Mais Do Que Você Imagina escrita por RoBerTA


Capítulo 17
E foi apenas uma desilusão


Notas iniciais do capítulo

46 leitores. 9 reviews. 2 semanas. Vergonhoso.



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/324997/chapter/17

Sim, eu precisava, queria, vê-lo. Tinhas inúmeras coisas para falar-lhe. Mas antes, claro, precisa enfrentar a ira dos meus pais. Um belo castigo me esperava. Mas quer saber? Eu não me importava. Nem um pouquinho, nada nada nada.

E isso iria me ferrar.

- Filha? - Meu pai pôs meia cabeça para dentro do quarto minúsculo de hospital. Tentei sorrir, para, sei lá, amenizar meu castigo. Mas seu semblante sério, somado à sua boca, em uma linha reta, sucumbiu com todas minhas esperanças.

- Er, oi pai. E aí, tudo beleza? - Sorri amarelo. Sua carranca se aprofundou.

- Precisamos conversar.

Oops. Droga. Me. Ferrei.

Legal.

A última vez que ouvi isso dele, foi há uns dois anos, quando eu "tentei" fugir de casa. Consegui ir até o final da rua, mas fui apanhada. Digamos que eu deixei uma bela carta de despedida, reclamando sobre meus direitos de cidadã. E sobre como eles eram injustos comigo, sobre não me deixarem testar aquelas torturas medievais no Eric, e também pelo fato de eu ter - acidentalmente -  "derrubado" a peruca do antigo diretor. Qual é, quem mandou ele colocar ela ao contrário?? Eu só estava o ajudando, como a pessoa caridosa que sei que sou.

- Hnm, pode ser depois?

- Não. Vamos conversar agora, mocinha.

Ele entra, e se dirige até onde estou, deitada, descabelada, e eufórica. E desesperada também.

Senta-se na berrada do meu leito, e passa as mãos sobre sua calça, alisando, sem necessidade. Ele sempre faz isso quando possui algo importante para falar.

-  Imagino que sua mãe já tenha conversado com você sobre, hnm, garotos.

Não! Não! Não!

Arregalo meus olhos, temendo o que virá a seguir.

Por favor, alguma divindade do bem o faça calar-se!

- Mas suponho que não tenha resolvido, não é mesmo? - Ele continua, me olhando de esguelha.

- Pai, por favor... - Peço em tom de súplica.

- Então, os garotos só querem uma coisa de meninas como você. - Afundo no leito, querendo desaparecer. - Eles querem...

- Pai! - Meu rosto deve estar vermelho.

- Você precisa saber disso, Christina.

- Você acha o que, que eu fui, argh, fazer aquilo com o Eric? Em um poço?

- Eu não disse nada. - Ergue as mãos, tentando demonstrar inocência.

Inocência, sei.

- Mas insinuou.

A melhor maneira de se escapar de algo, é tentando jogar a culpa na outra pessoa. Infalível.

- Querida, eu só quero o seu bem, entenda isso. - Ele tenta pegar minha mão, mas não permito. Seu suspiro soa cansado.

- Mas eu não fiz nada!

- Mocinha, não tente usar esse tipo de tática para cima de mim. Você sabe que está errada, e eu também sei, nada irá mudar isso.

Fecho os olhos com força, amaldiçoando o mundo.

- Pai, me ponha de castigo e acabe logo com isso, por favor.

- Escute, o que está acontecendo entre você e o Eric?

Eu não esperava essa pergunta. E não estava preparada para respondê-la.

- Hnm, nada?

Boa Christina, mereceu até ser chamada de Jacinta.

- Nada?

- É, nada.

Ficamos nos encarando.

- Tudo bem, - digo derrotada - acho que estou gostando dele.

O quarto se enche de silêncio, e seus olhos brilham de forma suspeita.

- Acha?

- É, acho. Não tenho certeza de nada quando se trata de Eric. Ele... Confunde meu mundo.

Sua mão tenta novamente pegar a minha, e dessa vez permito. Seus dedos acariciam os meus, e tenho vontade de voltar a ser sua pequena garotinha, quando em troca de um sorriso, ganhava um pirulito. Quando surgia um problema, tudo que eu precisava era de seu colo, então todo o resto se resolvia por conta própria.

 Saudades desse tempo, onde meu maior problema era decidir se queria sorvete de creme ou chocolate. Minha escolha? Os dois, misturados, com uma calda de mostarda por cima. Eric compreendia. Ele sempre pareceu entender-me melhor que qualquer outro.

Sorri com o pensamento, olhos voltados para meu colo. Tudo parecia fazer sentido naquele momento. Se minha vida fosse um quebra-cabeça, havia poucas peças a serem encaixadas.

