Mais Do Que Você Imagina escrita por RoBerTA


Capítulo 34
Lembranças roubadas


Notas iniciais do capítulo

Oii! Bom, em primeiro lugar gostaria de agradecer o carinho de quem acompanha a fic ^^ Gostaria também de dizer que a fanfic está na reta final, portanto, ficaria muito feliz de conhecer todas as divas que acompanham a história :D
Boa leitura!



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POV Chris

Eric continua me olhando, enquanto minha mente tenta encontrar alguma solução para o que apenas a minha estupidez é capaz de fazer.

─ Bom, já que você não que falar, eu vou...

─ Espera! ─ Grito enquanto agarro seu braço. ─ Eu... eu.. eu espiei um garoto se trocando!

Ok, talvez eu devesse morrer pela boca. Eu deveria contar uma mentira, isso sim. Mas é óbvio que eu nasci com alguma deficiência mental que me impede de filtrar as coisas antes de proferi-las.

E com certeza eu não devo acrescentar que o garoto era Eric.

Ele me olha de um jeito estranho.

─ Você é uma pervertida. De jeito nenhum que eu vou com uma tarada para um circo cheio de pessoas. ─ Dito isso, ele começa a voltar para dentro da casa, mas agarro a manga de sua camisa, praticamente o fuzilando com os olhos.

─ Por favor! ─ Não acredito que estou implorando para essa lesma me acompanhar! Argh, vou matar aquela degenerada da Adelina!

Ele dá meia volta e me analisa. Parece perdido em pensamentos, até que aquele sorriso odioso e diabólico toma conta de seu rosto.

─ Só se você contar quem é esse garoto.

Penso em uma mentira convincente.

─ O meu irmão.

Eric me olha com descrença.

─ Por favor, não zombe da minha inteligência.

Dou de ombros.

─ Você não é obrigado a acreditar. Agora, por favor, podemos ir?

Seu rosto está a centímetros do meu. Permaneço parada enquanto ele se aproxima do meu pescoço, sua respiração fazendo cócegas.

─ Eu sei quem é esse tal garoto. ─ Sussurra, me deixando arrepiada dos pés à cabeça.

Fecho os olhos com afinco.

─ Vamos? ─ Volto a perguntar.

─ Vamos. ─ Ele repete suavemente. Só então ouso abrir os olhos e o vejo atravessando o jardim, me deixando para trás.

─ Ei! Espere por mim! ─ Reclamo. Eric nem se dá o trabalho de olhar para trás.

─ Christina, eu não tenho culpa se você nasceu com o gene da lerdice.

Apresso o passo e o alcanço. Como ele ousa!

Andamos em silêncio. Até que me lembro de algo.

─ Você sabe onde está o circo?

─ Claro que sim. ─ Responde em um tom quase insultado. Dou de ombros.

O silêncio é como uma terceira entidade sem chegar a ser incômodo, mas agindo como uma muralha entre nós. Vez por outra o espio pelo canto do olho. Sua face está tomada por uma serenidade tão doce que quase me faz invejá-lo. Como queria poder relaxar, e simplesmente ser. Ser e sentir.

Ser, sentir e amar.

Quase que imediatamente me assusto como o rumo dos meus pensamentos, e varro tudo para longe da minha mente. Evitar o inevitável é burrice, mas muito consolador.

Limpo a garganta.

─ Estamos chegando?

Sua resposta vem acompanhada de um sorriso.

─ Quase.

O resto do caminho é percorrido sob um véu de irrealidade. O dia está tão bonito, que é quase difícil de acreditar que existe tanta maldade e coisas ruins no mundo. O céu está azul, um tom de azul pálido que faz os olhos lacrimejar se o encarar por muito tempo. E então há o sol, que beija e acaricia a minha pele, como um amante luxurioso. Queria que esse momento nunca mais terminasse.

Queria imortalizá-lo. Droga, por que não trouxe nenhuma câmera? Exalei irritada, acidentalmente chamando a atenção de Eric.

─ O que foi? ─ Ele perguntou cauteloso.

Meu primeiro pensamento é ignorá-lo, mas me surpreendo ao perceber que quero contar a ele.

─ Eu só, sei lá, queria fotografar esse dia. Faz muito tempo que eu não me sinto assim, tão... em paz. Entende?

Ele assente com a cabeça.

─ Chris, eu nunca entendi essa sua paixão por fotografia. Quero dizer, é legal, mas por que você gosta tanto?

Sorrio internamente.

─ Eu sou um pouco egoísta. Odeio perder coisas que eu amo. As memórias, por exemplo, elas são roubadas de nós pelo tempo. Eu não quero esquecer nada, entende? Eu sou feita de lembranças, todos nós somos. É por isso que eu eternizo os momentos fotografando-os. Entende? ─ Repito.

Sua expressão é a de alguém preocupado. Eric assente lentamente, como se ainda estivesse digerindo tudo o que eu disse.

Por fim resolve se manifestar.

─ Chris, você está entendendo tudo errado. ─ Obrigo meus pés a pararem ao ouvir isso. Eric fica de frente para mim, seus olhos engolindo os meus. ─ Você não precisa disso para se lembrar. Tudo o que viveu está aqui. ─ Sua mão repousa em meu peito, acima do meu coração.

