Elena

Estávamos todos assistindo pelos bastidores as entrevistas que Rebekah dava, tentando passar para a loira o apoio que ela precisava.

Eu admito que estava achando que ela não agüentaria toda a pressão da volta, mas me enganei e me enganei feio, afinal além de agüentar a pressão, ela agüentou a verdade sobre seu próprio sangue e sobreviveu a um seqüestro. Ela era mais forte do que todos imaginavam quando viam cabelos loiros e unhas bem cuidadas. Rebekah era um exemplo, agora não só para mim, como para todo o reino que assistia a suas entrevistas e ouviam de sua boca todos os detalhes das coisas mais horríveis pelas quais ela havia passado.

–Ficamos curiosos sobre o porquê de a seqüestrada ser você –a entrevistadora deixou sua curiosidade fluir, fazendo com que Rebekah e o casal real ficassem tensos.

O publico não sabia sobre sua verdadeira família e não sabiam sobre Robert ter quebrado seu coração depois de iludi-la. O povo só sabia uma parte da historia e por isso questionavam demais coisas que Rebekah ou os reis tinham que se esforçar demais para mentir.

–Elena e Damon foram criados atrás desses muros, não ousam sair sem seguranças, assim como eu e minha amada esposa –ele fitou Kate que forçou seu melhor sorriso apaixonado. –Talvez viram na Rebekah o alvo mais fácil.

–Mesmo assim, como eles poderiam ter certeza que vocês pagariam por Rebekah?

–Ela é a melhor amiga do nosso filho, obvio que sabiam que a família real se intrometeria e a tiraria de lá –explicou o rei já ficando um pouco tenso e irritado com as perguntas.

Depois que o rei pagou o resgate, os seqüestradores acharam que seria fácil sumir do pais e nunca mais voltar. Porém a policia trancou todas as saídas do pais, revistou todas as pessoas e identificou os seqüestradores tentando fugir para o México com uma quantia exagerada de dinheiro.

Ninguém sabe o que deixou o rei tão endividado com tais pessoas, mas todos ficaram embasbacados com o fato do preço ser tão carro.

Nem Rebekah e nem Kate pareciam saber do motivo do seqüestro e obviamente o rei não ousaria abrir a boca para sua família, afinal desde o dia que sua sobrinha foi seqüestrada e mantida em cativeiro ele vem arrumando compromissos atrás de compromissos para se manter cada vez mais afastado de sua família e imprensa.

A apresentadora ousou fazer algumas perguntas que eram respondidas com silabas e logo que percebeu estar incomodando tratou de finalizar o programa e agradecer a oportunidade que teve de entrevista-los.

Damon e eu não participávamos de muitas entrevistas. Ninguém sabia de nossa volta e eu nem queria que ficassem especulando sobre isso tão cedo. Então apenas aceitei ir a duas entrevistas e a três conferencias, tendo em mente que teria que ficar ao lado de Kate e William durante todas elas, eu faria por Rebekah, afinal eu acho que devia isso a princesa.

–Você foi maravilhosa –falei entregando para Rebekah uma garrafa de água.

Suas olheiras e hematomas ainda eram visíveis, mas sua pele já estava bem mais corada e isso era um bom sinal. Ela daria a volta por cima.

–Obrigada –ela sorriu. –Elena, eu sei que desde que cheguei não tivemos um tempo para conversar e resolver alguns assuntos pendentes e ficaria feliz se pudéssemos falar sobre isso antes que eu mude para New York e inicie meu curso de moda –ela usava de toda sua tranqüilidade para falar comigo, mas seu tom de voz era lotado de suplica.

Ela realmente queria lavar toda a roupa suja antes de começar sua nova vida em New York.

–Sim, concordo que precisamos conversar. Pode ser mais tarde no jardim de verão?

–Por mim está ótimo –ela balançou a cabeça assentindo diversas vezes. –Agora acho melhor irmos, afinal tenho mais duas entrevistas até o fim do dia.

–Nada como a vida de uma princesa –sussurei baixinho em seu ouvido e ela revirou os olhos sorrindo.

–Essa vida é muito menos glamorosa quando você tem que cumprir regras –resmungou e eu assenti indo com ela em direção ao próximo painel aonde as ultimas entrevistas aconteceriam.

As horas seguintes correram tranquilamente. Um dos painéis era com Rebekah, Kate e William. Eles foram bem profissionais e cheios de classe, respondiam com calma e analisavam cada uma de suas frases fazendo com que a entrevista rendesse boas matérias para revistas e jornais ali presentes.

A ultima entrevista do dia foi um painel apenas com Damon e Rebekah que brincaram e se divertiram durante todos os segundos, arrancando risadas até mesmo dos membros mais sérios da segurança. A entrevista foi mais extrovertida, engraçada, porém como a anterior, foi bem produtiva.

–Finalmente acabamos por hoje –resmungou Rebekah enquanto se escorava em Damon para retirar seus saltos. –Essas coisinhas estavam me matando.

–Você não deveria usar essas coisas, suas pernas ainda não estão completamente bem –Damon resmungou bancando o amigo/irmão preocupado.

–Amor, uma dama nunca pode abandonar seus saltos –Damon revirou os olhos e me encarou me mandando um olhar cúmplice, mas eu neguei e concordei com as palavras de Rebekah.

–Nunca entenderei vocês mulheres –ele riu e depois de auxiliar sua amiga/irmã, ele passou sua mão pela minha cintura, mas eu logo tratei de me distanciar.

