ela ainda não estava acostumada com alguém tão grande perto dela e se assustou um pouco. Mas não se sentia mal com isso. Para ela, uma lei da física devia ser quebrada: “dois corpos não ocupam o mesmo espaço”. Ocupavam sim... Judy queria estar o mais próxima possível de Sheldon. Ele dirigiu a mão a faixa na cabeça de Judy:

— Posso retirar?? – Ele perguntou. Judy assentiu. Ele foi retirando aquela faixa e revelou-se uma cicatriz ainda avermelhada perto da raiz capilar. Ele mordeu o lábio, desgostoso.

— Elas a machucaram... – Sheldon passou as pontas dos dedos pela borda da cicatriz. Judy fez uma careta.

— Estou bem... Eu... – Ela se perdeu naquele olhar novamente.

Judy relembrou o beijo novamente. Queria mais... Desejava algo melhor. Sem interrupções. Que demorasse... Ela percebeu-se ardendo de desejo e corou mais ainda.

— Eu... – Sheldon abaixou o rosto e sussurrou perto do seu ouvido, mas seu sussurro tornou-se mais grave – Sonhei com você – Ele confidenciou cada vez mais próximo dela. Ele não sabia que estava tão colado. Seu corpo mexia-se sozinho.

Judy sentiu as pernas bambearem. Ele estava tão próximo que sentia seu hálito morno contra sua pele. Se ela queria, por que não fazia logo? Ele não a rejeitaria, não é?

O buquê caiu no chão. Sheldon percebeu e sua mão se moveu para pegá-lo. Mas ele e sua mão pararam quando sentiu Judy beijá-lo de repente. Sheldon sentiu uma ventania começar. Sua mão que estava no ar para pegar o buquê foi segura firme, e ao mesmo tempo delicadamente, por Judy. Os lábios dela estavam suaves sobre os dele. As mãos direitas dos dois se seguraram firmes, enquanto Sheldon a abraçou pela cintura e a trouxe para mais perto.

Ele corou violentamente quando sentiu Judy entreabrir os lábios devagar, como se desse passagem para ele. Céus, estamos em uma rua com movimento! Sheldon pensou tímido. Mas se a beijasse como queria, como tinha sido em seu sonho, Sheldon pensava que seriam presos por atentado ao pudor.

Dane-se! Sheldon permitiu-se um impropério mental e largou a mão da ruiva e segurou aquele rosto delicado de forma firme. Judy tremeu levemente quando sentiu a língua de Sheldon tocar a sua de forma suave. Ele gemeu em resposta. C-Como Leonard faz, mesmo? Aaah Céus... Isso... É... Maravilhoso!

Sheldon pensou isso em resposta ao abraço de Judy. A ruiva achava que suas pernas não a aguentariam e segurou-se nas costas do físico. Ele tentou afundar sua língua o máximo que pôde. Judy ficou nas pontas dos pés, agora tentando se apoiar nos ombros do homem. Sheldon desceu suas mãos pelos braços da garota...

— JESUS AMADO! CONTROLEM SEUS HORMÔNIOS!!!

Sheldon e Judy foram separados por uma Jane totalmente vermelha. Jack se abanava discretamente.

— Você! Ao lado de Jack, e Judy... Junto! – Jane trouxe a irmã para perto de si enquanto Jack pegava o buquê do chão e caminhava com Sheldon logo atrás.

— Desculpe por isso... Mas vocês devem aprender a se controlar! Hahaha! – Jack riu.

Não sei se isso é possível... Sheldon pensou, visivelmente envergonhado. Judy virou-se para trás e sorriu.

Sheldon notou que esse beijo sua memória jamais iria esquecer. Ele pensou novamente... Um dos beijos que ele nunca iria esquecer...

 


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Notas finais do capítulo

Oi gente!

A autora aqui pede para quem tiver conta no google e que goste de vlogs, que acesse esse link:

https://www.youtube.com/watch?v=0VF59mLi6Z4


Quem gostar, que possa se inscrever... Eu adoraria bastante.

(Não, não me atrapalha no andar da fic, ok? Hahaha! Fiquem sossegados)

Até a próxima!



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