Guardiã - O Projeto Evans escrita por Alex Baggins


Capítulo 12
Capítulo 11


Notas iniciais do capítulo

Perdoa minha demora e não desiste de mim ♥



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James estava zangado. Não, ele estava muito mais que isso: ele estava lívido. Nem o fato de que Lily havia riscado a cara de Sirius com os dizeres “EU AMO SEVERUS SNAPE” melhorara seu humor. Mais uma vez ele havia se iludido achando que seu relacionamento com Lily havia avançado de alguma maneira, apenas para ser afastado novamente. Ele havia pensado que após a noite que ela passou em seu dormitório eles seriam… Não, não amigos, mas talvez mais do que eles eram. Porém bastou ela pisar para fora de seu quarto para que eles voltassem para a estaca zero.
Era tão frustrante saber que não importava o que ele fizesse, Lily sempre voltaria a tratá-lo com a mesma indiferença fria que havia adquirido através dos anos. James não gostava de se sentir sem controle, e toda essa história de guardiã o fazia se sentir a pessoa mais impotente do mundo. Ele não queria ser protegido ou vigiado, ele queria… Lily.
Enquanto tomava café no Salão Principal, James tentou se lembrar do início de sua obsessão por Lily Evans. Ele não reconhecia ponto algum como o começo de seus sentimentos, como se desde o momento que ele a vira pela primeira vez até aquela manhã sua vida fosse uma única linha contínua de afeição. Ela sempre fora inteligente e dedicada, ferozmente leal e reservada, séria demais para alguém tão nova. Talvez esse fosse o motivo pelo qual James a admirava tanto: ela era exatamente o contrário de tudo o que ele era. Demorou para que ele realmente aceitasse que talvez sua fascinação fosse mais que apenas uma paixonite e até hoje ele se encontrava relutante em usar a palavra “amor”, mas toda a vez que ele olhava para ela nenhuma outra palavra lhe vinha a mente.
James sempre fora uma criança mimada, sendo filho único de uma família absurdamente rica e generosa. Nada em sua vida havia sido negado a ele. Até aquele momento.
Ele suspirou em seu café enquanto assistia Lily entrar no Salão com a sua mesma expressão vazia e olhos de pedra que faziam seu coração apertar. O quão irônico era, ele pensou, o fato de que a única coisa que ele realmente queria era exatamente a única coisa que ele não podia ter.

xXx

—Não me diga que você está animada. - disse Lily com um tom desaprovador enquanto passava uma jaqueta de couro negro para Marlene.
—Não estou, mas também não estou exatamente chateada.
Elas estavam em seu dormitório experimentando roupas, mesmo sendo o meio do dia, mais exatamente o meio de sua aula de Poções. É claro que Slughorn não iria se importar, principalmente porque ele sabia que as duas já haviam dominado todo o conteúdo no quinto ano, logo elas não tiveram muitos problemas em escolher essa aula para matar. Marlene se encontrava no meio do quarto usando um vestido escuro com a barra decorada com renda dourada, as cores dos McKinnon, colocando a jaqueta que a amiga lhe entregava.
—Você sabe quem ele é, não sabe? - perguntou Lily, cruzando os braços e se apoiando em uma das colunas de sua cama.
—Sim, Lily, eu não sou idiota. - replicou a outra lançando um olhar zangado para a amiga.
—Regulus Black.
—Esse é o nome dele.
—Você vai sair em um encontro com ele.
—Negócio é negócio.
Lily bufou e revirou os olhos, jogando-se de forma despreocupada em sua cama.
—O irmão de Sirius Black, quem diria.
Marlene se virou para a amiga, levitando um travesseiro da cama de Tatiana e fazendo com que ele voasse direto para a cara de Lily.
—Você está me julgando muito para alguém que tem um encontro mensal com Amos Diggory. - ela citou o nome dele com se tivesse nojo da palavra, franzindo os lábios para deixar bem claro seu desgosto - Regulus pelo menos não é grudento.
Lily riu, apesar da ofensa. Levantou os dois braços para cima com as palmas viradas em sinal de rendição.
—Golpe baixo, mas ainda assim verdade. - ela admitiu jogando o travesseiro de volta pra cama da dona, mas errando e acertando o chão do banheiro - Ops.
