Um mês e meio depois

“De: Len Kagamine
Ohayo! Ah... Acho que ainda vai demorar um tempo pra a escola começar, enviei isso muito cedo. Mas quando estiver pronto, quer que eu vá buscar você a Rui em casa?”

Rei pegou o telefone. Já sabia de quem era a mensagem mesmo, mas sorriu de leve por constatar que estava certo. Ele costumava lhe enviar mensagens antes da escola, depois dela (para saber se tinha chegado bem em casa) e a noite, para desejar boa noite. Se Rei enviasse algo, com certeza responderia, então os dois passariam horas conversando... Eram amigos, mas não se tratavam exatamente como amigos normais.

Ainda considerando tudo isso, tudo o que queria era simplesmente ficar perto de Len. Não importava se como um amigo ou mais que isso. Apenas um amigo já estava ótimo... Seu primeiro amigo, a segunda pessoa (depois de Rui) com quem realmente se importava, que o fizera sorrir (e de verdade)... Não esperava se derreter assim tão facilmente, mas não havia conseguido evitar.

“De: Rei Kagene
Não precisa, obrigado...”

“De: Len Kagamine
Isso quer dizer que precisa, né seu tsundere? LOL
Acho que Rin não vai se incomodar de ir sozinha daqui a pouco. Se se incomodar... Deixa, ela não bate tão forte assim”

“De: Rei Kagene
E-Ei! Quem disse que eu sou tsundere?”

“De: Len Kagamine
Eu tive meus meios de notar. Chego aí em... 20 minutos”

Rui certamente também não demoraria a se arrumar. Mas estava um pouco calada esses dias... Tanto que o próprio Rei tinha que cortar o silêncio entre eles. Isso era estranho, considerando que antigamente era sempre Rui quem falava com primeiro. Ela não costumava ser tão séria assim. De qualquer forma, suspirou e sentou-se na sala, esperando que Rui terminasse o que estava fazendo e que Len chegasse.

...

Os três chegaram à escola cedo. Rei permanecera a maior parte do tempo calado, o que permitiu que Rui e Len conversassem um pouco. Ela ainda parecia demonstrar gostar dele... O que fazia com que Rei, mentalmente, se castigasse. Não tinha mais só um motivo para não querer que fossem muito próximos... Mas considerava ambos como egoísmo. Então o máximo que poderia fazer era deixar que se falassem um pouco. Mas se passassem disso, o faria sentir ainda pior do que na época em que queria apenas proteger a Rui. Tinha vontade de perguntar à irmã sobre isso. Mas era impossível. O que diria? “Ei, Rui, você gosta dele né? Mas fique longe dele, não quero que você fique com ninguém, entendeu? Ah... Seria tão bom se eu pudesse ficar com o garoto que você gosta pra mim...” é que não iria funcionar.

– Rei, por que está tão distraído de novo? – Rui balançou uma mão na frente do rosto dele –Queria saber no que pensa tanto!

“Ah, se ela soubesse...”.

– Em nada de importante.
– Ele está pensando em mim, não está Rei-kun? – Len riu.
– Claro que não... – Rei corou por conta de ter inconscientemente acertado.

Tanto Rui quanto Len sorriram. Sentaram-se em alguns bancos que ficavam no corredor e conversaram enquanto esperavam os outros chegarem. Em certa hora, algumas outras amigas de Rui a chamaram, enquanto Rei e Len ficavam sozinhos, ainda sentados no mesmo lugar.

– Len... Hmm... – Rei tentou pensar em algo para falar.
– Hai? – O observou com curiosidade.
– Lembra da época que eu... Tinha te pedido pra parar de falar com a Rui?
– Lembro... Por quê?
– Você se sentiu incomodado naquela época tipo... Eu não vou brigar, prometo. Mas fale a verdade... Você gostava dela?

Poucos segundos depois, desviou o rosto para baixo, pensando que não deveria ter perguntado. Len demorou a raciocinar e entender a pergunta. De fato, nunca havia gostado dela. Mas queria saber o motivo que Rei tinha para dizer aquilo do nada.

