James levantou a cabeça lentamente, como se temesse encontrar um bando de dementadores ali, esperando por ele.

Lily nunca vira, em todos esses anos que estudara em Hogwarts, James com cara de culpado, de que fizera algo errado. Ele podia ser pego com a mão na massa, fazendo o que fosse, mas ele nunca parecia ligar. Parecia a inocência encarnada. Mas no momento não havia outra palavra que descrevesse a expressão dele. Nada além de: culpado. Pego fazendo coisa errada.

Ele se sentia envergonhado de ter sido pego pelos pais dela!

Quem diria?

Houve um minuto de um silêncio estranho na sala, até que Monica, a mãe de Lily, soltou um gritinho animado.

-Lily trouxe um namorado para casa! –ela comemorou.

James resolveu finalmente sair de cima de Lily. O moreno levantou-se num pulo e então ofereceu a mão para ajuda-la.

-James, essa é minha mãe, a...

-Monica! –a mulher declarou passando por Lily de braços abertos e dando um abraço apertado em James –Muito prazer em te conhecer. Eu mal pude acreditar quando Lily disse que estava trazendo o namorado para o casamento! Ela nunca conta que está namorando, só quando está terminando!

-Mãe!

Monica ignorou Lily e afastou James levemente, mantendo as mãos nos ombros do maroto.

-Como ele é bonito! Eu sempre soube que você tinha o meu bom gosto!

-Mãe!

-E você, meu amor! –ela largou James e virou-se para Lily, envolvendo a ruiva mais nova em um abraço esmagador –Você está linda! Mamãe sentiu tantas saudades.

-Mãe, eu to sem ar! –Lily reclamou.

James olhava a troca, totalmente interessado.

-Monica, eu também quero abraçar a Lily. –o pai da ruiva, Antony, disse –De preferência eu quero que ela esteja viva para isso.

Monica revirou os olhos.

-Ah você é tão dramático, Antony. –ela comentou, mas se afastou mesmo assim.

-Como você está, moranguinho? –Senhor Evans perguntou, dando um beijo na testa da filha.

-Eu estou bem, pai. –Lily sorriu para ele –Deixa eu te apresentar o James. –ela virou-se para o maroto –James, esse é meu pai, Antony. Pai, esse é o James, o meu... Namorado.

Foi tão estranho dizer isso alto pela primeira vez. Uma sensação estranha tomou conta de Lily. Parecia tão... Sabe-se la. Parecia reconfortante, seguro, certo.

Ah droga! O que ela estava pensando?

-Muito prazer, senhor Evans. –James disse sério, oferecendo a mão para Antony apertar.

Antony olhou James de cima á baixo, então estendeu a mão para o rapaz.

-O prazer é meu. –ele falou, apesar de sua expressão dizer exatamente o oposto.

Os dois homens travaram uma batalha de olhares. Era quase possível ver os lasers saindo dos olhos deles.

-Pai! Potter! –Lily bronqueou.

Monica bufou.

-Antony, deixa o menino em paz. –ela falou entediada, então virou-se para James e falou num falso sussurro –Ele é sempre assim quando as meninas trazem namorados pela primeira vez para casa. –um olhar acusador foi lançado para Lily –Não que ela já tenha trazido alguém.

Antes que Lily pudesse abrir a boca para retrucar, James abriu um enorme sorriso para Monica.

-É que eu sou especial. –ele falou como se fosse óbvio.

-Ai Lily, eu adorei ele! –Monica declarou dando outro abraço em James, o que era até engraçado, já que o moreno era vinte centímetros mais alto que ela.

Mas o desgraçado parecia estar se divertindo horrores com tudo.

-Que bom, mãe. –a ruiva falou irônica –Agora eu e o James vamos subir para levar as coisas dele para o quarto de hóspedes.

-Não! –Monica protestou de repente –Você não pode leva-lo para o quarto de hóspedes.

Lily e James olharam confusos um para o outro, já Antony parecia irritado, mas conformado.

-Não pode! –Monica repetiu –Porque o quarto de hóspedes ta cheio de... Cheio de... De mofo! Isso! Cheio de mofo! –ela declarou vitoriosa.

Lily arqueou a sobrancelha.

-Mofo?

-Isso, mofo. –ela repetiu –O quarto da sua irmã está cheio das coisas do casamento, então também não dá.

-Mãe, você não vai fazer o James dormir no sofá da sala, né? –Lily protestou.

-Claro que não. –Monica falou como se fosse óbvio –Ele vai dormir no seu quarto com você.

Silêncio absoluto.

-O que? –Lily perguntou em choque.

James nem se mexeu.

-Pois é, meu amor, vocês vão poder dormir juntinhos. –Monica falou animada –Eu e seu pai...

-Ei, eu não! –Antony protestou.