As duas ficaram em um silêncio por alguns minutos, Marlene ocupada demais tentando controlar seu cabelo e Lily deitada de olhos fechados, parecendo tirar uma soneca merecida.
—Ele até que é bonito. - comentou Marlene de repente, tão baixo que parecia estar falando com si mesma.
Lily abriu um olho e encarou a amiga, seus lábios esticando-se em um sorriso curioso.
—Concordo. - ela disse enquanto colocava os braços atrás da cabeça para se apoiar - Mas a semelhança com o outro Black é gritante demais para mim. Há quem goste disso, no entanto.
—Você fala como se o outro Black não fosse bonito.
—Muito pelo contrário minha cara Marlie. - negou Lily levantando um dedo no ar, ainda deitada - Sirius Black é uma delícia e a encarnação do pecado que eu mais adoro cometer. Contudo, eu sou do tipo de pessoa que se preocupa mais com o conteúdo do que com a embalagem.
Marlene soltou uma risada escandalosa, derrubando até a escova tamanho seu choque.
—Desde quando? - ela exclamou ainda sem conseguir parar de rir.
—Primeiro de tudo, eu estou ofendida com o seu choque. - reclamou a ruiva sentando-se rapidamente - Segundo, desde Rabastan. Aquilo foi um erro que eu não volto a repetir.
—Pelo menos você conseguiu seu troco por ele te chamar de sangue ruim quando você espalhou o boato de que ele não era exatamente bem dotado.
—Queria eu que aquilo fosse um boato!
Marlene voltou a rir escandalosamente, dessa vez com Lily a acompanhando.
—Mas, sério, Lily, você parece ter a incapacidade de sair com caras decentes. - acusou Marlene quando finalmente se recuperou de seu ataque de riso.
—Isso não é verdade! - exclamou Lily parecendo estar ofendida.
—Me dê um exemplo de um cara legal com quem você saiu.
—Remus Lupin.
Marlene revirou os olhos.
—Você não fez nada com Remus Lupin, ele subiu na sua cama porque é sonâmbulo.
Lily abriu os braços em um gesto largo.
—E foi uma noite que eu nunca vou esquecer.
—Você é ridícula. - afirmou a outra com os olhos arregalados - Sério, Evans, caras decentes, pense nisso.
A ruiva se levantou e foi até a amiga, puxando ela para um abraço desajeitado.
—Eu não preciso de caras decentes se eu só vou usá-los para uma coisa. Pense nisso, McKinnon. - ela cutucou o nariz da amiga enquanto sorria - Mas não agora. Agora você vai sair daqui e ter um encontro com o único Black que pensa com a cabeça de cima.
Marlene assentiu, pegou sua bolsa e varinha e abriu a porta do quarto, saindo para o corredor e parando apenas para gritar:
—Me deseje sorte!
—Boa sorte! - desejou Lily enquanto acenava - Se decidir se divertir de verdade tenha o bom senso de usar a Casa dos Gritos, onde ninguém vai ver!

xXx

Estava frio demais para vestidos, Marlene pensou enquanto descia as escadas até a entrada da escola. O vento passava assoviando pelos corredores gelados do castelo e pareciam se concentrar bem em volta dela, que estava claramente desprotegida para isso. Ela pensou em subir e trocar de roupa, ou pelos menos conjurar uma meia-calça, mas isso não foi necessário. Antes que pudesse levar seus planos adiante, um calor aconchegante tomou todo o seu corpo de surpresa, afastando todo o frio e suavizando o arrepio em suas pernas. Marlene olhou em volta assustada, procurando a fonte do aquecimento repentino e deu de cara com Regulus.
Ele estava apoiado de forma relaxada no corrimão da escadaria com uma bolsa de mensageiro enorme pendurada em seu ombro e a varinha apontada para ela. Usava uma camisa branca simples e um casaco de couro cor de chumbo, com o cabelo longo preso em um simples rabo de cavalo.
— Talvez um vestido não tenha sido a melhor ideia.
Marlene sorriu de leve enquanto assistia ele descer as escadas até ela.
—Talvez. - concordou - Mas as vezes nós temos que fazer sacrifícios. Beleza dói.
