Mais Do Que Você Imagina escrita por RoBerTA


Capítulo 32
Borboletas não digeridas


Notas iniciais do capítulo

Olááá! Então, já já respondo os reviews do capítulo anterior. Amei eles todos ^^
Eis que surge um milagre... Demorei menos de uma semana para atualizar :D Mereço reviews, certo? :P
Boa leitura!



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Pov Calli

Tudo era demais naquele lugar.

O número de pessoas, as luzes excessivas, o som estrondoso.

Eu não fazia ideia do motivo de continuar ali, sem sair do lugar desde que cheguei.

Coragem Calli, eu sei que você consegue.

— Aceita uma bebida, moça bonita?

Um cara me encarava em expectativa. Os cabelos chegavam aos ombros, tão negros quanto seus olhos. Sua pele parecia ter sido ocupada por um artista talentoso e voraz. Seu rosto era adornado pircings, e tatuagens cobriam seus braços.

Ele era um tanto assustador.

Procurei Daniel com os olhos, mas ele não se fez notar em meio àquela multidão. Nem ele e nenhum rosto conhecido.

Voltei minha atenção para o cara assustador.

— Hum, tá.

O cara me pegou pelo braço e levou-me até o balcão onde eram servidas as bebidas. Continuei procurando meu amigo, enquanto as bebidas eram pedidas.

— Como se chama? — Precisei gritar para ser escutada.

— Jonny! — Ele gritou em resposta, enquanto estendia um copo cujo conteúdo era de um rosa duvidoso.

Fitei aquele líquido, pensando em como era idiota. Não fale com estranhos esquisitos. Não aceite bebidas de estranhos esquisitos. Não confie em estranhos esquisitos.

Eu estava prestes a burlar essas três regras essenciais para a sobrevivência de qualquer boa moça como eu, frágil e incapaz.

E por quê?

Sim, eu era uma idiota.

Virei todo o conteúdo rosa em minha boca, engolindo tudo em poucos goles.

O bom do arrependimento é que ele tarda a chegar.

POV Chris

Minha cabeça se encontrava entre os meus joelhos, e minha mente estava longe, muito longe dali. Depois do pequeno acidente milenar que envolvia um par de insetos nojentos, eu poderia aguentar qualquer coisa.

O que fazer depois de ser flagrada pulando sem blusa por todos os sócios do meu pai, que estão entre quarenta e cinquenta anos? E nem devo acrescentar que eles não foram nem um pouco educados com seus olhares. Bando de véio babão.

Papai ficou louco, mamãe, maluca. Eric também pirou. O traidor do Jimmy tentava não rir, e eu atingia tons elevados de vermelho enquanto corria para dentro de casa. Havia esquecido completamente que era hoje o jantar de negócios. Era óbvio que preferi ficar isolada no quarto até que todos fossem embora.

Na verdade, já fazia algumas horas que estava isolada em meu quarto, enrolada em meus pensamentos nebulosos. Na maior parte do tempo meus pensamentos se focavam na minha inexplicável amnésia, até que algo me fazia recuar. Uma parte queria saber o que havia acontecido, já outra, a predominante, se negava a ceder.

Algo terrível aconteceria se eu lembrasse, era isso o que a minha intuição dizia.

Sem perceber, olhei para a janela. Algo me impelia para ela. Queria estar lá, e olhar através. Forcei meu corpo preguiçoso a levantar, e com passos lentos cheguei nela. As cortinas balançavam com brisa noturna, e pareciam cascatas de lágrimas. Minhas mãos descansaram sobre elas, sentindo a maciez do tecido. Uma pequena fresta se formou, onde meus olhos curiosos espiaram através.

Era por mero capricho do destino que a janela do quarto dele ficava de frente para a minha. E muito mais que capricho, em uma espécie de desejo silencioso de algo incompreensível, meus olhos absorviam a figura que se debruçara sobre a janela, fitando o céu de forma apaixonada.

Sentia-me uma espiã, quase uma intrusa, olhando-o assim, em um momento tão particular. E como a louca que sou, queria estar lá, ao seu lado.

Mordi meu lábio inferior, sem conseguir escapar do momento, sem conseguir exercer controle sobre o meu corpo. Apenas observei.

A forma como ele mudou o peso para a outra perna. O jeito que seu suspiro soou como uma lamúria. Doía vê-lo assim, tão melancólico, sem nenhum motivo aparente. Queria confortá-lo. Queria tê-lo em meus braços, como daquela vez... Aquela vez...

Minha cabeça começou a doer, e fechei os olhos com força. Demorou alguns minutos até que tudo voltasse ao normal. Quando meus olhos se abriram, Eric não estava mais lá.