-Chegamos a um consenso de que está tudo bem. Afinal vocês são certamente jovens responsáveis e já passam bastante tempo juntos la em Hogwarts, não tem problema ficarem juntos aqui também.

-Mãe...

-Não precisa agradecer, meu amor. –ela falou tranqüila –Só não façam barulho demais e usem proteção.

Lily estava começando a ter uma dor de cabeça. Então ela fez o que aprendera ao longo dos anos. Respirou fundo e não contrariou.

-Eu e o James estamos subindo. A gente desce pro jantar.

XxX

Lily podia sentir a vergonha comendo suas entranhas enquanto James analisava seu quarto com interesse e curiosidade. Não que a vergonha fosse do quarto. Era de sua mãe mesmo.

Monica ainda ia matar Lily de vergonha. Era por isso que a ruiva nunca trouxera um namorado para casa. Porque ela sabia que ia passar vergonha. E não é que ela estava certa?

James limpou a garganta, atraindo a atenção de Lily.

-Você... Quer que eu durma na... Poltrona? –ele perguntou, sem realmente encara-la.

Lily olhou para sua amada poltrona, que ficava perto da janela, que era coberta pela mesmo estampa florida da colcha em sua cama. E onde Lily cabia com um certo conforto, James com certeza não caberia.

-Não seja tonto, Potter. –ela falou jogando a bolsa na cama –Você não vai caber ali. Você pode dormir... Dormir no...

É, só tinha um lugar onde Lily podia pôr no James sem criar suspeitas em seus pais. A ruiva lançou um olhar para sua cama. Não era uma cama de casal, mas também não era tão pequena assim. Os dois caberiam nela, se ninguem se mexesse muito.

Lily respirou fundo.

-Isso é o que vai acontecer: nós vamos dividir a cama. –a boca de James literalmente caiu –Mas calma! Eu durmo de um lado, você do outro e NÃO SE ATREVA A ME TOCAR! –quando terminou o discurso Lily estava tão vermelha que não dava para saber onde terminava sua testa e começava o cabelo.

James apenas fez que sim com a cabeça.

-Ok. –a ruiva respirou mais calma –Eu fico feliz que tenhamos resolvido isso.

James abriu um enorme sorriso.

-Não comenta! –Lily gritou antes que ele falasse algo.

-Eu adorei a sua mãe. –o moreno falou assim mesmo.

Lily suspirou.

-Ela é legal, eu acho. –a ruiva deu de ombros –Eu só gostaria que as vezes ela fosse menos...

-Direta? –James sugeriu.

-É.

-Pelo meno seu pai é mais sério. –James falou –Meus pais parecem um casal de adolescentes, principalmente meu pai.

Lily sorriu.

-Acho que você tem a quem puxar.

-Você nem imagina. –um sorriso maroto só para ela –Mas não dá pra você falar a mesma coisa.

-Nem me fale...

Os dois ficaram em silêncio estranho, até que James limpou a garganta mais uma vez.

-Você quer... Sei la... Que eu saia para você tomar banho ou... Alguma coisa? –ele pareceu desconfortável, mas tudo bem, porque ela também estava.

-Não precisa não. –Lily falou embora fosse difícil encara-lo –Eu me troco no banheiro.

Isso dito a ruiva pegou suas coisas e correu para banheiro, já que, graças a Merlin, seu quarto era uma suíte.

Ela não estava fugindo. De verdade. Não tinha do que fugir. Ela e James não estavam juntos. Era só de brincadeira. Ela só precisava continuar se lembrando disso.

XxX

Quando James saiu do banheiro Lily não estava mais ali, mas ele sinceramente não esperava que ela estivesse. Na verdade o moreno ouvira a porta do quarto se abrir e então fechar-se assim que entrara no banheiro.

Ele tinha a leve impressão de que Lily estava fugindo dele. Só não tinha certeza do porquê. Estava fazendo exatamente o que os dois tinham combinado, não estava dando em cima dela, nem sendo arrogante, nem nada. Aliás ele estava merecendo uma medalha por seu autocontrole.

Então por que ela parecia tão incomodada pela presença dele?

James suspirou colando sua camiseta. Nunca ia entender Lily. E as vezes se cansava de tentar, mas... Mas, na maior parte do tempo, ele realmente queria entender o que se passava naquela cabeça ruiva.

James abriu a porta do quarto e lançou um olhar ao corredor. Uma luz suave iluminava o caminho até a escada e o maroto podia ouvir música tocando em algum lugar lá embaixo. Ele não reconhecia a voz do cantor, então devia ser alguma banda trouxa.

Desceu as escadas pisando suavemente. Quando estava na sala o aroma de comida sendo feita o acertou em cheio. E que cheiro bom! Então vozes femininas se uniram ao tal cantor trouxa.