—Jura? Você faz parecer tão fácil.
Ela riu e, pela primeira vez em muito tempo, ela o viu rindo também.
—Eu agradeceria pelo elogio se ele não fosse tão clichê.
—E eu achando que estava sendo esperto. - Regulus respondeu fingindo estar desapontado - Vamos andando, no caminho eu vou pensando em elogios melhores.
Eles começaram a caminhar para fora do castelo, Marlene dando graças a Merlin por não estar mais com frio. O dia não estava nublado, o que era por si só um milagre, mas não estava exatamente ensolarado. Não havia nuvens no céu, mas também não havia indício algum de sol e o vento de meio de Outubro passava por eles com força, mas sem efeito algum. Eles andaram por um minuto em silêncio, atravessando os jardins em direção aos portões até que Regulus virou abruptamente em outra direção e seguiu para a borda da Floresta Negra.
—Não que eu não ache a Floresta Negra romântica, porque eu realmente acho, acredite. - afirmou Marlene reduzindo a velocidade de seus passos - Mas eu acho que há lugares melhores para um encontro. As salas vazias do primeiro andar, por exemplo, ou a Câmara Secreta.
Regulus riu novamente, para a surpresa dela. Quando ele sorria sua semelhança com seu irmão ficava ainda mais evidente e seu rosto ainda mais bonito, como se perdesse um pouco de sua já característica escuridão e rigidez.
—Nós não estamos indo para a floresta proibida. - ele negou, seus lábios ainda esticados naquele sorriso leve que ela não estava acostumada a ver - Bem, não para o meio dela, pelo menos. Mas não se preocupe, não há perigo aonde vamos.
Marlene lhe lançou um desacreditado.
—Não é comigo que eu estou preocupada.
—Comigo? - ele indagou com fingido choque - Que doce da sua parte!
Ela bufou.
—Só estou preocupada porque não tenho intenção alguma de te proteger. Espero que você saiba se cuidar.
O sorriso dele desapareceu e Marlene sentiu o frio acariciar suas pernas.
—Eu sei me cuidar. - Regulus respondeu por fim.
Mais uma vez o silêncio reinou, dessa vez um pouco menos confortável. Eles seguiram em direção a Floresta, acompanhando sua orla e os muros de pedra que cercavam os terrenos de Hogwarts. Marlene nunca tinha se aventurado por aquela área que seguia os contornos dos limites dos jardins e agora começava a se arrepender de ter deixado que ele a levasse para um lugar que ela não conhecia. Talvez fosse apenas paranoia, afinal Regulus Black era um espião fiel que trabalhava para o Conselho dos Guardiões desde seus treze anos. Ela balançou a cabeça, tentando afastar sua desconfiança até se sentir mais calma, mas não calma o bastante para afrouxar seu aperto em sua varinha.
Quando eles finalmente entraram na Floresta os dedos de Marlene estavam brancos e seus ombros tensos. Regulus, no entanto, não parecia perceber. Ele caminhava com tranquilidade, as mãos dentro do bolso do casaco e a cabeça erguida.
—Regulus. - ela chamou depois de um tempo, a voz controlada para que não deixasse escapar seu nervosismo - Aonde estamos indo?
Ele não respondeu, apenas levantou um dedo indicando para que ela esperasse. Andou mais alguns passos e parou. Olhou em volta, como se estivesse tentando reconhecer o ponto exato em que estava e por fim parou em frente a um arbusto enorme. Virando-se para ela, ele estendeu a mão e abriu mais uma vez o sorriso que não cessava em surpreende-la
—Você confia em mim? - perguntou.
Marlene arqueou uma sobrancelha.
—Minha resposta para essa pergunta sempre é nã…!
Ela não teve a chance de terminar sua frase antes que ele a agarrasse pelo pulso e a puxasse para dentro do arbusto. Eles caíram através das folhas e galhos e pousaram numa grama macia que não combinava com o chão duro da Floresta.
—É exatamente por isso que eu não confio nas pessoas. Black, o que você estava pensand…
Mais uma vez sua frase não foi terminada, pois bastou ela se levantar para que as palavras lhe escapassem. Eles nem pareciam estar mais nem Floresta e, se não fosse pelo muro enorme que ainda cruzava o caminho deles a esquerda, ela não acreditaria que eles estavam em Hogwarts.
