Mais Do Que Você Imagina escrita por RoBerTA


Capítulo 16
Primeira vez


Notas iniciais do capítulo

Capítulo dedicado à linda Carol Siqueira, pela divástica recomendação
LEIAM AS NOTAS FINAIS!!!!!!



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“O dia se estende, radiante. O calor é agradável, e a promessa de férias, ainda mais.

Ajeito minha mochila, e ergo o queixo. Tento caminhar em linha reta, para me ocupar, e espantar o nervosismo. Hoje era o último dia de aula, e meu “sexto sentido” parecia apitar sem parar.

Avisto Calli, ao longe. Seu cabelo, um loiro platinado, parece cintilar sob os raios solares. E as mechas vermelhas, em abundância, imitam chamas.

Está ocupada fitando seu objeto de afeição. Já fazia quase um ano que ela ‘gostava’ dele. Provavelmente era algo passageiro.

– Calli! – Ergo a voz, para lhe chamar a atenção. Parece um pouco perdida quando volta seus olhos para mim. Mas depois, sorri. Ela fica muito engraçadinha com o aparelho odontológico, já eu, tive a sorte de não precisar usar.

Chego junto a ela, e abano, sem saber o que dizer. Parece ser o primeiro dia de aula, e não o último.

– E aí? – Pergunto, sem graça.

– Ah, sei lá. – Ela responde, e o papo acaba aí mesmo. Ficamos olhando pessoas irem e virem. Então Eric e seu amiguinho param em nossa frente.

Arqueio as sobrancelhas de modo que pareça cruel, espero.

– Eriquizinho. – Digo, em uma espécie de cumprimento, ameaça e escárnio. Ele odiava que eu o chamasse assim.

– Fala Jacinta.

Fecho a cara na mesma hora. Sim, meu nome do meio era literalmente Jacinta. Quando eu era pequena não dava muita bola, achava normal. Mas na segunda semana de aula, quando meus coleguinhas descobriram – ênfase no Eric – eles simplesmente me “bullynaram”. Foi horrível.

Quando voltei para casa, tirei a limpo essa história do nome, e meu pai disse que foi uma espécie de “homenagem” à minha vó, mãe dele. Fiquei uma semana sem falar com ele. Pelo menos minha mãe não quis homenagear a vó Tereza também. Imagina, Christina Jacinta Tereza Mason. Ah, por favor, né. Preferiria morrer.

Callilda dividia esse tipo de trauma comigo. O pai desnaturado, tinha a mãe que se chamava Callilda, e também quis “homenageá-la” – ênfase nas aspas – e olha só no que deu essas homenagens. Duas garotinhas traumatizadas e “bullynadas”.

– O que foi, um gato mordeu a sua língua? – Seu tom é sádico, e seus olhos, esses brilham, deleitando-se ao atormentar-me.

– Há. – Revido, sentindo o sangue ferver.

Dou-lhe as costas, e com passos largos, me direciono para a escola. Ouço Callilda pedindo para ir mais devagar, mas apenas apresso os passos. Ou isso, ou irei matá-lo.

– Ei! – Ela reclama quando finalmente consegue alcançar-me.

– Que foi? – Inocência fingida. Ela bufa.

– Nada. Vamos? – Concordo com um aceno, e me dirijo para nossa sala, juntamente com Calli.

Entramos, sendo as pioneiras, e nos sentamos nos nossos lugares de sempre. Não demora muito para que nossos colegas comecem a entrar também. Eric é um dos últimos, e faz questão de sentar-se ao meu lado.

– O que foi Jacicinha?

Estreito os olhos, com ódio. Jogo nele a primeira coisa que vejo, que por sinal, é meu estojo. O danado desvia com eficiência. Quem leva a estojada é James. Ele guincha, e leva a mão à testa, local atingido.

– Oops. – Digo, como se lamentasse. – Foi sem querer. – Abro um sorriso amarelo. Com uma cara de peixe morto ele atira de volto o estojo.

Eric observa a cena com ar de satisfação. Não era nenhum segredo a rivalidade entre os dois. Ambos possuíam um gênio bastante parecido, e isso não era bom para ninguém.

– Você possui uma mira perfeita.