– N-Não... Ela sempre foi mesmo só minha amiga.
– De verdade mesmo? – Rei o encarou, um pouco vermelho.
– De verdade...

Rei suspirou, aliviado, e esperando que não fosse mentira. Mas não garantia que ele não gostasse de ninguém... “Len... Gostava de alguém”?

– E-Eh?
– O que? – Falou Rei, distraído.
– Você disse: “Len... Gostava de alguém?”.

É, pelo visto tinha falado isso alto. Tremeu. Queria fugir, se trancar em algum lugar e nunca mais sair de lá.

– É-É, curiosidade... E-Então... N-Não precisa responder – Rei disse gaguejando, com um sorriso forçado.
– Talvez... Eu goste de alguém sim. Mas melhor não falar muito sobre isso...

Rei teve um choque interno. Não sabia o que pensar, ou o que sentir. Simplesmente parou, estático, tentando reagir. Claro, poderia imaginar. Era impossível que um dos garotos mais desejados da escola se apaixonasse por outro garoto, ainda mais alguém para quem ninguém ligava... Não precisava doer... Se Len fosse seu melhor amigo, ao menos já poderia tê-lo perto.

Perguntava-se quem seria a sortuda. Se seria bonita, se ele a conheceria... Será que um dia Len falaria para ele sobre ela? E seria ele capaz de reagir a isso como se não ligasse? Só sabia que nesse instante, pela primeira vez em muito, muito tempo estava com vontade de chorar. E não estava conseguindo controlar... Precisava sair de lá.

– Ah... Sei...
– E você, Rei, gosta de alguém?
– Não – Mentiu – Não gosto. Já volto.

Saiu praticamente correndo, sem esperar sequer Len responder. Trancou-se em uma sala vazia onde se guardavam alguns materiais de limpeza, sem se importar se a aula estava para começar ou não. Sentou-se no chão e se encolheu, com a cabeça apoiada nos joelhos. Algumas lágrimas caiam cada vez mais e mais rápido, enquanto ele tentava de alguma forma as enxugar. Sentia várias coisas ao mesmo tempo... E estava decepcionado consigo mesmo por estar naquele estado.

Precisava se acalmar, se levantar e sair. Talvez Rui e Len estivessem preocupados, uma vez que Rei não lhe dera nenhuma explicação quanto à para onde ia. Talvez ainda desse tempo de assistir aula...

Depois que parou completamente de chorar, saiu e viu o corredor vazio. As aulas definitivamente tinham começado. Não gostava de perdê-las, uma vez que nunca fora um mau aluno. Restava-lhe esperar até a aula do intervalo, para entrar depois dela.

...

Ficou esperando no mesmo banco que estava com Len. Algumas horas fazendo absolutamente nada... Apenas pensando. E tentando não ficar exageradamente triste. Tudo aquilo era ciúmes? Parecia tão banal quando considerava assim...

Finalmente o sinal do intervalo bateu, então todos os alunos, inclusive de sua sala, saíram. Rui foi uma das primeiras a sair, então foi correndo a seu encontro:

– Rei! O que... Você sumiu... Len me disse que...
– Está tudo bem, eu só demorei um pouco mais que o previsto com o que estava fazendo.
– Ninguém mais te viu. O que era tão importante assim?
– Não era importante, só demorou. Não queria que você se preocupasse, Rui... Desculpa.
– Então...

Antes que pudesse concluir a frase, Len saiu da sala e imediatamente o chamou.

– REI!
– Hmm... – Virou o rosto um pouco. Não como desconsideração, mas por não saber que expressão fazer.

Rin logo apareceu atrás de Len, porém sem falar muito. Parecia os estar analisando.

– Rei-kun... – Len se ajoelhou ao lado do banco que Rei estava sentado – Você me disse que não demoraria a voltar. Não é muito o seu estilo perder aulas.
– D-Desculpa. Não vou fazer isso de novo.
– Algum problema?
– Não... Nada de importante.

Len conhecia aquele “não” e aquele “nada”. Principalmente quando ele falava daquele jeito. Levantou uma sobrancelha e, sem dizer nada, pediu licença a Rin e Rui e o levou para um canto mais afastado, uma sala vazia, onde ninguém pudesse os ver.