As árvores escuras tinham se aberto em um perfeito circulo, dando espaço para uma enorme clareira, iluminada por uma luz que não havia no céu e que parecia vir da terra. O chão era coberto por uma grama incrivelmente verde e macia, que parecia reluzir e zunir com a magia que cobria toda e qualquer superfície daquele lugar. Havia flores por toda a parte, algumas nem Marlene conseguia reconhecer, nos arbustos, nas árvores, na hera que subia pelo muro e suas cores eram tão vibrantes que faziam qualquer outra coisa parecer pálida em comparação.
—O que achou?
Ela se virou assustada, tendo se esquecendo por um segundo que Regulus estava ali, tamanho seu choque. Quando ela o viu apoiado em um tronco grosso, os ombros curvados e o cabelo caindo no rosto, parecendo genuinamente preocupado com o fato de que ela talvez não tivesse gostado daquele pequeno paraíso, ela não pode se segurar. Cruzou o pequeno espaço que havia entre eles e o puxou para um abraço. Marlene não era uma pessoa que gostava muito de abraços, mas ele merecia. Ninguém nunca havia planejado algo assim para ela e até então ela não sabia que precisava disso.
—Regulus, esse lugar é lindo. - ela disse quando se afastou.
—Não tanto quanto você. - Marlene riu do elogio desajeitado - Qual é, eu vim pensando em dizer o isso o caminho inteiro. Foi tão ruim assim?
—Foi. Mas não me leve a mal, pense nisso como uma crítica construtiva.
—Vou pensar, mas enquanto isso nós vamos ter o melhor encontro da sua vida.
—Mal posso esperar.
Regulus puxou da bolsa uma manta verde e a colocou no chão, indicando para que Marlene sentasse. Quando já estavam os dois confortavelmente posicionados no chão, ela esticou suas pernas e deitou, puxando-o pela camisa para que fizesse o mesmo.
—Como você descobriu esse lugar? - ela perguntou baixinho.
—Um dos meninos do meu ano me contou sobre ele. Aparentemente esse lugar foi criado alguns anos atrás como um ponto para encontros, quando as salas vazias do primeiro andar ainda eram utilizadas. Tudo aqui foi criado do zero, menos as flores. Elas foram plantadas sem magia.
Marlene se virou, apoiando-se nos cotovelos para que pudesse enxergar o rosto dele.
—Você está brincando.
—Não estou! Tem toda uma história por trás desse lugar. - Regulus se sentou, o rosto brilhando de animação - Tinha esse menino, Weasley alguma coisa, ele se formou alguns anos atrás, eu não o conhecia. E ele gostava muito de uma garota chamada Molly, acho que você a conheceu. Grifinória, escandalosamente ruiva?
—Eu já devo ter a visto.
—Enfim. Ele era completamente apaixonado por ela e morria de vergonha de chamá-la para um encontro, principalmente porque ele não tinha muito dinheiro para isso. Então ele criou esse lugar. Inicialmente ele também iria conjurar flores, mas elas não pareciam ter o mesmo brilho das naturais. Então ele plantou todas elas, uma por uma, e esperou que todas elas florescessem antes de chamá-la para sair.
Marlene olhou em volta, para as centenas de flores diferentes que haviam ali tão firmemente enraizadas no chão.
—Mas há centenas, talvez milhares de flores aqui!
—Ele era um cara paciente.
Ela se jogou de volta no chão, encarando mas nuvens acima dela com olhos ainda arregalados de surpresa.
—Uau.
—Pois é. - ele concordou - Desde então esse lugar tem sido mantido como o melhor ponto para encontros na escola. Tem até uma lista de espera para usá-lo.
—Como eu nunca fiquei sabendo sobre isso?
—Qual a última vez que você teve um encontro?
Marlene se calou. A última vez… Merlin, fazia anos desde que ela se permitira tamanho lazer. Os últimos semestres do treinamento de guardiões eram pesados e exaustivos, deixando pouco espaço para relacionamentos. O último encontro que ela havia tido fora com Remus e ele sempre evitara a Floresta como uma praga. Ele nunca a teria trago ali.