– Você acha? Bom, da próxima vez irá ser bem mais.

Seu meio sorriso só serve para irritar-me ainda mais, se possível.

Com uma expressão azeda, passo a fitar o teto. O professor entra, e começa a falar algumas coisas, mas faço questão de não prestar atenção.

Lá pelas tantas, começa uma espécie de festinha de despedida. Sim, sou uma estranha espécime mal humorada e antissocial. Talvez seja por isso que fiquei o tempo todo sentada em um canto, sozinha, de braços cruzados. Nem Calli quis ficar comigo. Ela foi tentar falar com o mucufinho dela.

Passei a contar o número de tachinhas na mochila de uma garota gótica, e logo após, recontei. E de novo. E de novo.

Até que um garoto tapou minha visão periférica.

– Ei, - James acenou, tentando roubar minha atenção - então, você vem com a gente depois? Jogar verdade ou desafio?

Minha primeira reação foi dizer não e manda-lo se ferrar. Mas então. Aquele brilho de desafio em seus olhos.

Eu simplesmente não pude resistir.

Desafios e apostas. Minhas perdições.

– Ok. Onde?

– Atrás da escola, perto daquele carvalho.

Concordo, e lhe lanço um olhar, que o faz recuar e sumir dali. Mas não pude deixar de notar seu sorriso, do tipo convencido. Bufo, para mim mesma.

O tempo se arrasta, e começo a descascar o esmalte, com aquela sensação estranha tomando forma em meu peito. Algo iria acontecer. Algo grande.

De repente todos começam a fazer aquelas bobagens de fim de ano, se atirar coisas e fazer outras maluquices. Mantenho distância deles, e ouço alguém gritar um “nojentinha” para mim. Ignoro, com meu ar superior, de nariz empinado.

– Ei, - Callilda me puxa pelo braço, - você vai atrás da escola? - Pergunta baixinho. Assinto.

– Sim.

– Bom, então vamos, já foi quase todo mundo pra lá.

Minha vontade é perguntar quem é esse todo mundo que ela se refere, mas a garota sai em disparada, e sou obrigada a segui-la.

Chegamos lá, em pouco tempo, mas o suficiente para fazer-me arfar. Apoio as palmas em minhas cochas, e me dobro, tentando recuperar o fôlego.

– Ei, você está bem? – Um garoto pergunta. Mostro a língua pra ele.

– Claro que ela está, não é mesmo?! – Eric diz, e dá um tapa nas minhas costas, não tão forte a ponto de machucar-me, mas forte o suficiente para me desequilibrar e então restar uma Christina esparramada no chão.

Encaro-o com ódio.

– Idiota. – Sibilo. Mas o estúpido apenas dá aquele sorriso ofuscante. Argh.

Então quem estava ali começa a formar uma roda, sentando no chão. Arranjo um lugar entre Calli e Beatriz. James começa a falar, enquanto Eric, que está do outro lado da roda, de frente para mim, sussurra algo no pé do ouvido de seu amigo. Seu sorrisinho me traz arrepios.

– Quem quer começar? – O irmão da Bea pergunta. Como ninguém diz nada, é ele quem começa. Gira uma garrafinha de água mineral vazia, que acaba por escolher Bea como sua primeira vítima. Quase que apontava pra mim, por um triz.

– Verdade ou desafio?

Ela pensa um pouco antes de responder.

– Desafio.

– Eu te desafio a contar para a mamãe que você quebrou o vaso chinês dela. – Diz com um ar triunfante.

Bea faz uma careta.

– Mas eu não quebrei vaso nenhum! – Reclama.

– Eu sei, - ele diz enquanto examina as unhas, - fui eu quem quebrou.

Ela abre a boca indignada.

– Seu pilantra! – Quase todo mundo ri dela nesse momento. O irmão apenas se espreguiça de forma preguiçosa. Ele pisca, fazendo com que suas pestanas se destaquem.

– Por favor, né maninha. Olha o vocabulário de baixo calão. - Mais risos.

– Uma pinoia que eu vou admitir algo que não fiz! – Exclama ultrajada, de mãos na cintura.

