The Princess And The Thief escrita por Pacheca


Capítulo 36
After The Fight


Notas iniciais do capítulo

Pessoas, desculpem-me se demorei, estudando muito por aqui!
Então, o próximo capítulo será o último :C Espero que aproveitem, e não me matem >.



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   Acordei com uma dor horrenda. Tive que piscar várias vezes para conseguir clarear minha visão e achar a figura de Haymitch no quartinho. Minhas costelas doíam, assim como meus músculos queimavam.

   – Já? Achei que ia ficar mais algumas horas desmaiada. – Haymitch voltou a preparar alguma coisa, virando de costas pra mim.

   – Água. – Minha voz saiu arranhando minha garganta. Quanto tempo eu passara apagada? Haymitch me estendeu um odre cheio e eu virei seu conteúdo todo de uma só vez.

   – Me surpreendeu, mais uma vez. – Haymitch se virou pra mim, com aquela expressão mal-humorada de costume. – Achei que ia abrir a garganta de Snow no mesmo instante que o visse.

   – Não foi por falta de vontade. Mas tenho um trato com a rainha, Snow vai ser julgado por seus crimes.

   – Bem, veremos onde isso vai acabar.  De volta ao assunto que eu vim tratar, não posso fazer muito com suas costelas. E os músculos vão melhorar com algum repouso.

   – Ou seja, cama o dia todo? – Ele concordou com a cabeça. – Maravilha.

   – Pois é, quer que eu te arranje algo pra fazer enquanto isso? – Ele pegou uma vasilha e se levantou.

   – Só peça alguém para vir aqui, Thresh ou algum outro. – A expressão dele se tornou um pouco mais dura.

   – Vou arranjar alguém. Descanse, você ganhou isso por nós. – Dei um sorriso sem ânimo, pensando naquela mudança repentina de expressão.

   Passei algumas horas alternando entre cochilar e ficar encarando as marcas da porta. Haymitch não voltou, e eu quase achei que ninguém viria me ver, até a porta se abrir devagar.

   A figura de Peeta passou pelo vão e fechou a porta atrás de si. Ele mancava um pouco, mas parecia bem, sem ferimentos. Ele pegou um banquinho escorado na parede e se sentou, em silêncio.

   – Tudo bem com você? – Perguntei, me sentindo desconfortável com aquela falta de som.

   – Mais ou menos. Fui ferido, mas estou bem. – Baixei o olhar para a perna que mancava. Provavelmente algum corte. Ele percebeu meu olhar. – Tiveram que amputá-la.

   – Oh. Realmente sinto muito. Mas poderia ter sido pior. – Ergui meu olhar para seu rosto, ainda tímido. – Mas por que veio aqui?

   – Na verdade, quero te fazer perguntas. Primeiro, sobre Snow.

   – Não o matei pelo meu trato com a rainha, só isso. – Cruzei as mãos sobre meu peito, mas logo as coloquei de volta ao lado do meu corpo, por causa da dor nas costelas.

   – E sobre me ajudar. Me fez lutar por isso. – Ele se inclinou pra frente no banco.

   – Sinceramente, só eu sei as leis desse reino? Peeta, para poder pedir a mão de Katniss você precisa ser nobre. – Ele concordou lentamente. – Lutando você pode ganhar um posto de honra. Eu convenço a rainha, você vira nobre, você sabe o que fazer depois.

   – Sério? Vai fazer isso? – Ele encarava a parede atrás de mim, pensando.

   – Regentes infelizes são péssimos líderes. Katniss precisa da felicidade dela. – Ele deu um sorriso fraco, se levantando.

   – Obrigado, então.

   – Não há de que. Aliás, era só isso que você queria?

   – Sim. Bom, e Haymitch pediu pra que alguém te fizesse companhia.

   – Oh, sim. Obrigada. Mas assumo que achei que ele pediria Thresh. – A expressão de Peeta mudou subitamente, num misto de confusão e tristeza.

   – Ele não te contou?

   – Contar o que? – Me sentei na cama, ignorando a dor. Aquela expressão não podia ser uma boa notícia.

   – Thresh, ele morreu. – Peeta ficou em silêncio, provavelmente pensando que teria que me consolar.

   E quase teve. Um nó se formou na minha garganta, se tornando difícil respirar. A lembrança de Thresh me buscando perto da árvore forca, me levando pro esconderijo, quase me fez chorar.

   – Ele não contou. – Minha voz quase me traiu. A dor era imensa, como quando meus pais foram enforcados, como quando deixei Seneca para trás.

   Peeta não disse nada. Só se levantou e saiu do quarto. Me deitei de novo, sentindo um peso no peito e a cabeça girando, enquanto minhas lágrimas escorriam bochechas abaixo.

   Não era só minha dor que eu sentia. Era também a de Rue. Ela provavelmente ainda não sabia. E doeria ainda mais nela, pois ele a amava.

   Passei as últimas horas do dia ali, na mesma posição, encarando o teto, chorando. Quem mais tinha morrido naquela luta idiota? Minha cabeça rodava. Dormi, ainda pensando nos que tinham partido.

   Acordei mais tarde que o usual, mas não me importei. Me levantei e prendi minhas armas na cintura, sentindo seu peso enquanto respirava fundo.

   Sai do quarto, seguindo até os aposentos da rainha. A paisagem que passava pelas janelas tornava a dor ainda pior. Nosso lar, inundado em sangue.

