Mais Do Que Você Imagina escrita por RoBerTA


Capítulo 19
Pessoas são estranhas. A vida também.


Notas iniciais do capítulo

Oi pessoas :) Eu sei, andei - muito - sumida, e isso é inadmissível. Mas é sério, a escola tem tomado todo meu tempo.
Semana que vem tenho feriadão, então prometo postar entre quinta e sexta. Até lá todos os reviews estarão respondidos ;-)
A propósito, amei a todos :)
Capítulo dedicado à Maah, pela recomendação super linda :3 (até quinta ou sexta eu mando o MP de agradecimento :P)
BjxxxX pernilongos do meu ♥



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POV Christina

Sabe, até que matar aula era legal. Controversamente legal. Pouco útil, mas interessante. Dick que o diga. O garoto estava há três anos no segundo ano, e era imbatível na arte de matar aula. Conversamos um pouco, e ele me ensinou um de seus lemas sagrados. Faça o necessário para fazer o desnecessário. Ou então: se esforce para não se esforçar.

São pensamentos complexos demais para serem compreendidos.

Depois do nosso papo intelectual, eu comecei a zanzar pela escola, sem ter o que fazer. Pisquei para alguns, acenei para outros. E cansei. Afinal, não sou de ferro.

Acabei indo sentar em um banco que ficava em frente a minha sala de aula. Perfeito. Já estava no final do último período, e logo as aulas terminariam.

Fiquei esperando, enquanto chacinava alguns porquinhos no meu celular. Mal notei o tempo passar, o que tornou possível meu pulo involuntário causado pelo susto, quando o sinal soou.

Ajeitei a postura, e esperei. Saíram alguns colegas, e então James apareceu. Eric estava logo atrás.

Saltei do banco, e corri em sua direção.

- Oooooi. – Cantarolei, com uma voz doce e enjoativa. Até eu me senti nauseada. Mas James pareceu adorar.

- Oi gatinha. E aí, ficou fazendo o que, que não te vi a manhã toda?

Enquanto conversávamos, íamos andando pelo corredor, em meio a vários outros adolescentes famintos, ansiosos por estarem em casa logo. Eric continuava atrás de nós, e agora falava em seu celular. Parecia aborrecido, e falava baixinho, tenso também.

- Ah, sabe. Fiquei fazendo reconhecimento de perímetro.

Abri um sorriso largo demais. James ficou me encarando, sem saber o que dizer. Ok, isso não foi nada promíscuo e sedutor. Fechei o sorriso e resolvi mudar de assunto.

- Então está tudo certo para aquele nosso passeio?

- Agora não vou poder, tenho uns lances aí para resolver. Que tal de tarde?

Desviei de uma latinha de coca.

- De tarde tenho detenção. – E dei uma olhadinha em Eric, que não prestava atenção em nós, e continuava no celular.

- Já sei! – Exclamou, de repente, feliz consigo mesmo. – Que tal se fôssemos à noite num barzinho aqui perto? Hoje vai ser especial, vai ter uma bandinha lá. Pode ser divertido. Topa?

Passamos pela porta da escola, e um babaca que passou correndo empurrou-me. Teria caído, se não fosse por James, que me segurou. Sorri agradecida para ele, e cheguei mais perto.

- Claro que topo. Que horas você vem me buscar?

- Sei lá, que tal pelas nove?

- Fechado. – E dei um soquinho em seu ombro. Ele sorriu. Aproximou o rosto do meu e tascou um beijo na minha bochecha.

Bem nessa hora Eric passou por nós, parecendo apressado. Observei ambos, James e Eric sumirem indo na mesma direção, após virarem a curva da esquina.

Suspirei e joguei meus cabelos para trás. As pontas já estavam começando a ficar enroladas.

O ônibus logo chegaria. E minha vontade de ir para casa estava reduzida a zero. De certo que meu pai iria me matar. Ou coisa pior.

Minha sorte era que ele deveria estar no trabalho agora. Mesmo assim, uma hora ou outra a gente iria se ver. Acho que nem preciso dizer o quanto me arrependi de ter feito aquilo essa manhã.

Mas arrependimento não altera o passado.

Tentei abandonar tais pensamentos fúnebres, sobre meu fim drástico. Avistei Jimmy em meio à multidão de alunos, e logo depois o perdi de visão. Ele parecia extasiado. Estranho.

