Lily queria ser rápida e eficiente na hora de mentir. Daquelas pessoas que mentem olhando nos olhos como se fosse a coisa mais normal do mundo, sem sentir um pingo de remorso. Queria poder virar agora e dizer que estava se sentindo muito mal, a ponto de desmaiar e então desabar no chão e forçar James a leva-la para algum lugar bem longe dali.

Mas não conseguia fazer isso.

Então teria que respirar fundo e encontrar com sua família e sorrir e fingir que estava tudo bem. E apresentar James a eles. Merlin, não tinha como isso acabar bem.

Ela queria ser positiva e pensar que sua família não faria nada demais, mas sabia que era pedir demais. Seus avós eram a menor de suas preocupações,a gora vinham tios e primos que a tratavam como intrusa quando seus pais não estavam por perto e uma irmã que não a queria ali.

Lily suspirou.

-Você está bem? –James perguntou de repente, segurando a mão dela. E de repente Lily pôde respirar de novo.

-Eu... Acho que sim. –ela falou sincera.

James parecia preocupado. Ele até chegou a abrir a boca para dizer algo mais, mas antes que ele realmente pudesse dizer algo Anthony, que estava a frente dos dois, chamou-os.

-Ali está a sua irmã. –ele falou apontando para Petunia –Porque você não vai cumprimenta-la e apresentar James?

Lily preferia mergulhar numa piscina de cobras, mas não podia falar isso para o pai sem realmente entristece-lo. Então ela se conformou, colocou o melhor sorriso que conseguiu fingir em seus lábios e puxou James em direção a sua irmã.

-Boa tarde, Petunia. –ela cumprimentou se aproximando.

Quando Petunia virou-se para encarar a irmã caçula parecia que tinha acabado de chupar um limão bem azedo. As duas irmãs não poderiam ser mais diferentes: cabelos, olhos, feições. As diferenças iam além do fato de uma ser bruxa e a outra não.

-Ah, você, aberração. –ela falou com claro desgosto.

-Pois é, nenhuma de nós conseguiu o que queria. –Lily falou como se sua irmã não tivesse acabado de ofende-la terrivelmente –Eu queria ficar na escola e não pude e você me queria fora do casamento e não rolou. A vida é cheia dessas, Tunia. –completou irônica.

-Não me chame assim! –Petunia falou por entre os dentes. Então seu olhar caiu em James –Quem é esse? –perguntou desconfiada.

-Esse é James Potter, meu namorado. –Lily falou –James, essa é Petunia Evans, futuramente Dursley, minha irmã mais velha.

-Prazer. –James falou oferecendo a mão para ela.

Petunia olhou para James como se ele fosse radioativo.

-Ele é daquela sua escola de aberrações? –ela perguntou.

Lily revirou os olhos.

-É óbvio que James estuda comigo. Quando mais eu teria tempo pra arrumar um namorado? –ela perguntou irônica.

-Prazer. –Petunia falou com claro desgosto.

-Onde está o felizardo do noivo? –Lily continuou sarcástica –Assim podemos cumprimenta-lo e acabar com esse teatro.

Petunia balançou a cabeça em concordância, talvez sem perceber.

-Vernom está na cozinha. –ela falou -Ele estava como fome e não teve como esperar.

Lily teve que se segurar muito para não rir.

-Certo, certo. Que pena que nós o perdemos de vista. –ela falou, sem nem tentar disfarçar seu alívio -Agora se você nos dá licença...

-James! –Monica apareceu e pegou o braço do maroto –Deixa eu te apresentar para um amigo nosso! Você não se importa né, Lily?

A ruiva abriu a boca para responder, mas já era tarde demais. Monica tinha arrastado James para onde quer que fosse, enquanto o maroto lançava olhares preocupados para Lily e Petunia.

-Até que ele não é de se jogar fora. –Petunia falou com desprezo.

-Pelo menos ele não é uma baleia. –Lily retrucou com falsa doçura.

Petunia lançou um olhar venenoso para Lily e saiu pisando duro. A ruiva sentia-se como se tivesse corrido uma maratona. E agora sua tia-avó Gertrudes vinha em sua direção.

Ah droga... Onde estava o álcool quando ela precisava dele? Infelizmente Lily também não bebia, então nem adiantava ter alcool algum.

-Ah Lilian, ai está você. –tia Gertrudes falou quando a alcançou.