—Marlene? Está tudo bem?
Ela piscou, tentando afastar as lembranças indesejadas.
—Está. - respondeu, sorrindo de leve, apesar do gosto amargo que as memórias tinham deixado - Me diga, você tem comida nessa sua bolsa enorme ou é só para enfeite?
Regulus não parecia convencido, mas deixou passar. Abrindo a bolsa ele tirou de lá diversos doces e salgados, todos fazendo Marlene salivar.
—Agora sim isso é um encontro. - ela disse já pegando um morango coberto de chocolate.
Eles conversaram por horas, ambos deitados por cima da manta. Eles falaram sobre tudo que lhes afligiam, sobre o treinamento dela e as ambições dele de ser tornar um curandeiro. Ele contou sobre como a situação na casa dos Black era menos que amigável desde que Sirius havia se mudado e ela contou sobre a pressão de seus pais e o constante medo de perder Lily. Nunca antes ela havia se aberto tão facilmente com alguém e uma parte dela doía por saber que aquilo não poderia durar. Mas Regulus era atencioso e gentil e ela queria poder colocar aquele momento em uma garrafa e levar com ela dali para frente.
—Regulus - ela começou após alguns segundos de silêncio - o que te fez trabalhar para os Guardiões?
A princípio ele não respondeu, fazendo Marlene achar que a pergunta havia lhe incomodado.
—Você não precisa responder…
—Não, tudo bem. - ele afirmou - É só que… Eu nunca contei isso pra ninguém, fora o Conselho.
—Regulus…
—Quando eu tinha doze anos - ele começou sem se importar com o olhar nervoso que Marlene lhe lançava - eu vi meus pais conversarem com Comensais da Morte. Eu não fiquei surpreso, isso acontecia o tempo todo. Eu sabia desde muito novo o que meus pais apoiavam e, diferente de Sirius, eu era esperto o bastante para não me posicionar e viver em paz.
“Mas dessa vez era diferente. Eles estavam na sala de jantar e ainda era cedo, sendo que eles nunca apareciam lá de dia. Eu cheguei mais perto para ouvir o que eles estavam falando e acabei escutando o nome de Sirius. Minha mãe estava falando sobre como ela não sabia mais o que fizer com ele. Até ai tudo bem, ela dizia isso o tempo todo. Mas quando meu pai disse que logo eles teriam que dar um jeito nele, eu comecei a me preocupar, pois sabia exatamente o que ‘dar um jeito’ significava para o meu pai.”
Regulus puxou o ar lentamente pelo nariz, como se tentasse juntar coragem para continuar a falar.
—Eu nunca me dei muito bem com Sirius, mas eu ainda o amo como todo o irmão mais novo ama o mais velho. Quando eu era mais novo tudo o que eu queria era ser como ele. Naquele momento, eu só conseguia pensar em protege-lo. Foi ai que eu lembrei dos Guardiões.
Marlene não disse nada, esperando com a testa franzida o final da história..
—Eu havia acabado de estudar sobre eles - ele continuou, sua voz ficando mais e mais séria com a passar do tempo - e pensei que talvez pudesse arranjar um para Sirius. O que eu não esperava era o quão absurdamente caro os serviços de um Guardião pode ser. E eu não tinha aquele dinheiro. Então eu ofereci o que tinha: informação.
Aquela definitivamente não era a resposta que Marlene esperava. Ela nunca iria imaginar que Regulus se preocupava tanto com o irmão a ponto de se arriscar diariamente, nunca iria imaginar que ele fosse tão altruísta.
—As vezes eu penso em sair de casa. - ele disse numa voz tão baixa que ela quase não ouviu - Fazer como Sirius e largar tudo, para nunca mais ter que ouvir as coisas horríveis que minha família faz. Mas ai… - ele soltou um suspiro cheio de tristeza - Eu lembro que ficar ali é a única coisa que mantêm o meu irmão vivo, e que eu nem ao menos tenho um lugar pra onde ir.
Depois disso ninguém mais falou nada, o coração dos dois tão apertados que não havia nem como as palavras saírem. Ele manteve a cabeça baixa, evitando o intenso olhar de pena de Marlene que parecia até queimar.