Minha voz sai entrecortada, enquanto sinto uma onda de exasperação varrer a calmaria que tanto apreciara.

─ Você está mentindo. E o mês passado? O que me diz disso, hein sabichão?

─ Certas coisas não merecem ser lembradas. ─ Replica de forma bastante calma.

Chego mais perto dele.

─ Você está errado, e sabe disso.

Ficamos nos encarando, em uma batalha muda. Nenhum dos dois iria ceder, cada um defenderia a sua razão até o fim.

─ Talvez em parte você esteja certa... ─ Sua voz está rouca. ─ Há certas coisas que eu gostaria que você se lembrasse.

De repente todo o ar aparece ter sido roubado de mim.

─ Ei, ali estão vocês!

Acho que nunca fiquei tão feliz em toda a minha vida por ver a louca da Adelina.

Usando um vestido cheio de abacaxis ─ sinceramente, nunca me passou pela cabeça que poderia existir uma estampa assim ─ ela corre em nossa direção arrastando Rafael atrás de si. Quase senti pena dele. Quase.

─ Finalmente um encontro duplo! ─ Ela solta um gritinho toda feliz, e quase me engasgo com a saliva.

─ Hum, vamos? ─ Pergunto enquanto olho o chão, querendo sumir em algum buraco qualquer.

─ Sim! ─ Adelina dá alguns pulinhos, feliz demais para o meu gosto. Vejo Rafael rolar os olhos, e ao que tudo indica, ela também, pois lhe lança um olhar de gelar os ossos. Ele dá um sorriso amarelo, e é como se ambos estivessem discutido, porém apenas com o olhar. Eu e Eric esperamos pacientemente, até que o casalzinho do ano parece se acertar.

E então voltamos a caminhar. Em cinco minutos chegamos ao bendito circo. Fazia anos desde que eu tinha ido ver algum, e sinceramente, nunca fez falta.

Não era muito fã de palhaços.

Pagamos nossas entradas ─ quase matei o Eric quando ele pagou a minha ─ e então entramos.

POV Calli

─ Onde você esteve? ─ Minha mãe pergunta calmamente, assim que passo pela porta.

─ Na Chris, como eu havia dito. ─ A mentira flui tão bem que eu quase me impressiono.

─ Que roupa é essa?

Olho para mim mesma. Estava com uma blusa do Leonardo e uma bermuda dele também. Precisei dar um nó para que não caísse. Decidi que seria sensato deixar o vestido preto arruinado no apartamento dele. Leonardo não se opôs, muito que pelo contrário, ele disse que assim poderia sentir meu cheiro quando a saudade começasse a apertar.

Foi meu coração quem quase saiu apertado naquele momento. E entre todas as coisas que eu poderia pensar apenas uma me veio à mente. O rosto dele. Senti-me suja, quase como se o tivesse traído, um pensamento ridículo.

─ Peguei do irmão da Chris emprestada. Sujei a minha ontem.

─ E por que não pegou alguma roupa dela?

─ Nós estamos tentando evitar ficar se trocando de roupas. Da última vez quase deu briga. ─ Completo com um ar de ombros.

─ Eu liguei para a mãe da Christina ontem.

Congelo.

─ Callilda, sege sincera, onde você esteve?

Lentamente me viro para ela, evitando olhar em seus olhos.

─ Estava com um amigo. ─ O que não é inteiramente mentira.

─ Eu conheço esse amigo?

─ Sim. ─ Deixo escapar, e seus olhos endurecem.

─ Por quê? ─ Aquela pergunta minúscula chega até mim como um tapa, e meu coração se parte. Nunca foi minha intenção magoar mamãe. Mas certas coisas simplesmente acontecem, querendo ou não.

─ Sinto muito. ─ Digo isso com a minha alma, as palavras transbordando em sinceridade, e mesmo assim, sei que não é o suficiente. Mas é tudo o que eu posso fazer nesse momento. Pedir desculpas, implorar pelo seu perdão.

E lá está. Aquele olhar perdido que me dava calafrios. Era como se mamãe não estivesse mais lá. Meu estômago se revirou, e senti uma necessidade extrema de sair correndo sem rumo, tomando o máximo de distância o possível da minha vida.

Impossível, eu sei.

─ Eu entendo. ─ Sua voz é robótica. Levanta-se do sofá, a caminha devagar até seu quarto. A deixo ir, simples assim. No instante seguinte, deixo as lágrimas fluírem enquanto procuro meu celular.

Digito com a visão embaçada e os dedos trêmulos, torcendo para que ele compreenda a mensagem.

POV Chris

É tudo tão colorido que quase chamo o lugar de brega em voz alto, mas mordo a língua quando um palhaço chato pra caramba aparece ao meu lado.

Pela quinta vez.

O cara simplesmente para do meu lado e fica me encarando, com aquele sorriso assustadoramente artificial, sem pronunciar um único som.

─ Eric, ─ sussurro baixinho para que ninguém ouça ─ eu estou começando a ficar com medo desse palhaço.