Acabei me decidindo por ir a pé para casa. Isso iria me deixar mais calma. E se papai estivesse em casa, iria também prolongar minha expectativa de vida.

Ok, isso tudo pode parecer muito exagerado. Mas eu realmente estava temerosa.

Comecei a caminhar. Desviava de algumas pessoas, empurrava outras, e ia seguindo. Tentava a todo custo não me importar com os olhares. Mas era difícil.

- Ei. – Uma mão tocou no meu braço, e eu dei um gritinho de susto. Quando virei, prestes a meter a bolsa na cara do infeliz, vi um Daniel todo sorridente.

Quase meti a bolsa mesmo assim, mas acabei desistindo. Manter a amizade era mais importante. Corrigindo: manter meu professor particular e grátis de matemática era mais importante.

- Idiota. – Bater não. Xingar, sempre.

- Eu te assustei? – Sua expressão era de uma fingida inocência. Rolei os olhos.

- Imagina. – Sarcasmo na veia.

- Não fique assim. – E passou um braço por cima dos meus ombros. Resisti ao impulso de estapeá-lo.

- Daniel? Faz um favor, faz? Cala a boca. – Isso apenas fez com que ele gargalhasse à minha custa. Cada amigo que eu arranjo.

- Eu te ouvi falando com o James. Então vocês vão naquele barzinho hoje?

- Aham. – Disse, enquanto tentava tapar o sol com uma mão.

- Beleza. Então nos vemos lá. Preciso ir receber um primo. Beijos.

Puxou-me para um abraço apertado e apressado. E saiu com passadas largas.

Certo. Ok. Pessoas são estranhas.

Voltei a caminhar. Passados uns cinco minutos eu avistei o telhado da minha casa. Meio minuto depois, havia chego ao início do jardim. Dez segundo depois, quase enfartei.

Papai esperava por mim, encostado na batente da porta.

POV Jimmy

- Então, que sabor vai querer?

Bianca se espichou, ficando na ponta dos pés para ler os sabores de sorvete disponíveis.

- Hnm, menta.

Fiquei observando-a. Inacreditavelmente, ela topou sair comigo. Mais inacreditável ainda, ela aceitou tomar sorvete de meio dia.

- E você mocinho, o que vai querer?

Quero a Bianca.

Lógico que não disse isso.

- Morango. Com chocolate.

Quando olhei em sua direção, ela sorria. Fiquei estupefato. Nunca havia visto-a sorrir. E jamais imaginei que um dia viria a ser o motivo de um sorriso seu.

Em silêncio, esperamos os sorvetes serem preparados. Quando ficaram prontos, paguei. Só então processei que ela pediu um de menta. Eric e Chris iriam curtir isso. Mas claro que prefeririam algo mais exótico, tipo um sabor de milho, caso existisse. Comer com eles só me trazia náuseas.

- Menta? – Ergui uma sobrancelha. Ela deu de ombros.

- Eu gosto de verde.

Fiz uma notinha mental sobre essa nova informação.

Fomos andando até um banco vazio. Sentamo-nos, com algum espaço entre nós. E o silêncio reinou.

Eu e ela, lado a lado. Sorvete verde, sorvete rosa.

Acho que pela primeira vez na vida fiquei sem palavras.

Passados alguns minutos, ainda em silêncio, sorvetes no fim, Bianca virou o rosto para mim.

Foi algo estranho. Algo mágico. Algo banal e monumental.

Talvez tenha sido o momento, ou o modo como a luz bateu em seu rosto, fazendo com que seus olhos parecessem ouro derretido, com minúsculos pontinhos verdes, como esmeraldas lapidadas. Ou a leve brisa que balançou seu cabelo em minha direção, trazendo consigo um leve frescor de morangos recém-colhidos. Quem sabe tenha sido o modo que me fitou, o modo que seus cílios bateram um nos outros, quando ela piscou.

Talvez tenha sido tudo isso. E mais um pouco.

Mas isso não importa. Os motivos que levaram àquele momento, são insignificantes.

Eu estava apaixonado.

Dessa vez, de verdade.

- Me desculpe. – Minha voz saiu estrangulada, baixinha. Não poderia me conter por muito mais tempo.

- O que? Pelo que? – Ela soava genuinamente confusa.

- Por isso.

Joguei o resto do meu sorvete o dela no chão. Sua surpresa a fez ficar parada no lugar. Já eu, não perdi tempo.

