— Ah, que bom que chegaram. – Annie parou um pouco atrás de nós, evitando encarar Finnick. – Bom, depois de uma conversa com o duque e a duquesa eu decidi abrigá-los até o baile da Colheita.

Assenti quando minha mãe olhou pra mim, ao terminar de falar. Aquele anúncio me aliviou. Eu achei que eles estavam tentando arranjar um casamento, mas estava errada.

Ela dispensou todos, menos eu. Madge e Finnick eram educados, mas ainda assim se provocavam, como irmãos sempre fazem. Olhei ao redor da sala do trono enquanto Annie fazia uma reverência e se retirava.

— Como foi seu passeio pelos jardins? – Minha mãe se sentou suspirando. Estava cansada e tensa.

— Finnick é uma boa pessoa, mãe. – Ela me olhou sorridente. – Não, mãe, isso não quer dizer nada.

— Não acho que o duque gostaria que o filho se casasse com alguém tão jovem, mesmo sendo uma princesa. Amanhã seguirá sua agenda normalmente. Tente incluir Madge em algo.

— Tentarei. Mais alguma coisa?

— Poderia ir até meus aposentos e buscar minha caderneta?

— Não deveria descansar?

— Ainda tenho muito o que fazer nessa noite. – Assenti e caminhei até o corredor. Não encontrei Annie, então continuei sozinha. Os guardas já tinham trocado com os dos outros turnos, mas estes estavam meio sonolentos.

Abri a porta devagar, a sensação estranha voltando a me atormentar. Os candelabros estavam apagados, então tive que acender um lampião para conseguir enxergar.

Andava devagar, procurando a caderneta azulada com as anotações de minha mãe. Olhei o grande espelho por um momento, a sensação aumentando. Então seu cordão a denunciou.

A luz do lampião fez com que o vermelho do pingente se espalhasse, manchando todo o teto com um tom que parecia sangue. Vi aquele mesmo sorriso torto da noite anterior, em cima da cama da minha mãe.

Fiquei sem palavras, apenas levantei um pouco o lampião para me certificar de que não era nenhuma alucinação. Ela escondeu o rosto nos cabelos escuros e grossos por causa da claridade.

— Se importa, Alteza? – Joguei um lenço que estava sobre a cômoda sobre o lampião. – Obrigada. – Ela desceu com tamanha leveza que não parecia ser possível em um humano.

— Posso perguntar o que está fazendo aqui? Como conseguiu entrar?

— Pelo mesmo lugar que, imagino eu, vossa alteza fugiu do castelo. E, infelizmente, dessa vez não posso deixar que me pergunte isso.

— O que você está levando consigo? – Ela permaneceu calada. – É ouro, joias, algo assim? – Nada.

— A caderneta está na primeira gaveta, alteza. Tenha uma boa noite, e que as estrelas iluminem seu caminho, Katniss filha dos Everdeen. – Ela fez o gesto mais honroso do reino todo, o gesto com os três dedos. Antes que pudesse reagir ela correu graciosamente pela sacada e se jogou no vazio da noite.

Fui até a gaveta da cômoda e encontrei a caderneta, como ela dissera. Peguei-a ainda chocada com aquele encontro. Eu tinha que descobrir o que ela tinha levado.