  – Vejo que está bem. Fico contente. – A rainha não dizia mais que o necessário, e eu apenas concordava.

  – Quais foram nossas perdas? – Perguntei, segurando meu pingente, sentindo o vazio que me cercava.

  – Não muitas. Acho que já soube de Thresh. A maioria das perdas foram camponeses. Também perdemos alguns guardas. Lamentável, ainda assim. – Ele gesticulava com uma mão, me distraindo.  Ao menos eu não perdera mais ninguém.

   – E o que pretende fazer agora? – Soltei o pingente, trocando o peso de perna.

   – Primeiro, cuidaremos dos nossos feridos. Haymitch tem sido muito útil. Depois o julgamento. – Concordei, devagar.

   Pedi licença e sai, logo em seguida. Passei pelos corredores e escadas até me encontrar no jardim. Olhei ao redor, me surpreendendo com os rostos ali.

   Annie e Finnick caminhavam perto da fonte, de mãos dadas. Katniss, de volta num vestido qualquer, caminhava sem rumo, calmamente. Gale seguia na direção contrária, tranquilo. Tudo estava tão tranquilo que eu mal acreditava.

  Os dias demoravam a passar. Mais de duas semanas se passaram antes do julgamento. A rainha me convocou no meu quarto, pessoalmente.

  – Chegou a hora, NightHunter. – Ela estava parada no vão da porta, séria.

  – Vamos. E a propósito, majestade, o nome é Narrow. – A rainha ficou parada por mais alguns instantes de se recompor e me acompanhar até o salão da assembleia.

  Era um salão, com uma cadeira solitária virada para outras várias cadeiras. O sol invadia o salão pelos espaços entre as cortinas de veludo vermelhas.

  Finnick, Katniss e Gale já ocupavam algumas das cadeiras. Me sentei ao lado de Gale, esperando os outros. Peeta e Annie se sentaram conosco, quietos. Haymitch entrou meio cambaleante, seguido de perto por Cato.

  Ele se sentou ao meu lado, sério. Continuei encarando a cadeira vazia à nossa frente, falando baixo.

  – Você vai julgá-lo? Por quê?

  – Representando a irmandade por você, já que você está aqui se representando. – Ele me olhou de soslaio, provavelmente se lembrando da briga que tivemos pela liderança. – E por Seneca.

  – Ele vai pagar, por todos. – Me virei de leve pra ele, segurando o pingente. – Só precisamos esperar.

  No mesmo instante, dois guardas entraram com Snow entre eles. O velho, ainda mais debilitado do que eu me lembrava, se sentou na cadeira virada, em silêncio.

  – Nos reunimos hoje para julgarmos os crimes cometidos por Coriolanus Snow. As acusações são chantagem, perturbação da paz, assassinato e mandato de roubos. Sua defesa, Snow?

  – Não quero me defender. – Ele parou, tossindo por um longo tempo. – Não adiantaria. Não, majestade, assumo sem medo meus crimes.

  – Alguém tem algo a declarar? – Soltei meu pingente e me levantei, caminhando até Snow. Ele estava realmente debilitado.

  – Libere-o da forca. – Senti os olhares surpresos ao meu redor. – Deixe-o sofrendo, preso. Ele está doente, não durará mais do que alguns dias.

  – O que está fazendo, sendo misericordiosa? – Snow tossiu mais uma vez. – Não mereço misericórdia.

  – Não é misericórdia. É raiva. Melhor do que te ver pendurado, sufocando e se retorcendo por ar, é te ver agoniando, pensando em que momento você vai tossir pela última vez.

  – Todos a favor? – A rainha ignorou os olhares curiosos ao meu redor. Vi as mãos de Peeta, Annie e Gale se erguerem. Finnick estava indeciso, alternando olhares entre Snow e Annie. Por fim ele concordou também.

   – Cato, Haymitch, suas objeções?

   – Simplesmente acho uma morte pacífica demais. Mesmo que a incerteza o torture, quem sabe se ele vai sofrer? – Cato falou, Haymitch concordando devagar.

   – NightHunter? Argumentos a seu favor?

   – Levem-no à forca, então. Se certifiquem que ele sofra. – Voltei a me sentar, a rainha anunciando a sentença de Snow, que permanecia indiferente.

   No dia seguinte não fui à praça. Snow seria enforcada de manhã, e por mais que eu quisesse que ele sofresse, eu não queria ver sua agonia. Primeiro, porque me lembraria de meus pais e Thresh. E segundo porque eu tinha certeza de que aquele rosto velho me perseguiria em meus sonhos.

   Cato me contou que o velho morreu, se contorcendo e rindo. Que ao fim era só um corpo com a boca suja de sangue. Cato parecia não ter percebido, mas Snow tinha morrido da doença.

   Fiquei no castelo, conversando com Annie. Ela estava radiante, feliz. Finnick a pedira em casamento, e ela logo iria embora com ele. Se sentia triste por deixar Katniss, mas eu a convenci de que pessoas precisam sentir falta.

   Voltei para meu quarto quando o assunto do enforcamento ressurgiu entre guardas e criadas. Estava feito. Eu finalmente estava em paz. Me vingara, enfim.         


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Notas finais do capítulo

Muito bolante? O que acharam? Tá acabando, chance de aparecerem nos comentários, negada!
Bjs