Aproximei-me e colei minha boca à dela. Dessa vez, não recebi empurrão, nem tapa, nem nada.

Recebi reciprocidade. Uma reciprocidade com sabor de morango, menta, e chocolate.

POV Criancinha demoníaca número um

A vida é como um pote cheio de gomas coloridas.

Essa é minha filosofia de vida. Isso, e montar quebra-cabeças.

Afinal, a vida é um quebra-cabeça.

Aliás, eu estava montando um quebra-cabeça da Scooby Doo, quando aquela doida desvariada entrou na sala feito um furacão. Logo depois entrou o carinha lá.

Eram os coitados que teriam que tomar conta de nós. Ainda lembro a última vez que vieram aqui. Tadinhos...

- Escuta aqui, suas pestinhas nojentas. Vocês vão se comportar hoje, entenderam?

Só então notei a roupa que vestia. Era, no mínimo, hilária.

Grandes, soltas, mais antiquadas que a da minha vó.

O garoto estava o mais distante o possível dela, e não abria a boca para nada. Simplesmente olhava através da janela.

- Não.

Foi Maria Luíza quem falou, e completou com uma cruzada de braços.

- Como é, sua peste? – A loira que se veste terrivelmente mal – ou pensa que eu esqueci aquele short bregamente colorido? – fuzilou Lulu.

- Por que deveríamos ficar quietinhos?

- Porque – abriu sua bolsa, e despejou todo conteúdo em cima de uma mesa vazia – vocês irão ganhar tudo isso. Mas só se se comportarem.

Todos, menos eu, é claro, fitavam de olhos arregalados todos aqueles doces em cima da mesa.

Ela podia ser brega, mas não era burra. Pelo menos não tanto assim.

Passei o resto da aula terminando meu quebra-cabeça, enquanto eles ficaram conversando, brincando, colorindo, sei lá. Já no finalzinho, a loira chamou nossa atenção.

- Parabéns, vocês sabem ser gente quando querem. Podem pegar o que bem entenderem. Amanhã é o mesmo esquema.

Todos caíram em cima da mesa. Enquanto isso, comecei a guardar meus materiais. A loira notou que não me meti no meio deles, em busca de doces. Então veio até mim.

- Ei, você não vai pegar nada não?

Neguei uma vez com a cabeça.

- Tenho diabetes.

Ela assentiu, e eu percebi que não sabia o que dizer. Por fim, se decidiu.

- Amanhã te trago algo especial, então.

Apenas fiquei olhando para ela, até que por fim, o sinal anunciou o fim do meu sofrimento.

- Talvez você não sege tão ruim assim. – Falei.

Talvez eu esteja errado. Ou não.

POV Christina

Parecia que minha vida não tinha como piorar. Ou tinha. Sei lá. Nem sei se quero saber.

Papai me deu um baita de um sermão. Poucas vezes na vida o vi tão brabo.

Nem vou comentar sobre o castigo. Era interminável.

Depois de todo aquele xingamento que parecia não ter fim, almocei, e fiquei no meu quarto até a hora de ir para a detenção.

Detalhe. Papai me fez usar roupas RI-DÍ-CU-LAS. Nem vou tentar descreve-las, se não terei um enfarte. Outro, na verdade. Aliás, ele fez questão de me levar até a escola, para se assegurar de que eu não iria fazer algo de errado por aí.

O pior é que nem posso culpa-lo. Eu é que agi de forma irracional, feito a estúpida que certamente sou.

A única coisa que fiz de inteligente ultimamente, foi comprar todos aqueles doces. Eles me pouparam uma bela dor de cabeça.

Bom, depois de tomar conta dos pestinhas, ou quase isso, tentei falar com Eric. Mas ele já havia sumido.

Papai estava a minha espera. Ele me levou para casa, naquele silêncio mórbido.

Fui para meu quarto, e fiquei matando tempo, até a hora do jantar.

Quando desci, mamãe parecia apática, papai, irritado. E Jimmy, a exceção, não escondia um sorriso ofuscante.

E eu devia estar com a cara de quem estava planejando algo.

O que foi? Eu tinha um encontro às nove horas. Um encontro em que eu iria.

Terminei minha janta, e subi. Eram seis horas, ainda. Decidi dormir um pouco, e coloquei meu celular despertar às oito.