O maroto sorriu para si mesmo e seguiu as vozes.

Chegou na cozinha bem a tempo de ver Lily e Monica terminando o refrão de uma música, dançando pela cozinha e usando colheres como microfones. Assim, rindo, descalças e praticamente descabeladas, as duas ficavam ainda mais parecidas. Era incrível de se ver.

Monica riu e abraçou Lily.

-Eu sinto tanto a sua falta, moranguinho! –ela falou –Seu pai se nega a cantar Phil Collins comigo.

Lily revirou os olhos.

-Deve ser porque você fala que largaria ele fácil pelo Phil Collins. –Lily sugeriu irônica.

-Não é culpa minha que o Phil é um careca muito atraente. –Monica brincou.

Lily riu e as duas voltaram a mexer em algo no balcão.

-Então...

-Mãe! Não põe camarão em tudo. –a ruiva cortou –O Po... James é alérgico.

-Opa. Ainda bem que você avisou.

James olhou a cena sem saber o que falar. Lily sabia que ele era alérgico? Como? E como ela se lembrava de uma coisa dessas?

-Então... –Monica começou de novo –Namorando o infame James Potter, hum. –ela bateu o quadril no de Lily.

James conseguiu ver Lily corando.

-Eu sabia que você ia reconhecer o nome dele. –Lily resmungou.

-Como não ia? –Monica provocou –Eu ouvi ele várias vezes ao longo dos anos e disse várias vezes...

-Que eu ia acabar casando com ele. –Lily completou –Eu sei. O James já era seu genro querido antes mesmo de você conhece-lo.

Cada segundo que passava James gostava ainda mais de Monica.

-Mas você andou me enrolando, Lily Marie. –Monica falou, com falsa seriedade –Quando eu te perguntava se ele era bonito você resmungava e dizia que não. O menino é lindo!

Lily riu.

-O James é bonito sim. –ela falou –E ele é um... Um cara ótimo.

James achou que seu queixo ia acertar o chão. Será que Lily estava só atuando, só fingindo gostar dele?

-Como foi que vocês começaram a namorar? –Monica quis saber curiosa –Da última vez que eu tinha te perguntado dele, você tinha me dito que ele tinha desistido de você, que nem falava mais com você.

-E ele não falava. –Lily falou –Até que... Bom, eu precisei de ajuda com... Transfiguração. –ela continuou –E o James é o melhor aluno dessa aula. Só tinha uma pessoa para quem eu podia pedir ajuda.

-Ou pra que você queria, né meu amor...

Lily riu.

-Ou isso. –ela cedeu –Acabou que nós começamos a conversar e eu percebi que ele não era um idiota. Ele era engraçado, gentil e doce. E ainda gostava de mim. Acabou que ele me convidou pra Hogsmeade, provavelmente esperando um não e ganhou um sim no lugar.

Essa era a história que os dois tinham combinado de contar. Mais ou menos. James não sabia dessa história de Lily falando para a mãe que ele tinha desistido dela. E os elogios meigos também não tinham sido combinados.

-Eu gosto do jeito que ele te olha. –Monica falou sorrindo –Ele te olha como se você fosse a única coisa que ele consegue pensar.

Lily sorriu para a mãe, mas não falou nada.

James decidiu que ja tinha ouvido demais escondido. Respirou fundo e entrou na cozinha, como se tivesse acabado de chegar.

-Que cheiro bom, Monica. –ele declarou, parando próximo a Lily e envolvendo a cintura da ruiva com um braço.

Lily corou. Monica riu.

-Eu espero que você esteja com fome, querido. –ela sorriu.

-Sempre. –ele abriu um sorriso maroto.

XxX

Quando Antony, que tinha saído para comprar pão e vinho, voltou Monica ja tinha terminado de arrumar a mesa para o jantar.

James e Lily até tentaram ajudar, mas Monica recusou a ajuda de todas as formas. No fim ela fez com que os dois se sentassem no sofá da sala, um do lado do outro. E volta e meia jogava olhares a eles.

-Eu acho que a sua mãe quer alguma coisa. –James cochichou confuso.

Lily revirou os olhos.

-Ela quer ver nós dois nos beijando. –ela respondeu.

-Hum. –foi a única coisa que James conseguiu falar. Até que...

-O que a gente faz?

-Nada! –Lily respondeu corando.

-Ok. –James deu de ombros.

Mas cinco minutos depois Monica voltou, mãos na cintura e um olhar decidido.

-Eu quero ver um beijo agora. –ela declarou.

-MÃE! –Lily gritou inconformada.

-Ah, pára de drama, Lily. –Monica falou –Vocês devem beijar um monte na escola. O que custa dar um beijinho pra sua mãe ver?