Senti um vazio que espelhava o céu sobre mim.

POV Calli

— Tem certeza que é seguro?

Ok, certo, era bem provável que eu não tivesse uma ideia boa no momento sobre o que era “segurança”. Segurava meus sapatos, enquanto Jonny segurava minha cintura.

O cascalho sob meus pés machucavam, mas era uma dor distante, fácil de ser ignorada.

Droga, só agora havia me dado conta de que não avisara Daniel que sairia com esse tal Jonny.

Olho para ele.

— Você não perguntou meu nome.

Jonny sorri docemente.

— Isso não importa.

— Idiota. — Chio entre os dentes, o que faz com que ele solte uma risada e me aperte ainda mais contra si.

— E então, onde estão seus amigos? — Pergunto após algum tempo. Ele aponta para um lugar de onde várias vozes animadas enchem a noite. Certo, ele não havia mentido. Continuamos andando para lá, até chegarmos.

O tempo todo a minha consciência fica me xingando, e me mandando dar meia volta. Logicamente a ignoro, afinal, apenas os loucos escutam vozes em suas mentes.

E então vejo os tais amigos do cara esquisito. Tão estranhos quanto ele. Havia algumas garotas também, com seus cabelos coloridos, e por um instante me arrependi de ter voltado ao meu loiro de nascença.

— E aí, cara. — Um garoto alto e cheio de músculos desnecessários cumprimenta Jonny, e em seguida desvia sua atenção para mim. — Quem é essa? — Seus olhos me varem de cima a baixo.

— Uma distração.

Um frio se instala em minha espinha, e noto que algo está muito errado. Mas algo me impede de ficar em pânico. Talvez todas aquelas bebidas coloridas tenham algo a ver com isso.

— Ei, vem cá, quero te mostrar algo. — Meu acompanhante sussurra para mim, e me puxa pelo pulso. Sou obrigada a acompanhá-lo. Algo prende minha atenção, enquanto atravessamos aquela multidão. Alguns dançavam, outros conversavam. Havia aqueles que bebiam, e o que cheiravam uma substância desconhecida. Havia de tudo ali. Literalmente de tudo.

No último lugar no mundo que eu espera encontra-lo, lá estava ele, conversando com uma mulher cheia de curvas e cabelos cor fogo.

Parecia tão mais jovem, e conversava de forma despreocupada. Quase não o reconheci, e me perguntei o que um policial estava fazendo no meio de todas aquelas ilegalidades.

Jonny continuava me puxando, abrindo caminho entre as pessoas. Nesse momento, Leonardo me viu. Arregalou os olhos, e pude praticamente ver o alarme que soava em sua cabeça.

Tão logo voltou sua atenção àquela mulher, se provando um ótimo ator.

Ainda me puxando, cada vez mais rápido, ele levou-me até um lugar afastado, sem ninguém para nos observar.

Seus olhos brilhavam.

— Agora vamos ver se você é tão boa quanto parece ser.

Engoli seco enquanto suas mãos caíam sobre mim. Eu deveria saber. Talvez soubesse, mas não havia me importado. Meus membros estavam quase dormentes, e minha mente estava pesada.

Quando ele rasgou meu vestido, perto da cocha, abrindo uma fenda, não me importei. Quando suas mãos me apertaram de forma desagradável, continuei não me importando. Tampouco o impedi de me beijar. Não queria aquilo, mas não me sentia forte o suficiente para impedi-lo.

Idiota, estúpida. Meu eu resumido em duas palavras.

— Tire as suas mãos dela. Agora!

POV Chris

Após uma conversa com meus pais, que estavam realmente preocupados com a minha sanidade, e não por tê-los feito passar vergonha, fui analisar o conteúdo da geladeira. Apanhei uma maçã.

Olhei pela janela da cozinha, observando como o céu estava estrelado. Sem indícios de chuva, saí de casa, abocanhando minha maçã como uma morta de fome.

Deitei sobre a grama, terminando a fruta, e então jogando os restos para trás. O céu estava tão lindo, e a lua, magnifica. Sem saber o porquê, ela me recordava Eric.

O chato, narcisista, insuportável.

Suspirei. Peguei o meu celular, e mandei uma mensagem. Poucos minutos depois, lá estava ele, meu querido vizinho, me olhando de cima. Parecia assustado.

— O que foi, aconteceu algo? Você se lembrou de alguma coisa?

Neguei com a cabeça.

— Eu só queria... companhia.

Ele assente, como se fizesse todo o sentido do mundo. Tão gracioso como sempre foi, em poucos segundos está deitado ao meu lado.