—Eu não quero sua pena. - ele disse ainda sem olhar para ela.
—Regulus. - ele a ouviu chamar, mas não se virou.
—Eu não quer…
Ele se calou rapidamente ao sentir os braços ao redor dele, puxando-o rapidamente para um beijo para o qual ele não estava preparado.
Marlene não tinha muita certeza do que estava fazendo, beijando-o daquele modo impulsivo. Ela só queria que ele não ficasse tão triste, não se sentisse tão sozinho no mundo. Ele era tão obviamente bom, tão claramente solitário e ela queria que ele soubesse que ela estava ali.
Ela colocou toda sua força por trás daquele beijo, forçando cada gota de sentimento para fora dela até que ele se sentisse melhor e ela se sentisse vazia. Suas mãos voaram para o cabelo macio dele, e as mãos dele voaram para sua cintura e os dois se prenderam ali em uma confusão de membros e lábios.
E apesar disso, ela não sentiu nada.
Não havia fogo, não havia química. Quando ele a tocava, sua pele não arrepiava como se uma corrente elétrica houvesse percorrido toda a extensão do seu corpo. Não era exatamente ruim, mas para a tristeza de Marlene, não havia atração.
—Nada. - ela murmurou para si mesma quando eles se separaram, não se dando conta de que tinha falado em volta até que ele respondeu:
—Pra você também não?
Marlene levantou os olhos e encontrou os dele, ainda tristes mas por um motivo diferente.
—Eu sinto muito. - ela disse, a testa ainda encostada na dele.
—Eu também. Merlin sabe que eu sonhei com esse momento por muito tempo. - ele suspirou novamente - Mas não se pode forçar esse tipo de coisa.
—Eu queria que fosse possível. Você é o cara mais legal com quem eu já sai.
—E você é a garota mais incrível que eu já conheci.
—Nós seremos um par de amigos em tanto.
—Isso é tudo que eu posso pedir.
Ela abriu um sorriso enorme, o primeiro desde que havia chegado na clareira. Ainda relativamente chateada, ela se curvou para dar um beijo casto no rosto dele antes de deitar sua cabeça no ombro dele. Foi quando ela percebeu que o muro bem em frente a ela parecia estar sujo ou riscado com várias pequenas palavras.
—Regulus, o que é isso? - ela perguntou puxando-o pela mão até o muro.
—Isso, minha queria Marlie, - ele respondeu colocando o braço sobre o ombro dela - são as marcas que todos os casais que passaram por aqui deixaram.
Marlene estendeu a mão e passou os dedos de leve na pedra do muro, sentindo o relevo de uma marca com os dizeres M+H, passando por S+J até B+T. Havia centenas de siglas ali, com diversos tipos de corações e declarações desenhados. Era difícil de imaginar que todas aquelas pessoas tinham passado por ali, algumas até se apaixonado ali.
—Eu acho que a gente deveria deixar nossa marca aqui também.
Regulus a encarou, confuso.
—Você acha?
—Mas é claro! Isso aqui ainda é um encontro, não é?
Ela não precisou dizer mais nada. Regulus na mesma hora puxou a varinha do bolso e, colocando a mão dela por cima da dele, começou a escrever. Lentamente as letras foram sendo gravadas na pedra até que eles tivessem um perfeito M+R dentro de um coração. Marlene não largou a mão dele mesmo após eles terem terminado, continuou segurando-a enquanto admirava seu trabalho.
—Você parece um cara incrível e eu queria muito me apaixonar por você. - ela confessou - Mas estou feliz por não ser capaz. Te deixar para trás seria terrivelmente difícil.
—Você nunca vai precisar me deixar pra trás agora.
—Isso é tudo que eu posso pedir.

xXx

Lily estava no jardim, jogada na grama com os cabelos ruivos espelhados como um leque no chão. Ela estava esperando pelo retorno de Marlene, ainda incomodada com o fato de que a amiga havia concordado em ir em um encontro tão ridículo. Deitada ali em silêncio, com os olhos claros refletindo o céu e as nuvens, ela tentava relembrar os detalhes da noite anterior. Nada lhe vinha a mente, no entanto, a não ser alguns flashes perdidos que não respondia nenhuma de suas perguntas.
