Assim que Finnick saiu toquei o sininho para chamar Annie. Ela logo apareceu, para minha surpresa, na companhia  de Cinna.

      – Olá, meu bem. – Cinna me deu um abraço como de costume. – Sei que está confusa, aliás, eu mesmo não entendi muito. De qualquer forma, sua mãe me pediu para arrumar-lhe, é só o que sei.

      – Tudo bem, Cinna. – Me virei para Annie e falei rapidamente. – Quero falar com você mais tarde.

      Ele me mostrou a roupa  que tinha preparado, as pressas. Era um vestido lindo, como sempre, verde escuro. Os sapatos tinham o mesmo tom do vestido, e as jóias eram de ouro e esmeralda. Prendi o diadema sobre os cabelos soltos, como de costume.

      Cinna me fez dar uma volta para ver como o vestido tinha ficado. Incrível, como de costume. Saiu logo depois. Annie me fez esperar no quarto.

      – O que queria, Katniss? – Anniee já estava se acostumando a me chamar de Katniss, para meu contentamento.

      – É sobre Finnick. – Ela ia começar a protestar, mas ergui minha mão e ela se calou. – Annie, eu entendo que está receosa com tudo isso, até pela questão da hierarquia, mas dê a ele uma chance.

      – Perdão, senhora, mas o que a faz pensar que pode falar disso assim, como se fosse um problema seu?

      – Porque é, Annie. Você não é minha criada agora, é minha amiga. Sabe que só quero o melhor pra você.

      – E como o senhor Odair pode ser o melhor pra mim? Me deixando pra se casar com alguma condessa ou baronesa?

      – Conheça-o como amigo antes então, o que acha?

       – Não gosto da ideia, senhora.

       – Pois eu adoro. Vamos,Annie, vocês têm alguma coisa em comum. Os dois são da vila da pesca.

       – Tudo bem. Amanhã, ao entardecer, tudo bem?

       – Sei que vai gostar dele, Annie. Ele é uma boa pessoa, tenho certeza.

       – Tudo bem, entendi. – Sorri para ela. Ela também sorriu, depois de um tempo de resistência. – Aliás, onde deixou minhas roupas?

       – Estão no banheiro. – Ela assentiu, mas não foi buscar as roupas. – O que acha que isso tudo significa? As roupas e o silêncio.

       – Talvez algo sobre o festival da Colheita, Katniss. Não tenho como saber, infelizmente.

       Suspirei, incomodada. Não gostava de mistérios e segredos, nunca gostei.

       Um pajem bateu na porta e comunicou um recado de minha mãe. Ela pedia que eu a encontrasse na sala do trono. Meu incômodo aumentou.

       Fui hesitante até o comôdo com porta de mogno e respirei fundo. Abri e entrei, me preparando para o pior. Mas tudo que encontrei foi minha mãe, o duque e a duquesa, Prim, Madge e Finnick, todos tão arrumados quanto eu.

       Fiquei ao lado de Prim. Minha mãe olhava para uma das portas do corredor da vassalagem, ansiosa. Perguntei o que estava acontecendo a Prim, num sussurro, mas ela não soube me responder.

       Prim usava um vestido azul claro, enquanto Madge usava um de um vermelho berrante.Não consegui ver o que minha mãe usava. Para meu desconforto, poucos minutos depois o conselheiro entrou na sala.

       Ele também ficou parado, mas ficava me observando, de uma forma nem tão discreta. Eu detestava aquele homem, principalmente com aquela rosa branca que sempre carregava.

       Um pajem entrou pela porta que minha mãe encarava e sussurrou algo em sue ouvido. Ela sorriu triunfante e deu uma ordem ao garoto. Ele saiu correndo de volta para o corredor.

       Os minutos se passavam lentamente, quase como uma tortura. E então eles entraram. Uma mulher mais velha, de aparência cansada, mas ainda assim altiva e bem vestida, um garoto um ou dois anos mais velho que eu e três outras crianças, dois garotos e uma garota.

       Não sei quem eram, mas tive um mal pressentimento sobre o garoto. Ou ao menos os planos que minha mãe tinha para nós.

       – Hazelle. Gale. Rory, Vick e Posy. Como vão todos? – Eles fizeram um cumprimento, pareciam tensos. – Sinto muitíssimo por tudo que tiveram que enfrentar, de verdade.

       – Agradeço, Majestade. Agradeço também o seu convite, para o festival.

       – Não é preciso. São sempre bem vindos, todos vocês. Estávamos apenas esperando para ceiarmos. Venham.

       Ela se levantou, mostrando suas roupas. Antes de seguir a frente de todos, ela me lançou um olhar sugestivo, que eu entendi logo. Mais uma vez, uma situação estranha.