Abri meus olhos assim que ouvi passos no assoalho. Annie, minha criada, caminhou até a janela e abriu as cortinas de veludo vermelho. Assim que se virou, sorriu.

— Bom dia, alteza. – Olhei para ela desapontada. Annie me acompanhava desde que eu tinha 8 anos. Agora eu já tinha 16 e ela ainda não me chamava pelo nome como eu tinha pedido que fizesse. – Perdão, Katniss.

— Não foi tão difícil, foi Annie? – Ela simplesmente sorriu me trazendo uma bandeja de prata com meu café da manhã. – Me acordou mais cedo hoje?

— Achei que gostaria de um tempo para si antes de encarar sua lista de afazeres de hoje. – Eu comia uma torrada enquanto escutava. – Sais de lavanda ou camomila?

— Lavanda, por favor. – Ela fez uma reverência e foi para o banheiro, que ficava à direita e era enorme, como um quarto comum, imagino. Acabei de tomar meu café e fui para o banheiro.

— Gostaria de algum vestido específico, alteza?

— Me surpreenda, Annie – Respondi depois de lhe lançar outro olhar reprovador. Me despi e entrei na banheira cheia de água morna, perfeita para relaxar.

Sai do banheiro, penteando meus cabelos, vestindo meu robe. Annie realmente sabia me agradar. Olhei no manequim e encontrei a roupa perfeita.

Era um dos meus vestidos favoritos, o verde, minha cor favorita. Os sapatos eram altos e tinham a mesma cor, só que com um tom mais escuro. O par de brincos de ouro combinava com a faixa dourada do sapato.

Me vesti, Annie voltou para o quarto e me ajudou, e voltei a pentear os cabelos. Coloquei minha coroa e me olhei no espelho da penteadeira. Meus olhos cinzas estavam em contraste com os cabelos loiros cacheados que caiam sobre meus ombros. Gostei da minha aparência e me levantei. Relutante, sai do quarto.

Minha mãe me esperava na sala do trono. Não sei como ela suporta, ficar naquele cômodo o dia inteiro, governando e tudo o mais. Eu sei que aquele logo seria meu destino, mas eu queria poder fugir.

Annie me seguia, mas esperou do lado de fora dessa vez, o que não me surpreendeu. Entendam, eu amo minha mãe, mas quase todas as vezes que conversávamos a sós brigávamos.

— Bom dia, mãe. – Fiz uma reverência, a qual ela me liberou com um gesto da cabeça. – Mandou me chamar?

— Sim. Antes de tudo, como vão seus estudos com... – Ela quase nunca lembrava os nomes dos novos serviçais. – Peeta Mellark?

— Ele é um bom professor, mãe, mas achei que já soubesse seu nome.

— Eu tenho mais o que fazer, Katniss. Lembrar o nome do seu novo professor não é tão importante assim. – Assenti com a cabeça. – De volta aos nosso assuntos, amanhã gostaria que comparecesse ao jantar com o Duque e a Duquesa, os Odair. Lembra-se deles, não?

— E seus filhos também virão?

— Não estou muito confiante, mas o filho deles, Finnick, é um bom pretendente.

— Mãe, eu tenho 16 anos. Não acha que ainda é cedo para falarmos de casamento?

— Nunca é muito cedo. De qualquer maneira, você só se torna rainha aos 21.

— Pois bem ,não podemos discutir isso daqui alguns anos?

Um criado surgiu, saído de uma porta adjacente à sala do trono e sussurrou algo em seu ouvido. Ela assentiu com a cabeça e se levantou.

— Não, não podemos. Tenho que ir, meu povo me chama. – Ela deu alguns passos na direção da porta pela qual o criado tinha entrado.

A roupa de minha mãe era linda, como sempre. Um vestido amarelo claro, com sapatos que eram de um tom rosa. A coroa repousa em sua cabeça, com suas pedras preciosas reluzentes, que indicavam as riquezas do reino. O colar de ouro também reluzia, junto a aliança de minha mãe, com sua grande ágata rosa.

Nem mesmo depois de anos depois da morte de meu pai ela tirava a aliança, se mantinha fiel sempre.

— Vá realizar suas tarefas, vá. Conversaremos novamente em um momento mais oportuno. – Seguiu o criado. Assim que eu sai da sala, Annie me esperava.

Perguntei a Annie qual seria minha primeira tarefa. Ela me disse que eu teria aulas de botânica, nos jardins é claro. Pelo menos eu gostava das aulas. Antes de me deixar a espera de Peeta, ela me disse que mais tarde eu teria de treinar os discursos reais. Eu ainda sofreria muito aquele dia.

Esperei alguns minutos. Eram raros os momentos em que eu podia ficar sozinha, apenas eu e meus pensamentos. Fiquei esperando perto de uma roseira, mas uma coisa em especial chamou minha atenção.

Entre as rosas, quase sufocado com os espinhos, um único dente de leão crescia. Consegui tirá-lo de lá sem me espetar muito. Olhei a florzinha por um minuto e então fiz um desejo, soprando-o. Poder ter ao menos um dia fora daquela fortaleza que minha mãe chamava de castelo.

— Alteza – Peeta fez uma reverência. Liberei-o com um gesto de cabeça.

— Bom dia, Mellark. Por favor, me chame apenas de Katniss.

— Sim. Me chame de Peeta, por favor. – Sorri em resposta.

Ele passou a mão nos cabelos loiros e piscou algumas vezes antes de começar as lições. O que ele fazia não era bem me ensinar, era mais avaliar o que eu já sabia.

A manhã se passou rápido e logo Annie veio me buscar para praticar os discursos.

Passei as horas restantes antes do almoço ser servido repetindo textos e sorrindo simpaticamente. A sala estava clara e quente, pela luz do sol que entrava pela janela.

Um criado entrou fazendo uma reverência e comunicando que o almoço estava sendo servido. Finalmente, um pouco de descanso. Annie me acompanhou até o salão.