Ainda afogada na própria angústia, Lily ouviu o som de grama sendo esmagada que indicava que alguém se aproximava. Ela fechou os olhos e fingiu dormir, mas a pessoa fingiu não se importar e sentou-se ao seu lado
—Vá embora. - resmungou ela sem ligar se era Marlene ou Merlin que acabara de se sentar.
—O jardim não é só seu, sabe.
Para a surpresa e desgosto dela, era Sirius que estava ali. Lily abriu os olhos e se virou parao garoto deitado com os braços atrás da cabeça e os olhos cerrados.
—Você tem o jardim inteiro para se deitar. Por que logo do meu lado?
—Não foi pela sua companhia cativante.
—Definitivamente não. O que quer?
—Conversar.
Lily se calou, esperando que ele começasse a falar, mas o maroto não o fez.
—Conversar sobre o tempo ou sobre algo mais específico? Porque se eu quisesse ficar de papo furado certamente eu não estaria aqui.
—Onde estaria?
Ela não respondeu, limitando-se a fazer um barulho de impaciência.
—Ok,ok, vamos conversar. - cedeu Sirius.
—Sobre?
—James.
—Nope, não quero falar sobre isso. - Lily fez que iria se levantar, mas Sirius a puxou para baixo.
—Sente sua bunda ruiva ai. Você fala demais, agora é hora de ouvir.
Lily se sentou e cruzou os braços, fazendo bico e olhando para longe.
—Ele realmente gosta de você, sabe. - ele começou.
—Sei.
—Quando estávamos no quinto ano ele disse que iria casar com você. No Natal, vendeu o relógio que ganhou e comprou um anel.
Ela se manteve em silêncio, os olhos fechados e a testa franzida.
—Quando voltamos das férias, você havia sumido. E ele não conseguiu te dar o anel.
Ela se lembrava desse ano. Foi quando viajara para por treze meses em seu estudo de campo como Guardiã. Voltara tão diferente que mal se reconhecia.
—Ele ainda usa o maldito anel, mesmo sabendo que você nunca aceitaria. Em uma corrente pendurada no pescoço.
Ela se virou, ficando completamente de costas para Sirius, mas ele continuou falando, virado para cima como se conversasse com as nuvens.
—Uma vez eu peguei o anel e escondi, só para ver qual seria sua reação.
—Isso não é algo muito legal de se fazer. - Lily comentou ainda sem se mover.
—Eu não sou uma pessoa muito legal.
Ele parou de falar, deixando uma pausa desconfortável pairar sobre eles, um sorriso divertido brincando em seus lábios enquanto contava mentalmente os segundos. Três, dois, um…
—O que ele fez?
O sorriso dele ficou ainda maior e depois desapareceu.
—Ele ficou completamente louco. - respondeu com a voz séria - Derrubou o quarto e faltou o dia inteiro nas aulas a procura da droga do anel. Ai eu contei pra ele.
—Você apanhou?
—Como um saco de pancadas. Mas ai eu soube.
Lily suspirou pesadamente. Ela sabia a resposta da pergunta que ia fazer, mas precisava ouvir em voz alta, da boca de outra pessoa (ainda que fosse de uma fonte tão duvidosa quanto Sirius Black).
—Soube o que?
Sirius também suspirou, mas de desconforto.
—Olha, eu não gosto de falar sobre sentimentos…
Ela apertou a ponte do nariz entre o indicador e o polegar, claramente irritada.
—Fala logo, Black, ou eu juro que te jogo no lago.
—Como estamos rudes hoje, não é mesmo?
—Black… - rosnou Lily.
—Eu soube que James não estava brincando. Não era mais uma aposta ou um capricho dele. Eu nunca vi ninguém… - Sirius pareceu engasgar nessa parte - Ele tinha apenas quinze anos e já sentia coisas que eu vi gente muito mais velha tentando achar.
Ela não disse nada, mas ele também não esperava que ela dissesse. Na verdade, ele não sabia o que esperar. Talvez lágrimas ou uma declaração apaixonada de amor, mas ela nem se mexeu, mal parecendo respirar de tão imóvel.
—Você esperava uma reação. - ela afirmou.