-Pra que você quer ver a gente se beijando? –Lily reclamou.

-Porque deve ser muito lindinho. –ela suspirou.

-Mãe, eu não vou beijar o James só pra você se divertir! –Lily falou inconformada.

-Só um selinho, Lily. Não seja chata.

-Hum, meninas...

-Espera, James. –Lily cortou –Ta vendo por que eu nunca trouxe um namorado para casa?

-Porque você é chata! Igualzinha a seu pai!

-Lily...

-Espera ai! Eu não sou chata, você que é...

-EI! –James chamou as duas, que finalmente ficaram em silêncio.

O maroto limpou a garganta.

-Monica, eu não sei se me sinto confortável com essa conversa. –ele falou –Eu gosto muito da Lily, mas eu também respeito muito vocês. Eu acho estranho ficar beijando a Lily na frente de vocês.

-Pelo menos o menino é educado. –a voz de Antony soou da porta.

-Meu amor, você voltou! –Monica correu até Antony, abraçando-o. O assunto anterior totalmente esquecido –Achou o vinho?

-Lambrusco. –ele confirmou –O seu preferido, e da Lily também. Vamos comer, antes que a Monica tenha mais ideias brilhantes.

XxX

-Monica, a comida está uma delícia. –James elogiou.

-Está mesmo, meu querido, mas você está parabenizando o cozinheiro errado. Foi o Antony quem cozinhou.

James lançou um olhar chocado ao homem em questão.

-Verdade?

Antony fez que sim com a cabeça.

-A Monica não cozinha nada.

-Ei! –a ruiva protestou –Eu fiz a salada.

-Porque o papai não confia em você com fogo. –Lily provocou.

-Ha ha ha. Hilário.

-Minha mãe não deixa meu pai nem por o pé na cozinha... –James comentou rindo –De qualquer jeito a comida está ótima, Antony.

-Obrigado, James.

Finalmente seu pai estava começando a aceitar James melhor, Lily pensou com um sorriso.

Opa! Irrelevante. Antony não precisava gostar de James. Na verdade ele precisava, pelo bem do disfarce do dois. E só!

-Lily, não!

Lily parou com o garfo a meio caminho da boca e lançou um olhar confuso a James.

-O que? –ela perguntou confusa.

-Você ia comer camarão!

-E... ?

-E eu sou alérgico a camarão.

-Eu sei, mas eu não sou.

-Pode ser, mas se você comer isso ai você não vai poder por a mão em mim depois. –ele deu um sorriso maroto para a ruiva, que ficou vermelha na hora.

-Potter!

O moreno riu.

-Eu sempre sei que ela está brava comigo porque ela me chama de Potter. –ele contou para Monica.

-Antony é igualzinho. –ela informou –Se ele me chama de cerejinha eu sei que está tudo bem. Agora se for Monica...

-Monica. –Antony chamou, franzindo a testa.

-Não falei?

XxX

-Como você sabia que eu era alérgico á camarão? –James perguntou mais tarde, quando ele e Lily estavam arrumando a cama para dormirem.

Lily viu o maroto olhar com certo desgosto as várias almofadas e bichinhos de pelúcia serem colocados no chão e acabou rindo.

-Você não lembra que no segundo ano o Sirius colocou um camarão no seu prato sem você saber só pra ver o que acontecia? –ela perguntou.

-É, minha garganta fechou e eu quase morri no meio do salão. –ele falou fazendo careta.

-Dramático. –Lily revirou os olhos –Enfim. Eu me lembrava por causa disso. E também está escrito no seu histórico escolar.

-E você ja viu meu histórico escolar porque? –ele quis saber.

-Porque como monitora eu já tive que marcar várias detenções nele. –ela falou com um sorriso divertido –E está escrito la com letras garrafais sua alergia.

-Eu sou muito alérgico. –James falou sério –Um pouco demais para ser preciso. Eu puxei isso da minha mãe.

-Eu pelo menos só puxei a ruivisse da minha. –Lily brincou.

-Você bem que podia ter puxado o gênio... –James provocou.

Lily jogou uma almofada nele.

-Viu? Foi isso que eu quis dizer. –ele brincou.

-Eu puxei meu pai. –ela informou –Pode não parecer, mas meu pai era bem esquentadinho, tipo eu. –a ruiva sentou-se na cama.

-Ah isso quer dizer que ainda há esperanças de você se acalmar... –James falou deitando-se na cama.

Havia uma muralha de travesseiros entre eles. E de repente fora como se um muro de vidro tivesse se levantado também. O que era confortável e amigável ficou estranho.

-Obrigada por tudo, James. –Lily falou de repente –E desculpa qualquer coisa.

-Eu estou me divertindo. Vale a pena. –foi a resposta dele.

-Boa noite, James.

-Boa noite, Lily