Em uma trégua silenciosa deito sobre o seu peito, ouvindo seu coração bater como se fosse música. Não falamos. Apenas fomos. Meus olhos, aos poucos, bem devagarinho, se fecham. Permito-me ser levada ao mundo dos sonhos.

Sobre o coração de Eric, durmo. Desde que acordara naquele hospital não tinha tido um sono como aquele.

POV Calli

Ele parecia decepcionado comigo. Verdadeiramente decepcionado. Isso estava estampado em seus olhos, os mesmo que estavam me fitando sem piscar.

Leonardo apareceu como um herói da Marvel, todo solte ela ou vou quebrar seus dentes. Jonny não era o que se chamava de corajoso. Saiu com os rabinhos entre as pernas quando deu uma boa olhada em Leonardo.

Logo em seguida, o policial que parecia me perseguir, agarrou meu braço e me arrastou até seu carro. Não falou comigo, nem uma palavra trocada enquanto me levava até seu apartamento. Apenas o segui.

E agora, aqui estava eu, envergonhada sob o peso de seu olhar.

— Por que, Calli?

Por dentro, estremeci, mas por fora, apenas dei de ombros, um ato de pura indiferença.

Começou a andar de um lado para o outro, me deixando repentinamente tonta. Precisei agarrar a porta para não cair. Fechei os olhos com força, tentando me estabilizar. Quando os abri, o teto de se mexia, e na minha frente com uma expressão preocupada não havia somente um, mas dois Leonardos.

Segurou meu cotovelo com cautela, como se eu fosse uma espécime particularmente perigosa.

De repente, fiquei com frio. Muito frio.

— Você está quente!

Fiquei encarando Leonardo. Por acaso ele estava me cantando? Foi só quando colocou a mão sobre a minha testa que entendi o que havia dito. Mas como eu poderia sentir tanto frio se estava quente?

Soltou um palavrão e foi até um armário no canto do quarto. Pegou uma caixinha de porte pequeno. Saiu do quarto a passos largos, e voltou incrivelmente rápido com um copo d'água.

— Beba. — Estendeu o copo e um comprimido sem graça, completamente branco.

Céus, como ele era mandão!

— Como vou saber se isso não é uma droga para me dopar?

Ele fechou a cara na mesma hora. Nunca o havia visto tão furioso. Peguei o remédio de sua mão e o engoli com a ajuda da água.

Leonardo foi até a sua cama e se sentou nela, fazendo o colchão ranger.

Sabe quando te bate àquela loucura inexplicável? Quando você sente vontade de fazer algo que jamais faria?

Sabe?

Bom, eu não sei.

Mas poderia facilmente dizer que sim, considerando o que estava prestes a fazer.

Andei com passos lentos e arrastados. Meus pés descalços sentiam a textura da madeira sob eles. Doíam um pouco, devido aos leves ferimentos. Parei em frente a Leonardo.

Estava quieto, e tanto sua inércia quanto os seus músculos tensos sob a pele, somados àquela postura ereta, lhe conferiam a aparência de uma antiga estátua grega.

Literalmente de tirar o fôlego. Para ser sincera, quase tossi. Mas isso é irrelevante.

Minha mão descansou em seu ombro, e meus olhos procuraram os seus. Que diabos estava fazendo?

Não fazia ideia.

A fenda no vestido parecia se largar cada vez mais, deixando praticamente toda a minha perna direita exposta. Lugar onde sua mão repousou. Era ele quem estava quente. Em todos os sentidos da palavra.

Cheguei mais perto dele, tão perto quanto consegui chegar. E então, graças àquela fenda, subi sem dificuldade em seu colo, colocando as minhas pernas ao seu redor.

Seu corpo estava tenso sob o meu. Todo e completamente duro.

Passei os braços ao seu redor, nossas bocas a poucos milímetros uma da outra.

Embora doesse admitir, nem John me olhara daquele jeito. Adoração e veemência, com um misto de incredulidade, como se não acreditasse que eu fosse real.

Encostei minha testa na sua, e então recordei de algo.

Você me lembra de alguém.

Então é isso. Eu o lembrava de alguma outra mulher. Isso explicava tudo.

Senti suas mãos agarrarem minha cintura, e, embora contidas, emanavam desejo.

Afastei meu rosto do seu. Seus olhos faiscavam.

Senti algo se contorcendo dentro de mim, como as tais borboletas no estômago que todos falam. O problema é que elas subiram, voando até a minha garganta, e depois subindo ainda mais.

E então todas elas fugiram do meu corpo pela minha boca, isso é, se eu tivesse ingerido insetos coloridos nas últimas horas.


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Notas finais do capítulo

Comentem, amem, odeiem, interajam. Se quiserem, podem até recomendar :D
BjxxxX!