Você me quer?

Eu o queria?

- Sim...

O sussurro flutuou de minha boca, algo tão pequeno, minúsculo, mas meu ato de liberdade.

Apertei a mão de papai, feliz comigo mesma.

- Sim! – Dessa vez o sussurro tomou a forma de uma feliz exclamação.

- Querida, você está bem? – Perguntou-me preocupado. Se eu estava bem?! Estava ótima.

- Papai, onde está Eric? Eu preciso vê-lo!

Suas sobrancelhas se juntaram.

- Você não irá a lugar algum. E tampouco sei onde ele se encontra. Mas afinal, o que você precisa falar com ele que é tão urgente assim?

- Papai – apertei ambas suas mãos, com a certeza de que meus olhos brilhavam com a emoção da descoberta – acho que estou apaixonada por ele. Na verdade, tenho quase certeza!

- Ei, ei – sua voz carregava um misto de confusão e curiosidade – como você chegou a essa conclusão? Instantes antes parecia odiá-lo.

Suspiro, e jogo-me sobre a cama, saindo da posição sentada, e ficando agora jogada. Sorri para o teto. A rachadura, antes tão feia, agora parecia bela, mágica até.

- Não sei. Nada anda fazendo sentido ultimamente. Mas... Sabe, pai, eu quero estar perto dele, entende? Nem que seja para brigar ou xingá-lo. Eu finjo odiar, mas lá no fundo, bem no fundo mesmo, amo quando ele age daquele jeito miseravelmente arrogante. Suas brincadeiras que me fazem espumar de raiva... O que seria da minha vida sem elas? E ele é a única pessoa que conheço que gosta daquelas misturebas estranhas e malucas... Meu Deus!

Dou um gritinho e cubro a boca com as mãos.

Olho para meu pai, e não consigo não sorrir. Não só com os lábios ocultados, mas com os olhos, corpo, pensamentos, alma, tudo.

Tudo.

- Ei, calma! – Sua voz soa severa, mas posso ver que ele parece muito divertido com aquela situação. Então uma nuvem de dúvida paira sobre ele. – Você não está inventando toda essa situação só para escapar do sermão, não é mesmo?

- Não! – Até sinto-me um tanto ultrajada com tamanha acusação. – Claro que não, né pai.

- Mas eu não entendo... Como você pode ter mudado a opinião de uma vida inteira, assim, tão de repente?

- Bom, tudo que eu fiz foi olhar para trás. Para meu passado. Sabe o que eu vi? – Ele negou com um leve aceno de cabeça. – Eric. Foi o que mais vi. Ele estava em praticamente todas minhas lembranças. Então eu pensei no meu presente, e lá estava ele, me importunando. E por um breve momento, quando pensei no meu futuro, tão incerto e frágil, o vi também. Vi brigas. Vi discussões. Vi beijos... – Então corei, ao lembrar de que era meu pai que estava ali na frente, ouvindo-me, mas sua expressão permaneceu imutável.

- Por que você levou tanto tempo?

- O que? – Ficou confusa.

- Por que você levou tanto tempo para descobrir algo tão óbvio?

Abro a boca, pronta para ter uma crise histérica, mas então a compreensão me toma de assalto.

- Seu danado! – Dou-lhe um tapa no ombro. – Você sabia esse tempo todo, não é mesmo?

Finjo cara de braba, mas não dura muito. Ele rola os olhos, divertido.

- Por favor, Chris, me diz, e quem não sabia?

- Está falando sério?

Sua resposta é uma sobrancelha arqueada. Mordo o lábio, e então balanço a cabeça.

- Então, qual vai ser meu castigo?

- Levantar dessa cama, se arrumar e ir falar para nosso vizinho exatamente o que disse para mim.

Solto um gritinho, e o abraço, emocionada. Mas quando faço isso, a agulha do soro se desprende do meu braço.

Solto um grito de dor e surpresa.

Agarro meu braço junto a mim, e encolho-me na cama, lençóis brancos. Uma vertigem passa a tomar conta de mim, e fico imaginando a agulha se mexendo dentro de mim, rasgando... Cortando... Corroendo...

Encolho-me ainda mais, nauseada.

- Ei, meu anjo, está tudo bem. Não tem nada dentro de você. Está tudo bem...

Concordo, sentindo-me mal.

Aos poucos o mundo vai recuperando sua cor e solidez. Uma enfermeira entrou no meio de todo aquele alvoroço.

- Está tudo bem? – Pergunta sem emoção na voz. Parece e se porta como um robô

- Sim, ela irá ficar. Ela já recebeu alta, certo?