A sala ainda estava lotada de fotógrafos, jornalistas e blogueiros. Ter algum contato físico com Damon agora apenas arruinaria meu plano de levar essa coisa que estamos criando novamente. A mídia realmente consegue estragar a vida das pessoas e no momento eu não queria que mais nenhum problema aparecesse.

–O que? –ele me encarou confuso.

–Não aqui –apontei para as câmeras e ele revirou os olhos revoltado. Não era de seu estilo ser discreto, mas ele teria que confiar em mim e fazer o que eu exigisse ou poderia acabar estragando o que acabará de reconquistar.

–Droga, quando vamos parar com isso? –ele cochichou.

–Damon, não aqui –trinquei os dentes e respondi. –Já conversamos sobre isso.

–Em um momento ou outro eles irão descobrir...

–Mas não será hoje –encarei Rebekah que estava tentando disfarçar o incomodo por sobrar em meio a nós. –Vamos?

Ela ergueu os olhos e assentiu. Entrelacei meu braço com o seu e segui em direção a outra extremidade do salão deixando Damon para trás e indo de encontrar nosso motorista que estava encarregado de nos retirar o recinto sem fazer nenhum escarcéu.

...

Tirei o saquinho de dentro da minha xícara de chá e encarei Rebekah que estava com um olhar distante em direção as rosas do jardim.

–O que está te deixando tão aérea? –perguntei tomando um gole do chá que estava tremendamente gostoso.

Ela trouxe sua atenção até mim e soltou um suspiro.

–Quando eu estava no cativeiro eu ouvi coisas que me fizeram refletir bastante –ela fez uma pausa. –Você deve saber que o motivo pelo qual parei lá foi por que Robert me iludiu, fazendo juras de amor e tudo mais para depois me seqüestrar e jogar na minha cara que eu era a filha rejeitada e segunda opção do mundo inteiro –ela fez um sinal com a mão e eu assenti. Sim, eu realmente estava por dentro de todos os detalhes, mas mesmo assim não estava entendendo onde ela queria chegar.

Um suspiro. Um gole de chá. Ela finalmente fechou os olhos e começou a falar.

–Elena, eu não estou me mudando para New York só por que quero me focar em moda. Eu quero me mudar por que quero me distanciar de tudo isso –ela abriu os braços sinalizando o reino inteiro. –Mas antes de eu ir embora, eu queria te pedir perdão. –arregalei meus olhos e elevei minhas sobrancelhas.

Como é que é?

–Eu sei que fui o motivo da separação sua com Damon –ela abaixou os olhos e entrelaçou suas mãos sobre a mesa. –Olha, eu nunca quis causar mal nenhum ao casamento de vocês e sempre tentei deixar isso claro para os dois.

Assenti, no fundo eu sabia que era verdade. Ela nunca teve intenção de nos separar.

–Não foi sua culpa Rebekah –a interrompi antes mesmo que ela começasse com um discurso sem fim lotado de pedidos de desculpas. –Quando você foi seqüestrada eu só queria ficar ao lado dele e dar a ele todo o apoio necessário e eu talvez tenha falhado nessa tarefa ou sei lá, só sei que do dia para a noite Damon começou a beber mais álcool que alguém normal possa suportar. Seu temperamento já não estava mais sobre controle e ele começou a se tornar agressivo e explosivo. –respirei fundo tentando manter a calma ao me lembrar de todos os detalhes de nossas brigas. –Com o passar dos dias e a falta de noticias suas as coisas só pioraram. Nós brigávamos todos os dias, não suportávamos mais a presença um do outro, até que... –engoli a saliva antes de pronunciar as palavras. –Até que ele pediu para que eu fingisse amar ele em frente às câmeras....

A boca de Rebekah se abriu em choque, mas ela não ousou me interromper.

–Eu não poderia descrever o quanto doeu ouvir aquilo da boca de uma das pessoas que eu mais amava. Eu fiquei com nojo, furiosa e fui dominada pela raiva. Pedi divorcio, fiz minhas malas e abandonei o castelo –suspirei. –Ele implorou por perdão dizendo que se sentia perdido, mas eu disse que não agüentava mais, então simplesmente voltei para meu reino.

–Meu Deus –ela proferiu depois que eu finalizei. –Eu não consigo imaginá-lo fazendo tudo isso.

–É claro que não –ri sem humor. –Se há meses alguém me dissesse que um dia ele agiria daquele modo eu com toda a certeza não teria acreditado.

–Sinto muito Elena –ela abaixou a cabeça novamente.

–Não foi sua culpa –dei de ombros. –Eu acho que nem eu e nem ele estávamos mentalmente bens depois da noticia e apenas agimos com o calor do momento.

–Mesmo assim, eu sinto muito –ela colocou a mão sobre a boca. –Damon sempre se preocupou demais comigo, mas te tratar desse jeito...Ele foi horrível –concordei.

–Tudo bem, agora estamos nos resolvendo –expliquei tentando mudar o foco do assunto. Não gostava daquelas lembranças e nem queria ficar revivendo elas em minha mente.

–Você realmente ama muito ele para dar essa segunda chance.

–Você não faz idéia do quanto eu amo ele...Estou dando essa chance e ele me prometeu que aquelas coisas jamais voltarão a acontecer, espero que seja verdade.

–Damon nunca quebra uma promessa –ela me garantiu e eu assenti.

Eu ainda tinha aquela maldita pulga atrás da orelha e nada faria com que ela sumisse. A confiança que um dia eu tive em Damon já não existia mais e até agora ele não tinha feito nada para recuperá-la.

Eu dei a ele a chance e agora o tempo me dará a resposta