Caí na cama. Adormeci.

Meus olhos ardiam, pesados e cansados. Dei um tapa no celular, barulho infernal. Demorei um pouco para me sentar ereta na cama. Sentia muito sono, tanto, que quase decidi ficar dormindo. Mas algo me atraía noite afora.

Saí da cama, e fui para frente de meu guarda-roupa. Decidi pôr um vestido prata, tomara que caia, com alguns detalhes em lantejoulas. E para complementar, um sapato preto com tiras finas, e salto agulha.

Fiz uma maquiagem rápida, escura, perfeita para a noite. Os cabelos já estavam enrolados, como sempre foram. Decidi deixa-los assim. Peguei uma pequena bolsa de mão, também preta, e coloquei celular, batom, e dinheiro dentro.

Acho que estava apresentável.

Dez pras noves, era o que meu relógio de parede em forma de galinha me dizia.

Ok. Perguntinha de um milhão de dólares.

Como eu iria sair de casa sem ser vista?

Olhei para a janela. Hnm...

Não me pergunte o que aconteceu a seguir. Foi algo confuso, perigoso, e indescritível. Só sei que num instante eu estava no meu quarto, e no outro, estava pendurada fora da janela. Sorte que havia uma arvorezinha ao lado da janela. Joguei a bolsa e os sapatas, que caíram na grama com um baque surdo.

E então comecei a descer pela árvore, graças a Deus, cheia de galhos.

Demorou um pouco, e no fim eu tinha três arranhões, dois no braço esquerdo e um no rosto. Mal se notava.

Saltei os trinta centímetros que faltava, e então estava segura. Recoloquei os sapatos, e resgatei a bolsa do meio de um pequeno matinho. Bem nessa hora um carro parou em minha frente. Não conseguia discernir direito a cor, por conta de ser noite. Mas sabia que era James que estava lá dentro.

Corri até o carro, e me atirei no banco do passageiro, o mais rápido que consegui, temendo ser flagrada.

- Oi do...

- Vai, vai!

James apenas obedeceu, e arrancou.

- Então, está tudo bem contigo? – Por fim perguntou. Acenei levemente. – Hnm, você está muito bonita.

Abri meio sorriso.

- Obrigada.

O resto do caminho ficou banhado em silêncio.

Finalmente ele estacionou o carro, anunciando nossa chegada. Pulei do carro, ansiosa, por algum motivo desconhecido.

A noite estava mágica, com todas aquelas estrelas iluminando e sombreando. O céu parecia uma linda pintura, e eu nunca antes me senti tão sozinha e vazia.

Comecei a caminhar. Apenas um passo de cada vez. Sem rumo. Sem pensamentos ordenados. Apenas movimentos involuntários. Passo após passo.

Logo precisei parar. Uma enorme placa se erguia à minha frente. Jo’s house era exibido em letras garrafais, em um vermelho gritante, feito de pequenas luzes, piscando, de forma alternada.

Desviei o olhar, e continuei andando. Um homem alto e imponente guardava a entrada.

- Pois não? – Perguntou, e ficou me olhando de cima a baixo, sem pudor algum. Também fiquei olhando para ele, sem saber o que dizer.

- Ela está comigo, Ruan. – James apareceu, me salvando. O tal Ruan assentiu e nos permitiu passar.

Já do lado de dentro, eu me sentia claustrofóbica. As luzes eram intensas, multicoloridas, e machucavam minhas vistas. A música parecia que abria um buraco em minha cabeça a cada batida.

E o ar era opressor, me deixava tonta, com pequenas vertigens.

- Vou pegar as bebidas. O que você vai querer? – James precisou gritar, para ser ouvido por cima daquele barulho infernal.

- Qualquer coisa. – Gritei de volta. Observei ele ir em direção ao bar. Então me infiltrei na multidão.

Quando o vi, acho que já esperava por isso. Na verdade, o único motivo de ter ido naquele lugar, era para poder vê-lo.

Eric estava encostado contra um pilar, observando tudo em silêncio, de forma cuidadosa. Ele estava atento, e parecia estar à espera de algo.

Nem chegou a notar eu me aproximar, só viu-me, com espanto, quando parei bem em sua frente.

Eu não queria perder tempo. Não podia.

- Dance comigo.

Não era uma pergunta. Não era um pedido.

Era uma ordem.

A resposta estava em suas incógnitas.


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