A mulher assente.

- Pode ir assim que puder. – E retira-se do quarto.

- Ei, você está bem mesmo?

Concordo, sem pestanejar.

- Minhas roupas... Tem roupas limpas aqui?

- Claro, aqui – pega uma mochila detrás da cadeira, e põe sobre a cama – sua mãe que escolheu.

Olho distraída para a mochila. Já faziam mais de seis horas que havia visto Eric, e mal podia esperar para vê-lo novamente.

- Bom, vou deixa-la se trocar, estarei ali de fora, caso precise de algo.

Quando ele sai, olho para meu braço. Parece estar tudo bem, o lugar onde outrora estivera a agulha – argh – agora possui apenas o fantasma de uma manchinha vermelhinha.

Levanto com alguma dificuldade da cama, e pego a mochila, Encontro um simples vestido solto e floral, mas que serviria. Deixo que aquele projeto de camisola de hospital deslize por meu corpo. Então coloco o vestido. Procuro um calçado, mas nada encontro. Parabéns, mamãe.

Tento desfazer alguns nós dos cabelos, e permito que os cachos caiam soltos pelas minhas costas.

Apanho a mochila, e me encaminho para aporta. Abro-a sem dificuldade, e vejo meu pai escorado contra a parede.

- Vamos? – Oferece-me o braço, que aceito de prontidão.

Eric. Preciso vê-lo, imediatamente.

- Onde ele deve estar? – Pergunto.

- Sinceramente? Não faço a mínima ideia.

Aperto a bainha do vestido, e dirijo-me ao elevador, que acomoda além de nós, uma senhora idosa e um garoto, um pouco mais velho que eu. Hnm, gatinho...

Mas logo o ignoro e volto a pensar em Eric.

Eric...

Descemos, e meu pai vai à recepção assinar uma papelada. Digo que vou esperar de fora, para tomar um ar por enquanto. Ele permite sem objeções.

Já de fora, passo a fitar o sol ponte, anunciando mais uma noite de fim de verão.

Mas então, vejo algo – alguém, mais precisamente – que rouba minha atenção.

Eric.

Ele surge do nada, e parece mancar, enquanto anda apressado, para lugar nenhum. Aposto que nem havia me visto. Praticamente jogo-me em sua frente. Isso o para.

Seus olhos, lindos e poderosos olhos, encaram-me confusos. Uma onda de inquietação me atinge quando vejo um filete de sangue seco em sua cabeça. Espere, isso, isso... É um hematoma? Mal tenho tempo de perguntar.

- O que você está fazendo aqui, sozinha? – Sua voz é hostil, nunca o havia visto assim. Brutalidade é emanada em ondas dele.

- Eu, eu, tive alta... – Gaguejo, e sinto-me estranhamente perdida. Pareço estar na presença de um estranho.

- Então vá para casa. Logo.

Ele tenta sair, voltar para sua caminhada aparentemente sem rumo. Mas o puxo pelo braço, no último instante. Tombamos, mas isso pouco me importa. Ele iria me ouvir, ah se ia!

- Escute aqui, seu idiota! Eu tenho algo muito importante para lhe falar! – Tomo fôlego. – Estou apaixonada por você!

Espero sua reação.

Nada.

Ele não demonstra nada.

Apenas fita-me sério, com um aparente desinteresse, e indiferença. Isso me atinge como mil navalhas afiadas, carregadas de veneno. Encolho-me por dentro.

- Era isso? Era isso a coisa importante? Christina, poupe-me. Agora preciso ir, tenho mais o que fazer.

Ele se desvencilha, e eu permaneço parada, observando-o afastar-se.

Era um pesadelo. Só podia ser.

Então é isso, eu descubro estar apaixonada pelo garoto que briguei a vida inteira. Então me declaro. E depois sou praticamente chutada.

Pisco com força. Limpo a lágrima solitária, e então sou tomada por uma onda de fúria, tão intensa, como nunca havia sentido.

- Eu te odeio.

Meu sussurro foi tudo o que restou, de uma certeza que durou menos de meia hora.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Bom, acho que eu falei tudo o que pensava nas notas iniciais. Não tenho a mínima vontade ficar me demorando aqui, sendo que nem todo mundo lê. Só lamento por aqueles que não tem culpa de nada. E sinto muito se o capítulo ficou horrível, mas eu escrevi esse capítulo de arrasto.
.
.
E eu não vou postar até que tenha um número satisfatório de comentários. Se eu arranjo tempo para escrever um capítulo, aposto que vocês também conseguem arranjar dez segundos para um "odiei" "gostei" ou "amei".