– Agora, Rei, pode me falar o que foi?
– M-Mas não...
– Foi algo que eu disse? – Len parecia incomodado.

Len’s POV

Agora estávamos sozinhos. Não aguentava vê-lo assim... Por que será que ele fugiu de mim aquela hora? Foi quando eu disse... Que achava que gostava de alguém... Talvez ele tivesse entendido que eu estava me referindo a ele e tenha ficado com medo ou nojo de mim. Eu deveria ter dito que não gostava de ninguém... Ah, mas por que eu sou tão idiota? Se eu fosse mais inteligente, sei lá, poderia saber o que fazer. Vou ter que fingir que não sei de nada... E que nada daquilo teve a ver conosco. Espero que isso não o faça pensar mal de mim.

– P-Por que seria algo que você disse? – Falou ele, parecendo segurar as lágrimas.
– Não sei... – Menti – Mas de repente... Só quero que me fale a verdade.

Ele abaixou o rosto. Já tinha começado a chorar e estava vermelho. Com certeza ele deveria ter notado e ficado assustado. Eu deveria me afastar?

– Bem, não foi culpa sua...
– Então, me diz o que foi... – Falei levantando o rosto dele. Precisava o olhar nos olhos.
– É que...

Eu deveria me afastar, mas o problema é que eu não consigo. Whoa, como cheguei a esse ponto?

– É que?
– E-Eu... – Ele se encolheu.

Não falei nada, o deixei continuar.

– Eu... Acho que... F-Fiquei com ciúme quando você disse... Aquilo... – Ficou mais vermelho do que já estava.

Espera... O que? C-Ciúmes?

– H-Huh? – Soltei baixo, sem querer.
–Me desculpa, Len.

Ele saiu andando, como se fosse fugir de novo. O segurei pelo braço.

– O-O que você quis dizer com ciúmes?
– Eu não queria que você gostasse de outra pessoa... Por algum motivo isso me faria sentir mal... Então eu fiquei triste. É-É que... – Tomou fôlego, estava muito nervoso – Eu... Sei que nós dois somos garotos, mas... M-Mas... Eu...

Ele estava tão nervoso que estava tremendo. E-Espera... Ele... Eu... Então... Então ele também...
Sem pensar muito, o puxei para mais perto, para que o corpo dele ficasse praticamente colado ao meu. Ele arregalou os olhos e, fora isso, ficou sem reação.

– Rei, eu... Gosto de você... – Consegui falar, sussurrando, próximo à orelha dele.

Assim que Rei conseguiu “analisar” o que eu disse, afundou a cabeça em meu ombro, enquanto me abraçava. Chorava, molhando minha camiseta, e ria ao mesmo tempo.

(Fim do PV Len)

– L-Len – Assim que teve condições de falar, voltou a cabeça para cima e fitou a Len, sorrindo envergonhadamente – Eu... Eu te amo muito...

– Rei-kun... Ver você desse jeito... Falando isso assim... Me faz te amar ainda mais...

Len, também corando, passou a mão de leve pelo rosto de Rei, secando suas lágrimas, logo depois envolvendo sua cintura com os braços. Podiam sentir as batidas dos corações um do outro, ambas aceleradas. Assim que se acalmaram, olharam um para o outro e sorriram.

Estavam realmente muito próximos. Mas não que não gostassem disso... Ambos haviam esperado muito por um momento em que pudessem ficar assim. Aproximaram o rosto um do outro, ainda corados, Rei apoiando as mãos nos ombros de Len. Seus lábios estavam quase se tocando quando...

– Ei! Destranquem essa sala agora! Vamos precisar dela! – Batidas e resmungos foram ouvidos na porta.
– Ah! Sim, sim! Já vou abrir! – Falou Len.

Rei fechou os olhos e riu. Estava mais feliz do que em qualquer outra ocasião em sua vida que podia se lembrar.

– V-Vamos? – Se afastou um pouco.
– Vamos – Sorriu.

Caminharam até a porta, de mãos dadas, e um pouco antes de a alcançarem, Len deu um leve beijo na bochecha de Rei, que, como é esperado, corou.