Assim que Katniss entrou no castelo, fui para os estábulos. Fiquei esperando, um pouco ansiosa. Ele tinha que conseguir, todos eles. Não demorou muito e alguém pulou o portão, pelo qual entrei pela primeira vez no castelo, ainda por Snow.

    – Achei que não vinha mais. Eu cheguei um pouco atrasada e você ainda não estava aqui. – Me virei para ele, observando sua forma no escuro.

    – Tive um pequeno problema, mas já resolvi. Rue queria vir conosco. – Thresh se moveu, um pouco desconfortável por falar em Rue. – Mas conseguimos, todos nós. Inclusive Haymitch.

    – Ótimo. A rainha sabe que vocês vão nos ajudar, só não sabem que vão ficar aqui. Sejam discretos. – Thresh concordou. – Muito bem. Estejam prontos amanhã.

    Fui para meu quarto antes que ele dissesse mais qualquer coisa. Eu tinha que descansar, por mais que eu já estivesse ansiosa o suficiente para o ataque.

    O sol ainda não tinha surgido, mas eu já estava de pé, vestindo a armadura. Era um trabalho tedioso, ficar puxando e apertando correias, prendendo o punhal e a espada na minha cintura, mas que devia ser feito, precisamente.

    Eu quase podia ouvir o exército inimigo se reunindo, entrando em formação.  Segurei meu pingente, respirando fundo. Minha mãe rezaria em uma situação dessas, mas será que algum deus me ouviria? Depois de todos que eu matei, que eu abandonei?

    – Se algum de vocês realmente se importa, eu não me importo com a morte. Só nos deixe vencer antes. – Soltei o pingente e sai do quarto, indo encontrar a rainha.

    Katniss, Gale, Finnick e o general já estavam lá, todos em armaduras, apenas esperando. Olhei pela janela, nosso próprio exército entrando em formação, com as armas em mãos.

    – Espero que todos vocês fiquem sãos e salvos. Contamos com vocês. – A rainha suspirou, olhando diretamente para Katniss. – Agora vão, temos uma guerra para vencer.

    Todos saímos da sala, de cabeça baixa, perdidos em pensamentos. Eles provavelmente pensavam no que aconteceria se morressem. As pessoas que deixavam pra trás. Só eu não tinha em quem pensar. Talvez Thresh, mas só ele.

    Cada um foi para seu lugar na formação. Gale e Katniss se juntaram aos arqueiros, em uma colina, para poderem atirar de cima e acertarem mais dos inimigos. Finnick ficou mais atrás, carregando o tridente com uma corda, para poder recuperá-lo sempre. Eu fui para a linha de frente, desembainhando a espada.

    Senti o calor do sol, que acabava de nascer, pelo que talvez fosse a última vez. Observei o inimigo. Eles tentariam nos atacar diretamente, confiando apenas na superioridade em número.

    Fechei os olhos, e quando os abri de novo, começou. O general nos deu o sinal, e atacamos. Uma saraivada de flechas flamejantes passou sobre nossas cabeças, acertando o outro exército. Vários caíram, com os corpos envoltos em chamas. Os outros nos atacaram ferozmente.

    Eu não prestava mais atenção. Se era inimigo eu atacava, sem dó, sem hesitar. Vi vários caírem ao meu lado, mas não me importei. Era o esperado numa guerra.

    Mais flechas. Um dos homens que escapou delas me atacou. Ele me acertou com o martelo, fazendo minhas costelas reclamarem, mas ataquei de volta. O atravessei com um golpe, me virando para outro assim que a espada suja se desprendeu.

    Vários instantes se passaram daquele jeito. Minhas costelas doloridas me cansavam rapidamente, mas eu não parava. Meus braços já estavam ardendo, mas parar agora seria morte certa.

    O exército não conseguia chegar até os arqueiros. Os que passavam por nós não passavam do grupo de trás, do tridente de Finnick ou de...Peeta. Sorri quando o vi ali, e voltei a lutar.

    O general deles parou de frente para mim, com o olhar sedento do meu sangue. Eu o entendia, eu era a que mais estava derrubando seus homens. Mas não seria fácil derrubá-lo. Ele carregava uma maça, sorrindo despreocupado.

    Ele atacou primeiro. Pulei para o lado, evitando o ataque da maça e o cortei com a espada. Ele não deu importância e me atacou de novo. Fiquei pulando, tentando encontrar uma brecha para atacá-lo.

    Ele não estava cansado, mas já estava se irritando daquele jogo. Num ataque desdenhoso, que eu consegui evitar, ele deixou a guarda aberta. Puxei o punhal e o atirei, bem no peito dele.

    Recuperei meu punhal, voltando para a luta. Os arqueiros estavam seguros, mas começavam a ficar sem flechas. A linha de frente já começava a cair, mas ainda resistia. Dependíamos do grupo de trás.

    Mais flechas, mais sangue, mais mortos. O exército inimigo se desorientou um pouco sem seu general, mas ainda eram fortes. Vi Marvel caindo mais ao longe.

    Consegui passar pelo exército inimigo, sozinha, atacando e defendendo. Derrubando quem tentasse me impedir.

    – Não pode mais brincar de guerreira, Dark Queen. – Coin parou no meu caminho, com aquele sorriso desdenhoso. – Não pode passar daqui.

    – Posso e vou. O que tenho que fazer, te matar? Não vai ser difícil. – Ela continuava sorrindo. – Cobra.

    Ela não reagiu, achou que eu não estava falando sério. Chutei uma das pernas dela e abri um corte em sua garganta, tremendo de raiva. Coin me olhava, chocada.

    Nem me dei ao trabalho de vê-la morrendo, continuei avançando. O acampamento ainda estava montado. Snow nem tentara fugir, de tão certo que estava com a vitória. Matei o guarda da entrada e invadi sua tenda.

     – Então você finalmente conseguiu chegar. Achei que um golpe daquela maça derrubaria qualquer um.

     – Derrubaria se tivesse me atingido. – Coloquei a ponta da espada em seu pescoço.

     – Ora, eu te subestimei, NightHunter. Realmente uma pena. E agora, eu pago com minha vida.

     – Pagará, mas não agora. Levante-se. Agora! – Ele fez o que mandei e eu o agarrei, passando meu braço por seu pescoço, fazendo andar na minha frente.

     Sai da tenda, sentindo o perfume de rosas brancas de Snow. Enjoativo, quase me fazendo soltá-lo.

     – Larguem suas armas e rendam-se. Seu líder foi capturado. – Todos na batalha me encaravam, passando com Snow, usando-o como escudo. – Mande-os se renderem.

     – Façam o que ela diz. – O exército, hesitante, fez o que eu disse. Alguns ainda seguravam as armas com força, pensando em como libertarem Snow.

     – Os que se renderem agora serão poupados da morte. Os outros serão enforcados, como bandidos de quinta categoria. – Berrei ainda mais alto, passando pelo resto do exército e parando ao lado do general Brutus.

     E eles se renderam. Soltando as armas e se abaixando, pedindo piedade. Nosso exército saiu, recolhendo as armas e prendendo os que se renderam.

     Nós vencemos. Eu venci. Assim que alguém pegou Snow e o prendeu, a dor nas minhas costelas voltou, e o cansaço me fez cair no meio do gramado.