– O que, vai dar para trás? – Aquele mesmo brilho de desafio estava lá. E ela caiu igual a um patinho. Igual a mim. Sua expressão se fez resignada, e ela aceitou o desafio. Aceitou fazer algo estúpido. Porque James tinha esse poder sobre as pessoas. Ele era um ótimo manipulador.

– Ótimo, continue, maninha.

E ela continua. Dessa vez é o amigo de Eric que opta pelo desafio. Ele deveria sentar em um formigueiro, que estava bem perto de nós.

Depois de muita relutância, ele finalmente cedeu. Após muitos xingamentos, gargalhadas e palavrões, finalmente voltamos para o círculo. De cara amarrada, ele girou a garrafinha.

– Verdade ou desafio? – Perguntou-me mal humorado.

Engoli em seco. Ninguém havia pestanejado e optado pela mais fácil verdade. Não seria eu a demonstrar fraqueza.

– Desafio. – Engulo meus medos e maus pressentimentos.

Ele estreita os olhos, e parece querer se vingar pelas formigas em mim. Engulo em seco, bem na hora que Eric o acotovela. Ele suspira.

– Eu te desafio a beijar o Eric.

Seguro minha respiração, de olhos esbugalhados. Todos permanecem no maior silêncio. Quero correr dali, ir para bem longe de toda essa baboseira. Mas todos os olhares me mantêm pregada ao chão.

– Vai vacilar? – Ouço uma voz indagar, e não faço ideia de quem seja.

Aprumo os ombros, já tendo tomado minha decisão, e tento fingir que esse não seria meu primeiro beijo. Ou seja lá o que se chama isso.

Vou até ele, que permanece parado, como uma estátua. Apenas seus olhos movimentando-se, de acordo com meu corpo.

Então me agacho em sua frente, tentando ignorar não só o silêncio ao meu redor, mas também essa agitação dentro de mim, que arde, mas não machuca. Pelo contrário, é uma sensação boa.

Vejo como sua respiração compete com a minha, para ver qual é a mais acelerada. Meus joelhos servem de apoio, depois minhas mãos, de palmas abertas, contra a grama macia, uma em cada lado de Eric. Meu rosto se inclina em direção ao seu, tudo muito devagar. Como areia movediça.

No último instante, milímetros de distância, seu corpo ganhou vida, e suas mãos me puxaram para si.

Tudo acontece como um estrondo.

Rápido.

Inesquecível.

Irracional.

Diferente de qualquer coisa que eu já tenha experimentado. Diferente de qualquer coisa que eu tenha esperado.

Tudo parece pulsar ao meu redor. Tudo parece se desfazer, em um milhão de cores, ardendo de forma mágica, e então se refazendo, o ciclo se fechando, para então repetir-se novamente.

Percebo brevemente que estou na horizontal, por cima dele. Ouço vozes, mas são apenas um plano de fundo. Nada nunca poderia ter menos importância do que naquele momento. Meus dedos enroscam-se por entre suas macias madeixas, degustando sua textura. Suas mãos apenas se limitam a acariciar minhas costas, que permanecem em um constante arrepio.

De cima a baixo.

De baixo a cima.

Mas então, o ar se demonstra escasso, e insuficiente. Separo-me dele, e então respiro pesadamente.

Meus ouvidos parecem zunir, mas isso vai passando aos poucos.

Percebo como ele está deitado, e eu, por cima dele. Percebo também todos os olhares e cochichos. Sinto minha face arder com uma intensidade incrível.

Mordo o lábio, temendo chorar.

Saio de cima dele, sentindo o peso de vários olhares sobre mim. Eric senta-se, parecendo aturdido. Pisca algumas vezes, e então olha para mim.

Digo a primeira coisa que me vem a mente.

– Você baba.

Mentira.

– Como? – Sua expressão fica confusa.

– E beija muito mal. – Mentira. – Babão.

Mentira.

Seu rosto fica lívido.

– E você parecia uma maluca, não parava quieta! Sua, sua... – ele olha para os lados, sem saber o que dizer - sua pirada!

Era uma péssima ofensa. Mas eu não ligava. Já me sentia ofendida o suficiente por tudo que acontecera.