E sabe o que ele faz? Sabe? Bom, o idiota ri da minha cara. E como se não bastasse ele me puxa pelo braço até um vendedor de algodão doce.

─ Dois, por favor. ─ Ele diz ao vendedor, e em seguida se vira para mim, com um ar brincalhão em seus olhos.

– Lembra-se daquela vez?

– Qual delas? – Ergo uma sobrancelha, tentando adivinhar o que aquela praga iria inventar agora.

– Aquela, em que eu fingi ser seu admirador secreto...

– Foi você?! – Certo, por essa eu não esperava. Em parte eu estava muito fula da vida, e por outro lado surpreendida. Eu jurava que o tal admirador secreto era um nerd cheio de espinha que estudava química comigo dois anos atrás.

– Oops... – Mas ele não parecia nada arrependido.

– Você não presta mesmo. – Balanço a cabeça. Eric dá de ombros.

– Eu adorava ver a sua expressão quando deixava os bilhetinhos no teu armário ou mochila. Você parecia tão radiante...

Pego o algodão doce que o vendedor me estende.

– E por que você nunca disse que era você?

Coloca um pouco daquele pedacinho de nuvem na boca, e não consigo desgrudar os olhos de seus lábios. Por fim me belisco, e sigo a direção de seu olhar.

Era a Ade e o Rafa. Graças a Deus eu não estava com eles. A minha prima estava armando o maior barraco com outra garota. Rafael estava em um tom muito profundo de escarlate, porém se mantinha quieto, vez por outra ganhando olhares enraivecidos da Adelina.

– Eu acho que aquela garota deu em cima do Rafael. Ou é uma das ex dele. E vou te dizer, nenhuma das duas opções é muito boa. Prepare-se para o tsunami Adelina.

Um canto de sua boca se curva.

– Eu nunca disse nada por que pensei que você acharia que eu estava brincando com você.

Demoro alguns segundos para entender sobre o que ele estava falando.

– E não era uma brincadeira?

Só então recebo um olhar completo dele.

– Nunca foi uma brincadeira. Não para mim.

Deixo o calor se alastrar pelo meu corpo, que formiga ansiando por algo. Ou alguém.

– Cala a boca! – Sua voz está quase histérica, ou muito histérica, não saberia dizer. Um Rafael atormentado a segue, tentando se explicar.

– A gente só ficou uma vez! E foi há muito tempo!

Adelina o fuzila com o rosto púrpura de raiva.

– Isso foi o que você disse da última vez! Agora só falta a começar brotar garotas zumbis do chão, alegando que eram as tuas amantes na outra vida!

– Não seja ridícula!

Vixe. A coisa estava ficando preta.

– Quem você está chamando de ridícula, hein seu galinha imbecíl?!

Rafael fecha os olhos e toma um profundo fôlego.

– Eu chamei a minha namorada de ridícula. A namorada que eu amo de corpo e alma.

E antes que ela pudesse falar mais besteira, ele a puxou para um beijo de cinema. E minha prima não fez nada além de corresponder apaixonadamente. Eu sempre achei que ninguém conseguiria dobrá-la, mas estava redondamente errada.

– Vamos deixa-los sozinhos um pouco?

Só então me lembro de que ele continuava ali, do meu lado.

Assinto com a cabeça, e então o sigo.

– Eric?

– Sim?

Suspiro, enquanto observo uma criança correr assustada de um palhaço.

– Eu quero me lembrar. De tudo.

Seus olhos endurecem, enquanto ele passava a mão pelo cabelo de forma nervosa.

– Você nunca parou para pensar que havia algum bom motivo para ter esquecido?

– Não importa. Eu sinto como se tivesse perdido uma parte de mim, e eu preciso recuperá-la. E... – respiro profundamente, tentando criar coragem sob seu olhar em chamas – sempre que eu estou contigo sinto como se as memórias perdidas estivessem à espreita, esperando o momento certo para retornarem. – Seguro sua mão. – Eu sei que você é o único que pode me ajudar a recuperá-las. Por favor.

Ele trava o maxilar, profundamente irritado.

– Você não entende nada mesmo. – E puxa a minha mão da sua.

Simplesmente vai embora, como se fosse a coisa mais natural do mundo.

Abandonar-me.

Lá está o palhaço perseguidor novamente, testemunhando uma única lágrima escorrer pelo meu rosto. Mas dessa vez, mesmo continuando a se mantar em silêncio, ele quebra o ciclo, ao erguer sua mão em direção ao meu rosto.

Seca a lágrima com a ponta dos dedos. E com a outra mão, estende uma rosa vermelha.

Nunca havia visto uma expressão tão infeliz antes, mesmo que estivesse sob um sorriso tão ofuscante.

Quando as máscaras cairiam e a verdade viria à tona?


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Notas finais do capítulo

PS1: Bom, se alguém não conseguir viver sem mim - momento em que as pessoas se engasgam e me vaiam suausausa - pode acompanhar minha outra fic, Doce Ilusória, que está ainda no início e segue a linha da comédia romântica :P
PS2: Qual livro estão lendo? Eu estou me deliciando com Sangue de Tinta e A garota que você deixou para trás. ^^



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