Lily odiava ser chamada de Lilian, porque aquele não era seu nome! Mas a mulher sempre a chamava assim porque dizia que Lily era um nome horrível para uma menina crescida. Na verdade Gertrudes, como todas as outras tias-avós, só gostava de falar mal de tudo o que Monica fazia. Lily só não entedia porque.

Gertrudes era a irmã caçula de vô John e solteirona. Lily achava irônico a tia chama-la de encalhada nessa situação, mas a mulher dizia que tinha sim tido um noivo que morrera heroicamente em alguma guerra. Em sinal do profundo amor que sentia por ele decidira nunca mais casar-se. Ja vô John dizia que o tal noivo tinha era pulado fora e cancelado o noivado. E vovô nem o culpava por isso.

Olhando por esse lado, nem Lily.

De qualquer jeito Gertrudes era terrivelmente intrometida, tanto quanto as outras irmãs.

-Ja cumprimentou sua irmã? –a mulher perguntou tão logo alcançou Lily.

-Ja. –a ruiva respondeu de forma curta.

-E o noivo dela? –insistiu.

-Graças a deus não vi o Vernie ainda. –Lily falou com falsa doçura.

Gertrudes torceu os lábios em desgosto.

-Menina mal educada. Não é a toa que você está solteira.

Lily quase soltou um "como você?", mas ela tinha, infelizmente, muito mais educação do que essa mulher. Então não disse nada.

Lily nunca entendeu muito bem porque as tias avós e as tias pegavam tanto no pé dela e a tratavam dessa forma. Nunca fizera nada contra nenhuma delas. No começo Lily quase se matava tentando agrada-las de alguma forma, mas logo percebera que não adiantava e então desistira. Que elas explodissem.

Mas também não tinha coragem de contar ao pai como as mulheres o tratavam porque sabia que o deixaria magoado saber que sua própria família tratava uma de suas filhas. Principalmente considerando que tia Martha, a outra irmã de vô John, era sua tia preferida.

-Gertie!

Aliás falando no demônio...

-Ah Lilian, não tinha te visto ai. –a outra mulher disse –Mas ainda bem que eu te achei. Eu ouvi um boato que não gostei nada. Como sempre tinha que ser sua mãe falando essas coisas. –falou com desgosto.

Se Martha achava que ia falar mal da mãe de Lily e se sair bem, ela estava louca.

-Minha mãe não fica espalhando fofoca falsa, ao contrário de algumas pessoas. –ela falou de forma cortante.

Martha soltou uma risada discrente.

-Então me explica porque ela está espalhando por ai que você está namorando? –ela perguntou.

-Porque eu estou. –Lily falou, com grande satisfação, vendo a mulher perder a confiança.

Gertrudes por outro lado não parecia convencida.

-Mentir é feito, Lilian. –ela falou.

Lily estava a um passo de explodir e mandar as duas pastar quando de repente o chão sumiu de seus pés e ela foi abraçada.

-Lily!

James. Lily devia ficar chocada com o alívio que sentia, mas não tinha energias para isso. Então quando o maroto colocou-a no chão Lily virou-se e abraçou-o e beijou-o. Não o selinho que tinha iniciado da outra vez, mas o mesmo tipo de beijo que ele tinha dado a ela alguns minutos antes.

O maroto pareceu surpreso por um segundo, mas só um antes de beija-la de volta. Quando os dois se separaram e trocaram sorrisos bobos e cúmplices Lily quase tinha se esquecido de suas tias ali.

-Quem é esse? –Martha exigiu escandalizada.

-James Potter, meu namorado. –Lily declarou com um sorriso satisfeito –Agora se vocês me dão licença eu vou procurar tia Beth.

E sem esperar uma resposta das duas saiu puxando James.

-Você está bem? –James perguntou quando eles pararam perto de uma das mesas.

-Não, mas estou acostumada. –ela falou frustrada –Você apareceu no momento exato.

-Eu estava te observando de longe e vi pela sua cara que você precisava de socorro. –ele falou –O que elas te falaram?

-Nada demais. –ela deu de ombros –Agora chega dessa conversa. Vem que eu quero te apresentar para as três únicas pessoas decentes da família extra, como eu os chamo. –ela sorriu.

James não pareceu nada convencido de que ela estava bem, mas felizmente também não disse nada enquanto a deixava arrasta-lo em direção a três pessoas que estavam sentadas em uma mesa a parte.