– Sua ameba! – Grito, morrendo de raiva. Tento empurra-lo, mas acabo caindo junto. E então tento a todo custo me desvencilhar dele, mas nesse processo, meu brinco fica pendurado em sua camisa.

Ranjo os dentes, cada vez mais furiosa.

Tiro o brinco, que permanece nele, e então simplesmente saio correndo, querendo acima de tudo, distância.”

.

Fico fitando o brinco, em formato de coração. Aliso sua superfície delicada, e por fim, suspiro. Sim tínhamos uma história. Tínhamos muito.

Tínhamos. Ou temos?

.

***

.

POV Eric

Fiquei parado, estático. O ar se fez escasso em meus pulmões. E aquele frio, ah, aquele frio, percorreu minha coluna, de cima a baixo.

Desceu e continuou descendo, até restar o fantasma de um arrepio.

Aqueles enormes olhos castanhos observavam-me, medindo meu medo.

Eu não deixava nada transparecer, apenas guardava aquele pânico em um lugar bem inacessível dentro de mim.

Dei um passo para trás, e esbarrei em uma parede.

– O que você quer? – Minha voz soava calma, mas isso era uma ilusão. A prova disso eram minhas mãos, que suavam de uma maneira quase absurda. Permaneciam geladas, mas meu pescoço, rosto, e peito, pareciam em chamas.

– O que você quer de mim? – Repito.

O sujeito não move um músculo. Apenas continua a encarar-me. O pânico começa a se dissipar, e sinto uma leve pontada de irritação.

Mas o estranho, vestido inteiramente de negro, com uma mascara da mesma cor, fazendo apenas seus olhos aparecerem, insistia em não responder.

De repente, uma ideia atingiu-me. E se essa fosse uma brincadeira de mau gosto, de algum colega mal intencionado?

A simples sugestão de tal pensamento deixou-me furioso. Mas quem seria estúpido o suficiente?

Um fato era reconhecido pela maioria. Eu não possuía inimigos.

Mesmo a Christina, era um caso a parte. Na verdade, esse caso a parte era complicado.

Mais uma vez, abri minha boca, mas não para indagar ou suplicar. Eu iria enfrenta-lo.

Mas não foram palavras que saíram. Foi um grito mudo, silencioso.

A pancada veio com sua acompanhante, a escuridão. Acolheu-me em seus braços, sem perguntar se era essa a minha vontade.

E então, a escuridão reinou.


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Notas finais do capítulo

Então, eei pessoas. Ah, aí está o POV do Eric ^^
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E aí, o que acharam??
.
Bom, vamos às explicações. Sim, eu andei sumida, e atrasei muuuuitooo. Mas eu tenho um motivo muito bom. Digamos que eu esteja estudando de manhã e tarde, e tenha umas dezenove matérias. Pois é. Bastante tema. Trabalhos. Conteúdo. Eu preciso acordar às seis, e volto, em uma média da semana, às seis. Eu preciso tomar banho, etc, etc, alimentação e algumas cositas a mais. E nesse fim de semana eu estou simplesmente ATOLADA de temas. Tenho matérias também para tentar compreender melhor. Mas não entraremos em detalhes. E meu coraçãozinho está meio que meio que esfolado : Isso afeta a mente kkk Mas ok. Foram diversos os fatores, e não vou dar uma de política, prometendo que vou postar mais rápido. A verdade é que não tenho previsão de quando irei postar. Posso demorar, ou não. Simplesmente não quero prometer algo, e depois não cumprir. E eu não vou abandonar a fanfic. Mas se vocês tiverem algum problema relacionado à espera de capítulos, e notas finais extensas, sintam-se a vontade para desacompanhar a fic. E para os fantasminhas, nem ousem me amaldiçoar sorrateiramente, de forma fantasmagórica. Um quarto dos que marcaram a fic comentam, um pouquinho mais, às vezes. Então não queiram fazer voodo ou sei lá o que, que vai voltar em dobro pra vocês u.ú.
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Bom, acho que é isso, e espero que tenham lido tudo. Qualquer coisa, perguntem-me. E talvez eu demore a responder os reviews, mas é certo que vou sim.
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BjxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxX dilíchiaxxX ♥