Ele deu de ombros.
—Bem, sim. Não esperava lágrimas nem nada do gênero, mas também não achava que você ia se fingir de morta.
—O que você quer que eu diga, Black? Você sabe que nada pode acontecer. As leis…
—Pra merda com as leis! - Sirius exclamou exasperado - Diga que vai esperar por ele. Quando tudo isso acabar, quando você não for mais Guardiã, diga que vai atrás dele. Diga que vai aproveitar o pouco tempo que vocês tem juntos agora. Diga que não vai deixar meu melhor amigo, que vai esperar por ele.
Lily balançou a cabeça lentamente, ainda de costas.
—Não faz assim, Evans.
—Ele não vai esperar por mim. - ela sussurrou.
—Hã?
—Ele não vai esperar por mim. - ela repetiu mais alto - E eu não posso exigir isso dele.
Sirius se levantou de repente e começou a ir embora, cheio de raiva e frustrado com a falta de reação dele. No meio do caminho, no entanto, ele se virou e disse:
—Ele tem te esperado pelos últimos cinco anos.
Lily o assistiu partir, os punhos cerrados apertados contra os lados do seu corpo. Respirou fundo algumas vez, esperando ele se afastar enquanto se acalmava, depois se levantou. Seu resto estava mais uma vez inexpressivos e seus olhos não transmitiam nada do que sentia por dentro, mas seu corpo estava tenso e seus músculos rígidos, como se ela estivesse se segurando. Ela caminhou de volta para o castelo, atravessou as enormes portas duplas de madeira e se dirigiu para a sala de treinamento onde pretendia praticar sua mira para se distrair.
No meio do caminho, ela parou. De uma das portas a sua direita vinha um barulho abafado, algo como grunhidos e o som de vozes. Uma era masculina e parecia exasperada, enquanto a outra era claramente de uma mulher. As palavras eram baixas, mas firmes. Curiosa cmo sempre. Lily se aproximou para ouvir o que os dois diziam.
—...O baile vai ser ótimo. - uma das vozes dizia.
Ela se afastou da porta e franziu o cenho. Ela conhecia aquela voz aguda e irritante. Era Tatiana. Lily não ouviu a resposta do garoto e se preparou para ir embora quando ouviu Tatiana dizer, de forma lenta e arrastada como um gemido:
—James…
A ruiva parou onde estava. Sua postura mudou, seus olhos se arregalando de surpresa e seus lábios cerrando-se em uma linha fina. Ela voltou a se aproximar da porta e espiou pela fresta. O que ela viu não a chocou, mas a magoou profundamente, cutucando partes doloridas que ela não sabia que tinha.
James estava ali, os braços pendendo soltos do lado dele, com Tatiana prensada contra ele e as mãos afundadas em seu cabelo escuro, puxando-o para um beijo feroz.
Lily deu alguns passos para trás como se a porta estivesse em chamas, colocando distância entre ela e a cena que se desenrolava. Suas costas encontraram a parede do outro lado do corredor e ela balançou a cabeça devagar, se recusando a derramar uma lágrima sequer por algo que ela sabia que acontecia.
—Ela não vai esperar por mim. - murmurou para si mesma, repetindo a frase que havia virado quase um mantra - E eu não posso exigir isso dele.
Ela continuou se afastando até que as sombras do corredor seguinte a cobrissem por inteiro.


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Notas finais do capítulo

OLHA QUEM VOLTOOOOOU.
Meu Merlin, o quão prazeroso é finalmente atualizar essa fic depois de anos. Esse capítulo na verdade era totalmente diferente, mas eu decidi reescrever ele. Inicialmente, eu não iria nem escrever o encontro da Marlene e do Regulus, mas relendo a fic eu percebi que ele simplesmente era um personagem bom demais para jogar fora.
E NÃOOOO, Regulus e Marlie não vão ter um relacionamento amoroso. Eu achei que as meninas precisavam de um amigo e eu realmente queria trabalhar um pouco em uma coisa mais platônica entre eles. Infelizmente eu não vejo eles dois juntos, e eles dois também não se veem juntos. Não tem química, logo não tem casal.
Mas, bem, Sirius não tem que saber disso. Ainda.
Até a próxima!