-Eu ja disse, Beth, se você for presa eu não vou te soltar. –o homem falou com finalidade.

-O que ela fez agora? –Lily perguntou se aproximando.

-Lily! –as três pessoas falaram ao mesmo tempo.

-Ah então seu namorado é mesmo tão bonito quanto a Monica estava falando... –a mulher morena falou sorrindo –Eu estava preocupada porque sua mãe tem um gosto estranho.

-Não, Nina, o gosto da Monica é normal, ao contrário do seu. –a loira declarou.

O homem revirou os olhos.

-Prazer, eu sou tio Josh. –ele falou apertando a mão de James.

-James Potter. –o maroto falou com um sorriso simpático.

-Ah que nome bonito! –a morena, Nina, declarou –Ele tem nome de rico.. Ele é rico?

-Tia Nina!

-É uma pergunta válida. –a mulher se defendeu.

-Dinheiro não é o importante, Nina. –a mulher que sobrara, Beth falou, revirando os olhos –O importante é esse aura brilhante que ele tem.

-A aura dele só é interessante se com ela ele puder comprar brilhantes para nossa Lily. –Nina rebateu.

-Vocês poderiam parar de falar de James como se ele não estivesse aqui? –Lily pediu.

-Alguem faria a caridade de deixar James falar que ele é extremamente rico e que, apesar de ele nem imaginar o que é uma aura, a dele só poder ser linda como todo o resto dele? –o próprio James falou levantando a mão.

Josh explodiu em risadas.

-Adorei esse menino.

-Eu vivo para agradar. –James falou com um sorriso.

-Menos, James. –Lily pediu revirando os olhos –E por que tia Beth seria presa?

-Ela vai no show do Rolling Stones. –Josh informou.

James e Lily pareciam confusos do que uma coisa tinha a ver com a outra.

-A última vez que sua tia foi num show dos Rolling Stones, dez anos atrás, ela foi presa por estr fumando maconha na rua. Sem blusa. –Nina explicou.

James deu um tossida que pareceu muito com uma risada. Lily ignorou porque ja estava acostumada.

-Não foi esse o show que você levou minha mãe, né? –Lily quis saber.

-Ah não. Esse dai foi há... Nossa, não quero nem pensar em quanto tempo faz aquele show que eu levei sua mãe, levando em conta que ela e seu pai nem estavam casados ainda. –Beth falou num suspiro.

Lily riu.

-Você sempre será jovem, tia Beth.

-É que as energias do universo me conservam assim.

-Energias do universo? –James perguntou confuso.

-Me diga, rapaz, você acredita em mágica? –Beth perguntou de repente.

James pareceu estar lutando bravamente contra um sorriso.

-Ocasionalmente. –ele falou.

Beth pareceu analisa-lo.

-Talvez você devesse acreditar mais. –ela declarou.

-Eu vou me esforçar. –James prometeu.

Lily deu uma cotovelada no moreno.

-O que você gosta de ouvir, James? –Josh quis saber.

-A Lily gritando comigo. –ele falou, arrancando risadas dos três adultos e mais uma cotovelada da ruiva.

-Ele é tão adorável. –ela falou de forma irônica.

-Vocês são adoraveis juntos. –Nina falou sorrindo –Agora conte-nos tudo, não esconda nada. Como vocês começaram a namorar?

Lily e James trocaram um olhar antes de começar a contar a história ensaiada. E foi a primeira vez que a ruiva percebeu o quanto ela não gostava mais daquela história.

XxX

Durante a conversa com os três tios, Lily tinha apoiado a cabeço no ombro de James e ali estava até agora. O maroto passava os dedos distraidamente pelos fios do cabelo dela, como se fosse a coisa mais normal do mundo, como se realmente fizesse aquilo todos os dias.

Lily sentia as ideias atropelando-se em sua cabeça, sem saber exatamente a que conclusão chegar. O que era essa coisa com James? Por que com ele era tudo tão fácil, tão natural?

Porque não é real. Foi a resposta de sua cabeça.

E fazia sentido, não fazia? Afinal, se era tudo faz de conta não haveria cobrança alguma, nem ciúme, nem brigas. Essa era a razão pela qual tudo parecia tão maravilhoso: porque era brincadeira, e cedo ou tarde toda brincadeira terminava.

-Ah, ai estão vocês! –Monica se aproximou –Eu estou procurando o futuro casal Potter e não achava em lugar nenhum.

-Quer sentar, Monica? –James perguntou sorrindo.

-Ah, eu pego uma cadeira. –a mulher falou, olhando em volta em busca do dito móvel.

-Não precisa. –James declarou puxando Lily, num movimento único e rápido, para o seu colo, deixando assim a cadeira livre para Monica –Pode sentar.

-POTTER! –Lily ficou vermelha como uma pimenta.

James apenas deu uma risada rouca. Aquela que a deixava arrepiada.

-Por que a vergonha? Na escola você não liga. –ele provocou.

Ah é... Eles supostamente namoravam em Hogwarts também.

-Na escola meu pai não está olhando para nós como se quisesse arrancar seu couro. –Lily retrucou.

James pareceu alarmado e começou a olhar em volta, como se esperasse que Anthony fosse pular de algum lugar com um machado em mãos. Os quatro adultos riram.

-Calma, James. O Anthony não está em volta. -Josh assegurou ainda rindo.

-Não que ele fosse ter muita moral, né? –Beth riu –Vocês dois não tiravam as mãos um do outro quando namoravam. –ela falou para Monica –Chegava a ser perturbador.

Monica riu.

-Bom, por que vocês acham que nós tivemos uma Petúnia surpresa e um casamento mais surpresa ainda? –a ruiva falou divertida.

James pareceu confuso então Lily resolveu explicar.

-Meus pais namoravam, minha mãe descobriu que estava grávida e em quinze dias os dois casaram. Ninguém esperava e teve gente que nem sabia que era um casamento até chegar na igreja.

James explodiu em risadas.

-Achei uma ótima ideia, Monica. –ele falou –Meus pais casaram com toda a pompa e minha mãe vive dizendo que foi uma dor de cabeça que ela poderia ter dispensado.

-O dia que você e a Lily casarem vocês podem fazer igual. –Monica sugeriu.

-Não. –Lily falou distraidamente –O dia que eu e o James casarmos vai ser como manda o figurino.

James pareceu meio surpreso, mas então abriu um enorme sorriso.

-Ah então você já planejou nosso casamento... –ele provocou.

Lily corou de novo. Aparentemente ela fazia muito isso quando estava perto dele.

-Cala a boca, Potter. –ela resmungou, fazendo todos rirem.

XxX

Como os dois voltaram com os pais de Lily, James andou de carro pela primeira vez. O maroto disse que já tinha ouvido falar deles em Estudos Trouxas e até visto algumas revistas, mas nunca tinha realmente andando em um. Então Monica insistiu para que ele andasse no banco da frente com Anthony e o moreno fez mil perguntas, engajando o senhor Evans numa conversa que Lily sabia iria conquistar seu pai.

Aparentemente James era especialista em conquistar. Sua família o adorara. Bom, a parte da família que importava, é claro. Até tio Josh, que geralmente era na dele, adorara James e elogiara o rapaz.

Por isso mesmo ele era perfeito para o seu plano. Será mesmo?

-Então eles não são realmente seus tios?

-Na verdade não. Os três são filhos da tia Martha, então eles são primos do meu pai. –Lily explicou, puxando a colcha de sua cama –Mas eu me dou bem melhor com eles do que com meus tios de verdade.

-Por que? –James quis saber.

Lily hesitou.

-Sei la. –ela deu de ombros.

Mas sabia que sua reposta não tinha convencido James, afinal, não convencera nem a si mesma.

Os dois sentaram-se na cama, separados pela barreira de travesseiros.

-Sabe... –ela começou com cuidado –Todas as vezes que você me beijou hoje eu fiquei seriamente na dúvida se você só estava seguindo o plano ou se você estava tirando uma casquinha.

James fez uma cara escandalizada.

-Como você pode dizer uma coisa dessas? Que dúvida? É óbvio que eu estava tirando uma casquinha!

Lily riu e acertou o maroto com um travesseiro.

-Ah e outra coisa. Nem pense mais em me puxar pro seu colo daquele jeito! –ela deitou-se na cama.

-Você é uma pluma de tão leve. Te puxar é a coisa mais fácil do mundo. –ele deu de ombros.

-Isso não quer dizer que você pode ficar fazendo isso!

-Quer apostar? –ele provocou.

Lily bufou e deu as costas para ele.

-Boa noite, Potter. –ela resmungou.

E ele deu aquela risada rouca que a deixava arrepiada...